A questão central da pesquisa científica diante do jornalismo científico [a propósito do artigo ‘Uma espécie ameaçada de extinção’, de Luisa Massarani] é sua incapacidade de repassar os resultados das pesquisas às comunidades pesquisadas. O debate fica sempre limitado às inovações tecnológicas, à inventividade deste ou daquele cientista. Mas quando se trata das ciências sociais, humanas, que estão pesquisando problemas diretamente ligados à crise da sociedade brasileira, estas pesquisas não saem das prateleiras das bibliotecas, exceto algumas que são publicadas em revistas especializadas.
O retorno desse conhecimento produzido, das soluções apontadas pela reflexão apurada dos pesquisadores, sobre a realidade das comunidades tradicionais pesquisadas (o caso das pesquisas realizadas na Amazônia, região onde nasci e moro), não é nem cogitado pelos pesquisadores e muito menos pelos jornalistas.
Mas não existe um sistema de comunicação destinado a mediar esse repasse; não existe interesse das universidades e institutos de pesquisas em socializar os resultados; não existe vontade dos pesquisadores em retornar ao local da pesquisa, que na maioria das vezes foi realizada com dinheiro público, ou seja, nosso dinheiro.
O resultado da pesquisa deveria ser público, e não propriedade privada do pesquisador ou da instituição que o recebe. Nesse sentido, como afirma Boaventura dos Santos, são necessários novos paradigmas para as ciências sociais e, acrescento, para o jornalismo científico.
De domínio público
Muitas nações indígenas fecharam suas portas e seus corações a pesquisadores depois que viram seu conhecimento ser explorado, usurpado e manipulado. Hoje, muitas comunidades dos povos da Amazônia já não vêem com bons olhos a entrada de pesquisadores em seus territórios. Tudo porque eles se sentem roubados em seu conhecimento, construído ao longo do tempo, sobre a vida na floresta.
E o que cabe aos jornalistas que se dispõem a divulgar a ciência? Disputar espaço nas revistas especializadas para divulgar aqueles resultados que lhes são lucrativos? Ou lutar por uma prática de divulgação dos resultados das pesquisas científicas que possibilitem mudar a realidade do objeto pesquisado e transforme problema de pesquisa em solução de problema social?
E não me venham com esse papo de neutralidade científica, que isso é papo positivista burguês; não me venham com esse papo de que a ciência não deve se importar com os infortúnios humanos, porque isso é estupidificação da inteligência, e muito menos com o papo de que o jornalista deve apenas reportar os fatos e jamais escrever a serviço da sociedade, porque iso é irresponsabilidade social.
As pesquisas sociais, realizadas pelas instituições federais na Amazônia, pelo Museu Emílio Goeldi, pelo Inpa, pelo Inpe e por uma série de ONGs que atuam na Amazônia são financiadas com dinheiro público, e o resultado destes trabalhos deveria ser de domínio público. Acredito que esta é uma questão muito interessante para um debate entre cientistas, instituições de pesquisas sociais, jornalistas científicos, comunidades tradicionais pesquisadas e sociedade nacional.
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Jornalista em Santarém, PA