Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Chega de ‘enganar os ingleses’

Causa espécie ver as versões sobre a edição do debate entre os candidatos Collor e Lula. Indignação por quê? O patrão mandou editar do jeito que lhe interessava e os empregados fizeram como foi mandado. Essa mania herdada dos lusitanos de querer ‘enganar os ingleses’ precisa acabar. Os patrões não queriam Lula no poder, hoje dão vivas ao Lula que está no poder. Fora a versão abjeta do livro de um ex-todo-poderoso de Veja, que viu manobra de jornalistas por trás da eleição do justiceiro das Alagoas, todo mundo sabe que havia um acordo tácito entre o ‘pessoal da cobertura’ para eleger Collor.

E havia ainda a disposição da classe média em impedir que o PT chegasse ao poder. Medo de ter o apartamento duramente conseguido, em anos de árduas prestações, confiscado pelo ‘Sapo Barbudo’.

Agora aparece Armando Nogueira pondo a culpa em Alberico Souza Cruz e este respondendo raivosamente com acusações pessoais. Feijão requentado. Pessoalmente são duas doces criaturas, mas quando investidos do cargo de ‘prepostos de patrão’ mostraram garras afiadas. Ninguém fica ileso quando é regiamente pago para dourar a pílula dos interesses de outrem.

O lado fraco da corda

Vi coisas piores na televisão. Passaram batido. Um exemplo foi a fritura do empresário Mario Garnero, no Jornal Nacional. O então ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, era sabidamente amigo do empresário Roberto Marinho. O ‘general civil das comunicações’, como dizia Ibrahim Sued, queria porque queria a NEC, empresa de propriedade de Garnero, em dificuldades econômicas. A fritura irritante aconteceu em matérias tendenciosas que acabaram quando Marinho conseguiu seu intento. Comprou, ‘na bacia das almas’, as ações de Garnero. Tempos depois a NEC foi a vencedora de licitações do governo e faturou milhões de dólares. Por coincidência, licitações comandadas pelo Ministério das Comunicações de ACM.

Coincidências há no Brasil, sempre houve e sempre haverá, como também haverá jornalistas dizendo uma coisa e fazendo outra. Não há inocentes em cargos de chefia na imprensa brasileira. Todos, mais dia ou menos dia, mostram o traseiro para defender o patrão. Quem não mostrou ainda mostrará.

É isso que precisa mudar – como, não sei. Se há o que fiscalizar na imprensa – pretensão de muitos – são os interesses dos donos da mídia, dos patrões. Jornalistas não passam de empregados, o lado fraco da corda, obedecem ou vão para a rua. São como o sofá na história do marido traído, jogado na fogueira por ter sido o palco da traição.

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Jornalista