Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sapatadas de fim de ano

Antes do Natal costuma-se falar em botas, as botas de Papai Noel carregadas de presentes. Neste ano, as botas foram substituídas por um par de sapatos convertidos em projéteis por um jornalista iraquiano e instantaneamente transformados em objetos de culto em todo o mundo.


Na história mundial da sapataria jamais um calçado ganhou tal notoriedade. É bizantina a discussão sobre o comportamento ético do jornalista da TV Muntadhar al-Zaidi que investiu contra o seu entrevistado, o presidente George W. Bush, numa entrevista coletiva em Bagdá.


Como escreveu na quinta-feira Eugênio Bucci, no Estado de S.Paulo [ver ‘A liberdade vale um par de sapatos‘], aquela não era uma situação normal, a entrevista coletiva era uma farsa, não se pode exigir do jornalista uma postura respeitosa se tudo ali era desrespeitoso.


Preferência pela piada


Por outro lado, é imperioso lembrar que na maioria absoluta dos países islâmicos seus dirigentes não concedem entrevistas coletivas nem a imprensa tem liberdade para o desempenho de suas funções. Se, por um acaso, um jornalista jogasse uma sandália no presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad seria imediatamente enforcado.


Os sapatos de al-Zaidi deram uma grande exposição aos problemas da mídia. E os problemas da mídia de repente ganharam dimensões planetárias, não porque o Chicago Tribune pediu concordata, mas porque um jornalista sentiu-se violentado e protestou publicamente.


O presidente Lula, como sempre, preferiu fazer piada na cúpula da América do Sul e Caribe. Conviria perguntar aos seus assessores quantas entrevistas coletivas concedeu neste ano.