Em reação ao verdadeiro tsunami provocado pela internet na venda dos jornais diários, a imprensa francesa iniciou um processo de transformação para tentar ao menos manter seus níveis atuais.
Depois que o jornal Libération lançou seu novo look dia 7 de setembro (ver aqui), outro diário, o Le Fígaro, sofreu uma repaginação geral a partir de 21 de setembro e o Le Monde reformulou sua revista: Le Monde2 saía no fim de semana e, ampliada e melhorada no conteúdo e na forma, passou a se chamar Le Monde Magazine. O jornal comunista L´Humanité, que já foi ‘órgão oficial do Partido Comunista Francês’ e perdeu a foice e o martelo quando deixou de ser, anuncia nova diagramação a partir de 13 de outubro.
Segundo o Libération, os leitores aprovaram a nova paginação e houve mesmo um pequeno aumento das vendas. ‘O `clássico´ apóia o eletrônico por uma razão simples: para produzir informação de interesse é preciso jornalistas bem formados, experientes e bem pagos’, escreveu o diretor do Libération, Laurent Joffrin, no balanço sobre a reforma do jornal.
‘Papel fundamental’
A imprensa francesa tenta se adaptar às novas exigências dos leitores que teimam em comprar jornais de papel apesar da oferta sem limites nas telas do computador, via internet. Os adeptos dos diários de papel ainda querem se dar ao luxo de poder ler seu jornal no metrô, numa fila, numa sala de espera ou numa mesa de um dos charmosos cafés parisienses. E, nesses casos, o jornal de papel é insubstituível.
Le Figaro reformulou a paginação tornando-se mais claro, uma tendência da imprensa atual. O diário nacional mais vendido, 320 mil exemplares por dia, lançou a nova paginação com cores em todas as páginas e uma nova impressão de imagens, waterless, que aproxima o jornal da qualidade das revistas. Na primeira página, uma coluna à esquerda dá o sumário das principais matérias. O site do jornal (6,6 milhões de visitantes únicos por mês) que também se renovou, vai misturar conteúdo gratuito e pago a partir do ano que vem. Dos 600 milhões de euros que o grupo ganhou no ano passado, 17% vieram da versão online.
Na edição em que estreava sua nova diagramação, Le Figaro publicou com exclusividade – e chamada na primeira página – trechos do livro do ex-presidente Valéry Giscard d´Estaing, La princesse et le président, em que uma princesa inglesa, um doublê de Diana, tem um affaire amoroso com um presidente francês, viúvo e pai de dois filhos. Os dois vivem uma tórrida paixão entre palácios da República francesa e o castelo da princesa inglesa, Patricia. Tudo fruto da imaginação do ex-presidente, segundo ele mesmo esclareceu em várias entrevistas posteriores.
Na página de editoriais, o jornalista Philippe Labro explica a ambição do Figaro: ‘A busca da verdade, a explicação e a boa angulação nunca foram tão necessárias quanto hoje, exatamente porque o bombardeamento de informações torna as pessoas surdas e cegas e o público precisa entender os fatos depois de ter tido conhecimento deles’. Segundo Labro, o jornal precisa propor interpretações e provocar debate, uma tarefa que exige, ao mesmo tempo, ‘orgulho por saber que o jornalismo é uma profissão que tem um papel fundamental numa democracia e humildade de reconhecer seus limites’.
Fora da lista
A revista Le Monde Magazine tem 82 páginas de jornalismo de alto nível, um compromisso do jornal que a criou, com reportagens de investigação e colunas assinadas por alguns dos melhores jornalistas do Le Monde. Além disso, a revista valoriza a fotografia com grandes reportagens fotográficas na rubrica ‘Portfólio’.
No primeiro número da Le Monde Magazine, dentro da atualidade política suscitada pelo anúncio do relatório feito pelos prêmios Nobel Joseph Stiglitz e Amartya Sen e pelo economista francês Jean-Paul Fitoussi, a pedido de Nicolas Sarkozy, a revista tenta explicar aos leitores por que os dinamarqueses são o povo mais feliz do planeta, segundo estudo feito pela Universidade de Leicester, na Inglaterra. No relatório dos três economistas, apresentado na Sorbonne em setembro deste ano, eles propõem medir a riqueza das nações com ferramentas diferentes do PIB. Nessa nova forma de classificar os países, o bem-estar da população seria levado em conta, e não apenas a produção econômica. A pesquisa é baseada na percepção que os próprios habitantes têm do país.
Somente a título de curiosidade, segundo a reportagem, no ranking dos países mais felizes depois da Dinamarca vêm Suíça, Áustria, Islândia, Bahamas, Finlândia, Suécia, Butão, Brunei e Canadá, na ordem do segundo ao décimo. A França ficou em 62° lugar. Os Estados Unidos em 23° e a Inglaterra, em 41° lugar. O Brasil não constava da lista citada.
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Jornalista