Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tereza Rangel

‘O UOL tem um grande desafio pela frente: conseguir melhorar a qualidade do jornalismo que oferece. Mais dois casos ilustram como é difícil fazer bom jornalismo de serviço. Os dois na área de entretenimento.

O primeiro refere-se à programação de tevê. Em sua estação UOL Televisão, há um canal chamado Programação, que também recebe destaque na home page de Diversão e Arte.

A página principal deste canal é muito ruim: traz, basicamente, a lista dos seriados da tevê paga, com erros de informação e dados desatualizados (como o horário de exibição e a informação de que House está na terceira temporada, que terminou semana passada). Em caixas à direita, traz links para parceiros que têm informações mais consistentes sobre a programação: Tudo no Ar e Folha de S.Paulo.

Não faz sentido o principal material de um canal de programação ser a lista de seriados da tevê paga, considerando que a televisão aberta é a que responde pela maior audiência. Entendo que a tevê aberta deveria ser o foco de um canal que se chama Programação. Claro que os seriados repercutem entre o público do UOL, mas restringir a página a eles dá um ar de falta de fôlego do portal. Além disso, a página é gelada, resume apenas o seriado e pouco acrescenta em relação ao que o telespectador já sabe. Até porque os links mandam para reportagens de meses atrás. O ideal é que, logo de cara, ao chegar à home page do canal Programação, o internauta tenha em destaque o principal da programação, do dia, e não uma lista que raramente é atualizada. O desafio é o UOL conseguir editar o bom material de seus parceiros e não se limitar a colocar links para eles.

O segundo refere-se à oferta teatral. A estação Diversão e Arte destaca em sua home page uma seção Peças em Cartaz. Ela tem problemas graves e básicos. A lista é magra e restrita: são apenas seis peças destacadas; cinco em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. Dessas, três já nem estão mais em cartaz (O Fantasma da Ópera encerrou sua temporada em abril; Pequenos Crimes Conjugais ficou em cartaz até maio; A Pedra do Reino saiu de cartaz em São Paulo em abril/maio). Aqui, também, há parceiros com informações melhores e mais atualizadas. Aqui, também, o desafio é promover uma edição de qualidade.

‘Como sei Miss Saigon está em cartaz e que é (praticamente) impossível as duas peças em cartaz simultaneamente, fui checar no site do Teatro Abril, mas este por algum motivo está fora do ar. Acredito ser de extrema gravidade esta informação, pois alguém mais desavisado, confiante na credibilidade que passa uma informação publicada no UOL, poderia ter ido desavisadamente até a bilheteria e ter se frustrado. E olha que a peça saiu de cartaz há meses. Graças a Deus em outros portais é possível encontrar a informação correta’, afirma Elcio.

Um portal com a audiência e importância do UOL não pode oferecer canais mambembes como ‘Programação’ e ‘Peças em Cartaz’. Tem a obrigação de oferecer informação de qualidade, correta e atualizada.

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O direito de não saber (30/8/2007)

Por duas vezes, nesta semana, o UOL revelou em sua home page o destino da personagem Taís, da novela global das 8. À queima-roupa, sem chances para o internauta decidir que queria ou não saber o que vai acontecer com a vilã protagonizada pela atriz Alessandra Negrini.

‘Já fiz esta reclamação semana passada por meio de outro canal do site, e agora que achei seu e-mail volto a fazê-la, pois o que me incomoda ocorreu de novo hoje. Eu não assisto sempre a novelas, mas quando assisto, gosto de curtir a ordem dos fatos, ou seja, não gosto de saber o que vai acontecer essa semana, nem no capítulo de hoje. Acontece que o UOL tem esse hábito besta de colocar bem na capa do site ‘gêmea má vai morrer esta semana, veja detalhes’. Poxa vida, eu não sabia, e não queria saber. Custava botar um link dizendo ‘veja o que vai acontecer na novela das 8’, ou ‘semana quente na novela’ ou até ‘veja o que acontece com a Taís esta semana’, e quem quiser que clique para ver! Mas eu estava lá só dando uma olhada nas últimas notícias, e não pude evitar de ver essa porcaria! Quer dizer então que agora o melhor a fazer é não ler o UOL?

Muito chato isso’, afirma Camila, de São Paulo.

Camila levanta uma questão recorrente no jornalismo cultural: como fica o direito do leitor/espectador/ouvinte de ficar surpreso durante a fruição de um livro/novela-filme-seriado/show? O jornalismo, por princípio, prega o direito à informação. Acontece que esse tipo de revelação fere o direito de uma pessoa de acompanhar os capítulos da telenovela e surpreender-se com o seu desenrolar. O direito de não saber.

Outro lado

A gerência geral de entretenimento, responsável pela estação UOL Televisão, e a de notícias, responsável pela home page do UOL, responderam à pergunta da ombudsman sobre por que decidiram revelar o destino da vilã Taís. Manoela Pereira, gerente geral de entretenimento, e Haroldo Sereza, editor da home page, argumentam que o grande mistério da novela não é que a vilã Taís vai morrer, mas sim, quem é seu assassino. Dizem que a própria Rede Globo vem, em intervalos, tratando do assunto. Partiram do princípio de que a morte de Taís não é mistério para quem acompanha a novela.

O UOL pode argumentar que todos os outros meios já divulgaram, que essa não é a questão central da trama, que a notícia já é sabida. Pergunto: sabida por quem? Defendo que poderia ter tido mais respeito com internautas como Camila.

P.S.

Dois comentários.

1. Novamente o UOL levou mais tempo do que a concorrência para noticiar o acidente entre dois trens na Baixada Fluminense. Além disso, só alçou o assunto à manchete mais de uma hora após a concorrência tê-lo feito. Pergunto-me o que teria acontecido se a colisão de trens fosse em São Paulo.

2. Sugestão para os assinantes amantes do rock e de games: vale a pena assistir ao vídeo com o desafio entre os guitarristas Wander Taffo e Koala no jogo ‘Guitar Heroes’ na TV UOL.

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Faltam gráficos e entrevistas (29/8/2007)

O IBGE divulgou nesta quarta-feira pesquisa sobre os gastos das famílias brasileiras. Por trazer uma grande quantidade de números e comparações, esse é o tipo de material que ficaria muito, muito mais bem editado se acompanhado de infográficos, para destacar os dados mais importantes; de personagens, para ilustrar o que os números mostram; de entrevistados, para repercutir e aprofundar as informações.

O UOL julgou a notícia importante, tanto que levou o tema à manchete do portal, com material produzido pela Folha Online.

A Folha Online destacou três temas.

Nordeste é a região mais desigual do país

10% mais ricos gastam dez vezes mais que 40% mais pobres

Habitação responde pelo maior gasto das famílias

Como outros veículos de Internet, noticiou o que o IBGE destacou em seu release.

UOL Economia reproduziu texto de agência noticiosa. Não produziu seu próprio. Não produziu infográficos nem fez reportagens sobre o tema. Nem ao menos procurou entrevistar alguém pudesse aprofundar e traduzir os números.

Nem Folha Online nem a agência de notícias escolhida por UOL Economia aprofundaram-se na pequisa, que traz informações saborosas. Cito alguns exemplos abaixo.

Doações entre evangélicos são as maiores. Espíritas gastam mais.

Idosos gastam com saúde três vezes mais do que os mais jovens.

Homens gastam 61% a mais do que mulheres na aquisição de veículos e combustível.

O caso exemplifica bem o que ainda acontece com o jornalismo praticado na Internet: rapidez para disseminar notícias, mas dificuldade para aprofundar, burilar o material. Os jornais impressos, amanhã, trarão o que, idealmente, a Internet deveria fazer hoje.

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Notícia envelhecida (28/8/2007)

Foram dez dias de greve na Paraíba. Agora é a vez de os cardiologistas do Ceará conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) protestarem.

O UOL noticia, com fotos de Jarbas Oliveira, a greve cearense em sua primeira página. Há um álbum inteiro, com nove fotos, do hospital Messejana, em Fortaleza. As imagens são fortes, mas não trazem informações suficientes. Alguém morreu à espera de uma operação cardíaca? A greve continua? Como está a negociação entre governo e médicos? O álbum até oferece um link para um ‘leia mais’ sobre o caso. O ‘mais’, no caso, é notícia velha, de ontem, retirada da Folha de S.Paulo.

Sem uma rede de correspondentes nem um parceiro regional forte, o UOL fica à mercê das agências de notícias, que tampouco dão atenção para o problema no Nordeste. Num caso como este, o UOL deveria pensar numa forma de informar melhor. Do contrário, vai reforçar a idéia de site paulista e dar notícia envelhecida, com um dia de atraso, o que está longe do ideal de jornalismo em tempo real.

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Saiba tudo? (27/8/2007)

O UOL Cinema colocou no ar um especial sobre o festival de cinema de Veneza, que começa na próxima quarta-feira, dia 29. Para dar destaque ao material, preparou um selo, em que promete informar ‘tudo’ sobre o festival. Sugiro que o UOL evite tamanha pretensão (faz o mesmo com o hot site sobre os 40 anos da Tropicália). O site do Festival de Veneza é modesto, está longe de oferecer ‘tudo’ e apresenta problemas. Um dos principais é a falta ‘comunicação’ entre o material.

1. A reportagem principal não traz um link sequer para outras, o que obriga o internauta a voltar para a home page do hot site para se informar mais.

2. Falta uma página com a programação completa do festival.

3. A página dos filmes selecionados não traz nenhum link para os trailers. Deveria fazê-lo. Tampouco traz informações mais aprofundadas sobre os próprios filmes.

4. A página dos trailers não se relaciona com a dos filmes. Não há trailers de todos os filmes.

5. Para suprir a falta de mais informações, há um destaque para o site oficial (que na verdade é o site oficial da Bienal de Veneza, da qual, o festival de cinema é parte). Não há, porém, nenhum aviso de que o site é em italiano ou inglês, ou seja, para apenas uma parcela do público do UOL.

6. O índice de notícias lista , até agora, apenas 15 textos.

7. Faltam informações mais consistentes sobre as edições anteriores do festival.’