Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Altas vendas em tempos de crise

Seja qual for o ambiente a ser analisado, o comentário entre os grupos socialmente organizados é entoado de forma uníssona: a crise mundial engendrada pelo mercado financeiro norte-americano. Investidores, empresários e consumidores brasileiros tornam-se cada vez mais apreensivos com o desenrolar desse episódio da economia mundial a cada dia nos diversos meios de comunicação. Não fugindo de tal perspectiva, como todo setor econômico – indústria e agricultura, notadamente – o comércio varejista também nutre certa inquietude com o possível resultado das vendas neste fim de ano.

Entretanto, mesmo que o mencionado setor da economia pátria se preocupe com sua performance ante o premente influxo da crise deflagrada no setor imobiliário dos Estados Unidos, repercutindo nos mais variados segmentos, a expectativa de crescimento em relação às vendas do ano passado se mantém firme. Enfeites luxuosos característicos das festas de fim de ano já podiam ser vistos no primeiro decênio de novembro como forma de atrair tradicionalmente seus clientes. Anúncios e promoções, a criação de vagas temporárias, tão peculiares do terceiro setor nesta época do ano, veio ainda com mais intensidade, perfazendo a estratégia de alavancagem comercial.

Previsões precipitadas

Não podendo abster-se de todo esse contexto, a mídia especializada, de acordo com sua já conhecida ‘volatilidade’, que não perde a oportunidade de criar diversos prismas de interpretação (sobretudo os que melhor lhe convêm), aumenta ainda mais o ‘efeito’ da decadente conjuntura econômica internacional sobre o cenário nacional, estimulando, indiretamente, o receio da possibilidade da mesma transpassar a fronteira entre a instabilidade bancária (uma vez que a crise econômica, por enquanto, esteja restrita aos bancos) e, conseqüentemente, um substancial agravamento na concessão de crédito aos demais setores da economia brasileira.

Com efeito, não se enxerga toda essa declamação proferida pelos ávidos afoitos de gerar uma aparência mais pavorosa acerca do badalado descompasso do mercado financeiro mundial. É bem verdade que a restrição de crédito aumentou e o próprio governo adotou uma política monetária conservadora para se prevenir de possíveis surpresas. Todavia, segundo a iniciativa tomada pelo comércio varejista, como de praxe, demonstra-se que a especulação não trata apenas do mercado de capitais em si, mas também da própria mídia.

A certeza é que, com crise ou sem crise, a tendência das vendas, ao término do ano corrente, despontará numa resposta aos ‘pessimistas’ cujo fim único é o de densificar as conseqüências ‘catastróficas’ anunciadas pelos arautos da convulsão econômica internacional – postulado esse que tange as previsões precipitadas.

Só não há crise, verdadeiramente, para os mais necessitados de trabalho, que, de uma forma ou de outra, precisam consumir a qualquer custo para se manterem em pé para levar o pão de cada dia às suas famílias…

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Administrador de empresas, João Pessoa, PB