Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tribune entra com pedido de concordata

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 9 de dezembro de 2008


 


CRISE
O Estado de S. Paulo


Dona do ‘Los Angeles Times’ pede concordata


‘A companhia de mídia americana Tribune Co., proprietária dos jornais Los Angeles Times e Chicago Tribune, pressionada por uma dívida de quase US$ 13 bilhões, entrou ontem com pedido de concordata. A empresa, que também é dona de outros jornais, como o Baltimore Sun, e da equipe de beisebol Chicago Cubs, apresentou o pedido a um tribunal federal de falências no Estado de Delaware.


A companhia informou em comunicado que continuará operando normalmente durante o período de reestruturação da dívida e que seguirá publicando seus jornais e administrando seus canais de televisão e outras propriedades, sem interrupção. A Tribune insistiu em dizer que tem ‘dinheiro suficiente’ para garantir a continuidade de suas operações.


‘A queda acelerada da receita e o difícil ambiente econômico se somou à crise de créditos, o que tornou extremamente difícil pagar nossa dívida’, disse Sam Zell, o magnata do setor imobiliário proprietário do grupo. ‘Todas as nossas receitas com propaganda foram afetadas de forma dramática.’ A Tribune foi adquirida por Zell em dezembro de 2007, numa transação de US$ 8,2 bilhões.


No domingo, o Chicago Tribune informou que a empresa matriz havia contratado assessores para dar andamento ao pedido – o banco de investimentos Lazard e o escritório de advocacia Sidley Austin -, enquanto analisava suas opções financeiras. ‘O ambiente atual é incerto e difícil’, disse o porta-voz da Tribune, Gary Weitman, em artigo publicado no domingo na página do jornal na internet. O The Wall Street Journal, citando fontes familiarizadas com o assunto, já tinha informado que o fluxo de caixa da Tribune poderia não ser suficiente para pagar quase US$ 1 bilhão de juros da dívida este ano.


De acordo com informações da companhia, entre os credores estão o banco JP Morgan, com US$ 8,57 bilhões a receber, e o banco Merrill Lynch, com crédito de US$ 1,6 bilhão. O pedido de concordata não inclui o Chicago Cubs ou o estádio Wrigley Field, onde o time joga. A Tribune, no entanto, já vem tentando vender esses dois ativos.


Inicialmente, a empresa esperava que seus lucros, com os periódicos e a televisão permitiriam cobrir os pagamentos dos juros e da dívida, mas a queda abrupta das receitas obtidas com anúncios, na maioria dos jornais do conglomerado, obrigou-a a fazer cortes, inclusive de pessoal, e vender bens para conseguir receita.


Entre as vendas feitas pelo grupo estão a do jornal Newsday, de Nova York, para a Cablevision Systems Corp. No terceiro trimestre, a Tribune também vendeu uma participação de 10% no site de empregos CareerBuilder, para o grupo Gannett, por US$ 135 milhões.


Para analistas, não há dúvidas de que a Tribune está sob muita pressão. ‘As condições financeiras da Tribune são uma mostra da doença que se alastrou sobre essa indústria’, disse Jerome Reisman, advogado especializado em falências.


Além dos jornais, o grupo Tribune também é dono de 23 estações de televisão, e a expectativa para essas unidades é serem atingidas pelo declínio na publicidade que sempre se segue após as eleições. ‘Isso tem sido, para dizer o mínimo, a tempestade perfeita’, disse Zell.’


 


 


AFP


‘New York Times’ hipoteca sede


‘A New York Times Co., que edita o jornal The New York Times, anunciou ontem que vai levantar um empréstimo de US$ 225 milhões, pelo qual cederá a nova sede do grupo como garantia, em forma de hipoteca. Com o empréstimo, a companhia espera sair de uma crise de liquidez causada por um ajuste do mercado de crédito que levou a uma redução de seus lucros.


O grupo possui 58% de uma torre de 52 andares na Oitava Avenida, concebida pelo arquiteto Renzo Piano e concluída no ano passado. O restante da propriedade pertence à Forest City Ratner. A parte do jornal não havia sido hipotecada até agora.


O grupo encarregou a empresa imobiliária Cushman & Wakefield de se ocupar do financiamento, de acordo com informações do próprio New York Times, citando seu diretor-financeiro, James Follo. No decorrer deste ano, as ações da empresa proprietária do jornal perderam mais da metade de seu valor.’


 


 


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Doki ganha atração


‘O cãozinho Doki, mascote do Discovery Kids, que já aparece nos intervalos do canal infantil, vai ganhar uma série animada em 2010. Antes, em 2009, vai ao ar o piloto do desenho. O Discovery Kids comemora a marca dos mais de 5 milhões de assinantes e é, hoje, o canal com mais distribuição no mercado de TV por assinatura. Segundo o gerente-geral da Discovery Networks no Brasil, Fernando Medín, o Discovery Kids cresceu 34% de julho de 2007 a julho de 2008.


Ainda na área das animações, uma produção brasileira deve estrear já no primeiro trimestre do próximo ano no Discovery Kids. Trata-se de Peixonauta, em parceria com a Pingüim. O desenho entrará em cartaz com 52 capítulos finalizados.


Em produções locais, o grupo Discovery ainda tem mais três projetos, além do Peixonauta e da seqüência de Viver Para Contar, no Discovery Channel, executada pela Conspiração Filmes, parceira do canal também em Zootropolis, a série vencedora do pitching deste ano, mas que ainda está em fase de desenvolvimento. Para ir ao ar, a atração deve ser apresentada e aprovada pela Discovery.’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 9 de dezembro de 2008


 


O FUTURO DO JORNAL
Clóvis Rossi


Quando o erro é anônimo


‘SÃO PAULO – A ‘Tribune’, que edita, entre outros, os jornais ‘Chicago Tribune’ e ‘Los Angeles Times’, está na iminência da bancarrota. Já o ‘New York Times’, que é um pouco sinônimo de grande jornal, vai hipotecar sua sede para obter liqüidez.


São notícias que levarão água para o moinho dos que acreditam que o jornal em papel está condenado à morte -e eventualmente súbita.


Calma. Só parte das dificuldades dessas empresas está de fato vinculada à queda na vendagem e, principalmente, na receita publicitária, fenômeno mais agudo nos Estados Unidos e em países europeus do que nos chamados mercados emergentes, Brasil inclusive.


Mais calma ainda nos festejos pela substituição do papel pelos ‘blogs’, ‘twitters’ e demais bossas da informação on-line ou por telefone. Democratiza mais a informação? Sim. Melhora a sua qualidade? Não necessariamente.


Os ‘twitters’, aquelas mensagens curtas enviadas pelo celular, chegaram a ser celebrados como principal fonte de informação, por exemplo, no caso dos atentados em Mumbai, na Índia.


Agora, a BBC acaba de se desculpar por ter sido descuidada em usar um rumor (que se revelou falso) difundido via ‘twitter’. ‘Deveríamos ter checado antes e só divulgado depois, se confirmada a informação’ (o que não aconteceria), admite o editor Steve Herrmann.


O leitor, se consulta regularmente a internet, sabe que se trata de território livre para boato, informação interessada, lobbies nem sempre honestos nem legítimos, fantasias, teorias malucas ou venenosas etc. etc. etc.


Não que os jornais sejam santos ou perfeitos. Mas, em caso de erro, o leitor sabe a quem reclamar, pois tem o endereço, o telefone, o CNPJ, o e-mail, o ombudsman. Nos ‘twitters’ da vida e seus parentes, o erro é anônimo.


Pior para o leitor.’


 


 


SIFU
Carlos Heitor Cony


A plebe rude


‘RIO DE JANEIRO – De certa forma, e uns pelos outros, quase todos os cronistas e colunistas em atividade na mídia nacional comentaram a recente fala do presidente da República, que usou uma expressão classificada de ‘chula’. Resisti até agora, mas quem há de?


De minha modesta parte, não fiquei escandalizado com a expressão em si, mas confesso que até hoje fico ruborizado quando leio ou ouço a palavra ‘chula’. Quando a ouvi pela primeira vez, mais ou menos aos 12 anos, pensei que se tratava de um sinônimo técnico ou erudito para ‘vagina’, órgão feminino que eu conhecia por outros nomes em voga no distante Lins de Vasconcelos, onde nasci e me criei.


Vai daí, achei o uso da palavra ‘chula’ mil vezes pior do que a expressão popular usada por Lula. Além disso, a exposição do cargo que ocupa o obriga a falar todos os dias em diversas ocasiões, nem sempre formais. E a linguagem coloquial nem sempre pode ser evitada. Nunca tivemos um presidente que falasse tanto em público, muitas vezes desnecessariamente.


Nos 20 anos em que exerceu o poder, Getúlio Vargas pouquíssimo falou de improviso. Seu sucessor, o marechal Dutra, era ruim de prosódia e só falava o estritamente necessário, às vezes nem isso


JK falou muito, FHC também. Somando os dois, não chegam à metade do que Lula já falou -e ainda lhe restam quase dois anos de mandato. Jânio era econômico e castiço demais quando falava qualquer coisa -e até mesmo quando não falava. Tinha obsessões pela colocação dos pronomes.


Em outro cenário político e lingüístico, a expressão usada chocaria a classe média, como chocou alguns comentaristas da mídia. Mas a plebe rude, que engrossa os 70% de aprovação ao presidente, teve mais um motivo para considerar Lula como um dos seus.’


 


 


AI-5
Janio de Freitas


Dias da história


‘A PROMETIDA reunião do Conselho de Defesa Nacional na quinta 11, já para dar por aprovado o Plano Estratégico de Defesa, confere a esta semana uma coerência só comparável à do Carnaval.


Foi providencial, assim, a inserção do novo evento entre a quarta 10, dedicada aos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos e à decisão judicial sobre ou contra as reservas indígenas, e o sábado 13, dos 40 anos do Ato Institucional nº 5, o AI-5 que se iguala ao DOI-Codi como criações maiores da ditadura militar.


Eis, pois, uma semana de grandes temas do segmento militar e, portanto, dele estendidos ao país.


Nada a estranhar na presença da Declaração dos Direitos Humanos entre esses temas. Em qualquer parte do mundo, militares são os maiores especialistas em direitos humanos. Tal como, por exemplo, os médicos e os bombeiros são especialistas no que combatem.


Há quem atribua a prioridade às polícias, também em todo o mundo, mas é um equívoco de visão parcial. Polícias, quando reprimem parte da criminalidade, servem a uma outra concepção de direitos humanos, não policial nem militar.


Quase incompreensível, sim, é o anti-indigenismo tão difundido entre militares do Exército à proporção em que ostentam mais estrelas. Por aí se entende a ausência, na memória militar brasileira, dos tributos devidos a Cândido Rondon, o mais brasileiro e de vida mais heróica entre os militares históricos. Jamais lembrado para a merecida altitude de patrono, atribuída aos que comandaram outros em lutas de morte.


O anti-indigenismo brotado do pós-Segunda Guerra, ou nos últimos 60 anos, é um confuso coquetel. Em doses variáveis, é feito de preconceito étnico, concepções primárias de segurança nacional, interesses mal percebidos do capital internacional dedicado à exploração de riquezas naturais, idem em relação a grandes explorações agrícolas e, como tempero, os subprodutos da Guerra Fria. Bem apropriado, portanto, a uma regra da história: o indígena paga sempre.


Servidor da ditadura no cerne mesmo em que foi elaborada e conduzida, seu ex-ministro Rondon Pacheco abriu as esperadas memórias pelo aniversário do AI-5. Com o destaque de uma revelação: o general Médici, tão logo assumiu o poder, quis revogar o AI-5, faltando-lhe apoio militar para fazê-lo.


A história é flexível e amaciável, e a hora é oportuna para os que se têm dedicado a fazê-lo sobre seu percurso pela ditadura. Se Médici, chefe do SNI convocado para a Presidência, considerasse as monstruosidades do AI-5 dispensáveis, bastaria incluir a revogação nas condições apresentadas à junta militar, que nele encontrava a opacidade aceita por todos os gostos das casernas. Além de não o fazer, como general-presidente foi autor, co-autor ou avalista em tudo o que compôs o crescente despotismo baseado no AI-5.


É uma semana muito proveitosa, esta.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Queda-de-braço


‘No enunciado do UOL, ‘Dólar descola do cenário externo e fecha em alta’. Enquanto isso, na home do ‘Wall Street Journal’, ‘Dólar cai diante do euro’. O otimismo com os pacotes prometidos por Barack Obama teria levado os investidores a arriscar outros mercados, daí a queda. Alta no dólar, só aqui.


O ‘Valor’ afirma que, na ‘queda-de-braço travada pelos especuladores de câmbio’ com o Banco Central, o alvo seria a decisão sobre juro, amanhã. A alta ‘serve para convencer que não é prudente começar a baixar tão cedo’. Com a manobra, ‘os especuladores ganham tanto com o juro alto quanto com o dólar caro’.


SUBIU NO TELHADO


Bob Fernandes, no Terra, se soma a Kennedy Alencar, na Folha Online, e afirma que ‘Henrique Meirelles subiu no telhado’. A saída seria em abril, mas ‘as circunstâncias mudaram’. Se não cair o juro, algo vai mudar ‘em breve’.


MAIS À ESQUERDA


Já Lauro Jardim, na Veja.com, questiona ‘vazamentos da Fazenda e de alguns dos ministros mais à esquerda’ pelo ‘rumor’ de queda no BC. Um rumor que deve crescer, informa. ‘Lula e Meirelles se encontraram a sós’, ontem.


A BOLSA E A CHINA


O dólar subiu, mas a Bovespa também, esta seguindo Wall Street, estimulada pelos pacotes de Obama.


Mas não só pelos EUA, no caso do Brasil. A AP noticiou como primeira razão da alta por aqui a eventual expansão do pacote de estímulo na China. E, a partir de reportagem da Folha, citou o interesse chinês em investir no pré-sal. Já a Bloomberg deu como outra razão da alta a notícia, a partir de ‘O Estado de S. Paulo’, de que a chinesa Lenovo pode comprar a fábrica de computadores Positivo.


Quinta passada, na capa do ‘Financial Times’, a China avisou que deixava de aplicar nos EUA em troca de outros emergentes com ‘políticas econômicas mais claras’.


CONTRA O BRASIL


O ‘El País’, que acompanha de perto as divisões entre os países sul-americanos, onde a Espanha concentrou os seus investimentos externos, noticiou ontem que estão ‘Todos contra o poder do Brasil’. Sublinha que Equador, Paraguai, Bolívia e Venezuela, ‘da esquerda mais dura da América do Sul’, renegam dívidas tomadas junto ao país ‘e questionam a liderança de Lula’ na região.


No sábado, o mesmo ‘El País’ já havia destacado que ‘Começa a batalha elétrica sul-americana’, a partir da ‘exigência de maior compensação’ pela energia de Itaipu, feita pelo Paraguai. Logo abaixo, ‘O confronto questiona o papel brasileiro como potência regional’.


AS RESERVAS


Três semanas atrás, a ‘Economist’ publicou uma longa reportagem com elogios ao Brasil pela estratégia adotada ao lidar com os Ticuna, do Alto Solimões. ‘Os resultados da política de reservas na área são impressionantes… As reservas são um ponto alto na história dos contatos [com índios] no Brasil.’ O site da revista voltou a postar sobre a região, ontem, com um ‘diário de correspondente’.


E no domingo foi a vez do ‘New York Times’, abrindo alto de página no primeiro caderno com o enunciado ‘Uma tribo no Brasil se esforça no cruzamento de drogas e culturas’. O jornal desenha um quadro menos otimista para os Ticuna, dizendo que a área virou foco do tráfico de drogas, na fronteira com o Peru e a Colômbia.


A TENSÃO CRESCE


As reportagens no exterior antecedem a decisão a ser tomada pelo Supremo sobre a reserva Raposa Serra do Sol, a partir de amanhã. O enviado da BBC Brasil relata como ‘a tensão cresce’, à espera.


A META, AFINAL


Por outro lado, no final da semana, ‘Washington Post’, em longo texto, e outros prosseguiram com os elogios ao plano brasileiro que fechou a meta de 70% de corte no desmatamento da floresta.


‘BROKE’


A rede Tribune abriu falência, mas a manchete do site Drudge, ‘News is broke’ (o jornalismo quebrou), linkou para a hipoteca do ‘NYT’ sobre seu prédio novo’


 


 


FALÊNCIA
Folha de S. Paulo


Grupo de jornais dos EUA pede concordata


‘O grupo Tribune, dono de dois dos maiores jornais americanos, o ‘Los Angeles Times’ e o ‘Chicago Tribune’, entrou ontem com um pedido de concordata, expondo ainda mais os problemas do setor nos Estados Unidos, com queda de vendas e publicidade.


O Tribune, que foi adquirido no ano passado por US$ 8,2 bilhões pelo bilionário do setor imobiliário Sam Zell, afirmou ter dívidas de quase US$ 13 bilhões, ante US$ 7,6 bilhões em ativos. A maior parte dessa dívida foi adquirida quando Zell comprou a empresa.


‘Fatores além do nosso controle criaram uma tempestade perfeita -um declínio abrupto da receita e uma economia em dificuldade associados com uma crise de crédito que tornou extremamente difícil sustentar nosso passivo’, afirmou Zell, em nota. O bilionário é dono de 19% das ações da construtora brasileira Gafisa.


Um dos maiores grupos de comunicação dos EUA, com 12 jornais e 23 estações de TV e presença em quase todas as principais cidades, o Tribune, fundado em 1847, recorreu ao capítulo 11 da lei de falências, que permite que a empresa continue operando enquanto reestrutura a sua dívida, ao mesmo tempo que a protege de credores e possíveis ações judiciais. O mesmo capítulo foi usado pelas companhias aéreas dos EUA durante a crise do setor após o 11 de Setembro.


Um dos temores sobre a empresa é que ela não tenha dinheiro em caixa suficiente para cobrir os cerca de US$ 1 bilhão em pagamento de juros que vencem neste ano e a dívida de US$ 512 milhões em junho.


Uma das expectativas do grupo era a venda do Chicago Cubs, um dos times de beisebol mais tradicionais dos EUA, mas, com a crise da economia, o negócio não foi fechado. Estima-se que a venda do clube sairia por cerca de US$ 1 bilhão. Mas o negócio, que era previsto para ocorrer no meio deste ano, só deve sair no ano que vem.


Os problemas da empresa se aceleraram nos últimos meses, com a queda da receita com publicidade. No terceiro trimestre, elas recuaram 18% nos jornais, que enfrentam cada vez mais a concorrência da internet. Ao mesmo tempo, a circulação de jornais nos EUA caiu 4,6% entre abril e setembro na comparação com o mesmo período do ano passado. A do ‘Los Angeles Times’ caiu 5,20%, e a do ‘Chicago Tribune’, 7,75%.


Em mais um indicador dos problemas do setor, os donos do ‘New York Times’ pretendem levantar até US$ 225 milhões, usando como garantia o prédio do jornal em Manhattan. Eles já contrataram um escritório para ajudar com negócio, em que poderia hipotecar o edifício ou realizar uma venda em que manteria o uso por meio de um leasing.


Com o ‘New York Times’ e agências internacionais’


 


 


TELEVISÃO
Laura Mattos


Brasil despreza leis para conteúdo infantil na TV


‘As emissoras abertas brasileiras investem cada vez menos na programação infantil, que tem se concentrado nos canais pagos, restritos às classes econômicas mais privilegiadas.


No Brasil, investir ou não nesse tipo de conteúdo é uma decisão das redes, uma vez que não há nenhuma lei para regulamentar faixas da programação dirigidas às crianças.


Essa é uma das lacunas da legislação brasileira na proteção da infância e adolescência, de acordo com um estudo realizado pela Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância).


O levantamento será apresentado hoje, por Veet Vivarta, secretário-executivo do órgão, em Atenas, no Fórum Global para Desenvolvimento da Mídia, que debate, entre outros temas, formas de garantir uma ‘programação de qualidade’.


Por um ano, a Andi mapeou, em 14 países da América Latina, leis e projetos de lei que abordam a relação entre os meios de comunicação e o direito de crianças e adolescentes. Em seguida, comparou com a legislação da Suécia, considerada modelo mundial nessa área, com um sistema regulatório implementado há quase cem anos. Concluiu que, apesar de o continente não viver um ‘vazio regulatório’, não há nada ‘tão coeso’ como na Suécia, principalmente por serem raros na América Latina órgãos reguladores independentes.


No Brasil, além da programação infantil, não há leis que regulamentem o trabalho de menores em meios de comunicação -só a Argentina possui esse tipo de norma. Também não está contemplada na legislação brasileira a publicidade dirigida à criança, como acontece no México e no Paraguai.


O estudo constatou não existir, em nenhum dos 14 países, cotas para exibição de desenhos animados nacionais nem para a garantia de veiculação de produções regionais.


O Brasil se destaca na classificação indicativa dos programas. Recém-implementada, é considerada ‘a mais completa’.


Em comum entre os países há o fato de a TV ser o principal meio de informação e de emissoras públicas e educativas serem pouco representativas.’


 


 


Fernanda Ezabella


Intelectuais discutem ‘Brasil da Virada’


‘Eric Hobsbawm e Tati Quebra-Barraco no mesmo programa? No breve documentário ‘O Brasil da Virada’, que o Canal Brasil exibe hoje às 23h30, o historiador inglês e a funkeira carioca surgem como referências para entender a virada do século 20 para o 21.


Intelectuais brasileiros das mais variadas áreas falam desta passagem, criando um panorama geral da história recente do Brasil. Uma montanha-russa em movimento serve de metáfora à passagem do tempo.


Ecologia, genoma, favelas, religião e política são alguns dos temas abordados. Entre os convidados estão o urbanista Nabil Bonduki, o jornalista Washington Novaes e o curador Agnaldo Farias.


O sociólogo Marcelo Ridenti cita Hobsbawm duas vezes para explicar o século 20, ‘um século breve’ e ‘de urbanização’.


Já o antropólogo Hermano Vianna fala de movimentos culturais de periferia, como grupos de rap e bailes funk, tendo como imagem de fundo um show de Tati Quebra-Barraco.


Para ele, no entanto, melhor que uma montanha-russa para simbolizar a linha da história nos dias de hoje, é uma teia (web, em inglês, que também significa internet). ‘Não tem mais um centro, não tem mais um caminho único para se chegar de um ponto ao outro.’


O BRASIL DA VIRADA


Quando: hoje, 23h30; domingo, 15h


Onde: Canal Brasil


Classificação indicativa: livre’


 


 


Laura Mattos e Cátia Seabra


Serra estabelece controle à TV Cultura


‘A Fundação Padre Anchieta, que administra a TV Cultura, terá de aumentar a sua captação de recursos próprios e diminuir o espaço da publicidade comercial nos próximos anos. Se isso não ocorrer, será punida pelo governo do Estado de São Paulo com a redução do repasse de verbas para investimento.


Essas são as bases de um acordo assinado ontem entre a fundação e o governo estadual.


O documento também prevê que o repasse do Estado para custeio da FPA será reduzido a cada ano -dos R$ 78,6 milhões previstos para 2008 terá de cair para R$ 56,8 milhões em 2013.


O convênio estabelece uma pontuações para cada meta cumprida e estipula uma ‘nota de corte’. A FPA precisa atingi-la para ter acesso ao total da verba prevista para investimento, que será de R$ 18 milhões em 2009, o mesmo valor em 2010 e R$ 15 milhões anualmente entre 2011 e 2013.


Além disso, o governo determina em que o dinheiro será investido, como na modernização da rede elétrica e dos estúdios da TV, na digitalização do arquivo e reforma do teatro Franco Zampari, onde são realizadas gravações da Cultura.


Pressão


Há mais de seis meses, a FPA sofria pressão de interlocutores do governador José Serra para criar mecanismos de controle em seus gastos. A proposta de um ‘contrato de parceria’ foi feita em maio pelo Comitê Administrativo, Financeiro e Jurídico Institucional, do conselho curador da FPA. O grupo tem oito membros, entre eles João Sayad, secretário de Cultura do governo José Serra.


Segundo a Folha apurou, o governo avalia que havia pouco controle nos gastos da fundação e que o novo contrato irá ampliá-lo ‘infinitamente’. Uma corrente defende que a TV Cultura gasta demais para não ser submetida a uma fiscalização. O objetivo era fazer com que a instituição assumisse um compromisso e não apenas apresentasse seus gastos.


Presidente da FPA, Paulo Markun não concorda e cita a fiscalização realizada pelo Tribunal de Contas do Estado.


Ele defende que o contrato não fere a autonomia da fundação e ressalta que foi aprovado por unanimidade pelo conselho curador.’


 


 


INTERNET
Bruno Yutaka Saito


Caetano em construção


‘Caetano transa internet. No ar desde junho, o blog Obra em Progresso (www.obraemprogresso.com.br) permite que o público conheça as canções (ou ao menos os esboços) que estarão no novo disco de um dos artistas centrais da música brasileira, previsto para ser lançado no ano que vem (veja as músicas no quadro acima).


Por enquanto, são nove faixas, em vídeos de YouTube linkados no site [não é necessário pagar para ter acesso]. Os arquivos registram shows realizados neste ano.


‘Quando decidi fazer shows semanais para mostrar o desenvolvimento do repertório do novo disco, Hermano [Vianna; responsável pelo site] logo propôs fazermos um blog. Ele gosta muito da internet e das mudanças que ela traz às idéias de autoria, direitos e obra acabada. Aceitei imediatamente, pois, embora eu não goste tanto dessas coisas quanto ele, não me sinto em oposição a elas’, afirma Caetano, 66, em entrevista à Folha por e-mail.


O disco ainda não tem nome, mas Caetano anda fascinado com o conceito de ‘transamba’: ‘de trans + samba; nome de um novo gênero de música criado artificialmente (mas nem Deus sabe quão orgânica e necessariamente) no Brasil. […] Transamba é palavra que já vem dançando entre os sentidos […] É o samba além do samba. Um samba desencaminhado e excessivo, mas sublime e superior’, escreve ele no blog.


Na prática, o músico segue no espírito de seu disco anterior, ‘Cê’ (2006). A idéia, de uma forma bem resumida, é fazer samba com uma banda de formação de rock.


Além da música


‘O intuito é mais mostrar o desenvolvimento do repertório do que auscultar a reação dos ouvintes (tanto no blog quanto nos shows). Não há interferência dos internautas na estruturação das canções’, diz.


Caetano continua: ‘Pedi a Hermano para botar os dois arranjos que gravamos no estúdio para ‘Incompatibilidade de Gênios’ [João Bosco e Aldir Blanc]. Os internautas votarão e daí sairá a decisão de qual dos dois vai para o disco’.


Tão interessante e revelador quanto as músicas é ler os longos textos de Caetano, além dos vídeos com entrevistas -e que resultarão em DVD. Como nos blogs de anônimos, o artista expõe impressões com a mesma desenvoltura com que reflete sobre temas esperados, como cinema, música, arte e política, e outras paixões menos óbvias, como a gramática – portuguesa e inglesa.


‘Leio todos os comments. Escrevo rápido e sem pensar muito. Não fico muito tempo diante do computador. Publico posts esporadicamente mas envio comments com freqüência. Me divirto quando entro lá. Há personagens gozados e a gente se afeiçoa […] Mas levo mais tempo lendo jornais e livros, conversando com filhos e amigos, do que navegando na internet’, diz o músico.


E, claro, há espaço para discussões inflamadas, em que Caetano diverge (ou é divergido) sobre nomes tão díspares como Fidel Castro, Tom Zé ou jornalistas -inclusive da Folha. ‘Minhas brigas com a imprensa nascem quase sempre da pretensão de orientá-la -não no sentido de fazê-la útil à minha afirmação pessoal ou minha vaidade, mas no de fazê-la cada vez menos lesiva ao que entendo como possibilidade e dever do Brasil. O que ninguém parece ver em minhas intervenções agressivas é meu amor pela imprensa’, diz.


E repete comentário feito no blog: ‘A net é um imenso saco de gatos. Paulo Francis [jornalista, 1930-97] dizia que quem escreve cartas à redação é maluco. Pois bem, a internet é o paraíso desses malucos -e os blogs, os jardins do paraíso.’’


 


 


 


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