Tem sido uma constante na imprensa. Nos últimas décadas – desde a campanha do impeachment de Collor – foram removidos todos os filtros de qualidade. Em qualquer setor moderno da economia, erros são tratados como episódios graves, que comprometem a qualidade do produto, a imagem da empresa.
A partir do momento em que a imprensa se sentiu ator político, todos esses cuidados foram para o ralo. Errem à vontade, sem problemas, sem filtros. Encontrem apenas uma desculpa razoável quando questionados.
Na matéria da Folha de S.Paulo sobre a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Márcio Aith – que, por experiente, não tem o benefício dos iniciantes – afirmou que o araponga Wilson F. Pinna (autor do falso dossiê, tratado como documento oficial de um inquérito pela Veja) tinha contato direto com o presidente da agência, Haroldo Lima.
Aith dispunha de UMA informação para sustentar sua tese: a readmissão de Pinna em 2005 na ANP, como… assistente administrativo na Assessoria de Inteligência. Fosse o Aith de outras eras, a suposição básica era a de que a ligação de Pinna era com o chefe da Inteligência. Em qualquer organização, o contato do assistente é com o chefe imediato. É óbvio.
Mas, não. A partir daí garantiu que o assistente administrativo Pinna despachava diariamente com o presidente da Agência.
Informação principal
Na carta à Folha, Haroldo Lima é claro:
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Diz que houve falha de apuração de Aith na informação de que Pinna ‘foi recrutado por Lima em agosto de 2005’, ao não mencionar que ele ingressou na Agência em 2001. Não nega a admissão. Apenas diz que Aith contou metade da história e não a parte principal: a de como foram criados seus laços com a ANP.**
Afirma peremptoriamente que jamais teve qualquer conversa sobre qualquer assunto com o agente.Qual a resposta do jornalista:
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Que Pinna, depois de se aposentar pela ANP, voltou como assistente administrativo, em ato relatado por Haroldo Lima. Ora, todas as nomeações de uma agência passam pelo crivo do seu presidente. Todas. O que não significa que foi o próprio presidente quem indicou Pinna.**
Diz que enviou dois emails na quinta à tarde à Assessoria da ANP, não obtendo respostas. Como não obteve respostas, não se preocupou em divulgar uma informação falsa. Simples assim.Nenhuma palavra, nenhuma correção sobre a principal afirmação da matéria: a de que Pinna tratava semanalmente com Lima. Ora, essa é a informação principal, a que define o tom da matéria, a que joga sobre Lima a suspeita da arapongagem.
ANP
‘A matéria de 25/9 assinada por Marcio Aith referente ao ‘falso dossiê’ sobre royalties traz falsas informações, talvez porque não tenha procurado a ANP antes de publicar a matéria: 1. diz que Wilson F. Pinna, acusado de autoria do ‘falso dossiê’, ‘é homem de confiança do presidente do órgão, Haroldo Lima’; 2. diz que ‘Pinna foi recrutado por Lima em agosto de 2005’; 3. que ‘até quatro meses atrás despachava semanalmente com Lima’. Essas informações não estão distorcidas, são inteiramente falsas.
Nos seis anos em que estou na ANP, o sr. Pinna não só não frequentou semanalmente meu gabinete como nunca foi chamado por mim para conversa sobre qualquer assunto, inclusive porque não era subordinado diretamente a mim. A ideia de que o referido senhor era pessoa de minha confiança pessoal e que despachava semanalmente comigo revela que o jornalista não apurou a matéria como deveria, ouvindo a ANP, desinformando os leitores de seu jornal.
A notícia de que Pinna ‘foi recrutado por Lima em agosto de 2005′ revela falha de apuração, uma vez que omite o fato de que Pinna ingressou na ANP em 27/9/2001, quando nenhum dos atuais diretores da ANP aqui estavam, tendo sido então lotado no Núcleo de Fiscalização da agência, hoje Superintendência de Fiscalização do Abastecimento. Para terminar, acabo de assinar a exoneração do sr. Wilson F. Pinna de suas funções na ANP.’
HAROLDO LIMA, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (Rio de Janeiro, RJ)
Resposta do jornalista Marcio Aith – O agente Wilson Ferreira Pinna deixou a ANP em 11/9/2003. Após sua aposentadoria na PF, voltou à agência em 2005 na condição de nomeado sem vínculo, como assistente administrativo na Assessoria de Inteligência. A proposta de nomeação, de nº 311/ 2005, foi relatada pessoalmente por Haroldo Lima. E aprovada em reunião da diretoria em 16/8/2005. Não é verdade que Lima não foi procurado. Na quinta-feira à tarde, a Folha enviou dois e-mails à assessoria de imprensa da ANP relatando esses fatos. Não obteve resposta.
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Jornalista