Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A hipermnésia e o Facebook

Apenas três ou quatro pessoas no mundo sofrem deste estranho e cruel transtorno da memória, a hipermnésia. Segundo o neurobiologista James L. McGaugh, que estudou o fenômeno, trata-se de uma síndrome que leva as pessoas a terem uma memória perfeita, ou seja, guardam involuntariamente todos os detalhes da sua vida. Nada se apaga, nada se esquece. Um tormento. Por sorte, as possibilidades de sofrer desta síndrome são irrisórias.


O problema, escreve a publicitária e romancista Emma Riverola, no diário El País, é que hoje em dia estamos sujeitos a ser lembrados involuntariamente de passagens de nossas vidas que estavam completamente esquecidas, e que não queríamos mais recordar, em ambientes compartilhados por milhões de pessoas.


Boa discussão


A rede social é o local exemplar, na avaliação da autora, deste fenômeno. Este ataque repentino de memória ocorre, normalmente, pela mão de alguém tão inocente quanto um antigo colega de escola, a namorada da infância ou o colega do acampamento de 1981 que nos localizou no Facebook. Escreve Riverola:




‘A vida é evolução. Todos nós temos o direito de mudar, de nos contradizer, de fazer quantas viagens ideológicas quisermos e de defender, em qualquer momento, o nosso modo de pensar e agir. A diferença é que essa evolução, até agora, era um périplo interior. Um trajeto que, às vezes, compartilhávamos com outras pessoas. Companheiros de aventuras que o acaso da travessia obrigava a nos separar em diferentes estações, em função do destino escolhido por cada um. Agora, Facebook, Twitter, Tuenti e outras redes sociais estão convertendo este desenvolvimento pessoal em um cruzeiro de massas’.


A íntegra do artigo de Emma Riverola, em espanhol, pode ser lida aqui. Ela não é contra as redes sociais, mas lembra que ‘a solidão também é uma fonte de riqueza em nossas vidas. Rende uma boa discussão, acredito.

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Jornalista, repórter especial do iG