TRAGÉDIA EM CONGONHAS
Pires: ‘Quem me demitiu foi a mídia’, 21/07/07
‘O assunto ‘demissão’ não fez parte das conversas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Defesa, segundo Waldir Pires. Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, o ministro diz que não pediu demissão nem foi demitido por Lula.
– Só quem me demitiu foi a mídia.
Sobre o acidente com o vôo 3054 da TAM e as críticas à atuação de sua pasta, diz o ministro:
– Não fujo às minhas responsabilidades, mas o fato é que não tenho poderes de gestão, nem de mando, nem de determinar nada no setor aéreo (…) Há um vazio normativo de execução. E a Defesa não tem responsabilidade nem formal nem legal sobre a gestão técnica do setor aéreo.
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O Ministério, ainda segundo Pires, precisa capacitar tecnologicamente as Forças Armadas e fortalecer o sistema de defesa:
– O Brasil tem um política de cooperação e aglutinação na América do Sul. Temos que estar atentos às nossas responsabilidades.
Leia a entrevista:
Terra Magazine – Ministro, leio nas folhas que o sr. foi demitido. Procede?
Terra Magazine – Eu não fui demitido pelo presidente, nem pedi demissão. Só quem me demitiu foi a mídia.
Mas…
Nomear e demitir é uma prerrogativa do presidente da República. Mas esse assunto não foi tratado por nós. Apenas pela imprensa.
Que o responsabiliza, em grande parte, pela crise…
Eu não tenho absolutamente nenhuma responsabilidade legal ou formal sobre a gestão sobre essa área técnica. Sou ministro da Defesa, na verdade tento montar um Ministério depois de 200 anos, pois ele não existia. Mas tentam me atribuir uma responsabilidade, seja formal, ou legal, que não tenho.
Como assim?
A gestão desse setor aéreo e de tudo o que está sendo discutido nesses meses não cabe nem normativa, nem legalmente, nem formalmente, ao ministro da Defesa.
Há um vazio?
Eu não tenho poder para tomar decisões nessa área. Há, de fato, um vazio. E por isso já estava conversando com o presidente, que vê com muita simpatia a busca de uma solução.
Que solução é essa?
Existe um órgão chamado Depac, Departamento de Política de Aviação Civil, que é um órgão burocrático, que na verdade só existe burocraticamente. O que já estávamos conversando antes do acidente em Congonhas é, sem nenhum ônus para o Tesouro, criar a Secretaria de Política de Aviação Civil que, ela sim, terá poderes para intermediar e ordenar as coisas no setor.
O sr. se refere a essa sopa de siglas e funções, Decea, Infraero, Anac…?
Exatamente. Há um vazio normativo e de execução. Não fujo às minhas responsabilidades, mas o fato é que não tenho poderes de gestão, nem de mando, nem de determinar nada no setor aéreo, porque não existe uma política consolidada para o transporte aéreo. E termina isso tudo vindo informalmente para o Ministério da Defesa, que não tem poderes para tanto. Não tenho poderes de gestão sobre essa área técnica. Já há, inclusive, um nome para esse posto.
Quem é ele?
É o brigadeiro Godinho, que está aqui ao meu lado.
Qual é a sua função hoje?
Basicamente, organizar uma política de defesa, que há muito tempo o Brasil não tem. O mundo está mudando muito rapidamente, estamos vivendo uma era de perspectivas duras para a civilização humana.
O que o sr. quer dizer com isso?
Não temos mais a Guerra Fria, mas o mundo vive convulsões, guerras assimétricas, e o Brasil precisa preparar o sistema não de guerra, mas de defesa. Tem que se capacitar tecnologicamente, tem que ter uma indústria capaz nesse setor e tem que modernizar suas Forças Armadas. Não podemos fazer de conta que o mundo hoje não é o que ele já é. É só olharmos para os fatos.
O presidente conhece esse seu pensamento?
Claro que conhece. Temos conversado sobre isso. O Brasil tem um política de cooperação e aglutinação na América do Sul. Temos que estar atentos às nossas responsabilidades.
Por fim, em relação à questão do novo aeroporto…
Congonhas não seguirá sendo um aeroporto de baldeação, de pinga-pinga. Será um aeroporto de ponte aérea, seja para Brasília, Porto Alegre, Salvador.
O sr. pode avançar um pouco sobre onde será o aeroporto de São Paulo?
A idéia geral inicial é de que seja em uma das cidades próximas a São Paulo onde já exista um aeroporto em funcionamento, uma área, e a partir daí se faria um novo grande aeroporto.
Que cidades, por exemplo?
Pode ser Pirassununga, ou Jundiaí, mesmo em Viracopos, isso tudo ainda será objeto de estudos, mas essa é a idéia de partida.’
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