Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Murdoch e o futuro dos jornais

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


 


MÍDIA
Folha de S. Paulo


Murdoch exala otimismo sobre jornal no século 21


‘Em meio a declínio na circulação, queda no volume de anúncios e cortes de postos de trabalho nos principais jornais dos EUA e da Europa, uma voz de respeito se ergue contra as previsões catastrofistas que vêem o jornal com os dias contados: a do magnata das comunicações Rupert Murdoch, 77, acionista majoritário e executivo-chefe da News Corporation, um dos maiores conglomerados de mídia do mundo.


Em uma palestra dada no mês passado para uma série da rádio australiana ABC, chamada ‘Uma Era Dourada para a Liberdade’, Murdoch diz enxergar a nova era tecnológica como uma oportunidade, e não uma ameaça, para os jornais tradicionais.


‘É verdade que nas próximas décadas as versões impressas de alguns jornais vão perder circulação. Mas, se os jornais derem aos leitores informações confiáveis, veremos ganhos na circulação [em outras mídias]’, aposta Murdoch.


Para o empresário, os leitores atuais querem a mesma coisa que os leitores do passado: uma fonte na qual podem confiar. ‘Foi sempre esse o papel dos grandes jornais no passado. E esse papel fará os jornais serem grandes no futuro.’


O otimismo do empresário destoa do cenário nebuloso que enfrenta hoje a mídia nos países desenvolvidos. A circulação dos jornais nos EUA sofre uma queda acelerada -entre abril e setembro, recuou 4,6% em relação aos seis meses anteriores.


Além de perderem circulação, os jornais assistem à fuga dos anunciantes. Em 2007, a receita publicitária das versões impressas dos jornais americanos recuou 9,4%.


A queda da circulação e a perda de anunciantes acarretam corte de pessoal para tentar equilibrar os custos -o que acaba tornando mais difícil para os jornais manter a qualidade do produto.


Tudo isso já vinha ocorrendo antes mesmo do acirramento, nos últimos meses, da crise econômica global. Com ele, a situação tende a se deteriorar, e a primeira demonstração disso foi o pedido de concordata feito pelo grupo Tribune, que edita dois dos maiores jornais dos EUA, o ‘Chicago Tribune’ e o ‘Los Angeles Times’.


Murdoch vem sendo menos afetado pela crise. O seu ‘Wall Street Journal’ tem a segunda maior tiragem nos EUA, e, ao contrário dos concorrentes, não sofreu queda na circulação nos últimos meses. O ‘Times’ de Londres, cujas vendas vinham caindo, inverteu o sentido com o abandono de seu formato tradicional e a opção por um tamanho menor.


Na palestra do mês passado, cuja íntegra a Folha publica a seguir, Murdoch aposta alto no futuro do seu negócio: ‘Diferentemente dos que vislumbram o fim do mundo, eu acredito que os jornais vão alcançar novas alturas’.’


 


 


O futuro dos jornais: avançando além das árvores mortas


‘Leia a íntegra da palestra do magnata australiano sobre o que espera para o jornalismo impresso nos próximos anos


QUERO falar com vocês sobre um tema que sempre abala certos jornalistas: o futuro dos jornais. É um tema cuja relevância vai muito além da coleção febril, às vezes insegura de egos que é a categoria dos jornalistas.


Um número grande demais de jornalistas parece sentir prazer perverso em ruminar sobre seu fim iminente. Conheço setores econômicos que estão enfrentando concorrência nova e difícil da internet: bancos, varejistas, companhias telefônicas e assim por diante. Mas esses setores também enxergam a internet como uma oportunidade extraordinária. Entre nossos amigos jornalistas, porém, há alguns cínicos enganados que estão ocupados demais redigindo seus próprios obituários para se permitirem sentir-se instigados com a oportunidade.


A autocomiseração nunca é algo bonito de se ver. E às vezes ela começa já nas escolas de jornalismo -algumas das quais estão perpetuando o pessimismo dos líderes de sua tribo. Mas eu tenho uma visão muito diferente.


Diferentemente dos que vislumbram o fim do mundo, eu acredito que os jornais vão alcançar novas alturas. No século 21, as pessoas estão mais sedentas por informação do que jamais estiveram. E elas têm mais fontes de informação do que jamais tiveram.


Entre essas muitas vozes diversas e que competem entre si, os leitores querem aquilo que sempre quiseram: uma fonte na qual podem confiar. Foi sempre esse o papel dos grandes jornais no passado. E esse papel fará os jornais serem grandes no futuro.


Quando se discute o futuro com jornalistas, constata-se que um número grande demais deles pensa que nosso negócio é apenas o dos jornais físicos. Eu gosto da aparência e da sensação do jornal em papel tanto quanto qualquer pessoa. Mas nosso negócio não é imprimir sobre árvores mortas. É oferecer a nossos leitores ótimo jornalismo e ótimo julgamento.


É verdade que nas próximas décadas as versões impressas de alguns jornais vão perder circulação. Mas, se os jornais derem aos leitores informações confiáveis, veremos ganhos na circulação -em nossos sites, em nossos feeds de RSS, em e-mails transmitindo notícias e anúncios customizados, nas notícias enviadas a celulares.


Em suma, estamos passando dos jornais publicados em papel para os jornais como marcas. Durante toda a minha vida profissional, sempre acreditei que existe valor social e comercial na transmissão de notícias e informações precisas de maneira barata e pontual. Neste século que temos pela frente, a forma de transmissão pode mudar, mas o público potencial de nosso conteúdo pode multiplicar-se muitas vezes.


O setor dos jornais tem significado muito pessoal para mim. Eles estão no cerne de meus negócios há mais de meio século. Se sou cético em relação aos pessimistas hoje, a razão é simples: já ouvi seus prognósticos mal-humorados muitas vezes.


Os desafios são reais. É provável que nunca chegue a existir um escritório sem papel, mas os jovens estão começando a abolir o papel em suas casas. Fontes de renda tradicionais -como os classificados- estão secando, impondo pressões ao modelo econômico. E os jornalistas enfrentam nova concorrência de fontes alternativas de notícias e informação.


Assim, temos um fluxo constante de artigos como a capa da ‘The Economist’ declarando que ‘os jornais são uma espécie em perigo de extinção’. Isso é bastante irônico, vindo de uma revista bem-sucedida e em expansão que gosta de se descrever como ‘jornal’.


Meu resumo do modo como algumas das mídias estabelecidos vêm reagindo à internet é o seguinte: não são os jornais que podem ficar obsoletos. São alguns dos editores, repórteres e proprietários de jornais que estão se esquecendo do bem mais precioso de um jornal: o vínculo com seus leitores.


Quando eu era adolescente, essa foi uma lição-chave que meu pai me ensinou. Se você fosse proprietário do jornal, o melhor que poderia fazer seria contratar editores que cuidassem dos interesses de seus leitores -e dar a esses leitores reportagens honestas sobre as questões que mais os preocupavam. Em troca, você receberia confiança e lealdade que poderia levar ao banco.


Ao longo de muitas décadas trabalhando com jornais, tive o privilégio de assistir à história sendo escrita e impressa quase todas as noites. Hoje eu gostaria de falar sobre o que essas experiências me ensinaram -e porque elas me dão confiança no futuro.


Minha intenção é usar minha experiência para iluminar a maneira como precisamos reagir aos dois desafios mais graves com que os jornais se confrontam hoje. O primeiro é a concorrência vinda das novas tecnologias -especialmente da internet.


O desafio mais sério é a complacência e condescendência que grassam no coração de algumas Redações. A complacência se deve ao fato de terem gozado um monopólio -e agora se verem tendo que competir por um público que elas antes davam como garantido.


A condescendência que muitos jornais manifestam em relação a seus leitores é um problema ainda maior. Não é preciso ser nenhum gênio para observar que, se você trata seus clientes com desdém, terá dificuldade em conseguir que eles comprem seu produto. Os jornais não constituem exceção a essa regra.


Eu me tornei editor e proprietário muito antes do que planejara. Aconteceu quando meu pai morreu, e eu fui chamado de volta de Oxford. Foi assim que me vi proprietário de um jornal aos 22 anos. Eu era tão jovem e tão novato no negócio que, quando cheguei ao jornal de carro no primeiro dia, o encarregado do estacionamento me repreendeu: ‘Ei, filho, você não pode estacionar aqui’.


Aquele jornal era o ‘The Adelaide News’. Sua Redação era um lugar barulhento. Mas era um barulho que tinha um objetivo. O som das vozes e das máquinas de escrever chegava a um crescendo nos minutos antes do horário de fechamento, que era esticado para além do ponto de ruptura por repórteres ousados, determinados a conseguir as versões mais frescas de uma reportagem.


Aquela música de pano de fundo criava uma urgência própria. Quando as máquinas começavam a rodar, todo o mundo no prédio sentia o estrondo. E, quando as máquinas começavam a rodar com atraso, os jornalistas me ouviam rugir.


Quando assumi a direção do ‘News’, o ‘Adelaide Advertiser’ era o jornal dominante na cidade. Seus donos tentaram convencer minha mãe a vender o jornal a eles. Enviaram a ela uma carta dizendo, basicamente, que, se ela não aceitasse a oferta, eles tirariam o ‘News’ de circulação. Respondemos imprimindo a carta deles na primeira página do ‘News’.


O resultado foi uma boa e velha guerra entre jornais. Ela teve um custo alto. Mas me ensinou que, com bons editores e leitores fiéis, é possível desafiar rivais mais consolidados e bem financiados -e vencer. E foi o que fizemos.


Dez anos mais tarde surgiu uma nova prova: criar o primeiro jornal nacional da Austrália. Hoje isso pode não soar como grande coisa. Mas foi uma grande coisa nos anos 1960, quando o país mal era interligado por linhas telefônicas. Nosso plano era começar um jornal em Canberra, fortalecê-lo e então levá-lo ao nível nacional.


Como se os desafios tecnológicos já não fossem suficientemente grandes, nossos concorrentes tomaram conhecimento de nossos planos. Assim que isso aconteceu, eles transformaram o jornal existente, -’The Canberra Times’- num jornal bastante impressionante em formato grande. Com isso, esperavam abocanhar leitores e anunciantes antes de nós conseguirmos sequer decolar. Só havia uma maneira de reagir: teríamos que partir para o âmbito nacional quase dois anos antes do programado.


Hoje, é claro, até mesmo o menor jornal australiano tem uma página na web que você pode acessar de qualquer lugar, de Cairns a Caracas. Naquela época, porém, nem tínhamos comunicações confiáveis por fax. Em lugar disso, tínhamos que levar as chapas de impressão de Canberra a gráficas em outras partes do país, de avião -geralmente tarde da noite. Para isso, chegamos a fundar nossa própria linha aérea.


Era tudo muito complexo, e, é claro, as coisas nem sempre saíam conforme o planejado.


Mas também era altamente instigante. O resultado foi que levamos um produto melhor a leitores em toda a Austrália e ajudamos a transformar o jornalismo australiano.


Tudo isso serviu de preparo para nossa próxima grande luta: a abertura de nossa gráfica em Wapping, na Inglaterra.


Para aqueles que são jovens demais para se lembrar daquela época difícil, permitam que eu lhes dê um pouco de perspectiva. Em meados da década de 1980, os jornais britânicos eram comandados basicamente por seus sindicatos, que resistiam a qualquer mudança para melhor.


Não eram sindicatos que operavam em prol da classe trabalhadora -eles atuavam num conluio fechado e corrupto. Alguns dos nomes que recebiam contracheques nem sequer existiam. Nossa folha de pagamento mostrava que cheques estavam sendo enviados a pessoas como M. Mouse e D. Duck -nenhum dos quais pagava imposto de renda.


Em uma época na qual as novas tecnologias de impressão tornavam jornais em todo o mundo mais eficientes, os jornais no Reino Unido eram obrigados a usar uma tecnologia que não mudara muito desde a Bíblia de Gutenberg. Os custos estavam acabando com centenas de empregos e aleijando o que é hoje o mais vibrante mercado de jornais no mundo.


Isso não seria sustentável no longo prazo. O colunista Bernard Levin descreveu Fleet Street (os jornais britânicos) como ‘condições que combinam um esquema criminoso de proteção com um hospício’.


Decidimos mudar isso. Compramos as máquinas de impressão mais modernas que havia, as instalamos num centro em Wapping e contratamos boas pessoas para operá-las.


No fim, custou caro. Houve violência terrível, especialmente contra a polícia. Os trabalhadores que optaram por nos combater imaginavam que a direção da empresa acabaria cedendo, como haviam feito tantas outras no passado. Durante algumas semanas, ficamos debaixo de um cerco montado por pessoas determinadas a danificar nossas máquinas, prejudicar nosso pessoal e acabar com nosso negócio.


Mas tínhamos feito um bom planejamento e acabamos prevalecendo. Nossa vitória ajudou a tornar todos os jornais britânicos mais lucrativos. Isso significava salários melhores e um futuro mais promissor para seus funcionários.


Hoje o desafio que enfrentamos é diferente. Sob alguns aspectos, é um ataque direto a nosso julgamento.


Antigamente um punhado de editores podia decidir o que era notícia e o que não era. Eles agiam como uma espécie de semideuses. Se eles publicassem uma história, ela virava notícia.


Se ignorassem o fato, era como se nunca tivesse acontecido.


Hoje os editores estão perdendo esse poder. A internet dá acesso a milhares de novas fontes que cobrem coisas que um editor poderia deixar passar. Se você não se satisfaz com isso, pode começar seu próprio blog, cobrindo e comentando as notícias você mesmo.


Os jornalistas gostam de enxergar-se como guardiões, mas eles nem sempre reagem bem quando o público lhes cobra responsabilidade.


Quando Dan Rather veiculou sua reportagem no ‘60 Minutes’, da CBS, sugerindo que o presidente George W. Bush teria se esquivado de prestar serviço militar quando esteve na Guarda Nacional, blogueiros rapidamente expuseram a natureza dúbia de seus documentos e fontes


. Longe de festejar esse jornalismo cidadão, o establishment da mídia se pôs na defensiva.


Um executivo da CBS foi à Fox News atacar os blogueiros, numa declaração que ficará gravada nos anais da arrogância.


‘O ‘60 Minutes’, disse ele, era uma organização profissional com ‘camadas múltiplas de verificações e contrapesos’.


Contrastando com isso, ele descreveu o blogueiro como ‘um sujeito escrevendo de pijama na sala de sua casa’. Mas, no final, foram os sujeitos escrevendo de pijama que obrigaram Dan Rather e seu produtor a pedir demissão.


Rather e seus defensores não estão sós. Um estudo americano recente constatou que muitos editores e repórteres simplesmente não confiam que seus leitores tomem boas decisões. É uma maneira educada de dizer que esses editores e repórteres acham os leitores estúpidos demais para pensar com suas próprias cabeças.


Ao enxergar seu público como garantido e permitir que eles mesmos se tornem tão institucionalizados quanto qualquer governo ou empresa sobre a qual escrevem, esses jornalistas estão pondo em risco seus próprios jornais. É simplesmente extraordinário que tantos que têm o privilégio de sentar na primeira fileira e escrever o primeiro relato da história possam ser tão imunes a seu significado evidente -sem falar nas conseqüências disso para sua própria indústria.


Vou dar um exemplo. Quatro anos atrás o ‘Times’ de Londres estava passando por uma fase difícil em termos de sua circulação. Então fizemos um experimento de mudar do formato de folha grande para o que chamamos de versão ‘compacta’. Durante quase um ano, imprimimos duas versões do ‘Times’ -ambas contendo as mesmas fotos, manchetes e reportagens.


Os leitores, em sua maioria avassaladora, preferiram a versão nova, compacta. Então adotamos essa versão, invertemos nossa queda de circulação e ajudamos a colocar o ‘Times’ em posição mais sólida, o que, é claro, é a chave para conservar empregos. E o fizemos sem afetar a qualidade jornalística.


Seria de se imaginar que nossa experiência com o ‘Times’ serviria de boa lição sobre a importância de reagir ao que os leitores querem e de conservar um jornal relevante e viável.


Mas não foi sobre isso que escreveram os jornalistas, em sua maioria. Em vez disso, eles ofereceram muitas condolências pelo abandono da tradição, além de lamentos sentimentais chorando a perda de um formato do qual a maioria dos leitores do ‘Times’ já não gostava.


Vejo a mesma coisa todos os dias. Em vez de encontrar assuntos relevantes às vidas de seus leitores, os jornais publicam matérias que refletem seus próprios interesses. Em vez de escrever para seu público, escrevem para seus colegas jornalistas. E, em vez de encomendar aos jornalistas reportagens que tragam mais leitores, alguns editores encomendam reportagens cuja única meta é a busca de um prêmio.


Quando comecei no ramo do jornalismo, qualquer pessoa que ousasse desfilar com um prêmio por excelência teria sido ridicularizada na Redação por levar-se demasiado a sério.


Mas hoje o desejo por prêmios virou fetiche. Os jornais podem estar perdendo dinheiro, perdendo circulação e demitindo pessoas a torto e direito. Mas ainda terão uma parede recoberta de troféus -prisioneiros do passado, em lugar de serem entusiastas do futuro.


Os leitores querem notícias tanto quanto sempre quiseram.


Hoje o ‘Times’ de Londres é lido por um público global diversificado de 26 milhões de pessoas todos os meses. É um público muito maior do que a população inteira da Austrália -um público cujas dimensões superam de longe a compreensão e as ambições dos fundadores do jornal, em 1785. Essa estatística, por si só, nos diz que existe um público que quer notícias e que sabe discernir.


A palavra operacional é discernimento. Para competir hoje, não se pode oferecer um jornalismo do tipo antigo, tamanho único.


A tendência digital definidora no conteúdo é a crescente sofisticação das buscas. Já é possível customizar o fluxo de notícias por país, empresa ou assunto. Dentro de uma década, as coisas serão ainda mais sofisticadas. Você poderá satisfazer seus interesses singulares e buscar conteúdos singulares.


Afinal, uma estudante universitária da Malásia não terá os mesmos interesses que um executivo de 60 anos de Manhattan. Pensando em algo mais próximo, seu filho adolescente não terá os mesmos interesses que sua mãe. O desafio consiste em usar a marca de um jornal e, ao mesmo tempo, permitir que os leitores personalizem o noticiário, eles próprios -e lhes enviar as notícias das maneiras que eles quiserem.


É isso o que estamos procurando fazer agora com o ‘Wall Street Journal’. O jornal tem a vantagem de ter uma base de leitores muito fiel, de ser uma marca conhecida por sua qualidade e contar com editores que levam a sério os leitores e seus interesses.


Isso ajuda a explicar porque o jornal continua a desafiar as tendências da indústria. Dos dez maiores jornais nos Estados Unidos, o ‘WSJ’ é o único a ter tido um aumento de assinaturas pagas no ano passado. Ao mesmo tempo, pretendemos deixar nossa marca impressa na fronteira digital. O ‘WSJ’ já é o único jornal americano a ganhar dinheiro de fato on-line. Uma razão disso é a demanda global crescente por notícias econômicas e por notícias precisas. A integridade não é apenas uma característica de nossa empresa, é um elemento de vendas.


Uma maneira pela qual planejamos aproveitar as oportunidades on-line é oferecendo três níveis de conteúdo. O primeiro será formado pelas notícias que colocamos on-line gratuitamente. O segundo será disponível aos leitores que assinam o wsj.com. E o terceiro será um serviço premium, criado para dotar os clientes da capacidade de customizar notícias e análises financeiras de primeira linha de todo o mundo. Em tudo o que fazemos, vamos transmiti-lo das maneiras que mais correspondem às preferências dos leitores: em sites que eles podem acessar em casa ou no trabalho em invenções ainda em evolução, como o Kindle da Amazon (artefato para leitura wireless), e também em celulares e blackberries.


No fim, ficamos onde começamos: o vínculo de confiança entre os leitores e seu jornal.


Muita coisa mudou desde que eu entrei no ‘Adelaide News’ em 1954. As máquinas de impressão nunca foram mais velozes ou mais flexíveis. Temos computadores que nos permitem fazer o layout de múltiplas páginas em múltiplos países.


Temos uma distribuição mais veloz. Mas nada disso vai significar nada para os jornais se não cumprirmos nossa primeira responsabilidade: conquistar a confiança e a lealdade de nossos leitores.


Não penso que eu tenho todas as respostas. Em vista das realidades da tecnologia moderna, este próprio discurso na rádio poderá ser fatiado digitalmente. Poderá ser acessado em um dia, um mês ou uma década.


E eu poderei ser cobrado em qualquer momento, por todo o sempre, e com razão, pelos pontos nos quais ficar comprovado que estou equivocado -além de ser ridicularizado por minha incapacidade de perceber até que ponto o mundo se tornou diferente.


Mas acho que não serei desmentido sobre um ponto. O jornal, ou um primo eletrônico muito próximo dele, sempre estará entre nós. Ele não será jogado diante de sua porta pela manhã como é hoje. Mas o som que fará ao chegar vai continuar a ecoar na sociedade e no mundo.


Tradução de CLARA ALLAIN’


 


 


Jornalistas têm prazer em ruminar sobre seu fim


‘Há setores enfrentando concorrência nova e difícil da internet: bancos, varejistas e assim por diante. Mas esses setores também enxergam a internet como uma oportunidade’


 


 


Leitores querem fonte na qual confiar


‘Foi sempre esse o papel dos grandes jornais no passado.


E esse papel fará os jornais serem grandes no futuro. Nosso negócio real não é imprimir sobre árvores mortas.


É oferecer ótimo jornalismo’


 


 


Maior bem é o elo com o leitor


‘Muita coisa mudou. Mas nossa responsabilidade continua sendo conquistar a confiança do leitor’


 


 


O jornal continuará entre nós


‘Ele não será jogado diante de sua porta. Mas o som que fará vai continuar a ecoar na sociedade’


 


 


Editores perderam o poder


‘A internet dá acesso a coisas que um editor deixaria passar. E você mesmo pode cobrir as notícias’


 


 


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Obama marca guinada de empresário


‘A única coisa que atrai a atenção de Rupert Murdoch tanto quanto o mundo dos jornais, dizem auxiliares, é a política. Até recentemente, seus veículos reproduziam a posição conservadora do chefe, mas isso vem mudando nos últimos tempos.


O ‘Times’ de Londres apoiou os trabalhistas nas eleições de 2005; o ‘New York Post’ anunciou apoio a John McCain, mas fez cobertura efusiva da vitória de Barack Obama nos EUA.


Michael Wolff, autor de um livro sobre Murdoch, tenta explicar a guinada do empresário: ‘É um caso de ‘isso é o que você deveria fazer para estar mais de acordo com o que os leitores querem e o zeitgeist’, disse ele ao ‘New York Times’.


Wolff conta que Murdoch o instou a votar em Obama nas primárias democratas, pois sua vitória ‘venderia mais jornais’.


Elisabeth, filha do empresário, chegou a organizar um evento para arrecadar fundos para o democrata. Murdoch não foi tão longe, mas orientou a Fox News a adotar tom mais moderado na cobertura das eleições -embora a emissora tenha se mantido muito mais pró-republicana do que as concorrentes.


‘Rupert encontrou Obama e ficou muito impressionado com seu intelecto e sua habilidade para inspirar’, disse ao ‘New York Times’ Gary Ginsberg, vice-presidente da News Corporation.’


 


 


PRÊMIO ESSO
Folha de S. Paulo


Elvira Lobato conquista o Prêmio Esso


‘A repórter especial da Folha Elvira Lobato recebeu ontem, no Rio, o Prêmio Esso de Jornalismo pela reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, publicada em 15 de dezembro de 2007.


A Folha também conquistou o Prêmio Esso de Criação Gráfica por ‘Cigarro e álcool na adolescência’, publicado pelo caderno Folhateen em 3 de setembro de 2007. Os vencedores são Renata Steffen, Fernanda Giulietti, Ivan Finotti, Alexandre Jubran, Tarso Araújo e Letícia de Castro.


A cerimônia no Copacabana Palace premiou jornalistas em mais 11 categorias. Na de reportagem, Lobato concorreu com 532 trabalhos e foi finalista ao lado de ‘Favela S/A’, do jornal ‘O Globo’, e ‘Suicídio.com’, da revista ‘Época’.


Em dois meses de apuração, Elvira Lobato, na Folha desde 1984, investigou o conglomerado de empresas controladas pela Igreja Universal do Reino de Deus. A reportagem revelou que, além de rádios e TVs, a Universal e sua cúpula mantinham dois jornais diários, uma agência de turismo, uma imobiliária e uma empresa de seguro-saúde. Após a publicação, lideranças e membros da Universal entraram com 105 ações judiciais contra a jornalista e a Empresa Folha da Manhã, que edita a Folha, pedindo reparação por danos morais. A maioria dos processos foi ajuizada em comarcas remotas de quase todos os Estados, forçando o deslocamento de advogados e jornalistas. As 58 ações julgadas até o momento tiveram sentenças favoráveis à Folha.


‘Dedico o prêmio a todos os jornalistas. O oxigênio da profissão é a liberdade de imprensa’, disse Lobato ontem.


O Prêmio Esso de Jornalismo foi criado em 1955. Em 2004, a Folha e ‘O Estado de S. Paulo’ criticaram a estrutura da premiação, afirmando que a composição do corpo de jurados não era ‘representativa do mercado editorial do país’.


 


 


CENSURA
Raul Juste Lores


Internação forçada em hospital psiquiátrico é estratégia para calar dissidentes na China


‘Manifestantes e ativistas políticos chineses têm sido internados em um hospital psiquiátrico na cidade de Xintai, na Província de Shandong, numa política de calar a dissidência.


Uma reportagem do jornal estatal ‘The Beijing News’ revela que o departamento de segurança pública de Xintai tem internado ativistas que protestam pelos mais variados temas – de moradores que foram desalojados para dar espaço a projetos imobiliários a gente que protesta pela corrupção local.


Alguns entrevistados dizem que ficaram internados por dois anos, outros que foram medicados à força – e só liberados após concordar em deixar seus pleitos de lado.


Um camponês de 57 anos, Sun Fawu, disse que foi internado quando tentava ir a Pequim atrás de indenização para sua terra desapropriada por uma mina de carvão. Antes de apresentar reclamação ao governo central, Sun foi detido em outubro por vinte dias.


Lá ele foi amarrado a uma cama, levou injeções e tomou pílulas que o deixaram zonzo.


Ao reclamar para o médico que o medicava, que não tinha doenças mentais, ouviu: ‘Não ligo se está doente ou não, o governo local o mandou para cá, tratarei como doente mental’.


O diretor do hospital, Wu Yuzhu, admitiu que alguns de seus 18 pacientes foram levados pela polícia nos últimos anos sem ter problema psíquico, mas precisou interná-los. ‘O hospital também tinha dúvidas’.


Autoridades de Xintai alegaram economia de dinheiro com a tática (não precisam mandar homens a Pequim atrás dos manifestantes) e evitam ‘constrangimento’ ao governo local.


Um popular ditado chinês se refere ao poder estabelecido por autoridades locais, que muitas vezes ignoram diretrizes do governo nacional em Pequim. ‘O céu é tão alto e o imperador está longe.’


Nos últimos meses, é comum que a imprensa estatal, dirigida de perto pelo Partido Comunista, utilize suas páginas para ‘moralizar’ os atos de prefeituras e governos regionais.’


 


 


INTERNET
Ruy Castro


Vírus e espiões


‘RIO DE JANEIRO – Um cidadão comum, inocente nas manhas da internet, pode ver-se em tantos perigos na rede quanto Chapeuzinho Vermelho na floresta. O mundo está cheio de parentes eletrônicos do Lobo Mau -gente cruel, que se diverte nos induzindo a abrir os anexos e links que disparam para ter nosso computador invadido por seus vírus e espiões.


E como fazem isso? Enviando uma mensagem do ‘nosso interesse’. É o banco fulano que precisa ‘atualizar’ nosso acesso ao seu sistema de identificação, ou o banco beltrano que, como se fundiu com o sicrano, precisa ‘reconfigurar’ nosso cadastro. Para isso, diz o texto, basta clicar abaixo e, depois, em ‘salvar’ e ‘executar’. Quando você acorda e se dá conta de que não é cliente daqueles bancos, é tarde -seus dados bancários já foram.


Outra armadilha é a do ‘Ministério Público da Justiça’, que, no desempenho de suas atribuições etc., com fundamento nos artigos tais, inciso xis da Lei Complementar de 30 de fevereiro de 1993, intima Vossa Senhoria -você, o otário- a comparecer à Procuradoria do Trabalho para participar de audiência relativa ao ‘procedimento investigatório em epígrafe’. Para saber mais, ‘clique no link’. Faça isto -e você verá o inciso que o espera.


Mas as campeãs de audiência são as mensagens que começam com ‘Oiêêê, quanto tempo… Já se esqueceu de tudo? Olha o que eu fiz com as nossas fotos. Não deixe ninguém ver, hein?’ e o convidam a clicar para ver as ‘fotos’. Você não se lembra de foto nenhuma, mas sabe-se lá? Pois, no que clicou, como diria o presidente Lula, sifu.


O que nos salva e nos impede de abrir essas tentações é o português de quinta com que as mensagens são escritas. Elas são criativas, mas escritas por semi-analfabetos, gente ruim de pronome e vírgula.’


 


 


DIREITOS HUMANOS
Marcio Brabosa


Muito ainda a fazer, 60 anos depois


‘A DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos hoje (10/12). Ela representa a eterna aspiração da humanidade para uma vida com liberdade e dignidade para todos.


Entre os direitos fundamentais estão o direito à vida, à liberdade e à segurança; o direito à educação e à saúde; o direito à informação e à liberdade de expressão e opinião; ao trabalho; a uma vida cultural; e o direito de usufruir dos benefícios do progresso científico, entre tantos outros.


Se, por um lado, progressos consideráveis foram obtidos em campos como combate ao racismo, condenação dos regimes ditatoriais e promoção da igualdade de gênero, por outro lado, novos desafios passaram a ser percebidos como violações dos direitos humanos e, conseqüentemente, passíveis de condenação no âmbito da declaração universal. São os casos da violência e da discriminação a qualquer título e das novas formas de terrorismo. Isso sem falar no desafio de questões antigas, ainda longe de serem resolvidas, como a luta contra o tráfico de pessoas e a tortura.


Nesse contexto, o acesso à informação é de importância capital e um direito que também precisa ser efetivado. O mais amplo acesso às avançadas tecnologias de informação e comunicação é fundamental para que todos tenham conhecimento dos seus direitos e das violações cometidas, independentemente de onde ocorram e contra quem.


Por mais paradoxal que pareça, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é o instrumento internacional mais citado no mundo, mas está disponível em apenas 350 das cerca de 7.000 línguas faladas e catalogadas no planeta. Ou seja, nem todos têm acesso ao conteúdo da declaração que assegura seus direitos. E tais direitos só serão efetivamente reivindicados, garantidos e exercidos quando forem devidamente conhecidos.


Portanto, ampliar a disseminação dessa declaração é tarefa que precisa ser abraçada como prioridade, especialmente em benefício dos grupos minoritários, os mais vulneráveis e marginalizados.


Aqui a mídia tem um papel decisivo, atuando inclusive como mobilizadora da sociedade contra as violações cometidas globalmente. Assegurar o direito a uma mídia livre e pluralista, em que todas as vozes sejam ouvidas, é, pois, garantia da promoção dos direitos humanos e do monitoramento contra suas violações.


Uma outra questão importante é a diversidade cultural e sua proteção em um mundo em que as sociedades tornaram-se cada vez mais multiétnicas e multiculturais.


As Nações Unidas, por meio de resolução da sua Assembléia Geral, colocaram a tolerância à diversidade cultural, étnica, religiosa e lingüística, bem como o diálogo entre civilizações, como essencial para a paz, o entendimento e a amizade entre indivíduos e povos de diferentes culturas e nações.


A Declaração de Viena (1993) diz que ‘as particularidades regionais e as várias características históricas, culturais e religiosas devem ser levadas em conta, independentemente dos sistemas políticos e econômicos, na promoção e proteção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais’. Ou seja, respeitar os direitos humanos é respeitar também a diversidade cultural.


A persistência da pobreza, entretanto, é ainda o maior desafio da atualidade e compromete decisivamente a eterna aspiração por um mundo melhor. A pobreza afeta um terço da população mundial -e a atual crise financeira ameaça aumentar ainda mais esse contingente.


Existe uma correlação direta entre pobreza e violação dos direitos humanos; entre menos recursos e oportunidades e igualdade de direitos e dignidade. Os pobres são privados dos padrões de vida adequados, sobretudo em relação à saúde, à assistência médica, à alimentação e à moradia. Freqüentemente são privados do direito à educação (especialmente educação de qualidade), a chave para um futuro melhor.


São vítimas de um ciclo perverso: não têm seus direitos respeitados porque são pobres e continuam pobres porque seus direitos são sistematicamente violados. Portanto, a luta contra a pobreza é a luta em prol dos direitos humanos.


A melhoria dessa situação exige esforços contínuos e de todos. É errado imaginar que é uma tarefa isolada de Estados ou governos. É uma luta de indivíduos, da sociedade civil, dos Estados e dos governos e, evidentemente, das agências intergovernamentais.


Que as comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos reforcem o compromisso que todos devemos ter com essa luta.


Nós, da Unesco, temos esse objetivo no alto das nossas prioridades.


MARCIO BARBOSA , 56, é diretor-geral-adjunto da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O recorde


‘‘O PIB do terceiro trimestre cresce mais do que se previa’, abriu o ‘Jornal Nacional’, na manchete, mas ‘foi o período anterior à chegada da crise internacional ao Brasil’. Foi até ‘recorde’, na manchete on-line de ‘O Estado de S. Paulo’ ao longo do dia.


O ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central apareceram por todo lado, para espalhar as respectivas mensagens. O primeiro conclamou ‘os trabalhadores a acreditar que o Brasil vai continuar crescendo’, embora menos, no ano que vem. O segundo, que decide hoje os juros, sublinhou que ‘o consumo das famílias mostrou expansão’ e a desaceleração ‘será mais curta’ que em outros países.


Pelo exterior, a Bloomberg ressaltou que a economia ‘acelerou inesperadamente para o ritmo mais forte em quatro anos’ e a home da ‘Forbes’ postou o enunciado de que o país ‘segue quente’.


LULA & ROUBINI


Lula voltou a soltar o verbo, ontem em palanque. Destaque no portal Terra e outros, uma de suas frases em Tocantins teria sido ‘Tem gente rezando para que a crise pegue o Brasil para o Lula se lascar’.


Para registro, o blog Direto da Fonte informou que, em Washington, semanas atrás, Lula se reuniu com Nouriel Roubini, oráculo da crise, e também Paul Krugman. Que teriam sugerido medidas para retomar o crédito e que ele estimulasse os brasileiros a comprar.


DESEMBARGADOR


Nas manchetes de Folha Online e outros, a prisão do presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo ‘e outros sete’, entre magistrados e advogados. No enunciado à noite, ‘Polícia Federal usa máquina para contar o dinheiro apreendido na casa do desembargador’.


CORRUPÇÃO BRIC


‘Financial Times’ e outros destacaram levantamento da ONG Transparency International dizendo que ‘empresas dos emergentes subornam rotineiramente’. O ‘FT’ citou China, Índia e Rússia no enunciado e acrescentou o Brasil no texto, entre 22 países pesquisados.


LEILÃO


Logo após a prisão do governador, a vaga de senador por Illinois foi colocada à venda no site eBay, por piada, com oferta inicial de US$ 0,09


DA CRISE À LAMA


O escândalo da venda da cadeira de Barack Obama no Senado, pelo governador democrata de Illinois, recebeu cobertura sem parar, mas inusitadamente apartidária, da Fox News. E foi manchete on-line dos grandes jornais americanos e outros o dia todo.


O ‘Washington Post’ avaliou que ‘enlameia as águas políticas’ também de Washington. Já o Huffington Post tentou ver um lado bom para Obama, citando os ataques gravados do governador ao presidente eleito e insinuando que o futuro chefe de gabinete teria feito a denúncia aos promotores. Mas não tem jeito, admitiu o site, trata-se de ‘um novo nível de baixaria’.


O JORNAL…


O ‘Chicago Tribune’ noticiou antes a prisão, segundo relatos, e até soltou edição ‘extra’ no meio da tarde. Mas não escapou de críticas, inicialmente por ceder aos pedidos do FBI para que não publicasse informações que, nos últimos dias, ‘ameaçariam as investigações’.


E A PRESSÃO


Depois, mais importante, o concorrente ‘Chicago Sun-Times’ deu e muitos outros ecoaram que o governador teria exigido do ‘Chicago Tribune’ a demissão de um editorialista, em troca de socorro financeiro, com resposta positiva. O jornal negou qualquer ação do tipo.


REINVENÇÃO


A corporação do ‘Chicago Tribune’ já vinha sob crítica, ontem. O pedido de falência se mostrou de baixo custo para a Tribune Co., mas duro para os funcionários. O peso da dívida vai recair sobre eles e suas ações, aceitas em troca do fundo de pensão quando o grupo foi comprado. Foi o que denunciou o ‘New York Times’.


E a Ad Age avisa que a crise é usada como desculpa para grupos que já buscavam ‘reinvenção’.


‘TEM QUE DAR PORRADA!’


José Luiz Datena narrou a perseguição de um carro, ‘Quase bateu! Bateu agora! É a primeira vez que eu vejo isso! É a primeira vez na televisão brasileira!’. Mas a cena continuou e os policiais espancaram o motorista. Ao vivo, o ‘repórter aéreo’ censurou, mas o apresentado falou, ‘pode mostrar!, tem que dar porrada mesmo!’’


 


 


TELEVISÃO
Mônica Bergamo


Livre


‘Lauro César Muniz, autor da novela ‘Vendetta’ (título provisório), da TV Record, decidiu dar mais ‘liberdade’ ao delegado Telônio, da Polícia Federal, personagem central do enredo. O policial, criado por Sílvio Lancellotti, autor do livro que serve de base para a trama, vai responder a processo administrativo na PF por tomar iniciativas ‘sem consultar seus superiores’. Qualquer semelhança com o delegado Protógenes Queiroz não é mera coincidência -Lauro César busca nele também inspiração para compor o personagem. ‘Se o Telônio ficasse muito fiel ao personagem do Sílvio ou se ficasse na PF, teria que cumprir uma série de passos para suas ações. E isso amarraria demais o personagem. Então ampliei a história’, diz o autor.’


 


 


Conrado Corsalette


Documentário mostra ‘Muro de Berlim’ da cidade de São Paulo


‘Na mesa do bar, é comum ouvir que, no Rio, o morro está logo ali e, em São Paulo, a geografia separa ricos e pobres, estes empurrados para a periferia. No documentário ‘A Ponte’, que vai ao ar à 0h30, na TV Cultura, os diretores Roberto Oliveira e João Wainer focam a zona sul da capital paulista e transformam o rio Pinheiros no marco dessa separação. A exposição de desigualdades, com prédios luxuosos de um lado do rio e barracos do outro, é justaposta à história de uma ONG, a Casa do Zezinho, que trabalha desde 1994 na construção de ‘pontes’ para que crianças deixem a lógica do crime e da desinformação e busquem novas oportunidades. Os diretores ouvem aqueles que ‘atravessaram’ a ponte: ‘veteranos’ da ONG, além do rapper Mano Brown, do escritor Ferréz, entre outros. A educadora Dagmar Garroux, fundadora da entidade, compara o rio Pinheiros ao Muro de Berlim. Para ela, moradores dos violentos Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luis ‘não são paulistanos, não são brasileiros’, são, na verdade, ‘periferia’. ‘A cidade não os recebe, não os aprimora’, diz. Em seus 42 minutos, o trabalho, produzido pelo Instituto Rukha, faz um relato sucinto da ocupação ilegal do extremo sul da cidade e defende a tese segundo a qual o apartheid social também causa reações, como os ataques do PCC há dois anos. O documentário também será distribuído em DVD na edição de dezembro da revista ‘Trip’- só para assinantes. Há um mês, o motoboy Alberto Milfont Júnior, 23, foi com a noiva e um amigo nas Casas Bahia da estrada de Itapecerica, zona sul da capital, para comprar um colchão. Tomou um tiro do segurança após uma discussão. Milfont era ‘veterano’ da Casa do Zezinho -o documentário não registra o fato, por ter sido concluído antes. Os familiares do rapaz, que morava na região, dizem que ele foi vítima de preconceito, porque estava mal vestido: não precisou nem atravessar a ponte.


A PONTE


Direção: Roberto Oliveira e João Wainer


Exibição: TV Cultura, à 0h30


Classificação indicativa: 16 anos’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Especial foca em pastores-mirins


‘As pessoas adoram ver crianças falando o que, às vezes, nem adultos têm coragem -está aí a Maysa do SBT para provar.


Mais sério, o documentário ‘Infância com Fé’ retrata uma vertente disso, com três crianças pregando sua fé.


Samuel Routwell, 7, do Mississipi, fez seu primeiro sermão aos três anos. Ele distribui panfletos nas ruas, tenta convencer gente que está nos bares a se arrepender dos seus pecados e grita ‘Obedeça à Bíblia’ numa jornada pelos EUA.


Bom menino e sempre elogiado, apanha ‘porque não é perfeito’ e isso merece a punição das palmadas, segundo seus pais -embora a mãe peça para a câmera ser desligada, dá para ouvir os gritos do menino.


Terry Durham, da Flórida, virou o mais novo pastor de sua comunidade quando tinha seis anos. Hoje, aos nove, viaja pregando em igrejas numa megaturnê que o faz parecer um astro do rock, não fosse pela pequena equipe que o acompanha: a avó e o pai, que voltou a cuidar dele como empresário.


A terceira personagem é Ana Carolina Dias, carioca, que tenta ‘salvar as pessoas da Rocinha’. Também começou cedo: está no púlpito desde os três, após se curar de uma doença.


Interessante notar que, embora o foco sejam as crianças, o que transborda do filme é a loucura e intransigência dos pais.


INFÂNCIA COM FÉ


Quando: estréia amanhã, às 21h


Onde: GNT


Classificação: não informada’


 


 


Catia Seabra e Laura Mattos


TV Cultura estava ‘descontrolada’, diz Sayad


‘O secretário da Cultura de São Paulo, João Sayad, defendeu ontem a adoção de mecanismos de controle dos gastos da Fundação Padre Anchieta, administradora da TV Cultura e da Rádio Cultura.


Ao justificar o ‘contrato de parceria’ firmado anteontem entre a FPA e o Estado, Sayad admitiu que o governo estava insatisfeito com o modelo de gestão da fundação.


Diante do presidente da fundação, Paulo Markun, com quem almoçava ontem, Sayad reconheceu que o Estado exige maior controle das despesas.


‘[A fundação] estava descontrolada. Agora, está meio controlada’, afirmou Sayad, em tom de brincadeira, durante almoço presenciado pela Folha.


Ainda que um pouco desconfortável, Markun, que descrevera as dificuldades de organização das despesas da fundação, concordou: ‘É verdade’.


Como a Folha antecipou ontem, a FPA e o governo assinaram um acordo segundo o qual a fundação assume uma série de compromissos de gestão, como a ampliação da captação de recursos próprios e a redução de espaço da publicidade comercial. Do contrário, será punida com o corte de verbas transferidas pelo Estado.


Sayad defendeu a medida: ‘Isso formaliza o relacionamento da fundação com o Estado’, argumentou.


O acordo estabelece metas de corte para que a fundação tenha direito a repasse de verbas. Pelo contrato, o volume de recursos repassado também será reduzido a cada ano: dos R$ 78,6 milhões programados para 2008 até R$ 56,8 milhões em 2013. As regras se aplicam tanto à rádio como à TV.


Publicidade polêmica


Além disso, a TV Cultura vai acabar com a publicidade em programas infantis a partir de janeiro, segundo Markun.


Com 12 horas diárias de conteúdo voltado à criança, terá só anúncios institucionais e patrocínios nessa faixa horária.


Se as propagandas de produtos já são objeto de polêmica até na programação adulta da TV Cultura -que é pública e, teoricamente, tem uma proposta editorial diferente das redes comerciais-, nos programas infantis era duramente criticada até pela cúpula da TV Cultura, além de membros do conselho curador.


‘Será uma mudança de eixo’, disse Markun, explicando que a idéia é reduzir a publicidade comercial a 1% do tempo de programação da TV.


A abertura a comerciais foi gradual e, hoje, o intervalo da Cultura é igual ao de canais privados. No canal infantil pago da TV Rá-Tim-Bum, um intervalo de elogiados programas educativos como o ‘Cocoricó’ e o ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ já foi preenchido, por exemplo, com anúncios de bonecas da ‘Rebelde’, novela ‘trash’ do SBT, que explora a sexualidade de suas protagonistas adolescentes.


Segundo Markun, a decisão foi da própria fundação e está fora do acordo firmado com o governo. Apesar disso, interlocutores de Serra também fizeram pressão para que a FPA assumisse esse compromisso.


Markun afirma que o faturamento anual com a publicidade comercial nos programas infantis é de R$ 4 milhões. ‘Agora, vamos buscar outras fontes de receita’, disse.


Recentemente, a Cultura passou a cobrar de outras emissoras públicas e educativas pela veiculação de seus programas. Segundo Markun, essa é uma nova forma de arrecadar receitas. Só com a venda de quatro programas para a TV Brasil, a fundação deverá arrecadar R$ 3 milhões em 2009.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


 


HOMENAGEM
Efe


Ziraldo ganha prêmio na Espanha


‘O cartunista Ziraldo Alves Pinto levou ontem o 6º Prêmio Ibero-Americano de Humor Gráfico Quevedos pela ‘qualidade e importância de sua obra’, ‘seu compromisso social’ e sua ‘difusão e grande repercussão internacional’. O valor do prêmio, que a cada dois anos é oferecido pelos Ministérios da Cultura e de Assuntos Exteriores da Espanha, é de ? 30 mil (cerca de US$ 38,4 mil). Promovido pela Universidade de Alcalá de Henares, em cuja sede o júri se reuniu, o prêmio homenageia a trajetória profissional de cartunistas espanhóis e ibero-americanos cuja obra se destaque por seu significado social e artístico.’


 


 


TELEVISÃO
Alline Dauroiz


Em 15 dias, Índia fica pronta no Projac


‘Nada de Taj Mahal no Projac. Para compor a cenografia de Caminho das Índias, próxima novela das 9 da Globo, o cenógrafo Mário Monteiro optou por construir outros monumentos típicos do país, em tamanho quase real. ‘O maior desafio foi extrair a essência da Índia, para que não ficasse algo óbvio e estereotipado’, diz. Segundo ele, faltam apenas 15 dias para que o acabamento nas obras seja concluído. ‘As imagens do Taj Mahal foram gravadas na Índia.’


Desde o Marrocos retratado na trama de O Clone, também de Glória Peres, a emissora não fazia algo parecido. Ao todo, serão três cidades cenográficas e um estúdio que representa o interior de um hotel de Dubai.


Na principal das cidades fica a casa dos protagonistas. ‘Nesse local, fizemos a colagem de várias construções da Índia.’


Haverá um bazar, uma lavanderia pública, um poço de água (stepweel), um grande cinema, cinco templos, palácios – um deles, o Palácio dos Ventos, com 22 m de altura – e, inclusive, o hotel de Mumbai, recentemente atacado por terroristas. ‘Reproduziremos arquiteturas de cinco cidades. O indiano que vir achará meio louco (risos).’


Construído numa área de 2 mil m², dentro de um lago no Projac, o trecho do Rio Ganges e suas escadarias de 11 m de altura foram fielmente reproduzidos na segunda cidade cenográfica. Lá, já acontecem gravações, assim como na terceira cidade, que retrata a Lapa, no Rio.’


 


 


Luiz Zanin Oricchio


Boa Noite e Boa Sorte, um épico da liberdade de imprensa


‘Boa Noite e Boa Sorte (Telecine Cult, 22 h) é o filme que George Clooney dedica a um dos ícones da liberdade de imprensa americana, o jornalista Edward R. Murrow, apresentador de TV que ousou enfrentar o senador McCarthy, o apóstolo da caça às bruxas durante a Guerra Fria. O título refere-se à maneira como Murrow se despedia do seu público no encerramento do programa noturno See It Now. Clooney dirige o filme com minúcia de documentarista. Em preto-e-branco e com inserções de arquivo. Como as imagens do próprio McCarthy.


O ponto crucial na luta entre Murrow e o senador deu-se durante o processo de afastamento de um piloto da Força Aérea, Milo Radulovich, acusado de atividades comunistas. Murrow, em seu programa, questionou o processo. McCarthy sentiu-se desafiado e acusou o próprio Murrow de ‘simpatia pelos vermelhos’. Armou-se um debate ao vivo entre o apresentador e McCarthy. Moralmente, Murrow venceu. Mas a vitória custou-lhe o emprego.


É um episódio político, de dignidade e respeito às liberdades de idéias e de expressão. Clooney, ele próprio filho de jornalista, filma com entrega e emoção. Murrow é vivido por um David Strathairn magnífico.’


 


 


 


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