A última moda em educação, pelo menos no ensino público do estado de São Paulo, é a ‘escola que aprende a ensinar’ – novo receituário no qual o educador vira mediador, aquele que deve aprender a ensinar. Para isso conta com uma inovadora proposta de ensino, elaborada por reconhecidos especialistas e implantada verticalmente, num engessamento de métodos – tabula rasa de conteúdos mínimos para que os alunos sejam considerados aptos e tenham o domínio de operações simples de matemática e de usos da língua portuguesa.
Talvez pareça exagero, mas essa política agora adotada pelo governo de São Paulo lança bases para recolher mais à frente dados estatísticos (tão ao gosto psdebista) que fundamentem e comprovem a ‘revolução’ educacional proporcionada pelo desde sempre candidato a presidente, pronto a cobrar a fatura em 2010.
A despeito da pecha de incompetentes, os professores/mediadores, pressionados por um sistema de metas e bonificações salariais por méritos, estão, contraditoriamente, a serviço desse mesmo sistema excludente, seguindo as diretrizes estabelecidas para que os alunos atinjam os índices de habilitação auferidos no Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).
Trabalho jogado no lixo
Não se quer dizer aqui que avaliações de desempenho, tanto de alunos quanto de professores e gestores escolares, não sejam necessárias e bem-vindas, principalmente se pautadas por critérios justos. Bem, porque a burocracia trabalha justamente para aqueles que escamoteiam a realidade, como o próprio governo paulista, que por um lado acena com uma ‘revolução educacional’ (como comprovam as excessivas propagandas), mas por outro desacredita e desestimula (ainda que institua bônus meritórios) o trabalho sério de muitos professores ao longo do ano letivo, uma vez que ao final do processo a aprovação dos alunos é praticamente automática. Somente aqueles alunos que excederem o número máximo de faltas são retidos.
Os educadores que prepararam provas, corrigiram-nas, preencheram papéis e documentos e participaram de conselhos de classe, têm seu trabalho jogado no lixo, porque além de mal pagos também são mal avaliados – e não há nos meios de comunicação matérias que abordem a dura rotina do professorado.
Governos que aprendessem a governar
No entanto, é comum nos noticiários reportagens em que jovens na 8ª série ou mesmo no ensino médio mal conseguem escrever o próprio nome – e não é difícil supor de quem é a culpa.
Perverso, esse sistema, talvez mais perverso o jornalismo que se furta a tocar nesse assunto sem as distorções de uma revista Veja, ou certo tom tendencioso, quando não sensacionalista, ou superficial. Falta coragem para uma discussão mais aprofundada, mesmo quando há depredações e violência nos recintos escolares.
Não basta ater-se a estatísticas, passivas de manipulações ou fazer da educação uma fábula ideologizada, que no fundo denota a falta de um projeto, de uma política séria e duradoura, a despeito de sucessivos governos de um mesmo partido (tucano) no estado – não se deve condenar gerações a uma educação sem qualidade, pois o custo para a nação é muito alto e não pode ser medido somente em verbas gastas ou estatísticas.
Num balanço de reportagens facilmente se comprovaria o viés depreciativo em relação aos professores – numa estratégia de esvaziamento discursivo, de sonegação das reivindicações e da própria ‘voz’ do professorado – em proveito de uma fabulação política de poder.
O ideal (em educação) talvez fossem governos que aprendessem a governar – e uma mídia que aprendesse a criticar.
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Funcionário público municipal, Jaú, SP