É muita gente, sem dúvida; é gente demais morrendo em guerras, e a diferença de números não faz diferença no tamanho da tragédia. Mas nossos meios de comunicação, considerando-se que suas fontes são as mesmas, não precisavam exagerar nos números contraditórios.
Num mesmo dia, domingo (12/9), houve pesados choques no Iraque. No dia 13, a Folha de S.Paulo tinha quase o dobro de mortos do Estado de S.Paulo. O Globo concordava com a Folha e o Jornal do Brasil, com o Estado.
Este colunista sempre defendeu a tese de que, para estar bem informado, o cidadão precisa de mais de uma fonte de informação. Tudo bem: neste caso, há quatro, e estão entre os jornais mais influentes do país. Afinal de contas, morreram no Iraque ‘mais de 40’ ou ‘mais de 110’ pessoas?
Um senador americano, Hiram Johnson, disse certa vez que, em tempo de guerra, a primeira vítima é a verdade (um belíssimo livro de Philip Knightley, sobre os erros da imprensa na cobertura de guerras, tem exatamente esse título: A Primeira Vítima – edição Nova Fronteira; e, a propósito, é indispensável para jornalistas). Aparentemente, o que acontece no Iraque é exatamente isso: os números são criados com fins propagandísticos. As agências lá instaladas não conseguiram, pelo visto, encontrar fontes independentes e bem informadas. E a segunda vítima são os consumidores de informação: se nem os números batem, que dirá do resto do noticiário?
Luizianne x Inácio
E, por falar em leitor mal informado, estamos acompanhando a guerra de Fortaleza, onde parte do PT gostaria de apoiar o candidato do PC do B à Prefeitura, Inácio Arruda, em vez da candidata do partido, Luizianne Lins. Já houve até quem quisesse propor a expulsão do ministro José Dirceu por fazer campanha pelo candidato adversário. Mas por que parte do PT, que inclui José Dirceu, apóia o candidato de outro partido? Como é que surgiu esta crise? Qual o motivo da rejeição a Luizianne Lins? Isso não tem sido divulgado pelos meios de comunicação.
Exagero 1
Em São Paulo, uma associação de moradores decidiu assumir a reforma de uma praça pública, bem ao lado do Círculo Militar, no bairro Paraíso. A praça ficou bonitinha, com plantas cuidadas, grama aparada e tudo o mais. O que destoa é a placa: diz que a praça foi feita para ‘voçês’ – assim mesmo, com cedilha. Não é erro acidental, não: o ‘voçês’ aparece em outras placas. E, como as placas têm também o logotipo da Prefeitura, a agressão à nossa língua conta com respaldo ‘ofiçial’ da prefeita Marta ‘Supliçy’.
Exagero 2
Será que a gigantesca multinacional Siemens, ao vender seus festejados celulares no Brasil, não poderia ter gasto um pouquinho com alguém que falasse a língua? Seu celular pergunta se é para usar ‘auto falante’. Talvez seja algum moderníssimo carro falante alemão – mas nem está à venda em nosso mercado. Aliás, nem precisavam ter gasto dinheiro com alguém que falasse a língua: uma consulta a qualquer dicionário seria suficiente.
Exagero 3
A Buracovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, tem, pertinho de Atibaia, placas indicando a avenida Lucas Nogueira ‘Garçês’. Estão lá faz tempo! O ex-governador Lucas Nogueira Garcez não merece isso. Nem nós.
Escorregando
Ricardo Kotscho, um dos melhores repórteres do país, gente muito boa, amigo de fé e irmão camarada, é prova viva de que as exigências do poder dificultam o pensamento. Não é que, em resposta a Larry Rohter, do New York Times, ele diz que o projeto do Conselho Federal de Jornalismo não é do governo, e sim da Fenaj, Federação Nacional de Jornalistas? Pois bem: quem formalizou o projeto foi o Ministério do Trabalho, que faz parte do governo; quem enviou o projeto ao Congresso foi o governo; e a proposta não é do governo? O Ricardo Kotscho repórter não aceitaria essa batatada.
Cadê as notícias?
Sumiu da imprensa o caso do procurador Luiz Francisco, de Brasília, que preparou uma denúncia contra o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, e deixou pistas de que o documento havia sido preparado pelo advogado do principal adversário de Dantas, Luiz Roberto Demarco. Nada a favor de Dantas, nem contra Demarco: este colunista nem sabe direito por que estão brigando. Mas parece óbvio que não fica bem, para o Ministério Público, usar em sua denúncia um documento preparado pelos inimigos do denunciado. Hoje, estamos acompanhando o noticiário apenas na internet [especialmente pelo Consultor Jurídico (www.conjur.com.br) que revelou a história]. Jornais, revistas, rádio e televisão, para usar a linguagem tão apreciada pelo pessoal do Direito, quedam-se silentes.
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação; e-mail (carlos@brickmann.com.br)