As duas principais revistas de informação do Brasil, pelo menos aquelas que alcançam mais leitores, escolheram para suas capas o episódio da morte de um ex-policial que foi casado com uma atriz de televisão.
As duas publicações dedicam ao tema páginas e páginas relatando o relacionamento conturbado entre a mulher famosa e o típico galã de subúrbio, quase trinta anos mais jovem. E é assim mesmo que a revista Época trata o ex-policial que morreu de overdose de cocaína no estacionamento de um hotel: ‘galã de subúrbio’. Chama-o também de ‘anônimo que tirou a sorte grande casando-se com uma estrela da TV’.
Não é o caso de se gastar o tempo com análises sobre o evidente preconceito presente nas afirmações, mas observar como a imprensa que se pretende relevante gasta papel com temas de importância duvidosa, em detrimento das questões que poderiam contribuir para melhorar o nível de suas relações com o público.
Banalidade pura
O relacionamento entre publicações que se pretendem influentes e seu público se constrói pela partilha dos temas relevantes, que ajudam esse público a fazer escolhas e formar opiniões.
Para se ter uma idéia, Época dedica quatro vezes mais espaço para a morte do ex-policial do que para o caso de assassinato que envolve o empresário Constantino de Oliveira, dono da empresa aérea Gol. Outro tema relevante, o caso que envolve magistrados acusados de vender sentenças mereceu apenas uma página.
Veja também preferiu dar amplo espaço para a psicologia ligeira sobre o relacionamento entre a atriz famosa e o anônimo suburbano do que a questões como o pacote do governo contra a crise econômica, ou a pesquisa que mostra o hábito de empresários brasileiros de distribuir propinas a agentes públicos.
As chamadas revistas semanais de informação são supostamente importantes pela capacidade de resumir os principais fatos do período e oferecer aos leitores a oportunidade de refletir sobre questões importantes para suas escolhas do dia-a-dia. Quando dedica a capa e muitas páginas a temas que são a marca das revistas de banalidades, a imprensa que pretende ser influente está apenas afirmando que não quer ser levada a sério.