Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conselho de Comunicação não se reúne desde 2006


Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas. 
 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 8 de outubro de 2009 


 


TELEVISÃO


Rodrigo Russo


Conselho de Comunicação do Congresso está vago há 3 anos


‘O Conselho de Comunicação Social, órgão que deveria auxiliar o Congresso Nacional em questões de comunicação, está vago desde 2006 e sua última reunião aconteceu em 20/11/ 2006 -há quase três anos-, quando deveriam acontecer mensalmente.


O órgão sempre enfrentou resistências. Criado pela Constituição de 1988 e pensado como forma de consulta à sociedade sobre a mídia -especialmente rádio e TV, que são concessões públicas-, o conselho só começou a funcionar 14 anos depois, em 2002.


Entre os temas que deve debater estão a produção e programação das emissoras de rádio e TV e a outorga de concessões. Seus conselheiros são representantes da sociedade civil, de profissionais da área de comunicação e das empresas de rádio, TV e imprensa escrita, escolhidos em reunião conjunta do Congresso.


Em agosto deste ano, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) ajuizou representação na Procuradoria-Geral da República para questionar judicialmente esse tema.


Procurado, o Senado não se manifestou sobre o assunto.


Gabriel Priolli, coordenador de conteúdo e qualidade da Fundação Padre Anchieta e membro suplente da última composição do conselho, diz que a ausência desse órgão mostra a subrepresentação da sociedade civil em assuntos relevantes, como a TV digital.


Para João Brant, da ONG Intervozes, apenas o debate sobre comunicação já é incômodo para a bancada da radiodifusão. Este será um dos temas que serão discutidos em dezembro, na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, em Brasília.


SEM TARJA


Depois de mostrar na TV duas panicats em uma praia de nudismo, Alan Rapp, diretor do ‘Pânico na TV’, lançou no Twitter a possibilidade de que a matéria seja exibida sem as tarjas na internet, garantindo a nudez total. Segundo Rapp, isso só depende da autorização das garotas. O programa já exibiu sem censura na rede um quadro cheio de palavrões.


NA GALERIA


A Globo parece ter gostado da Galeria do Rock, tradicional ponto do centro de São Paulo. Depois de aparecer em cenas de ‘Aline’, o local também será visto em ‘Bom Dia, Frankenstein’, próxima novela das sete.


TUDO 10


O especial de dez anos do programa ‘Mais Você’, de Ana Maria Braga, será feito em São Paulo no dia 5 de novembro, e quer tudo pautado em dezena. Transmitido do Credicard Hall, o sorteio de dez carros (da linha Gol) já está confirmado, mas as dez atrações ainda não.


APOIO PRA CACHORRO


O desenho ‘Escola Pra Cachorro’, primeira série regular coproduzida no Brasil que o canal infantil Nickelodeon exibe a partir do dia 12, não tem do que reclamar. Contou com patrocínios e apoios da Pedigree, Toddynho, CSN, financiamento do BNDES, Ancine e do governo de São Paulo.’


 


 


Paulo Ricardo


‘Geleia do Rock’ deixa pouco espaço para a música


‘Eddie Sullivan que me desculpe, mas a televisão sempre foi um veículo perigoso para o rock and roll. Pequenos e ridículos alto-falantes embutidos castram qualquer possibilidade de barulho, ingrediente fundamental do gênero.


A telinha parece decidida a conter, cortar e editar qualquer movimento pélvico ou gesto fora dos padrões. O controle remoto, ameaçador, vigilante, sempre atento às dissonâncias, pronto para mudar de canal, exerce seu poder silencioso nas mãos do telespectador. Sem falar no apresentador, no diretor, e no poder supremo da TV, o patrocinador.


São notórios na história do rock dois episódios protagonizados pelo tal Eddie Sullivan (há um DVD com o melhor dos musicais de seu programa, vale a pena conferir): quando os Rolling Stones são intimados a trocar ‘let’s spend the night together’ por ‘let’s spend some time together’, com Jagger revirando os olhinhos sublinhando a ironia, e quando The Doors são proibidos de cantar ‘girl, you couldn’t get much higher’, o que é solenemente ignorado por Jim Morrison (eles nunca puderam voltar ao programa).


Vantagens da TV ao vivo. Tempos românticos, em que ainda havia algo de ameaçador nesse tal de ‘roquenrow’. Pobre Andy Warhol, não tinha ideia do que viria quando vaticinou que ‘no futuro, todos serão famosos por quinze minutos’. Bem-vindos à era do reality show, uma contradição em termos, na qual a busca pela fama é mais importante do que o prêmio ou qualquer outra razão para se estar ali.


Neste programa do Multishow, o formato não é muito diferente dos outros. Alguns poucos eleitos disputam a glória de montar uma superbanda, escolhida, é claro, pela audiência, que terá direito a um especial no canal, e depois, quem sabe, uma brilhante carreira. Enquanto outros sofrerão a humilhação pública de serem defenestrados, suas limitações expostas e suas carreiras ceifadas no pé. Para muitos, a melhor parte.


Beto Lee segura a difícil tarefa de Bial da balança com segurança e seriedade. A Toca do Bandido, notório estúdio no Rio, é a perfeita casa do ‘BBB’ do rock. Os depoimentos emocionados, a puberdade transbordando como a espuma de um copo de guaraná, as poses calculadas, as referências explicitadas, a orientação dos experts, a participação de meu parceiro querido, o Barão Roberto Frejat, a produção sempre caprichosa da Conspira.


Eu só me pergunto: cadê a música? De onde possivelmente poderá surgir boa música, novas canções, uma banda de verdade dessa ‘glass house’ monitorada? Penso no documentário ‘One Plus One’, em que Jean-Luc Godard captura os Stones criando ‘Symphathy for the Devil’, penso em ‘Let it Be’, o filme, mas tudo acaba parecendo um episódio de ‘The Monkees’…


Confesso que nunca entendi programas como ‘Fama’, ‘Ídolos’ e outros do gênero, como se a fama fosse um fim em si, e não a consequência de um trabalho bem feito. Sinto falta dos festivais de música que revelaram Chico, Gil e Milton, entre outros, de Rita Lee vestida de noiva grávida, de Hermeto Paschoal tirando som de um porco, de Caetano dizendo ‘vocês não estão entendendo absolutamente nada’, diante de vaias estrondosas.


E vocês, estão entendendo?


PAULO RICARDO é cantor e compositor.


GELEIA DO ROCK


Quando: terças, às 22h30; reprises quarta, às 7h30 e às 15h30, sexta, às 12h30, sábado, às 18h, e domingo, às 9h30 e às 13h


Onde: no canal pago Multishow


Classificação indicativa: livre’


 


 


EDUCAÇÃO


Arthur Roquete de Macedo


É preciso restaurar a credibilidade do Enem


‘O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), desde sua criação, em 1998, com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica, vem crescendo e aumentando sua relevância para a educação e para a sociedade brasileira.


Concebido e implantado como um processo confiável para a avaliação da qualidade do ensino médio e fundamentado em cinco eixos cognitivos principais -1) domínio das linguagens; 2. compreensão de fenômenos; 3. enfrentamento de situações-problema; 4) construção de argumentação sólida; 5) elaboração de propostas coerentes-, o exame ganhou notoriedade no seio da sociedade.


Imediatamente a seguir, passou a ser utilizado no discutível ranqueamento das instituições de ensino médio brasileiras.


Em razão de sua pertinência, da qualidade da metodologia empregada em sua elaboração e da ampla divulgação realizada pelos órgãos de imprensa, tornou-se um dos principais referenciais das famílias brasileiras no processo de eleição de colégios para a matrícula de seus filhos.


Um segundo degrau na escalada para a ampliação do prestígio do Enem foi vencido no momento em que passou a ser utilizado pelo ProUni como critério para o ingresso na educação superior, medida essa de largo alcance social.


Mas o passo decisivo para que esse exame se tornasse um instrumento fundamental no processo de construção da avaliação da educação brasileira e um ícone na escala de valores da sociedade dentre as diretrizes a serem seguidas na construção do futuro dos jovens brasileiros foi dado quando passou a ser utilizado como um dos mecanismos de acesso ao ensino superior e, particularmente, às disputadas vagas das universidades públicas em seus mais concorridos cursos.


A partir desse momento, em razão de sua importância e dos interesses envolvidos, o Enem, de um instrumento de avaliação, se transformou em um mecanismo democrático de acesso à educação superior, de inclusão no mercado de trabalho e de ascensão social.


Dentro dessa nova perspectiva, a concepção, a preparação e a aplicação do exame passaram a ter uma dimensão nova e uma amplitude significativamente maior, com forte impacto socioeconômico.


Os cuidados com o planejamento operacional e a segurança do sistema responsável pela elaboração do exame necessariamente teriam de ser reforçados, e sua execução, tratada dentro de uma logística irrepreensível.


Na atual conjuntura, o MEC (Ministério da Educação), que tem promovido uma série de avanços importantes no processo de avaliação, acompanhamento e regulação do sistema educacional brasileiro, subestimou as dificuldades a serem enfrentadas e colhe agora os frutos dessa avaliação superficial.


Os problemas com a aplicação do Enem 2009, que culminaram com a quebra do sigilo do exame, já haviam sido detectados pelas dificuldades encontradas na logística para a definição de locais do exame e na realização desses exames para 4,1 milhões de estudantes inscritos em 1.829 municípios brasileiros.


O prejuízo do malogro da aplicação da prova não se restringirá aos cerca de R$ 30 milhões de perda financeira anunciada, mas principalmente se evidenciará no abalo da credibilidade do Enem.


Sinal inequívoco dessa provável perda de credibilidade é o resultado de levantamentos de opinião realizados por diferentes fontes mostrando que mais de 80% dos pesquisados indicam perda de confiança na próxima prova do Enem.


Para ser restaurada a confiança depositada no exame, será necessária, nos próximos anos, a realização de um trabalho competente e exaustivo por parte do MEC, o qual deverá ser iniciado com a apuração dos responsáveis pelo vazamento do conteúdo da prova deste ano, acertadamente cancelada.


O MEC está agindo com a urgência necessária e os cuidados devidos, mas é imprescindível que os próximos passos sejam dados com segurança e sem açodamento.


ARTHUR ROQUETE DE MACEDO , 66, é professor emérito da Faculdade de Medicina da Unesp e ex-reitor dessa universidade, membro da Academia Brasileira de Educação e presidente do Instituto Metropolitano da Saúde – FMU.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


O maior, o melhor etc.


‘No alto da home da ‘Foreign Policy’, foto de Celso Amorim e a chamada ‘The world’s greatest foreign minister’ ou o maior ministro do exterior do mundo. No título do perfil de David Rothkopf, ‘The world’s best foreign minister’, o melhor. Abrindo o texto, ‘Este pode ter sido o melhor mês do Brasil desde junho do 1494, quando foi assinado o Tratado de Tordesilhas’. Acumula Lula de adjetivos, dá crédito a FHC e Dilma, mas foca o ministro mais bem sucedido do mundo, ‘the world’s most successful foreign minister’, Celso Amorim. ‘Natural de Santos’ e ‘autor intelectual de uma transformação no papel do Brasil no mundo que é quase sem precedentes na história moderna’.


BOOM & BOLHA


O editor de ‘investimentos’ do ‘Financial Times’ postou coluna, vídeo e gráfico (acima) sobre o ‘Brasil em boom’, analisando a alta na Bolsa e o histórico dos investidores externos que não acertam apostas no país -citando a fuga de 2002 por ‘medo de Lula’, perdendo a ‘chance de uma vida’.


Desta vez, porém, alerta que os investidores podem estar ‘otimistas demais’.


OLÍMPICO


Mas a euforia prossegue. O ‘Investor’s Business Daily’ avalia que os Jogos são ‘a cereja no bolo econômico do Brasil’, que já estava em recuperação ‘fast track’, rápida.


Até o ‘USA Today’ fez editorial vinculando economia e os Jogos, sob o título ‘O crescimento olímpico do Brasil’ e recordando que a expectativa era muito diferente, ‘quando Luiz Inacio Lula da Silva foi eleito presidente em 2002’.


‘BRAZIL’S DARK SIDE’


No topo das buscas no Yahoo News, a Reuters mostrou que ‘Dois novos filmes levantam a tampa do lado escuro do Brasil’, ‘Salve Geral’ (SP) e ‘Dançando com o Diabo’ (Rio, acima)


USP VS. UERJ


Na manchete do ‘Jornal Nacional’, ‘USP desiste de usar notas de Enem’. Foi manchete também no portal G1, da Globo, que trocou depois para ‘Uerj adia vestibular’ a pedido do Ministério da Educação.


No UOL, final da tarde, manchete para a decisão da USP e submanchete para a Uerj. E o registro de que, segundo a Fuvest, que organiza o vestibular para a universidade paulista, o uso foi inviabilizado por razões operacionais, ‘lamentavelmente’.


APAGÃO, APAGÃO


No UOL, abaixo da manchete, ‘Para Serra, fraude no Enem foi apagão’. Para o governador em campanha, ‘houve o apagão do Enem’, depois ‘uma espécie de apagão’, porém ‘não é hora de cobrar do governo federal o apagão que houve’.


O CONSERVADOR


O Angus Reid Monitor, referência em pesquisa global, começou a seguir a sucessão no Brasil, destacando que ‘Serra mantém liderança, mas perde momentum’. Abrindo o texto, ‘O candidato conservador no Brasil está perdendo popularidade’.’


 


 


ITÁLIA


Luciana Coelho


Imunidade de premiê é inconstitucional, decide Justiça italiana


‘O premiê italiano, Silvio Berlusconi, sofreu ontem o pior revés de seu atual mandato quando o Tribunal Constitucional do país anulou a lei que lhe dava imunidade judicial enquanto estiver no cargo. Isso significa que pelo menos dois processos envolvendo o governo direitista podem ser desengavetados.


A decisão, por 9 votos a 6, vem em um momento de fragilidade política e baseia-se no argumento de que a emenda aprovada pelo Parlamento em 2008 fere o princípio constitucional de que todos os cidadãos são iguais perante a lei.


Na argumentação dos juízes, uma mudança desse calibre necessitaria da aprovação por maioria qualificada de dois terços do Congresso, o que não ocorreu -a coalizão governista não tem tamanho apoio.


Integrantes da oposição aplaudiram o veredicto, mas apenas um deputado, o ex-juiz Antonio Di Pietro, pediu imediatamente a saída do premiê.


Berlusconi declarou que a decisão não o fará renunciar e saiu disparando petardos contra os juízes, o presidente e jornalistas -para ele, dono do maior conglomerado privado de mídia do país, ‘72% da imprensa é de esquerda’.


Crítico contumaz do sistema judicial italiano, ao qual acusa de querer legislar, atribuiu a anulação a ‘juízes de esquerda’. ‘Vamos governar por cinco anos com ou sem essa lei’, disse a repórteres diante de sua casa, em Roma, segundo a BBC. O mandato só acaba em 2013.


O premiê também criticou o presidente Giorgio Napolitano, do extinto Partido Comunista. ‘Me sinto trapaceado, acabou’, afirmou, culpando-o pela indicação dos juízes.


Rixa


Berlusconi, cuja rivalidade com o Judiciário remonta a seu mandato anterior (2001-2006), tem constantes rusgas com a Justiça, a qual acusa de persegui-lo para fins políticos.


A opinião da magistratura sobre o direitista tampouco é melhor. Em recente congresso na Itália, a reportagem da Folha ouviu de juízes e juristas proeminentes que o governo atual é antidemocrático e está ‘dividindo o país’, sobretudo com sua política de criminalizar imigrantes irregulares.


O momento político também não favorece Berlusconi, que, apesar de uma aprovação alta, sofreu arranhões em sua base eleitoral conservadora após os sucessivos escândalos sexuais envolvendo seu nome.


Nesta semana, o Tribunal de Milão considerou o premiê corresponsável pelo suborno de um juiz envolvido em uma decisão judicial que beneficiou uma de suas empresas em um processo de 1991. Ele fora inocentado de acusações criminais em 2001 e pode recorrer.


Já os casos que poderão agora ser reabertos envolvem tanto as empresas quanto a carreira política de Berlusconi. Ambos precedem sua eleição, no começo do ano passado, estavam em curso e foram suspensos exatamente por causa da aprovação da imunidade, em junho do mesmo ano.


Em um deles, Berlusconi é acusado de fraude fiscal e de maquiar seu livro-caixa na compra de direitos de TV de empresas ‘offshore’ do premiê pela própria Mediaset, seu conglomerado de mídia. A Procuradoria afirma que os preços declarados foram inflados.


O segundo caso remonta à acusação de que senadores receberam, em 2007, ofertas em dinheiro para se unirem à sua coalizão, então na oposição.


Berlusconi está ainda envolvido em um quarto caso, o qual não está claro se pode ou não ser afetado pela decisão do Tribunal Constitucional. Nele, o premiê é acusado de ter pago em 1997 ao advogado britânico David Mills 580 mil para sumir com documentos financeiros suspeitos. Em fevereiro, Mills foi condenado a quatro anos e meio de cadeia.’


 


 


Guy Dinmore, do Financial Times


Justiça sela má semana do premiê


‘Silvio Berlusconi declarou, de forma tipicamente desafiadora, que continuará lutando, a despeito de ter sido privado de sua imunidade contra processos. Mas a perspectiva de uma longa batalha contra o Judiciário italiano dificultará a atuação de seu governo e alimentará as manobras de bastidores dos que aspiram a sucedê-lo. Ao denunciar a decisão do tribunal constitucional como ‘política’ e como resultado da ação dos esquerdistas, o governo de direita do premiê italiano agravou ainda mais a situação, por, na prática, ter declarado guerra ao Judiciário. Berlusconi, 73, fez repetidas acusações de que os tribunais estão armando para derrubá-lo.


Sua perda de imunidade coroa uma má semana na qual um tribunal de Milão ordenou que seu império de mídia Fininvest pague 750 milhões em indenização por ter subornado um juiz nos anos 90. A decisão também determinou que Berlusconi era ‘corresponsável’ pelo suborno, ainda que um caso criminal separado contra ele tenha sido abandonado.


Antes mesmo dessa notícia financeira potencialmente prejudicial, contra a qual a Fininvest pretende apelar, os escândalos sexuais em que Berlusconi está envolvido atingiram uma audiência mais ampla quando Patrizia D’Addario concedeu sua primeira entrevista em uma rede pública de televisão e rejeitou as alegações de Berlusconi de que ele não sabia que ela era prostituta quando os dois passaram a noite juntos em sua casa na Sardenha em 2008.


‘A batalha política vai se tornar mais e mais acalorada’, disse Giovanni Orsina, professor de estudos políticos na Universidade Luiss, em Roma. ‘A decisão judicial significa que uma vez mais Silvio Berlusconi sofreu uma forte derrota. O impacto [sobre Berlusconi] será pesado, mas ele não tem a obrigação de renunciar’, acrescentou Orsina, apontando que ‘milhões de italianos’ concordarão em que ele é vítima de perseguição pelos magistrados.


‘Berlusconi continuará a governar, mas tudo que aconteceu terminou por enfraquecê-lo. Seus pensamentos estarão em outro lugar, e sua imagem está desgastada, especialmente no exterior. Tudo isso resultará em ações mais frágeis pelo governo’, disse o professor. Ainda que a decisão -que Berlusconi é um cidadão comum, e todo cidadão é igual perante a lei- abra caminho para a retomada de dois processos em que ele é acusado de corrupção em Milão, o premiê não enfrenta perspectivas de condenação imediata, se é que poderá um dia ser condenado, e talvez não precise nem mesmo se defender no tribunal.


Mas, como argumentou o governo ao defender a lei de imunidade aprovada pelo Legislativo em 2008, o premiê não poderia se dedicar plenamente a administrar um país que enfrenta o segundo ano de recessão e crescente desemprego. Diplomatas italianos e estrangeiros afirmam que a posição dele ante a comunidade internacional sofrerá ainda maior erosão, no momento em que a Itália tenta fazer com que suas opiniões sobre temas como Afeganistão e Líbano, países nos quais há contingentes substanciais de forças de paz italianas, sejam respeitadas.


Alguns dos partidários de Berlusconi apelaram pela convocação de eleições antecipadas, que as pesquisas de opinião pública indicam poderiam ser vencidas pelo premiê, apesar de todos os seus problemas. Esses partidários afirmam que a oposição de centro-esquerda não está em condição de travar uma campanha eleitoral, devido a suas disputas internas. Mas, ao descartar eleição antecipada, Berlusconi também dá mais tempo a potenciais sucessores. Gianfranco Fini, líder da Aliança Nacional, uma organização de origem neofascista que está na base governista, está processando um jornal da família Berlusconi por difamação e se envolveu em um conflito com outros governistas em temas como imigração.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 


 


HONDURAS


New York Times


EUA cobram rádio pró-Zelaya por declaração antissemita


‘Enquanto os dois lados envolvidos na crise política que se desenrola há três meses em Honduras atiram insultos um contra o outro, declarações antissemitas feitas pelo apresentador de um programa de entrevistas na rádio reverberaram muito além da América Central.


Desde que foram publicadas pela Liga Antidifamação, ONG americana que combate o antissemitismo, no fim de semana, as declarações do radialista hondurenho David Romero vêm repercutindo na mídia e na blogosfera americana. Descrevendo ‘uma tendência oculta e preocupante de antissemitismo na situação em Honduras’, o diretor da Liga, Abraham H. Foxman, disse que os judeus parecem ter virado ‘um bode expiatório conveniente’.


David Romero é apresentador da rádio Globo, que apoia o presidente deposto Manuel Zelaya e está fechada desde a semana passada por ‘incitar a insurreição’ contra o regime golpista de Roberto Micheletti. Em 25 de setembro, Romero disse, no ar: ‘Há momentos em que me pergunto se Hitler estava ou não estava certo em acabar com aquela raça com o famoso Holocausto. Se existe um povo daninho neste país, são os judeus, são os israelitas’.


Zelaya procurou distanciar-se do antissemitismo de seu aliado. Em carta aberta divulgada na semana passada, observou que tinha nomeado quatro judeus para seu gabinete. Na segunda, o embaixador dos EUA em Tegucigalpa se somou às críticas, escrevendo ao proprietário da rádio, Alejandro Villatoro, para pedir que denunciasse o que qualificou como ‘esse ato hediondo’.


‘A declaração de Romero joga por terra qualquer pretensão que ele possa ter de solidariedade com pessoas que lutam contra a injustiça’, escreveu o embaixador, Hugo Llorens. Ele observou que Villatoro e Romero tinham pedido a ajuda dele na semana passada, depois de a polícia ter fechado a rádio sob um decreto de emergência.


Mercenários


A programação da rádio Globo vem ajudando a mobilizar a resistência contra o governo que assumiu depois de Zelaya ter sido deposto e exilado num golpe de Estado em 28 de junho. Zelaya retornou a Honduras em 21 de setembro e se refugiou na embaixada brasileira. Em telefonemas à mídia, Zelaya alegou que mercenários israelenses teriam atacado a embaixada com ondas de rádio de alta frequência e gases tóxicos.


O governo Micheletti vem sendo criticado por tais ataques, mas não há indícios de qualquer envolvimento israelense nos fatos. Em entrevista telefônica dada na terça-feira, Romero disse que já pediu perdão e que continuará a pedir perdão -numa sinagoga, se for preciso- pelo que qualificou como ‘uma estupidez’. ‘Fui traído por minhas emoções naquele momento. Tenho de assumir minha responsabilidade’, disse. Romero afirmou que seu avô foi um imigrante judeu da antiga Tchecoslováquia. ‘Não é minha intenção prejudicar a comunidade.’ A Liga Antidifamação estima que apenas em torno de cem famílias judias vivam hoje em Honduras.


Tradução de CLARA ALLAIN’


 


 


ELEIÇÕES


Janio de Freitas


Páginas e minutos


‘AS MÁS RELAÇÕES entre militantes de candidaturas e, de outra parte, imprensa e TV começam mais cedo desta vez, incentivadas por uma das pequenas mexidas na Lei Eleitoral chamadas de ‘reforma’. É a que determina, já sob crítica da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que o tratamento igualitário aos candidatos seja antecipado para aplicar-se também aos pré-candidatos.


O problema resulta de equívocos que vêm desde a primeira eleição direta pós-ditadura. No caso dos jornais, desde então o espaço físico prevaleceu para as comparações de tratamento e, daí, para a motivação de queixas, no dia a dia, e de diversas acusações fortes. A aferição física, no entanto, é enganosa e insolúvel. Não há como assegurar espaço jornalístico equitativo nem mesmo para os três ou quatro candidatos principais (ou mesmo os dois de segundos turnos), quanto mais para todos.


Mas, ainda que se pudesse manter distribuição igualitária do espaço, a dimensão física não importa em comparação com a dimensão política, subjetiva, do teor dado ao espaço. E este não precisa ser explícito, pode ficar naquele terreno em que as interpretações divergentes encontram, ambas, justificativas. E lá se foi a isonomia, mesmo que haja igualdade de espaços concedidos aos concorrentes.


A neutralidade absoluta ante o processo eleitoral, cobrada pelos queixosos e os acusadores, é possível eventualmente. À parte razões humanas, porém, mesmo no jornalismo a neutralidade eleitoral não é a conduta sempre ética. Os candidatos não são iguais. Suas histórias não são iguais. Seus grupos não são iguais. Seus propósitos pressentidos não são iguais. E se algo aí macula a ética esperável de um candidato, não será ético o silêncio sobre essa mácula para preservar a neutralidade e o tratamento isonômico com outro(s) candidato(s). Além disso, uma notícia ou um comentário negativo também pode exprimir neutralidade.


Na televisão e nas rádios, sob certo aspecto o problema é mais simples: suas notícias têm a rapidez de flashs, sem dar muita margem a interpretações; sob outro aspecto, complica-se muito, com a importância tão diferenciada entre os horários e suas audiências. Então como se mede a isonomia pretendida pela lei? Comparando os minutos dados a cada candidato ou, já que um minuto em certo horário vale mais do que uma hora em outro, comparando, e de que modo, as estimadas audiências proporcionadas a cada candidato?


Se é assim em relação aos candidatos, aos já existentes e ainda possíveis pré-candidatos a exigência da lei passa da incompetência ao ridículo. A crítica da Abert tem razão de ser.


Distorções e manipulações existem em TV, e fica na história o seu papel na disputa de 1989 entre Collor e Lula, como existem na imprensa. Com uma diferença essencial na natureza dos dois sistemas: rádio e TV são concessões de um bem público para uso e proveito de particulares. Não podem, como bens de toda a população, ser usadas em prejuízo de aspirações legítimas de uma parte da nação, por interesse material ou outro do agraciado com a concessão.


O que parece faltar é um conselho, uma comissão judicial, ou algo por aí, para o acompanhamento da ética nas condutas dos meios de comunicação em campanhas eleitorais. Não para eliminar todos os problemas, mas para ponderar a procedência de queixas contra determinadas condutas, e procurar repará-las. Com o restante, o melhor é cuidado, porque talvez interfira em direitos e liberdades.’


 


 


ANNA POLITKOVSKAYA


Associated Press


Russos fazem homenagem a jornalista morta


‘Centenas de pessoas foram ontem às ruas de Moscou para marcar os três anos do assassinato da jornalista e ativista Anna Politkovskaya e para pedir às autoridades a punição dos responsáveis. A jornalista era crítica do governo russo e expôs abusos cometidos na Tchetchênia até ser morta a tiros quando chegava em casa em 2006. No início deste ano, três acusados pelo crime foram inocentados. Em setembro, a Suprema Corte decidiu reabrir o caso.’


 


 


E-LIVRO


Folha de S. Paulo


Kindle vai ser vendido no Brasil


‘O Kindle, o leitor de livros eletrônicos da norte-americana Amazon, agora também estará disponível aos consumidores brasileiros e aos de outros mais de cem países -até ontem o produto só era comercializado no mercado dos EUA.


No Brasil, o aparelho -que tem tela de 15 centímetros e é vendido no site amazon.com- deve custar em torno de R$ 1.030 (levando em conta a cotação do dólar ontem e entrega na cidade de São Paulo), sendo que mais da metade desse valor é formada por frete e taxas alfandegárias.


A partir de ontem, a Amazon já liberou as encomendas do Kindle, mas as entregas internacionais só começarão a ser feitas a partir do dia 19.


Os usuários de fora dos Estados Unidos também poderão fazer o download de livros, revistas e jornais -o preço vai variar de acordo com a publicação e o país do usuário, devido a acordos de direitos autorais.


A seleção de livros para quem não mora nos EUA também será mais limitada: estarão disponíveis cerca de 290 mil títulos, ante mais de 350 mil disponíveis para os americanos.


‘Nós temos milhões de consumidores em países de todo o mundo que leem livros em inglês’, afirmou Jeff Bezos, presidente-executivo e fundador da Amazon. ‘O Kindle permite que esses usuários pensem em um livro e consigam baixá-lo em menos de 60 segundos.’


O Kindle, que teve o preço de uma de suas versões reduzido para o mercado americano (de US$ 299 para US$ 259), domina o segmento de leitores digitais nos EUA. Segundo a consultoria Forrester Research, o aparelho da Amazon tem cerca de 60% do mercado americano, ante 35% do seu principal rival, o Reader, da Sony.


A Forrester recentemente aumentou as suas estimativas de vendas do segmento nos Estados Unidos. Ela prevê agora que serão comercializados 3 milhões de aparelhos neste ano, sendo que quase um terço será vendido em novembro e dezembro. A estimativa anterior apontava venda de 2 milhões de unidades.


O Kindle se converteu no produto mais vendido da Amazon desde que foi lançado há dois anos. Para cada 100 livros impressos vendidos pela Amazon, são compradas 48 edições digitais para se ler no Kindle.


A Amazon planeja vender no próximo ano uma versão internacional do modelo Kindle DX, que foi lançado no mercado americano há cinco meses.


O Kindle usa as redes de telefonia móvel de alta velocidade para baixar livros, revistas, jornais ou documentos pessoais.


Com agências internacionais e ‘Financial Times’’


 


 


TECNOLOGIA


Folha de S. Paulo


UE e Microsoft ficam mais próximas de fechar acordo


‘A disputa legal que se arrasta há cerca de uma década entre a Microsoft e a União Europeia pode estar perto do fim. O órgão de regulação da concorrência no bloco vai começar a testar a partir de amanhã uma versão do Windows em que os consumidores poderão escolher o navegador (como Explorer, Chrome, Firefox e Safari) que pretendem usar.’


 


 


CINEMA


Fábio Grellet


Rio oferece R$ 3 milhões por novo filme de Woody Allen


‘A Prefeitura e o Estado do Rio ofereceram R$ 3 milhões à equipe do cineasta norte-americano Woody Allen para que a capital fluminense seja cenário de seu próximo filme. As duas administrações pretendem ser coprodutoras, assumindo responsabilidade solidária sobre o lucro ou o prejuízo obtido pela filmagem.


Dois produtores da equipe de Allen -a irmã dele, Letty Aronson, e Stephen Tenembaum- chegaram ao Rio anteontem para discutir o projeto e visitar eventuais locações. Anteontem, eles se reuniram com o governador Sérgio Cabral (PMDB), o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e seus respectivos secretários de Cultura. A decisão caberá ao cineasta e pode demorar até três meses.


Antes de chegar ao Rio, os produtores estiveram em São Paulo, onde passaram dois dias. ‘As negociações com o Rio só começaram e por enquanto não há nada decidido. Mas vamos fazer o que for possível para convencê-los a vir para cá’, afirmou a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, que calcula em US$ 30 milhões (cerca de R$ 52,5 milhões) o orçamento total do filme.


Para conhecer eventuais locações, a dupla de produtores já esteve no Jardim Botânico, na zona sul, e no bairro da Tijuca, na zona norte.


Roteiro e elenco não começaram a ser discutidos. A intenção da prefeitura e do Estado é que Allen explore as paisagens do Rio como fez com a cidade espanhola de Barcelona no filme ‘Vicky Cristina Barcelona’ (2008).’


 


 


Mônica Bergamo


Luta olímpica


‘A O2 de Fernando Meirelles perdeu na Justiça uma disputa com Paulo Lins, autor de ‘Cidade de Deus’, e a Companhia das Letras, que editou o livro. Na ação, o ex-traficante Ailton Batata pedia indenização por danos morais afirmando que um personagem do filme, Sandro Cenoura, era inspirado nele. A O2 alegou que a responsabilidade, caso confirmada, seria de Lins e da Companhia. A Justiça não acolheu os argumentos de Batata -e ainda determinou que Meirelles pagasse R$ 160 mil aos advogados da editora e do escritor.


PARA BAIXO


A O2 recorreu, mas o Tribunal de Justiça do Rio manteve a decisão. Os valores, no entanto, foram revistos -e caíram para R$ 10 mil.’


 


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 8 de outubro de 2009 


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Roberto Almeida


Associação Mundial de Jornais cobra Lula por censura


‘Sem obter resposta oficial da primeira carta enviada no dia 10 agosto, a Associação Mundial de Jornais (WAN) e o Fórum Mundial de Editores (WEF), entidades máximas da imprensa mundial, pediram novamente ‘ação’ do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, sobre a censura ao Estado, que completa hoje 69 dias.


WAN e WEF, que atuam em nome de 18 mil publicações em mais de 120 países, têm status de representantes na Organização das Nações Unidas, e demonstram na nova carta, enviada anteontem ao Planalto e ao STF, preocupação com a última decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF).


‘Estamos preocupados porque, dois meses após a primeira decisão judicial, a censura se mantém’, anota o texto assinado pelos presidentes da WAN, Gavin O’Reilly, e da WEF, Xavier Vidal-Folch.


Há uma semana, a Corte do Distrito Federal se declarou incompetente para julgar o caso, manteve a mordaça ao Estado e remeteu o processo para a Justiça do Maranhão, lar do família Sarney.


‘Respeitosamente lembramos que a proibição legal de produzir reportagens constitui um ato de censura legal e é uma clara violação do direito de livre expressão, o que é garantida pela Constituição brasileira e por numerosas convenções internacionais’, explica a carta.


Mais uma vez, O’Reilly e Vidal-Folch dizem-se ansiosos por uma resposta ‘assim que possível’. O pedido por esclarecimentos é o mesmo de 10 de agosto, data da primeira carta enviada ao Planalto e ao STF. No entanto, até o momento Lula e Mendes não enviaram resposta oficial às entidades, que têm sede em Paris.


O presidente do STF falou apenas em tese sobre o assunto. E a posição no Planalto é de que este assunto compete exclusivamente ao Judiciário. Por isso, Lula não vai se manifestar.


No entanto, as entidades reiteram que é preciso que Lula e Mendes adotem medidas para cumprir determinações internacionais sobre liberdade de expressão. ‘Pedimos a Vossa Excelência que faça tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que esta decisão seja anulada e que seja permitido à imprensa publicar livremente reportagens sobre todos os assuntos de interesse público. Contamos com o compromisso do sr. para que no futuro seu país respeite todos os acordos.’


O Estado de S.Paulo e estadao.com.br, porém, continuam proibidos de divulgar informações da Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). Fernando já foi indiciado pela PF por falsificar documentos para favorecer empresas em contratos com estatais.


Outras entidades internacionais que acompanham a luta judicial envolvendo a censura ao Estado também manifestaram indignação com a decisão do TJ-DF. Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê de Proteção aos Jornalistas classificaram o caso como ‘absurdo’.


Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso’


 


 


HONDURAS


AFP


Promotoria quer reabrir emissoras


‘A Promotoria de Honduras pediu na noite de terça-feira a reabertura da Rádio Globo e do Canal 36, meios de comunicação fechados no dia 27 pelo governo de facto do presidente Roberto Micheletti. O órgão também anunciou que começou uma investigação sobre o abuso de autoridade no momento de confiscar os equipamentos das emissoras.


‘Solicito (…) que se restitua de imediato os direitos reconhecidos (…) aos meios de comunicação fechados’, afirmou em nota a promotora de Direitos Humanos, Sandra Ponce, ao presidente da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), Miguel Angel Rodas. O governo de Micheletti, que assumiu o poder depois do golpe de Estado de 28 de junho que derrubou o presidente Manuel Zelaya, fechou, por meio da Conatel, o Canal 36 de TV, a Rádio Globo e uma pequena emissora, La Catracha, que retransmitia seu sinal – todas elas consideradas pró-Zelaya.


Para realizar o fechamento, a Conatel se amparou no decreto de estado de sítio, que suspendeu as liberdades de reunião, movimento e imprensa.


De acordo com a Promotoria, ‘vários’ artigos da Constituição foram violados com o fechamento destes meios de comunicação.’


 


 


ITÁLIA


AP, AFP, Efe e Reuters, Roma


Tribunal revoga imunidade de Berlusconi


‘O Tribunal Constitucional da Itália revogou ontem a polêmica lei que garante imunidade judicial ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi, cuja popularidade vem sendo corroída por uma série de escândalos. Além de enfraquecer seu governo, o veredicto também possibilita a reabertura de processos contra o líder italiano.


Aliados de Berlusconi criticaram a decisão do tribunal e defenderam a permanência do premiê no poder. ‘Este foi um veredicto com motivação política, mas o premiê, seu gabinete e a coalizão continuarão no poder’, afirmou Paolo Bonaiuti, porta-voz do primeiro-ministro.


Berlusconi também rejeitou rumores de uma suposta renúncia. ‘Nada acontecerá, continuaremos seguindo em frente’, disse o premiê a repórteres que o aguardavam na frente de sua casa em Roma. Segundo ele, os processos em andamento nos quais está envolvido são ‘verdadeiras farsas’. ‘Perderei algumas horas do tempo que dedico ao governo para provar que são todos mentirosos.’ Ele ainda terminou sua declaração com gritos de ‘Longa vida à Itália! Longa vida a Berlusconi!’.


Aprovada pelo Parlamento no ano passado, a Lei Laudo Alfano imediatamente suspendeu procedimentos legais em andamento contra as quatro maiores autoridades do Estado – o chefe de governo, o presidente da república e os titulares da Câmara e do Senado. A entrada em vigor da lei fez com que promotores apresentassem uma apelação no Tribunal Constitucional,alegando que as medidas violavam os princípios da Constituição.


Dos 15 juízes do tribunal, 9 votaram a favor da revogação. De acordo com eles, o texto viola o artigo 138 da Carta, que afirma que uma lei com essas características deveria ter sido introduzida por meio de uma reforma constitucional. Os magistrados também ressaltaram que a norma contradiz o artigo 3º da legislação italiana, que estabelece o princípio de igualdade entre todos os cidadãos.


Após a decisão ser divulgada, Berlusconi acusou os juízes de ser ‘de esquerda’. Em um comunicado oficial, o premiê assegurou que o veredicto não afetará a ‘solidez do governo’. Esta não foi a primeira vez que foi negada uma imunidade para Berlusconi. Em 2004, uma medida semelhante à Lei Laudo Alfano também foi rejeitada pelo tribunal.


REABERTURA DE PROCESSOS


O veredicto emitido ontem abre as portas para que pelo menos dois processos contra o premiê sejam retomados. Um desses casos é o processo no qual Berlusconi é acusado de ter pago US$ 600 mil para o advogado britânico David Mills, em 1997, para não revelar em julgamento detalhes comprometedores de suas transações comerciais. Mills foi condenado em 17 de fevereiro por ter mentido em um julgamento contra o premiê.


Outro processo está relacionado com irregularidades na compra e venda de direitos de transmissão de filmes na TV por seu grupo de comunicação Mediaset.


PROCESSOS SUSPENSOS


Suborno: O premiê Silvio Berlusconi é acusado de ter pago US$ 600 mil para o advogado britânico David Mills não revelar em julgamento de 1997 detalhes de suas transações comerciais. Mills foi sentenciado em fevereiro a 4 anos e 6 meses de prisão por corrupção. Assim como Berlusconi, o advogado diz ser inocente e apresentou recurso contra o veredicto


Fraude: O grupo de comunicação Mediaset, de propriedade de Berlusconi, é acusado de irregularidades na compra e venda de direitos de transmissão de filmes na TV. De acordo com promotores, os direitos foram negociados a preços superfaturados’


 


 


ENEM


Leandro Calixto e Sergio Pompeu


Acusado agiu ‘como paparazzo’, afirma defesa


‘Apontado pela Polícia Federal como o ‘mentor’ do vazamento do Enem, Felipe Pradella negou em depoimento ter tirado provas da Gráfica Plural. Disse que as recebeu de Filipe Ribeiro, seu colega na equipe contratada pelo consórcio Connasel para conferir e embalar provas e quis divulgar o caso pelo seu apelo jornalístico. ‘Ele achava que estava dando um furo de reportagem para a empresa jornalística que fosse comprar. Por isso, resolveu cobrar pelo serviço’, disse a advogada de Pradella, Claudete Pinheiro. ‘Imaginou: ‘Se paparazzos (sic) cobram por uma grande foto, por que não cobrar por isso?’


Claudete afirmou que Pradella, de 32 anos, é corretor de imóveis e pai de uma criança de 4. Segundo ela, o cliente está na casa de um parente em Osasco, Grande São Paulo. ‘Ele só sabe chorar. Está com vergonha.’ A advogada negou que Pradella tenha ameaçado a repórter do Estado Renata Cafardo, como consta do inquérito da PF.


No depoimento à polícia, Pradella afirmou que começou a trabalhar na Plural em 18 de setembro e só soube no dia 24 do desvio do caderno de prova. Disse que Ribeiro furtou o exame e mostrou-lhe o caderno quando os dois estavam num veículo usado pelo Connasel para transportar sua equipe. Pradella afirmou que o colega deixou o material com ele, mas não esclareceu por que Ribeiro fez isso.


A polícia acha que Pradella mentiu por causa dos depoimentos de Ribeiro, de 21, e de Marcelo Sena, de 20, contratados pelo consórcio e também indiciados pelo vazamento. Ribeiro disse ter saído da Plural com o caderno 1 do Enem (prova que seria aplicada no sábado) escondido na cueca no dia 21, por orientação de Pradella. Registros do circuito interno de TV da gráfica do dia 22 mostram o corretor pegando o caderno 2 do Enem (prova de domingo) e entregando-o para Sena, que enrola o exame numa blusa.


Pradella afirmou ter falado do desvio da prova a um amigo, o DJ Gregory Camillo Craid. Segundo ele, o DJ, que conhecia jornalistas, garantiu que a imprensa teria grande interesse no material. Pradella afirmou que, na noite de 29 de setembro, Gregory levou-o num Celta vinho à pizzaria de Luciano Rodrigues, conhecido do DJ que tinha contatos em redações – trabalhou por 15 anos na área comercial da Agência Estado. Rodrigues já admitiu ter colocado a dupla em contato com dois jornais, um deles o Estado.


No dia 30, Pradella afirmou ter feito uma romaria com Gregory para tentar vender a prova a jornalistas de vários órgãos de comunicação, em encontros marcados pelo DJ. Segundo ele, o primeiro ocorreu no Parque Villa-Lobos e o segundo, numa lanchonete do Jaguaré. Por fim, à noite, a dupla reuniu-se com a equipe do Estado. Pediu R$ 500 mil pela cessão do material, mas Pradella deu a entender que não participou da definição do valor. O Estado recusou-se a pagar e alertou o Ministério da Educação, que cancelou o Enem.’


 


 


PUBLICIDADE


Irany Tereza e Andréa Vialli


José Mayer é a nova estrela da Vale


‘Contra o desgaste da imagem, o marketing. Bombardeada por críticas diretas do presidente Lula, em especial depois das medidas de contenção de custos adotadas após o agravamento da crise global, a Vale voltou suas baterias à publicidade. Em breve, uma campanha na televisão exibirá o ator José Mayer, o galã da novela do horário nobre da TV Globo ‘Viver a Vida’, explicando didaticamente o que faz a mineradora.


Há alguns meses, empenhada em ganhar espaço das concorrentes australianas no mercado chinês, a Vale recorreu a outro astro. Espalhou pela China imagens de Ronaldo Fenômeno em anúncios em ônibus, bancas de jornais e outros locais de grande visibilidade.


No Brasil, Ronaldo já tem seu nome associado a outras marcas. Vendeu de cerveja a telefone celular. E a Vale buscava uma espécie de ‘cara exclusiva’. Oficialmente, a mineradora sequer confirma a campanha, mas desde que se intensificaram as críticas do governo, vem espalhando publicidade na TV, rádio, jornais e ruas, sempre com o mesmo slogan: ‘A companhia que mais investe no Brasil’.


Um pesquisa apontou o ator José Mayer como de ‘grande credibilidade’. O problema, diz um executivo da empresa, é explicar de forma fácil e eficiente o que é a mineradora. ‘A Petrobrás está mais presente na cabeça dos brasileiros. Há um posto em cada esquina. A Vale não é conhecida.’


‘José Mayer possui um atributo de sensualidade, mas certamente não é o galã sensual que a Vale está buscando. O que está em jogo é o impacto que ele é capaz de causar entre os mais diversos públicos’, diz César Ortiz, diretor de inteligência de mercado do grupo Young&Rubicam e responsável pelo monitoramento da imagem de mais de 100 celebridades.’


 


 


LUTO


Ubiratan Brasil


Morre Irving Penn, que revolucionou a foto de moda


‘Suas fotos traziam uma assinatura que se tornou clássica graças à elegância e ao minimalismo. E, no mundo da moda, poucos eram reverenciados por um trabalho considerado irrepreensível. O americano Irving Penn sempre foi considerado um nome mítico da fotografia, cuja obra influenciou várias gerações. Aos 92 anos, ele morreu ontem, em Nova York, de causa não divulgada.


Penn, que sempre explorou a arte da fotografia e seus desafios, gostava de isolar seus modelos, tirando-os de seu ambiente natural para registrar as imagens em estúdio, utilizando um fundo artificial. Era ali, ele acreditava, que se poderia capturar a verdadeira alma do sujeito, fosse um modelo de moda, fosse o membro de uma tribo aborígine.


‘Mesmo que fotografasse alguém duas vezes, jamais o via da mesma forma’, observou Peter MacGill, dono de uma galeria em Manhattan que exibiu o trabalho de Penn. ‘Ele nunca deixou de trabalhar.’


De fato, entre 1964 e 1971, Penn executou sete projetos em que registrou uma ampla gama de personagens, desde membros de tribos da Nova Guiné até os hippies de São Francisco. Seu segredo estava em enfrentar desafios, como contestar o tradicional conceito de beleza ao buscar detalhes em objetos nem sempre considerados, como restos de cigarro, frutas podres ou roupa velha. Uma exposição no Museu Metropolitano de Arte de Nova York, em 1977, por exemplo, trazia flagrantes do lixo retirado das ruas da cidade. ‘Fotografar um bolo pode ser arte’, disse, em 1953, quando abriu um estúdio no qual produzia fotos para galerias até há poucos anos.


Penn iniciou sua carreira na década de 1940 como fotógrafo de moda para a revista Vogue. Lá, desenvolveu seu austero estilo de colocar as modelos e os acessórios de moda diante de um fundo simples. A ideia era revolucionária em uma época em que muitos fotógrafos só trabalhavam em complicados cenários, recheados de objetos.


Na década seguinte, começou a retratar celebridades, como Miles Davis, Spencer Tracy, Georgia O’Keeffe e Pablo Picasso. A técnica para conseguir imagens expressivas, explicava, consistia em fotografar o modelo incansavelmente, muitas vezes durante horas, até que ele fosse forçado a baixar a guarda.’


 


 


LITERATURA


Ubiratan Brasil


Intriga real ganha o Man Booker Prize


Não foi dessa vez que o sul-africano J.M. Coetzee conseguiu a proeza de se tornar o primeiro escritor a conquistar pela terceira vez o Man Booker Prize, o mais prestigioso prêmio literário da comunidade britânica – ele concorria com Summertime, memórias ficcionais nas quais um jovem biógrafo inglês trabalha em um livro sobre um autor morto chamado John Coetzee, mas o júri preferiu Wolf Hall, romance ambientado na corte de Henrique VIII. Com isso, a inglesa Hilary Mantel, de 57 anos, ganhou o prêmio de 54 mil.


O livro relata a turbulência provocada na Inglaterra do século 16 quando o rei anuncia seu desejo de se casar com Ana Bolena. A história é narrada sob a perspectiva do conselheiro real, Thomas Cromwell. Os direitos da obra, que tem 650 páginas, já foram adquiridos pela Record, que deverá publicar sua tradução no próximo ano – recentemente, a editora brasileira lançou uma obra anterior, A Sombra da Guilhotina (veja ao lado), sobre a Revolução Francesa.


Durante a premiação, que ocorreu na noite de terça-feira em Londres, Hilary confirmou que já escreve a continuação de seu romance vitorioso, cujo título deverá ser The Mirror and the Light (O Espelho e a Luz). ‘A história vai acompanhar a ascensão de Cromwell até sua súbita desgraça’, contou a autora em uma entrevista à rádio BBC. ‘Ele vai acabar enforcado, como a maioria dos seguidores de Henrique.’


Ela observa um claro paralelismo entre o tribunal de Henrique VIII e os políticos britânicos atuais. ‘Acredito que as regras do poder, definidas por Maquiavel e bem conhecidas por Thomas Cromwell, não mudaram muito ao longo dos anos.’ Hilary, porém, adverte: ‘Não podemos nos esquecer da situação da Grã-Bretanha em 1530, quando as escolhas eram mais arriscadas. Quem cometia algum erro, passaria menos tempo com a família, pois teria a cabeça cortada.’


Formada em Direito e já tendo morado em diversos lugares ao redor do mundo, como Botswana e Arábia Saudita, Hilary Mantel escreveu também críticas de cinema antes de se aventurar na literatura, iniciando com um livro de contos. É autora ainda de um livro de memórias, Giving Up the Ghost, e de outros romances como Beyond Black, de 2005, selecionado para o Prêmio Commonwealth Writers e também para o Prêmio Orange de ficção.


Notadamente bem-humorada com a premiação – antes do anúncio, ela dizia que a sensação da espera era semelhante a estar em um choque de trens -, Hilary brincou ao dizer que já tem planos para gastar os 54 mil: sexo, drogas e rock’n’roll. Indagada ontem quando isso começaria, foi novamente rápida: ‘Esta tarde… tão logo apareça uma lacuna em minha agenda.’ De fato, como reza a tradição, o vencedor praticamente perde sua liberdade, tamanho o assédio da imprensa.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


HD sobe o morro


‘A Globo quer levar a Copa do Mundo à favela. A emissora planeja armar de dois a três telões em comunidades carentes do Rio para transmitir os jogos da Copa da África, em 2010.


O projeto é uma espécie de extensão do Fifa Fun Fest, evento promovido em cinco cidades do mundo pela Fifa, com transmissão dos jogos da Copa em um megatelão durante o dia, e eventos culturais, como shows, à noite. A Praia de Copacabana já foi escolhida para abrigar uma arena do Fifa Fun Fest, com direito a eventos esportivos, espetáculos e até praça de alimentação.


A base da transmissão é um telão, de alta definição, da Sony. O equipamento, o mais moderno nessa categoria, é caríssimo, e está com praticamente todos os seus exemplares já alugados para a próxima Copa.


‘Já tem gente alugando para 2014’, brinca o diretor executivo da Globo Esportes, Marcelo Pinto. ‘Estamos tentando alugar dois para instalar em comunidades carentes no ano que vem.’


A ideia da Globo, que já cobrirá o Fifa Fun Fest em Copacabana, é colocar links durante os jogos da seleção nos locais onde os outros telões estiverem montados.’


 


 


 


 


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