As edições de quinta-feira (4/12) dos jornais relatam uma série de fatos que desfavorecem o banqueiro Daniel Dantas em sua tentativa de demonstrar que a condenação a dez anos de prisão, que lhe foi imposta pelo juiz federal Fausto de Sanctis, resulta de perseguição pessoal e não de aplicação da Justiça.
O Supremo Tribunal Federal mandou investigar as atividades de um ex-assessor da área de segurança da Corte, que teria sido infiltrado ali por influência do banqueiro.
A análise de uma agenda pertencente ao ex-presidente da Brasil Telecom, Humberto Braz, apontado como executor da tentativa de corrupção de delegados federais, reforça a tese de que Dantas também estaria por trás das pressões contra uma juíza do Rio de Janeiro.
Completa a lista de notícias desfavoráveis ao banqueiro a revelação de que autoridades dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Suíça estão em missão sigilosa no Brasil, analisando documentos que possam comprovar operações ilegais do banco controlado por Daniel Dantas.
Personagem complexo
A dificuldade do leitor para abranger todos os detalhes do caso policial em que se transformou a vida do outrora reluzente empresário resulta do seu próprio estilo de atuação, sempre agindo em várias frentes simultaneamente e assessorado por batalhões de advogados.
Além de atuar no setor financeiro, Dantas foi protagonista central do processo de privatização das estatais de telefonia e controla extensas áreas do território amazônico, onde possui fazendas de gado suspeitas de lavagem de dinheiro.
Em todas essas atividades ele arrasta denúncias de irregularidades, o que o transforma em personagem complexo demais para a estrutura atual da maioria das redações.
História confusa
Os jornais e revistas, que há cerca de dez anos operam com um contingente mínimo de repórteres, perderam muito da capacidade de investigar e dependem basicamente do vazamento de informações das partes envolvidas no noticiário. Por outro lado, só jornalistas bem relacionados com os protagonistas conseguem ser beneficiários de vazamentos. E a maioria dos repórteres vive com a agenda superlotada de compromissos, o que dificulta o cultivo de relacionamentos.
Além disso, como já foi constatado por um grupo de estudiosos da imprensa reunidos dez anos atrás pelo escritor e jornalista Gabriel García Márquez no projeto chamado ‘Jornal Ideal’, a imprensa vem perdendo a capacidade de contar histórias.
Portanto, o leitor que não entender direito a confusa história do banqueiro Daniel Dantas não deve se sentir menos inteligente: o outro nome de Dantas é confusão, e os jornais não têm estrutura para muito mais do que reproduzir dossiês e conversas gravadas.
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Notícias alarmistas
Os jornais cravam bastante atenção no desempenho da indústria e reproduzem previsões de aumento do desemprego no primeiro trimestre de 2009. A Folha de S.Paulo repete uma expressão catastrofista do vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, segundo o qual o setor vai passar por uma ‘carnificina’ de empregos.
O ministro do Trabalho Carlos Lupi faz previsão semelhante, defendendo a redução dos juros, pelo efeito psicológico que pode exercer sobre as decisões das empresas.
Recentemente, diretores de grandes jornais reunidos em São Paulo admitiram que a imprensa andou se antecipando nas análises sobre os efeitos da crise financeira americana no Brasil. Na ocasião, pelo menos dois deles observaram que o noticiário negativo chegou antes dos fatos negativos, sem a devida contextualização [ver, neste Observatório, ‘Um melancólico olhar para dentro‘].
As edições de quinta-feira (4) dos jornais são um bom exemplo: enquanto a imprensa internacional especializada começa a enxergar o período de estabilidade que pode estar além da crise, os jornais brasileiros ainda reforçam o clima de pessimismo.
Sem contexto
Não se diga que a imprensa devesse se comportar como Poliana, personagem do romance da americana Eleanor Porter que sempre vê o mundo em cor-de-rosa. Trata-se da necessidade de o noticiário econômico buscar mais precisão em reportagens que podem afetar a disposição dos agentes econômicos para seguir tocando seus negócios.
Por exemplo, o noticiário de quinta-feira sobre previsões de desemprego fala de setores que estão com suas atividades em desaceleração, mas não esclarece o peso desses setores no conjunto da oferta de empregos.
A indústria automobilística, citada constantemente no noticiário da crise, há muito tempo deixou de ser intensiva em mão-de-obra.
Além disso, seria conveniente esclarecer o aspecto da redução de ritmo que sempre acontece em determinadas atividades no final do ano.
Notícia negativa sem contextualização é puro alarmismo.