Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

STF, MENSALÃO & MÍDIA
Dora Kramer

A ditadura do ‘reportariado’

‘Quando vocaliza por intermédio de sua facção de réus o inconformismo com a ‘ditadura da mídia’, o PT não está comprando briga com a imprensa. Desta, ele gosta se pode usá-la.

Quando parte para o ataque aos meios de comunicação alegando ‘excessos’, está mesmo é se revoltando contra a liberdade de expressão e o direito universal à informação. Estes, o PT detesta se não os controla ou os manipula em favor de suas conveniências.

Do presidente Luiz Inácio da Silva ao seu ex-ministro da Casa Civil processado por corrupção ativa e formação de quadrilha, passando por outros menos cotados, mas igualmente enquadrados em diversos artigos do Código Penal, todos se valem exatamente dos instrumentos que criticam para desviar o foco do motivo essencial de seus infortúnios.

Sem o noticiário que tanto os desconforta – no ex-ministro José Dirceu provoca ‘pânico’ -, não teriam discurso. Aliás, nem teriam chegado ao poder, mas esta é uma outra história, a respeito da qual muito já se falou.

Os queixumes mais recentes se sustentaram justamente em reportagens publicadas pelos jornais. Exemplo, o relato da Folha de S.Paulo sobre a conversa telefônica em que o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski dizia para o irmão que o tribunal recebera a denúncia contra os acusados no escândalo do mensalão porque cedera à pressão da imprensa, com a ‘faca no pescoço’.

Dirceu exibia o exemplar a título de ‘prova’ de que a imprensa caminha para tomar de assalto as mentes, os corações e as instituições do País.

Fazia isso em entrevista coletiva onde era tratado como autoridade, ato possível porque a imprensa em sua função noticiosa não briga com os fatos. Se julgasse e disputasse poder, como argumentam Dirceu e companhia, não estaria ali a ouvir e registrar desaforos de quem se apresenta como adversário e usa o inimigo no propósito de dar divulgação à sua tese.

O ‘reportariado’ – jargão jornalístico para definir o coletivo de repórter – estava ali fazendo o seu trabalho e Dirceu o dele. Simples assim. O PT sabe muito bem como as coisas funcionam e delas jamais reclamou. Ao longo de sua existência, valeu-se dessa mecânica para se firmar como a oposição mais vigorosa que o País já teve da redemocratização para cá.

Ontem o partido iniciou seu 3º Congresso disposto a reservar boa parte dos debates para reclamar da imprensa. Desvia-se do ponto central de seus problemas, que são justamente aquelas pessoas que fizeram o que fizeram e continuam sendo afagadas pelo partido.

É do jogo, criticados sempre reclamam. Mas as coisas assumem uma feição um pouco mais grave quando o Estado, na pessoa do presidente da República, se dá ao desfrute de fazer avaliações sobre a amplitude do trabalho da imprensa sob a ótica da vontade de restringir.

Imprensa, na concepção desses autores, é boa quando a favor. Como, se for livre, necessariamente terá de se opor quando o uso do discernimento assim justificar, o que se observa nessas manifestações é o desejo de limitar a liberdade, enquadrá-la nos parâmetros tidos como adequados às melhores circunstâncias para o poder de plantão.

Mas, considerando o princípio de alternância do poder, natural seria que o PT pensasse no dia de amanhã e não se arriscasse a defender teses que podem contrariar seus interesses quando porventura volte a ser oposição.

A menos que não considere essa hipótese e esteja lá no fundo raciocinando sob a ótica passadista da ditadura do proletariado.

Maioria mineira

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, não vê sentido na questão aqui levantada dias atrás a respeito do ‘teste de maioria’ a que seria submetido na votação de sua proposta à Assembléia Legislativa para a efetivação de 90 mil funcionários sem concurso na área de Educação.

Nessa votação, argumentava o texto que provocou a manifestação do governador, seria possível, por analogia, observar o que de fato se passara na recente derrubada de um veto do governador à concessão de foro privilegiado de Justiça para 2 mil autoridades mineiras: se Aécio perdera o controle sobre a base governista ou se havia apenas jogado para platéia ao vetar o foro e deixar que sua maioria derrubasse o veto.

Aécio Neves não aceita a ilação. ‘Acredito ter agido corretamente, no limite das minhas responsabilidades, o que foi inclusive reconhecido pelo Ministério Público Estadual.’ Segundo ele, não há termos de comparação entre as duas votações.

‘Uma coisa é a lógica do apoio parlamentar a ações administrativas do governo; outra é a lógica que envolve uma votação que diz respeito à experiência individual, à convicção pessoal arraigada de cada parlamentar e, por que não, às próprias circunstâncias de cada um.’

Ou seja, o governador de Minas continua de posse de maioria segura no Legislativo estadual, à exceção das ocasiões em que essa maioria se rebela, motivada por interesses específicos.’

MERCADO DE MÍDIA
Elder Ogliari

Grupo RBS vai investir R$ 100 milhões em dois anos

‘A Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS) vai investir R$ 100 milhões nos próximos dois anos na construção de um novo parque gráfico para impressão do jornal Zero Hora, na digitalização da transmissão de duas de suas emissoras de televisão e na ampliação de seus serviços jornalísticos on line.

A informação foi divulgada pelo presidente do grupo, Nelson Pacheco Sirotsky, durante inauguração da exposição No Ar 50 Anos de Vida, comemorativa aos 50 anos do complexo empresarial gaúcho, ontem, em Porto Alegre.

A nova série de investimentos começa pelo lançamento, no dia 19 de setembro, do serviço Zero Hora On Line, que vai colocar notícias em tempo real na internet. A equipe de 28 jornalistas já está preparando a operação.

A redação do portal será integrada à do jornal diário Zero Hora. ‘Vamos oferecer conteúdo 24 horas por dia’, promete Sirotsky, que ainda aposta no jornal impresso como complemento à informação que o leitor recebe na tela do computador ou do celular.

A crença no conteúdo impresso está manifestada na intenção de construir um novo parque gráfico, na zona norte de Porto Alegre, no ano que vem, para dar mais cor, velocidade e volume aos veículos da RBS na capital gaúcha – os jornais Zero Hora e Diário Gaúcho.

Também em 2008, o grupo vai iniciar a transmissão digital do sinal das emissoras de televisão de Porto Alegre, no primeiro semestre, e Florianópolis, no segundo semestre.’

POLÍTICA CULTURAL
Jotabê Medeiros

Artistas vêem desmonte na cultura de São Paulo

‘Artistas e produtores culturais de São Paulo, preocupados com a política para o setor na cidade, resolveram pedir uma audiência urgente com o secretário Carlos Augusto Calil. O grupo é respeitável: Paulo Autran, Juca de Oliveira, Bibi Ferreira, Beatriz Segal, Odilon Wagner, Paulo Goulart, Nicete Bruno, Marco Ricca e Denise Fraga, entre outros.

O incentivo cultural, via Lei Mendonça, caiu quase 90% entre 2004 e 2007, segundo revelou o Estado no dia 16 de junho. Os artistas querem debater dez temas com o secretário, entre eles as alterações feitas na Lei Mendonça por decreto, em dezembro de 2005.

Outra preocupação são ‘critérios que têm orientado o indeferimento ou cortes de projetos submetidos a essa Secretaria; o esvaziamento da Comissão de Averiguação e Avaliação de Projetos Culturais (CAAPC ) e a retomada dos financiamentos’.

Os artistas pedem para ser recebidos entre os dias 10 e 20 deste mês. Segundo a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura, o secretário Calil recebeu a carta dos artistas e irá reunir-se com eles no prazo preestabelecido. A secretaria informou que Calil não pretende comentar antecipadamente a pauta deles.

Com Calil, os artistas tencionam abordar também a ‘urgente necessidade de isenção de ISS sobre os ingressos de espetáculos teatrais’ e ‘os critérios insuportáveis da meia-entrada nos espetáculos’. Essa última questão, polêmica, também será discutida na esfera federal. O grupo será recebido em audiência pública na quarta feira, dia 5, na Comissão de Educação, Cultura,Ciência e Tecnologia, do Senado, em Brasília.’

MERCADO EDITORIAL
Antonio Gonçalves Filho

Os dez anos de uma editora ousada

‘Há dez anos, quando publicou seu primeiro livro, Barroco de Lírios, dedicado ao artista pernambucano Tunga, a editora Cosac Naify não representava no Brasil o papel que a Thames and Hudson desempenha no exterior, mas batalhava por propósito semelhante, o de criar um museu sem paredes, que colocasse à disposição do leitor brasileiro uma seleta bibliografia com títulos de arte, arquitetura, moda e design. Hoje, com um catálogo de 600 títulos que contemplam outras áreas, a Cosac Naify não é apenas identificada como uma editora de livros de arte, mas, antes de tudo, artísticos. Saem dela algumas das mais belas edições do mercado brasileiro e isso é tão verdadeiro que a editora ganhou 17 indicações para o cobiçado prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Vai receber 10 deles no dia 31 de outubro.

Best sellers ainda são poucos, como um livro dedicado aos Beatles, mas títulos importantes é o que não faltam, entre eles o catálogo completo das gravuras do pintor gaúcho Iberê Camargo e os quatro volumes da edição integral de Mitológicas, do antropólogo Claude Lévi-Strauss. Boa literatura também não falta no catálogo. Desde que lançou, em 1999, a coleção Prosa do Mundo, que reúne obras-primas da literatura ocidental em novas traduções, a Cosac Naify ampliou o leque e completa dez anos de existência com mais novidades na área. Ela acaba de lançar Nadja, do surrealista André Breton, e coloca brevemente nas livrarias uma caixa com três títulos autobiográficos de Gorki (Infância, Ganhando o Meu Pão e Minhas Universidades). Ainda este ano saem Sete Narrativas Góticas, de Karen Blixen, e O Amante, de Marguerite Duras.

Por fidelidade à proposta inicial, a Cosac Naify continua apostando no segmento das artes visuais. Até o fim do ano saem três títulos fundamentais: Piero della Francesca, clássico de Roberto Longhi dedicado ao maior representante do Quattrocento italiano, um livro sobre o neoconcretismo brasileiro escrito pelo poeta e crítico Ferreira Gullar, e, finalmente, um denso volume que analisa o acervo da Pinacoteca do Estado. Ainda no segmento destaca-se a mais ambiciosa produção do ano: uma luxuosa caixa com vários livros dedicados à obra de Tunga, que não será vendida, mas presenteada pela editora às bibliotecas do Brasil. A iniciativa da caixa partiu do fundador da editora, Charles Cosac, e seu sócio, o empresário norte-americano Michael Naify, que nunca fizeram as contas na hora de lançar livros fora dos padrões convencionais.

O diretor editorial da Cosac Naify, Augusto Massi, anuncia ainda outra investida corajosa para comemorar os dez anos, a coleção Estilistas Brasileiros com cinco volumes dedicados a grandes nomes da moda: Alexandre Herchcovitch, Glória Coelho, Lino Villaventura, Ronaldo Fraga e Walter Rodrigues. E, na área de arquitetura, acaba de lançar o segundo volume dedicado ao arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha. Detalhe: os dois serão lançados na Europa pela conceituada editora Rizzoli. ‘É o início da internacionalização da editora’, comemora Massi, lembrando que o livro de Glauber Rocha, Revolução do Cinema Novo, já foi lançado na França.

Com uma média de 80 lançamentos por ano, a Cosac Naify ingressou em sua nova fase há seis anos, quando Massi assumiu a direção, ampliando o leque editorial. Ele é ajudado na tarefa por um grupo de editores e coordenadores de edições de alto nível, como o professor de literatura Davi Arrigucci Jr., colaborador do Estado, e o professor de cinema Ismail Xavier.

Da solitária ação inicial de seu fundador às parcerias que a editora fez para concretizar ousados projetos (com a Pinacoteca e a Mostra de Cinema) foi um percurso longo, que hoje permite à Cosac Naify produzir edições experimentais como a de Bartleby, o Escrivão, de Hermann Melville, que vem costurado e pede para não ser aberto, ou A Fera na Selva, de Henry James, cujas páginas mudam de cor à medida que o livro avança. Massi justifica a ousadia: ‘É preciso forçar os limites do livro’, diz. ‘ O texto literário está profundamente acomodado.’’

TELEVISÃO
Julia Contier

Canal ensaia grade

‘Sai TVE, entra a TV Brasil. Utilizando a mesma equipe e espaço físico da TV Educativa do Rio e agregando a equipe da Radiobrás, a TV pública entra em cena no dia 2 de dezembro.

Segundo o Secretário do Audiovisual, Orlando Senna, a escolha dos dirigentes – presidente e diretor-geral – deve sair na segunda quinzena de setembro, após a aprovação da Medida Provisória.

A programação segue a regra do secretário: tudo o que é bom, fica. ‘Inicialmente será utilizado como conteúdo o melhor da TVE, os programas pensados para essa TV pública, como o DOC TV, o DOC Internacional, Revelando os Brasis, Curta Criança, Curta Animação e novos programas que estão sendo gerados. E, é claro, que tudo o que é bom fica, como Menino Maluquinho, Roda Viva (TV Cultura) e tantos outros.’

O custo da TV Pública vai depender da MP aprovada, enviada ao Congresso no início de setembro, para que não seja permitida a publicidade varejista, e sim a publicidade de utilidade pública e a institucional – aquelas que tornam públicas campanhas de vacinação, matrículas escolares e propagandas de empresas do governo e fundações e eventos públicos.

Agora na periferia

O ator João Miguel, de Cinema, Aspirinas e Urubus e da série Te Quiero América, está na nova safra de Antônia, que estréia no dia 21. João Miguel participará do quarto episódio, dirigido por Fabrizia Pinto, e viverá um fã obcecado pela Antonia ‘Maiah’.’

Keila Jimenez

Paraíso tenta ofuscar Caminhos

‘A Globo já começa a se mexer para combater Caminhos do Coração, da Record. A nova novela vem surpreendendo em audiência. No capítulo de quarta-feira, a trama alcançou média de 14 pontos, ótimo índice, uma vez que estreou com 17 pontos e subiu um dia depois para 20 pontos de ibope. Para segurar a audiência de sua linha de shows, a Globo deve dar uma esticadinha a mais em Paraíso Tropical. Caminhos, por sua vez, que é exibida às 22 horas, promete esperar Paraíso acabar para entrar no ar. Haja paciência.

Entre-linhas

A morte de Taís em Paraíso Tropical não bombou a audiência como se esperava. A novela obteve média de 46 pontos e 70% de participação no total de ligados. O flagrante de Olavo (Wagner Moura) de cueca foi melhor em ibope. Em seus picos de audiência, a trama chega a dar 50 pontos.

Apesar de ter uma participação prevista no final de Paraíso Tropical, Mariana Ximenez voltará de fato às novelas somente na próxima trama de João Emanuel Carneiro. A novela, ainda sem nome definido, deve suceder a Duas Caras, de Aguinaldo Silva.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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