A revista A acusou a concorrente de, deliberadamente, ter destruído a carreira política de um homem de bem. A revista B reagiu com violência, acusou a revista A de ter cometido o mesmo erro, exatamente o mesmo erro, e de ainda por cima vender páginas editoriais.
São acusações graves, caro leitor. E, no entanto, cadê a briga das revistas? Jornalistas famosos foram chamados à lide, ex-funcionários deram depoimentos e, de repente, tudo desapareceu das páginas impressas. As revistas continuam inimigas, os insultos pessoais certamente não serão esquecidos tão cedo, o ex-deputado Ibsen Pinheiro, pivô da troca de chumbo, sente-se bem no papel de vítima. Quanto aos fatos, foram arquivados: surgirão de novo, qual cometas fugazes, na próxima disputa editorial.
De tudo o que este colunista leu, restaram-lhe muitas dúvidas: afinal de contas, Ibsen Pinheiro era inocente, vítima de um erro jornalístico igual ao da Escola Base, ou culpado? O erro jornalístico foi determinante em sua queda ou envolveu apenas parte dos indícios de culpabilidade? A auditoria nas contas do parlamentar, realizada por uma empresa de notória competência e excelente reputação, envolvia toda a sua vida financeira ou apenas aquela parte que aparecia na matéria jornalística equivocada?
Do jeito que a briga parou, parece estar ligada muito mais às posições divergentes de hoje do que aos erros jornalísticos de ontem. Será assim?
Os insultos
Uma curiosidade: nas xingações mútuas, um dos acusados foi apontado como ‘ex-jornalista’, por exercer as funções de assessor de imprensa. Quer dizer que assessor de imprensa não é jornalista? Que bobagem! Nosso Ricardo Kotscho deixou de ser jornalista por ser assessor de imprensa?
Outro insulto: um jornalista é sistematicamente chamado de ‘fotógrafo’, como se isso o impedisse de ocupar cargos de decisão. Outra bobagem: o fotógrafo, ou repórter fotográfico, é jornalista, com todas as vantagens e desvantagens da profissão. Não há qualquer motivo para desqualificá-lo. Pode – e deve – ocupar cargos de direção, sim. Por que não?
Cadê o portuga?
Outro assunto que desapareceu da imprensa: o fantástico espião português que discutia suas atividades secretas na Internet. Cadê o Verdial? Cadê o inglês que, segundo se dizia, seria seu chefe? Nossos veículos de comunicação, dispondo de um espião português e de um James Bond que não deu certo, esquecem um tema tão saboroso? Depois o pessoal ainda reclama que as vendas andam caindo.
Aspas, aspas, aspas
Foi uma tragédia: uma casa construída sem licença desabou durante uma festa, em Guarulhos. Seis mortos, cinco pessoas aleijadas, sabe-se lá quantos feridos. A imprensa entrevista o dono da casa, ele explica que não tem culpa. A imprensa entrevista quem alugou a casa, ele explica que não tem culpa. E fica tudo por isso mesmo!
Vamos mais fundo: uma casa tão alta que nela cabia um mezzanino, uma casa tão grande que nela couberam mais de mil pessoas – e como foi possível construí-la sem os competentes alvarás? Terão todos os fiscais ficado cegos a tal ponto que não viram uma casa das grandes ser erguida sem o cumprimento das formalidades legais? Se os fiscais não conseguem enxergar uma casa, para que é que existem fiscais?
A imprensa poderia levantar, por exemplo, quais os fiscais que serviam na região; poderia entrevistá-los a respeito de sua falta de acuidade visual. Poderia descobrir, nessas entrevistas, se alguém lhes determinou que fechassem os olhos, tapassem os ouvidos e calassem a boca. Seria bem mais interessante do que as notícias rotineiras que estamos lendo, não é mesmo?
Rir
Título de importante portal da Internet: ‘Banheiro repreende pessoas que fumam escondido e usam muito papel’.
Este colunista já viu e ouviu muita coisa: Quércia e Erundina lado a lado, ACM fazendo acordos com o PT, Delfim Netto elogiando Lula, Lula elogiando Quércia. Mas banheiro falante é a primeira vez.
Rir, rir
Internet, de novo (e também num portal importante): ‘Uma mulher líbia deu à luz sete crianças, cinco crianças e duas meninas, em um hospital jordaniano’.
Alô, Comercial!
Tudo bem que o tema saúde venda revistas. Mas, se somarmos as matérias que vêm saindo sobre os novos remédios milagrosos, sobre as dermatologistas milagrosas, sobre os novos tratamentos milagrosos, fica meio muito. Será mesmo que os anunciantes, sempre bem-vindos, não têm sido bem-vindos em excesso?
******
Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação; e-mail (carlos@brickmann.com.br)