Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Jornal tem que buscar saídas para não virar papagaio

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Balaio do Kotscho


(http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho)


Sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


 


O FUTURO DO JORNAL
Ricardo Kotscho


Brickmann e Rossi: entre o papel e a net, 9/12


‘Carlos Brickmann e Clóvis Rossi, dois respeitados e competentes jornalistas, ambos meus velhos amigos e contemporâneos de redações, discutem hoje em suas colunas um tema que é raro na nossa mídia: o futuro da própria mídia.


Nós três somos do tempo da máquina de escrever, do linotipo, do mimeógrafo e do telégrafo, em que ainda não existia nem telex, quanto mais fax, xerox, celular, laptop, e a internet não passava de ficção científica.


Com visões de mundo, histórias de vida e trajetórias profissionais bem diferentes, o gordo Carlinhos e o Grandão, como se tornaram conhecidos nas redações do JT e do Estadão, respectivamente, analisam também com enfoques diferentes o que está acontecendo com o nosso ofício e o futuro da imprensa de papel diante dos novos meios eletrônicos.


Este futuro está chegando mais rápido do que se pensava e temia. Os jornais de hoje anunciam em suas primeiras páginas a assustadora (para nós, formados na imprensa papel) informação sobre o drama vivido por dois ícones da imprensa norte-americana, que já estávamos carecas de saber desde ontem pelo noticiário da internet.


Enquanto o Tribune, um dos maiores conglomerados de comunicação dos Estados Unidos, que edita os jornais Los Angeles Times e Chicago Tribune, pedia concordata, o New York Times resolvia hipotecar seu próprio prédio-sede para arrumar dinheiro e sair da pindaíba.


Um ainda no papel e outro em sua coluna na internet, melhor ouvir logo, ou melhor, ler o que têm a dizer estes dois veteranos escribas sobre o que está acontecendo com a indústria da comunicação.


Em seu artigo ‘Quando o erro é anônimo’, o Grandão Rossi comenta, ainda no papel, hoje na Folha:


‘São notícias que levarão água para o moinho dos que acreditam que o jornal em papel está condenado à morte _ e eventualmente súbita. Calma. Só parte das dfiiculdades dessas empresas está de fato vinculado à queda de vandagem e, principalmente, na receita publicitária, fenômeno mais agudo nos Estados Unidos e em países europeus do que nos chamados mercados emergentes, Brasil inclusive’.


Se só parte das nossas dificuldades se deve a estes dois fatores, quais seriam os outros? Até o final do artigo, Rossi não revela (Brickman bota o dedo na ferida e diz quais são, como vocês verão logo abaixo).


Rossi pede ‘mais calma ainda nos festejos pela substituição do papel pelos blogs, twitters e demais bossas da informação on-line ou por telefone’.


Pergunta-se e responde ele mesmo:


‘Democratiza mais a informação? Sim. Melhora a sua qualidade? Não necessariamente’.


Estou de acordo, mas para justificar a segunda afirmativa, ele cita a BBC, que se desculpou outro dia por ter se precipitado ao dar asas a um rumor, que se revelou falso, divulgado via twitter.


‘Não que os jornais sejam santos ou perfeitos. Mas, em caso de erro, o leitor sabe a quem reclamar, pois tem o endereço, o telefone, o CNPJ, o e-mail, o ombudsman. Nos twitters da vida e seus parentes, o erro é anônimo’.


Como assim, anônimo, caro Rossi? Por acaso, a vetusta e gloriosa BBC não tem endereço? As notícias divulgadas pela internet, seja qual for a plataforma, não são em sua maior parte geradas pelas mesmas grandes empresas de comunicação, como o NYT, que agora enfrentam dificuldades com suas edições impressas?


Concordo com você que a internet é um ‘território livre para boato, informação interessada, lobbies nem sempre honestos nem legítimos’, mas a nossa velha imprensa de papel também nunca sofreu destes males?


Enquanto o leitor pensa nas respostas, vamos ao Carlos Brickmann, que deu o título ‘O jornal do dia, cedinho, e já velho’ à sua coluna desta semana no Observatório da Imprensa, o maior e melhor espaço que se abriu até agora na internet para discutir a mídia, uma iniciativa de Alberto Dines, que foi mestre de todos nós.


Escreve o Gordo Carlinhos na tela:


‘Às 6 da tarde, a TV já reprisa os melhores lances da partida. Os blogs esportivos que acompanharam todo o jogo pela internet, publicam as entrevistas e perspectivas de cada time. No rádio, os comentaristas se revezam (e, em seguida, correm para as mesas-redondas da televisão).


Doze horas mais tarde, depois de uma noite de sono, quando o consumidor de notícias pega o jornal, está lá a manchete: ‘Corinthians vence e garante o título’. Nada além do que todos sabiam desde muito antes de ir dormir’.


Perfeito, Carlinhos, você só esqueceu de dizer que garante o título da Segunda Divisão, mas tudo bem. Por uma feliz coincidência, para todos nós, como eu, que não acreditamos na morte da imprensa de papel, desde que encontre e respeite seu próprio espaço, a Folha de hoje publica uma raríssima exceção, só para te desmentir.


Na coluna impressa da Mônica Bergamo, o repórter Diógenes Campanha escreve matéria exclusiva contando como foi o vôo de volta da equipe do São Paulo, após a conquista do hexacampeonato _ da Primeira Divisão _, em Brasília, na noite de domingo. Como? Muito simples: ele estava no avião e conta o que aconteceu. Não vi nem li isto em nenhum outro lugar.


O curioso é que um furo, que deveria estar na capa do jronal e na editoria de esportes, sai numa coluna da Folha Ilustrada, que já foi social e hoje avança pelos campos da boa e velha reportagem.


Certamente, meus caros Rossi e Carlinhos, está aí uma das saídas para a imprensa de papel não ficar só repetindo o que a gente já sabia e, assim, cavar sua própria sepultura. Há esperanças.’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Um ponto…


‘O ‘pacote anticrise’ lançado pelo Ministério da Fazenda no rastro da manutenção dos juros pelo Banco Central foi manchete de sites e portais a telejornais. No ‘Jornal Nacional’, ‘O governo anuncia medidas de combate aos efeitos da crise’, enumerando uma a uma. Na Reuters Brasil, ‘Lula expõe a empresários medidas de estímulo à economia’, com um ‘corte de quase R$ 9 bilhões em impostos’.


Um dos empresários sublinhou que, para além do alívio no Imposto de Renda, do corte pela metade do Imposto sobre Operações Financeiras, da isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados para carro popular, ‘levantou-se a redução de juros’ como ‘um ponto que poderia ser aprimorado’.


DOS BANCOS FEDERAIS


Nos relatos de Terra e outros, o ministro-presidente do BC respondeu aos empresários que ‘ninguém está satisfeito com a situação dos juros’ e eles podem cair, se ‘houver condições’.


Ignorado pelo BC, Lula reagiu e, segundo a ministra Dilma Rousseff, em manchetes aqui e ali, ‘determinou que Banco do Brasil e Caixa baixem os juros’.


À PETROBRAS


Já o presidente da Petrobras falou ao ‘Financial Times’ e evitou adiantar o plano estratégico tão adiado, mas afirmou que ‘a estatal vai mostrar sua habilidade para investir em tempos turbulentos’. No título, a Petrobras ‘animada com os novos campos’, que José Sérgio Gabrielli descreve como de produção relativamente ‘barata’, por ser petróleo leve.


O QUE FAZER?


A nova ‘Economist’ destaca que China e Índia estão ‘subitamente vulneráveis’, mais a segunda. De Brasil e América Latina, diz que os ‘ganhos sociais recentes’ podem ser salvos pelos governantes, ‘mas eles vão precisar de ajuda externa’. Aos emergentes em geral, propõe agora ‘políticas anticíclicas’, a começar do corte nos juros


CHINESES NOS PORTÕES


Vulnerável ou não, a China avança por aqui. No topo das buscas de Brasil no Yahoo News, a reportagem da ‘Forbes’ sobre a eventual compra da brasileira Positivo pela chinesa Lenovo, com alerta de que o apoio do governo à empresa pode cair, com a venda.


A gigante de computadores sediada em Pequim evitou ao longo do dia confirmar o interesse à AP e outras, mas acabou soltando comunicado para dizer que, sim, está em ‘discussões preliminares’ para aquisição em um mercado no qual ainda não está presente.


PELA AMÉRICA


O ‘New York Times’ ressaltou desde o enunciado o relatório brasileiro, que ‘põe parte da responsabilidade nos pilotos americanos pela colisão’ de dois anos atrás. E registrou no texto a ‘nota de dissenso’ da comissão americana de segurança no transporte.


Já o ‘Newsday’ de Long Island, onde moram os pilotos, sublinhou como ‘relatórios conflitantes’, atentando antes ao americano. Aviation Week e outros sites do setor nos EUA seguiram a comissão americana, na visão de que eles ‘não violaram quaisquer normas’.


UM DIA HISTÓRICO


A decisão da maioria do Supremo sobre a reserva Raposa Serra do Sol correu mundo. A Al Jazeera em inglês entrou com seu correspondente na praça dos Três Poderes, em meio aos índios, saudando ‘um dia histórico’ apesar do pedido de vista e considerando o ‘caso fechado’. Já a BBC do correspondente Gary Duffy falou em ‘meia celebração’ pelos índios e afirmou que, com o adiamento, ‘o conflito deve continuar’.


Instituições como Survival International, voltada aos índios, e a Agência Católica para o Desenvolvimento Internacional celebraram a ‘notícia fantástica’.


POLÍCIA FEDERAL GLOBAL


Da australiana ABC aos canais e jornais ocidentais, ecoou ontem a prisão de duas dezenas de australianos por ligação com uma rede mundial de abuso de crianças. Cerca de 200 já foram presos ao redor do mundo, a partir de uma informação da Polícia Federal do Brasil, relatou o chefe da operação da Australian Federal Police. Ele se disse horrorizado pelas imagens.’


 


 


TELES
Folha de S. Paulo


Presidente da BrT é barrado na portaria do Planalto


‘Os empresários convidados para se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, foram escolhidos a dedo. Os nomes foram checados e os ‘intrusos’ convidados a se retirar. Convidado, o presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, acabou barrado.


Ao chegar à portaria do Palácio do Planalto, o nome de Knoepfelmacher não constava da lista. Em vez dele, Carlos Jereissati, presidente da Oi, era identificado como o presidente da Brasil Telecom.


Na verdade, a Oi anunciou recentemente a compra da Brasil Telecom. O interesse do Palácio do Planalto na operação era tão grande que o governo até mudou a legislação para permitir que a compra se concretizasse.’


 


 


Humberto Medina


Anatel deve aprovar na terça compra da BrT pela Oi


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) deverá julgar e aprovar a compra da Brasil Telecom pela Oi na próxima terça. A agência reguladora exigirá contrapartidas da nova empresa, com o objetivo de aumentar a qualidade do serviço oferecido ao consumidor.


A operação de compra da Brasil Telecom pela Oi, anunciada em abril, movimenta cerca de R$ 13 bilhões -a maior parte de dinheiro público, de bancos federais (BNDES e Banco do Brasil). Pelo contratos assinado entre as empresas, está previsto o pagamento de multa de R$ 490 milhões pela Oi caso a agência não dê anuência prévia à operação até o dia 21.


Em tese, a Anatel poderia dar ou não anuência prévia para o negócio. Na prática, no entanto, a relatora, conselheira Emília Ribeiro, já antecipa que é favorável e não vê obstáculo à aprovação. ‘Se segue a legislação vigente, por que recusar?’, afirmou a conselheira. ‘Uma empresa brasileira desse porte interessa a todos nós’, disse.


Em sabatina na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, em agosto, antes se ser aprovada para o cargo, Ribeiro foi criticada por não ter experiência para ocupar a função. Questionada, na ocasião, sobre os ataques, disse: ‘Eu não vi críticas, só vi elogios do início ao fim’.


O obstáculo legal que impedia a compra da BrT pela Oi foi removido pelo governo no final de novembro, com a edição de novo PGO (Plano Geral de Outorgas). O PGO é um decreto que divide o país em áreas de atuação para as concessionárias de telefonia fixa. Na redação anterior, antes da mudança, não permitia que uma concessionária comprasse outra, que atuasse em área diferente. A restrição foi suprimida.


A idéia de obter compensações da Oi pela aprovação da operação foi defendida ontem tanto pela relatora do processo como pelo presidente da agência, Ronaldo Sardenberg. ‘A Anatel deve trabalhar no sentido de obter contrapartidas. Esse é o momento que o Estado tem para intervir’, disse ele.


O presidente da agência afirmou que há uma lista de 30 sugestões de contrapartidas. Uma, segundo Sardenberg, é consensual: a instalação de acesso à internet rápida em 66 postos de fronteira do Exército.


Emília Ribeiro citou como exemplos de possíveis contrapartidas melhorias nos serviços de atendimento ao consumidor (‘call center’), ampliação no oferecimento de acesso à internet em alta velocidade em escolas públicas, hospitais públicos e delegacias. Também deverá ser exigido algum tipo de compromisso que garanta a viabilidade econômica de pequenos provedores de internet.


Ribeiro disse também que poderá exigir mais detalhes sobre como a Oi-BrT irá oferecer serviços em São Paulo.


‘Essa empresa vai ter ganhos, que têm que ser divididos com a sociedade.’


Diferentemente do que ocorreu em outubro, quando a Anatel aprovou sua sugestão de mudança no PGO em sessão pública, a reunião do conselho diretor que irá deliberar sobre a anuência prévia da compra da BrT pela Oi deverá ser fechada. ‘Acho que não precisa. O processo já é transparente’, disse Sardenberg.


A operação de compra da BrT pela Oi também será avaliada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).


Na última quarta-feira, a empresa fechou com o Cade um acordo para ‘congelar’ uma parte da operação até que o órgão termine de analisar o caso.’


 


 


EUA
Folha de S. Paulo


‘Newsweek’ reduzirá funcionários, diz jornal


‘A revista americana ‘Newsweek’ reduzirá o número de funcionários e a tiragem para enfrentar a queda de seus leitores, segundo o ‘Wall Street Journal’. ‘A Newsweek prevê reduzir seus efetivos dentro de uma importante renovação que resultará numa publicação reduzida’, afirmou o jornal. Não se sabe o número de funcionários que serão demitidos. A ‘Newsweek’ poderá reduzir em 500 mil, ou até 1 milhão, sua tiragem -atualmente de 2,6 milhões de exemplares.’


 


 


SERVIDORES
José Ernesto Credendio


Após 40 anos, Assembléia derruba a ‘lei da mordaça’


‘A Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou anteontem à noite projeto que extinguiu a ‘lei da mordaça’, criada há 40 anos, durante o regime militar (1964-1985), que pune os servidores públicos que concederem entrevistas ou criticarem autoridades ou seus atos.


O projeto, do líder do PT, Roberto Felício, agora segue para o governador José Serra (PSDB) -ele pode sancionar ou vetar a mudança, que extingue item do Estatuto do Servidor, de outubro de 1968.


Desde a abertura democrática, em 1985, o Estado já teve como governadores Franco Montoro, Orestes Quércia, Luiz Antonio Fleury Filho (todos eleitos pelo PMDB), Mário Covas, Geraldo Alckmin (ambos do PSDB), Claudio Lembo (DEM) e agora Serra, sem que a ‘lei da mordaça’ fosse removida.


Embora não haja notícia recente de aplicação da lei, o instrumento é usado para constranger servidores, como professores e diretores de escola, a não criticar as condições de ensino. No caso em que alunos depredaram a escola Amadeu Amaral, em novembro, professores disseram à Folha que não falariam por temer punições.


Segundo Felício, o dispositivo intimida o funcionalismo. ‘É uma forma de censura à livre manifestação’, diz ele.


Em janeiro, a ONG Artigo 19 entregou ao relator especial da ONU em direito à educação, Vernor Muñoz, abaixo-assinado com 1,5 mil adesões de acadêmicos e juristas contra o Estatuto do Servidor de SP.


O presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Carlos Ramiro de Castro, comparou a lei a uma ameaça velada. ‘É como um chicote que o pai deixava na porta para o filho ver e, se aprontasse….’


Na semana passada, a secretária da Educação, Maria Helena de Castro, disse em audiência na Assembléia ser contra a lei. ‘Fiquei chocada, quando entrei na secretaria, ao descobrir que esse instrumento da época da ditadura militar ainda estava em vigor.’


O secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, disse por assessores que o governador só vai decidir sobre o projeto quando receber o texto. O governo também diz que a lei não foi usada na gestão Serra.


O artigo 242 do estatuto diz: é proibido ao servidor ‘referir-se depreciativamente, em informação, parecer ou despacho, ou pela imprensa, ou qualquer meio de divulgação, às autoridades constituídas e aos atos da administração, podendo, porém, em trabalho devidamente assinado, apreciá-los sob o aspecto doutrinário e da organização e eficiência do serviço.’ Caso infrinja a legislação, o funcionário fica sujeito a penas de repreensão, suspensão, multa e até mesmo demissão.


O procurador federal Carlos André Magalhães, especialista em direito administrativo e público, diz que a lei não deve ser nem tão restritiva nem permitir excessos. Ele cita o caso de um procurador de prefeitura que se manifesta contra a cobrança de um imposto. ‘Isso abre caminho para que o contribuinte passe a questionar o tributo, o que contraria o interesse da administração’.


Por outro lado, atos como a elaboração do Orçamento ‘podem e devem ser questionados’, diz Magalhães, por trata-se de opinião. ‘É o posicionamento do cidadão.’’


 


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Google informa trajeto de ônibus em BH e em SP


‘Entrou no ar ontem, em fase de testes, um serviço de busca automática de trajetos para quem se desloca usando transporte público em São Paulo e Belo Horizonte, criado pelo Google, na internet.


Além das opções de caminhos a pé e de carro, que já eram oferecidas, o usuário poderá listar alternativas de rotas usando ônibus, metrô e trem (o último só em São Paulo), em combinações diversas e com estimativas de tempo de duração da viagem e do horário dos coletivos.


O serviço é fruto de parcerias entre a empresa e as gestoras dos serviços de transporte nas duas capitais. Segundo a assessoria do Google, as parcerias não envolvem dinheiro.


O serviço terá dados da SPTrans e da BHTrans, gestoras dos ônibus das duas cidades. Incluirá também informações enviadas pela EMTU (gestora dos ônibus da região metropolitana de São Paulo) -segundo a EMTU, estarão disponíveis as 13 linhas do corredor ABD (São Paulo, Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá).


A previsão é que as linhas de Osasco e Guarulhos (Grande SP) sejam incluídas em janeiro, e até o final de 2009 as regiões metropolitanas de Campinas (19 municípios) e Baixada Santista (nove).


Lançado ontem, o serviço foi disponibilizado inicialmente para apenas 1% dos usuários, escolhidos aleatoriamente ao acessarem o site de mapas do Google. Eles serão uma espécie de ‘cobaia’ do serviço, que deverá atingir 100% dos usuários até a próxima semana, segundo a assessoria do Google.’


 


 


TELEVISÃO
Fernanda Ezabella


Globo relança ‘Escolinha’ em DVD; Band estréia sua própria


‘Como diria o simpático, porém muquirana, judeu Samuel Blaustein, ‘fazemos qualquer negócio’. É nesse espírito saudoso, porém pouco generoso, que chega o lançamento do DVD ‘Escolinha do Professor Raimundo’, programa da TV Globo criado por Chico Anysio, exibido diariamente, sem interrupção, por cinco anos.


Apesar da longevidade, o DVD tem apenas episódios do ano de estréia, 1990, num disco de três horas. No único extra, está uma aula de 1991, na qual os alunos levaram os pais.


O formato da escolinha foi criado pelo humorista em 1952 para uma rádio. Na mesma década, migrou para TV e passou por algumas modificações até virar programa solo da Globo.


Inspirou outras genéricas, como a ‘Escolinha do Barulho’, na Record, e ‘Escolinha do Golias’, no SBT. Agora, a Band lança na segunda ‘Uma Escolinha Muito Louca’, liderada por Sidney Magal. O programa será de segunda a sexta, às 20h15.


‘O humor da ‘Escolinha’ é popular, não tem a acidez do CQC, a proposta é outra, mas buscamos a inovação e o frescor com personagens novos’, diz Elisabetta Zenatti, diretora de programação da Band.


Entre os novos alunos, estão alguns clichês de São Paulo, como o oriental da rua 25 de Março, o típico motoboy e a operadora de telemarketing. Tem também um funkeiro e uma passista mulata.


No programa original, Chico Anysio misturava jovens comediantes, como Claudia Jimenez e Sérgio Mallandro, com veteranos do humor, como Costinha (1923-1995) e Grande Otelo (1915-1993). Ficou famoso pelos bordões, como o citado acima, do ator Marcos Plonka.


No especial de 1991 no DVD, estão Renato Aragão, como pai de Baltazar da Rocha (Walter D’Ávila, 1913-1996) e Mario Lago (1911-2002), pai de Rolando Lero (Rogério Cardoso, 1937-2003). No restante do disco, são duas horas de aulas, sem nenhum intervalo, uma grudada na outra. Como diria Seu Boneco (Lug Paula): ‘Ei chefia, que horas é a merenda?’.


ESCOLINHA DO PROFESSOR RAIMUNDO


Quanto: R$ 32, em média


Distribuidora: Globo Marcas


Classificação: não recomendado a menores de 10 anos’


 


 


AI-5
Carlos Heitor Cony


AI-5 – A geração do deserto


‘INICIEI O ano de 1968 em Cuba, terminei-o numa cela do Batalhão de Guardas, em São Cristóvão, na qual me botaram ao lado de Joel Silveira desde o dia 13 de dezembro daquele ano. Anteriormente, já havia sido preso três vezes, e não me assustei com a quarta. Ouvira pelo rádio a leitura do AI-5, na véspera estivera no apartamento do Marcito, que dera o pretexto final para o completo fechamento do regime militar.


Fora, de certa forma, minha última participação política daqueles tempos. Ausente do país, não participara de passeatas e, sinceramente, não as apreciava, sempre me integrei ao bloco individualista do eu-sozinho. Conseguia a façanha de ficar só e mal acompanhado.


Naquela noite, uma patrulha foi ao Leme me buscar, botaram-me numa Kombi sob a alegação de que o comandante da Região Militar queria falar comigo. Evidente que não acreditei no convite, mas não criei caso. Enfiaram-me um capuz preto que fedia a suores alheios, não vi para onde me levaram. Vinte minutos depois estava num enorme pátio militar, em que na parede principal, iluminada, estava a frase: ‘A Guarda morre mas não se rende’. Fiz o contrário: rendi-me e não morri.


Levaram-me ao coronel que comandava o batalhão. Um sujeito educado, constrangido em sua função de carcereiro. Mais tarde, no Natal e no Ano Novo que ali passamos, Joel e eu recebemos a ceia e o vinho que ele nos mandou de sua própria casa. Não lhe guardei o nome nem as feições. Os militares ainda não tinham se acostumado às novas funções da repressão política; nas prisões seguintes, o clima era outro, de explícita truculência.


Um oficial muito jovem, gorducho, excitadíssimo, levou-me à cela, mas antes fez questão de me mostrar um grupo de soldados que entravam numa viatura. E deu a informação: ‘Eles vão pegar e fuzilar o Juscelino e o Lacerda!’. Não estava assustado até então. Achava que aquela prisão era o costumeiro arrastão policial, na base do ‘prendam os suspeitos de sempre’ -que fez parte daquele filme com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Acontece em todos os lugares e por todos os motivos.


Na ocasião, não tinha nenhum elemento para duvidar do que o oficial me dizia. Na noite anterior, entre os amigos que foram abraçar Marcito, eu disse que o discurso dele na Câmara Federal fora um mero pretexto para o iminente endurecimento do regime. A verdadeira causa era o pavor dos militares por uma frente ampla que reunisse as três maiores lideranças civis da época: Jango, JK e Lacerda. O primeiro estava no exílio, os dois outros, em atividade, mesmo após a Frente Ampla ter sido dissolvida.


Num lance radical, o regime bem que poderia aproveitar a ocasião para eliminar o resíduo daquele movimento que realmente assustou os militares. Bem verdade que, anos depois, os três líderes morreram numa operação que um coronel chileno, comandante do Dina, em ofício enviado ao chefe do SNI brasileiro, chamou de ‘limpeza de terreno’.


O fato é que, quando entrei na cela, o Joel Silveira, com uma febre de 39 graus, perguntou-me pelas novidades. Disse o que acabara de saber: ‘Vão fuzilar JK e Lacerda’. Joel rosnou um palavrão e voltou a dormir. Sem febre, custei a relaxar. Não acreditava numa fuzilaria geral, irrestrita e segura, mas alguma coisa de mais grave poderia acontecer, como de fato aconteceu ao longo daquele tempo que o lugar comum classificou de ‘anos de chumbo’.


Lacerda e JK não foram fuzilados, mas foram presos, como milhares de outros cidadãos que formavam o bloco dos ‘suspeitos’. Não houve reação na sociedade civil contra o ato de força -nem poderia haver. Ao contrário do golpe de 1964, em que ainda eram possíveis o protesto e até mesmo a reação, em 1968 nada se podia fazer a não ser a polêmica e inútil alternativa da luta armada: a guerra civil.


Amanhã, aquela noite de 13 dezembro fará 40 anos. A mesma quantidade de anos que formou a geração do deserto de um povo que buscava a terra que lhe fora prometida. Como em qualquer outra terra, a maior conquista -e não a simples promessa que pode ser feita a qualquer povo- não é a paz, mas a liberdade.’


 


 


PRÊMIO
Ivan Finotti


Brad Pitt e Meryl Streep disputam Globo de Ouro


‘‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, em que Brad Pitt interpreta um homem de 80 anos que passa a rejuvenescer, e ‘Frost/Nixon’, que mostra uma entrevista do presidente Richard Nixon pouco antes do escândalo Watergate, foram os dois filmes mais indicados ao Globo de Ouro, em evento em Los Angeles, Estados Unidos, na manhã de ontem.


Ambos conseguiram cinco indicações, incluindo a principal: melhor filme dramático. A premiação das 25 categorias (14 de cinema, 11 de televisão) acontece em 11 de janeiro. ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, de David Fincher, estréia no Brasil em 16 de janeiro; ‘Frost/Nixon’, de Ron Howard, em 20 de fevereiro.


‘Dúvida’ (estréia em 6 de fevereiro), sobre a acusação de abuso sexual de um menino por um padre, também teve cinco indicações, mas não ficou entre os melhores filmes dramáticos. Meryl Streep, por outro lado, foi a maior vencedora individual de ontem, acumulando indicações a melhor atriz dramática (como uma freira de ‘Dúvida’) e melhor atriz de comédia ou musical (por sua participação em ‘Mamma Mia!’, filme recheado de canções do grupo sueco Abba).


‘The Reader’, de Stephen Daldry; ‘Foi Apenas um Sonho’, de Sam Mendes; ‘Slumdog Millionaire’, de Danny Boyle; e ‘Vicky Cristina Barcelona’, de Woody Allen, tiveram quatro indicações cada um.


Astros


Muitos astros foram lembrados como atores e atrizes coadjuvantes: Tom Cruise e Robert Downey Jr. por ‘Trovão Tropical’ ; Ralph Fiennes por ‘A Duquesa’; Philip Seymour Hoffman por ‘Dúvida’; e Heath Ledger por ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas’.


Entre as mulheres, foram indicadas para coadjuvantes Penélope Cruz (‘Vicky Cristina Barcelona’), Marisa Tomei (‘The Wrestler) e Kate Winslet (‘The Reader’).


Votação


Historicamente, muitos dos filmes indicados ao prêmio são também indicados ao Oscar, apesar de o sistema de votação ser distinto: no Globo de Ouro, votam cerca de 90 jornalistas estrangeiros baseados em Hollywood -incluindo duas brasileiras. No Oscar, votam cerca de 6.000 atores, diretores, produtores e roteiristas, todos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


 


POLÍTICA
O Estado de S. Paulo


TSE mantém multa a emissora de rádio


‘O ministro Arnaldo Versiani, do Tribunal Superior Eleitoral, manteve multa à Rádio FM Correio de João Pessoa, que teria beneficiado o senador José Maranhão (PMDB) na eleição de 2006, quando disputou o governo da Paraíba. O dono da rádio é suplente do senador e a emissora teria promovido evento com a presença do presidente Lula organizado pela coligação de Maranhão. O senador recorreu, mas o TRE manteve a multa, de R$ 20 mil.’


 


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Blogueira da Al-Qaeda está entre detidos


‘A única pessoa detida e identificada publicamente pela polícia na operação contra os supostos membros da Al-Qaeda, em Bruxelas, é Malika el-Aroud, de 48 anos. Cidadã belga nascida no Marrocos, Malika é conhecida por escrever em francês sob o pseudônimo de Oum Obeyda.


O presidente do Centro Europeu de Inteligência Estratégica e Segurança – uma instituição não-governamental -, Claude Moniquet, disse durante entrevista que ‘trata-se de uma mulher muito ativa e uma jihadista capaz de motivar terroristas’ com seus textos. Segundo Moniquet, ela publicou suas mais recentes exortações à jihad (guerra santa) em seu blog na internet três semanas atrás, defendendo os ataques suicidas. ‘Nós a consideramos um elemento muito perigoso.’


Malika, que se mudou para a Bélgica quando ainda era muito jovem, começou a publicar seus textos depois que seu marido morreu no Afeganistão, em setembro de 2001, cometendo um atentado suicida contra o general Ahmed Shah Massud, senhor da guerra conhecido como ‘o Leão do Panshir’ e líder da milícia Aliança do Norte, que combatia o Taleban.


Para atacar Massud – poucos dias antes dos atentados do 11 de Setembro -, os terroristas se fizeram passar por jornalistas e se explodiram ao lado do líder anti-Taleban.’


 


 


O Estado de S. Paulo


Google Mapas trará linhas de ônibus em SP


‘A São Paulo Transporte (SPTrans), a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e o Google apresentaram ontem o novo site do Google Mapas, que agora contém informações sobre transporte público. Por meio de uma parceria, as entidades de transporte cederam seus bancos de dados para o gigante da internet, que passa a disponibilizar, junto com seu serviço de rotas para se locomover entre dois endereços, informações sobre linhas e horários de ônibus, trens e metrô da região metropolitana. O mesmo serviço foi lançado em Belo Horizonte. As duas cidades são as primeiras da América Latina a adotar o sistema. O endereço é www.google.com.br/mapas.’


 


 


TELES
Daniele Carvalho


Teles vão reduzir preços na TV paga, diz TVA


‘O aumento da participação de empresas de telefonia no mercado de TV por assinatura deve promover novas reduções no preço do serviço. Na avaliação da diretora-geral da TVA, Leila Loria, a queda no custo para o consumidor pode chegar, nos próximos dois anos, na casa dos dois dígitos. Leila lembra que, nos últimos dois anos, a queda no custo para o consumidor já chegou a 20%.


Os pacotes de convergência – que incluem telefonia móvel, fixa, TV por assinatura e 3G – têm sido o curinga utilizado por operadores de telecomunicações para ganhar escala. Para não perder espaço, a Vivo acertou ontem com a TVA parceria para a oferta conjunta dos serviços, que serão comercializados, inicialmente, no Rio, Curitiba e Porto Alegre.


O pacote mais simples inclui 61 canais de televisão, banda larga de 250 kbps, 120 minutos de telefonia móvel e 200 minutos em ligação para telefone fixo, tudo por R$ 221,80. ‘Estamos incluindo um importante produto em nosso portfólio’, afirmou o vice-presidente da Vivo, Paulo César Teixeira.


A parceria é tida por Leila Loria como uma forma de conter clientes em época de crise. ‘Só o serviço de TV por assinatura fica mais vulnerável de ser cortado pelo cliente em época de crise. Mas os pacotes oferecem preços competitivos para o conjunto de serviços’, disse. A TVA tem no Rio seu maior mercado, com cerca de 65 mil assinantes. Já a Vivo tem cerca de 5 milhões de clientes na região.


Com a parceria, a Vivo segue o caminho já trilhado pela Oi/Sky, Embratel/Net e a própria TVA com a Telefônica, uma das sócias da empresa de TV por assinatura.


Para expandir a área de cobertura da TVA, a companhia entrou com pedido na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para a obtenção de licença de operação de TV paga via cabo no interior de São Paulo ‘Pedimos autorização para mais de 20 localidades’, afirmou Leila. A empresa já opera TV via cabo na capital paulista, Curitiba, Florianópolis e Balneário Camboriú. No restante do País, o serviço é oferecido por onda de rádio, pela tecnologia MMDS.


VIVO


A Vivo pretende lançar, ainda este mês, notebook já com já com o modem de 3G embutido. A iniciativa está sendo desenvolvida em parceria com a LG.’


 


 


CRIME
Brás Henrique


Viúva de jornalista pede proteção à Anistia


‘Katia Rosa Camargo, viúva de Luiz Carlos Barbon Filho, que atuava na imprensa de Porto Ferreira, na região de Ribeirão Preto, está com medo, se sente perseguida e quer ‘sumir’ da cidade onde nasceu. Desde a morte do companheiro, em maio de 2007, crime ocorrido num bar, ela não se sente segura. Quatro policiais militares e um comerciante são acusados do crime e ela enviou uma carta à Anistia Internacional, que pediu proteção ao ministro da Justiça, Tarso Genro.


Sem emprego há um mês, Katia sente-se insegura onde está. ‘Estava com medo, vi carros estranhos parando em frente à minha casa, durante a madrugada, um Gol branco sem placa e outro escuro que não sei o modelo, várias vezes, por isso enviei e-mail à Anistia Internacional’, afirmou ela.


Não se expôs para tentar identificar quem estaria no veículo, tampouco acredita na polícia da cidade, já que integrantes da corporação são os principais acusados da morte de Barbon.


O jornalista era polêmico e atuava na mídia local fazendo denúncias contra a administração pública e também contra policiais militares (por prevaricação e até por não inibirem contrabando de cigarros). Sua morte teria sido uma represália.


Apesar de não ter sido o primeiro a divulgar o caso, em agosto de 2003, Barbon foi o mais crítico e enfático, no município, durante as investigações de corrupção de meninas, praticada por políticos e empresários, durante orgias em ranchos. Vereadores e um garçom foram condenados e já cumpriram suas penas, mas alguns ainda lutam para limpar seus nomes.


As denúncias de Barbon contra os PMs ocorreram pouco antes de sua morte. ‘Ele só denunciava com provas’, afirma a viúva. Possíveis provas e outras denúncias, que estariam numa pasta, desapareceram. ‘Ele confiou a pasta a alguém, não sei quem, um ou dois dias antes do crime, e essa pasta deve ter sido roubada’, emenda ela.


O marido havia feito denúncias contra PMs (inclusive à corregedoria), empresários e até políticos, em diversas situações. Ele foi assassinado com dois tiros por dois homens que estavam numa moto, em frente de um bar, no centro de Porto Ferreira.


ROTINA DE MEDO


Por causa do medo, Katia só percorre curtos trajetos, assim como os dois filhos – Carla, de 15 anos, e Luiz Felipe, de 11 – apenas vão da escola para casa. ‘Minha filha quer passear, mas, sem alguém com ela, não deixo.’


Katia e os filhos continuam morando na mesma casa, pois ela não tinha condições financeiras para mudar. ‘Não tinha mais renda, só o meu salário de R$ 500 de secretária de uma emissora de rádio.’


Após quatro meses afastada do serviço para cuidar de depressão, foi demitida. Katia se sente perseguida, até porque o radialista João dos Reis, que atuava em outra rádio e tinha contatos com Barbon, além de ter continuado algumas reportagens policiais do amigo, também foi demitido. E no mesmo dia que ela. ‘Fiquei isolada.’


Katia tem algumas suspeitas sobre a morte do marido, mas não pode provar.


Na próxima semana, Katia deverá ter orientações de como entrar no programa de proteção à testemunha, até o final do processo que investiga a morte do marido.


O advogado Ricardo Ramos não acredita que Katia consiga preencher todos os requisitos necessários. ‘É algo de ordem particular, mas a preveni de que teria de mudar tudo: nome, cidade, documentos’, disse Ramos.


A possível transferência do júri do caso para outro município tornaria mais tranqüila a situação, acredita Ramos. ‘Isso mudaria tudo.’’


 


 


ITÁLIA
Antonio Gonçalves Filho


Fugindo dos mafiosos


‘O filme Gomorra, baseado no livro homônimo que virou best-seller em 43 países, estréia dia 19 no Brasil, mas pode ser que seu autor, o jornalista italiano Roberto Saviano, não esteja vivo até lá para comemorar o sucesso da obra, um marco do atual cinema italiano e já na lista dos favoritos do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009. Saviano, escondido e protegido por escolta policial desde 2006, quando lançou o livro na Itália, foi ameaçado de morte e corre o risco de não comemorar o Natal este ano. A Camorra italiana, organização criminosa sediada en Nápoles com ramificações no mundo todo (Brasil inclusive), prometeu matá-lo até o dia 25, colocando um ponto final na carreira do autor, cujo livro Gomorra (Bertrand Brasil, tradução de Elaine Niccolai, 350 págs., R$ 39) chega dia 15 às livrarias de todo o País.


A leitura de Gomorra – paronímia que aproxima a cidade bíblica dos pecadores da Camorra italiana – deve ser feita preferencialmente com um balão de oxigênio por perto. O ar é fétido, irrespirável, desde o primeiro parágrafo, em que Saviano descreve uma cena apocalíptica. Nela, um contêiner balança no porto de Nápoles enquanto a grua se desloca para o navio. De seu interior desabam corpos congelados de chineses, cujos documentos devem ter passado às mãos de compatriotas, igualmente explorados pela Máfia chinesa, que, segundo Saviano, trabalha em sociedade com a Camorra. E apresenta dados de tirar o fôlego: 20% das importações têxteis da China passam pelo porto de Nápoles, onde 60% das mercadorias escapam do controle aduaneiro. É também em Nápoles, segundo ele, que opera o maior armador do Estado chinês, que administra o maior terminal de contêineres napolitano em sociedade com empresários suíços, donos da segunda maior frota de navios do mundo.


Bastaria essa denúncia para Saviano ser ameaçado pela Camorra. Apesar do apoio público que recebeu de escritores como o anglo-indiano Salman Rushdie e do ganhador do Nobel Orhan Pamuk, o destino de Saviano parece mesmo selado desde o dia em que se infiltrou entre os camorristas para descobrir como funcionava a máfia napolitana. Ele descobriu uma organização envolvida tanto no tráfico de drogas como no despejo clandestino de resíduos químicos, além dos rotineiros crimes de vingança que envolvem famílias camorristas e seus dissidentes. No ramo ‘empresarial’, a Camorra comandaria ainda a construção civil na Itália, a fabricação de leite adulterado, a importação de fuzis Kalashnikov e até o tráfico de moldes das grifes européias para a China dos falsificadores. Nada mais globalizado que o crime organizado.’


 


 


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O espírito da Máfia cruza hemisférios


‘Na noite fria de 25 de novembro, na Real Academia Sueca, Roberto Saviano, o autor de Gomorra, foi aplaudido de pé por 400 pessoas, provocando comoção ao dizer que ‘a palavra dá medo só quando supera a linha de sombra’. Abraçado ao italiano, Salman Rushdie, outro ameaçado, dava força ao companheiro de ‘fatwa’ para suportar o peso de sua condenação à morte, ele que teve há 20 anos a cabeça colocada a prêmio por fundamentalistas islâmicos por Os Versos Satânicos.


Ao evocar a ‘linha de sombra’ do célebre livro de Joseph Conrad, Saviano, nascido em Nápoles há 29 anos, via-se como o jovem nunca nomeado de sua obra The Shadow Line, cruzando a linha que separa dois universos, o Ocidente e Oriente. Em suma: com a coragem de um jovem obrigado a assumir o posto de comando de sua geração. Só que seu conflito não era apenas literário. Saviano cruzou a ‘linha de sombra’ para enfrentar carniceiros da pior espécie, capazes de derreter corpos de inimigos em tanques de ácido, usar viciados como cobaias de drogas e convocar crianças para queimar lixo tóxico.


A menção de Saviano a Conrad não foi gratuita. O horror que Gomorra desperta não é só o de uma Itália atrasada e povoada por famílias de mafiosos violentos, vingativos. É o de uma Europa dominada por cartéis do crime organizado, que investem tanto na bolsa de Londres, quinto maior mercado consumidor de cocaína do mundo, como nos depósitos clandestinos de lixo tóxico chineses e italianos. O crime transnacional passa, sim, pelo porto de Nápoles dos camorristas, mas não se restringe ao tráfico de drogas ou contrabando de mercadorias, segundo Saviano. É, portanto, improvável que a Itália possa resolver sem ajuda internacional o problema dos mafiosos . A Camorra colocou os pés na China imediatamente após a queda da Cortina de Ferro e o acordo feito com os chineses foi selado a sangue.


Em Nápoles, de acordo com Saviano, são descarregadas quase exclusivamente mercadorias chinesas: 1,6 milhão de toneladas. O registrado. O resto, diz ele, ‘passa sem deixar rastro’. E no resto podem estar 20% de toda a produção têxtil da China. As fábricas chinesas na China, diz ele, estavam fazendo concorrência às fábricas chinesas na Itália e havia um único modo de elas se salvarem: transformando operários em experts em alta-costura. Saviano descreve como um simples alfaiate italiano ligado à Camorra, que assinou um terninho usado por Angelina Jolie na noite do Oscar, deu aulas de como desenhar um modelo de grife (por meio de um telão) a centenas de operários chineses de fábricas clandestinas.


Saviano diz que os negócios se espalharam pelo outro hemisfério, chegando a São Paulo e Rio de Janeiro, onde os ?secondiglianesi? (cartel camorrístico que reúne diversas famílias) dominariam o mercado de roupas. E por que as grifes de moda italiana não protestam? Porque denunciar significaria, segundo o autor, ‘renunciar para sempre à mão-de-obra barata que utilizam na Campânia e em Puglia’, dominadas pelos camorristas. Os clãs, além disso, dificultariam as relações com as fábricas do Leste europeu e do Oriente. A Camorra, garante, ‘é a maior organização criminosa da Europa’. Para cada siciliano mafioso há cinco da Campânia. E eles não precisam de políticos, como os mafiosos sicilianos. Eles é que precisam da Camorra. Os clãs da Camorra chegam ao poder, segundo ele, ‘pela potência de seus negócios’. E esses negócios incluem, claro, tráfico de drogas, hoje feito com o consórcio de aposentados, que compram lotes de coca para revender.


O pior, porém, começa a aparecer lá pelo quarto capítulo, em que os clãs de Secondigliano, para testar suas misturas, usam heroinômanos como cobaias, atraindo-os com preços baixos. Desesperados, os ‘visitors’, como são chamados, topam tudo. Até mesmo morrer. Aliás, como os milhares de jovens recrutados pela Camorra que, iludidos, sonham ficar ricos e acabam vítimas dos piores pesadelos na terra do perseguido Saviano.


Trecho


Para muitas mulheres, casar-se com um camorrista é como receber uma herança, ou significa um capital conquistado. Se destino e capacidade o permitirem, aquele capital frutificará, e as mulheres se tornarão empresárias, dirigentes, verdadeiros generais com um poder ilimitado. Se tudo for mal, permanecerão sozinhas, em salas de espera de prisões ou concorrendo com as eslavas, para assim poderem pagar os advogados e dar de comer aos filhos – isso quando o clã perde o poder…’


 


 


Luiz Zanin Oricchio


Violência retratada sem concessões


‘Gomorra foi visto, e com razão, como sopro renovador para o cansado cinema italiano. Sem se definir entre o intimismo ou a retomada do político, este cinema, que já foi o melhor do mundo, parece ter encontrado via fértil nessa discussão – a seco – sobre a presença da máfia na sociedade. Ao contrário de outros diretores, Matteo Garrone livra-se de qualquer estereótipo facilitador para se aproximar dos personagens. Os membros da Camorra (a ‘máfia’ napolitana) não são vistos como seres simpáticos e um tanto folclóricos, como em tantos outros filmes. Em Gomorra são assassinos frios, tipos humanos ameaçadores e repulsivos. Ao que parece, essa escolha é feita em consonância com o livro original, que valeu ao escritor Roberto Saviano a ameaça de que seria executado ‘até no Natal’, segundo a pia ameaça dos bandidos.


Gomorra ganhou o Prêmio Especial do Júri, em Cannes, e foi indicado pela Itália para disputar uma das vagas de finalista ao Oscar de produção estrangeira. Já foi indicado ao Globo de Ouro e tem estréia no Brasil prometida para o dia 19.


É duro como madeira de lei. E deve provocar comparações com Fernando Meirelles. Isso porque, como o brasileiro, também o italiano discute o fascínio que o crime desperta na infância e juventude carentes. Mas as aproximações param por aí. Estilisticamente, são bem diferentes. Se Cidade de Deus vale-se de estética ritmada, cheia de ginga e recursos de efeito, Gomorra trabalha tudo a seco. Não faz nenhuma concessão ao prazer do espectador e recusa-se a embelezar qualquer cena. À maneira coral, trabalha com cinco histórias diferentes, dispersas por vários personagens – de imigrantes explorados a garotos que se julgam espertos e terminam muito mal. O retrato da Itália que dele emerge passa longe de qualquer cartão-postal.’


 


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Sai a lista de indicados para os troféus Globo de Ouro, a prévia do Oscar 2009


‘Heath Ledger ganhou uma indicação póstuma para o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante, por sua extraordinária criação como o Coringa no Batman de Christopher Nolan. O anúncio foi feito ontem e os prêmios da Associação dos Cronistas Estrangeiros de Hollywood, em geral vistos como prévia do Oscar, serão entregues numa festa no dia 11 de janeiro no Hotel Berverly Hilton.


Na categoria cinema, dois títulos polarizam a disputa para melhor drama – O Curioso Caso de Benjamim Button, de David Fincher, e Frost/Nixon, de Ron Howard, receberam cinco indicações cada. Outro dos indicados é o atual queridinho dos críticos nos EUA – Slumdog Millionaire, de Danny Boyle. O casal 20 de Hollywood polariza a disputa nas categorias de melhor ator e atriz de drama – Brad Pitt, indicado por Benjamim Button, e Angelina Jolie, por A Troca, de Clint Eastwood.


O representante brasileiro Última Parada: 174, de Bruno Barreto, não ficou entre os indicados para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Os filmes que concorrerão ao troféu incluem o italiano Gomorra, de Matteo Garrone; a animação israelense Waltz with Bashir, de Ari Folman; e o drama sueco Everlasting Moments, de Jan Troell. Na categoria TV, concorrem a melhor série de comédia : 30 Rock, The Office, Entourage, Weeds e Californication.’


 


 


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Globo reúne 16 autores em livro


‘A Globo está lançando Autores, Histórias da Teledramaturgia (Ed. Globo, R$ 72), dois volumes de 480 páginas cada um com longas entrevistas, biografias e belas fotos de 16 autores de sua teledramaturgia. Ali estão depoimentos preciosos de Aguinaldo Silva, Alcides Nogueira, Antonio Calmon, Benedito Ruy Barbosa, Carlos Lombardi, Euclydes Marinho, Gilberto Braga, Glória Perez, João Emanuel Carneiro, Manoel Carlos, Maria Adelaide Amaral, Miguel Falabella, Ricardo Linhares, Silvio de Abreu, Walther Negrão e Walcyr Carrasco.


O lançamento é mais um fruto do projeto Memória, que consiste no registro de depoimentos de profissionais que fizeram (ou ainda fazem) a história da emissora.


Mas, autor de alguns dos títulos mais memoráveis da casa (vale citar O Casarão, Escalada e O Salvador da Pátria, freqüentemente mencionada como a maior audiência da TV depois de Roque Santeiro), Lauro César Muniz, hoje na Record, ficou de fora da coletânea. A Globo argumenta que ‘o critério do livro foi publicar os autores vivos, da TV Globo, que tenham feito pelo menos duas novelas nos últimos dez anos’.


Lauro César chegou a gravar depoimento de três horas para o projeto Memória em 2001, quando ainda era contratado da Globo. ‘Recebi o material em fitas VHS. Tenho agora tudo copiado em DVD’, conta o autor, procurado pelo Estado para falar sobre a questão. ‘O meu depoimento serviu de base a muitos verbetes do Dicionário da TV Globo, Volume 1: programas de dramaturgia e entretenimento’, diz. ‘Quanto à exclusão deste livro dos autores, para mim é difícil comentar. Tenho contrato com o concorrente principal da Globo, mas ajudei a fazer a história da teledramaturgia da Globo… O mercado tem direito de distorcer a história?’.’


 


 


 


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