Sob o regime de Saddam Hussein, o Iraque tinha apenas dois canais de televisão. Um era destinado aos discursos do presidente; o outro, uma emissora voltada aos jovens dirigida pelo filho do ditador, Uday. Desde a invasão americana, em 2003, o número de canais disponíveis aumentou consideravelmente, e é possível ver a proliferação das antenas por satélite nos telhados em Bagdá. Emissoras estrangeiras como al-Jazira, al-Arabyia, BBC e CNN são agora acessíveis para quem tiver TV por satélite. O empresário Habib al-Sadr, entretanto, não acredita que seja o suficiente: para ele, é hora de os iraquianos criarem seu próprio canal de notícias 24 horas.
Presidente do Iraq Media Network, Sadr já lançou, desde 2005, dois canais de TV nacionais, sete regionais, 11 estações e rádio e seis jornais. Ainda assim, ele vê o projeto de lançar o canal de notícias como o mais especial de todos. ‘Queremos fazer algo único no Iraque’, diz.
Sob pressão
O empresário dirige a al-Iraqyia, financiada pelo governo, e admite que a emissora não é tão independente quanto gostaria. ‘Sim, nós estamos sempre sob pressão de grupos políticos e religiosos, mas fazemos nosso melhor para resistir a ela’, diz. Xiita, Sadr é acusado de permitir que o governo xiita do primeiro-ministro Nuri al-Maliki use os veículos de mídia do Iraq Media Network para disseminar sua mensagem política.
‘Nós somos uma companhia independente e fazemos o possível para driblar a pressão, mas ainda não conseguimos cumprir nosso objetivo completamente’, defende-se. ‘Minha maior ambição é estabelecer uma mídia livre e independente no Iraque. Se eu conseguir isso, será a primeira vez no Mundo Árabe’.
Negócio arriscado
Sadr conta que já tem 90 jornalistas e 60 repórteres políticos, além de grande parte do equipamento necessário para montar seu sonho. Mas ele admite que não será fácil. Pelo menos 75 de seus funcionários já foram mortos desde que ele assumiu a companhia, há dois anos, e 68 foram feridos em ataques. O próprio empresário afirma ser alvo de ameaças de morte diariamente. ‘Elas vêm por telefone, e-mail, mensagem de texto no celular’, enumera. ‘Eu sou um alvo para a al-Qaeda e para membros do antigo regime de Saddam Hussein’.
Por enquanto, Sadr irá lançar um canal religioso, em setembro. O al-Furkan será inaugurado no início do mês sagrado do Ramadã, e terá leituras do Corão em sua programação. Inicialmente com seis horas de transmissão diária, o canal chegará a 24 horas de conteúdo religioso por dia, segundo os planos do empresário.
Quanto ao canal de notícias, ele não revela a data de lançamento, adiantando apenas que deverá ser no próximo ano. ‘Estamos tendo calma para garantir que tudo seja feito corretamente’, explica. Informações de Bryan Sarson [AFP, 24/8/07].