CASO MADDIE
Pais são suspeitos do sumiço de Madeleine, afirma polícia
‘Os pais de Madeleine McCann, que conduzem uma campanha para encontrar sua filha desaparecida há quatro meses, foram indiciados pela polícia portuguesa, segundo a família e o advogado do pai da menina. Os britânicos Gerry e Kate McCann passaram de testemunhas a suspeitos após vestígios de sangue da criança serem encontrados em um carro alugado pelos casal.
Kate foi interrogada durante quatro horas ontem, no segundo dia seguido em que teve que depor à polícia, sobre o desaparecimento de sua filha de quatro anos de um quarto de hotel na região do Algarve (sul de Portugal). O pai da menina, Gerry, foi interrogado em seguida, na cidade de Portimão.
Segundo amigos e familiares, Kate disse ter se tornado suspeita formal e afirmou que a polícia lhe oferecera um acordo de confissão. ‘Eles tentaram fazê-la confessar ter matado acidentalmente Madeleine, oferecendo um acordo ao seu advogado -se você disser que matou Madeleine acidentalmente, escondeu e se livrou do corpo, então podemos te garantir uma sentença de dois anos de prisão, ou até menos’, disse a irmã de Gerry, Philomena, ao canal britânico ITV.
Carlos Pinto, advogado de Gerry, disse que seu cliente também havia sido declarado suspeito após mais de oito horas de interrogatório. Ontem o casal reafirmou sua inocência.
Os acontecimentos recentes constituem uma mudança radical na investigação de um caso que se arrasta desde 3 de maio. O casal McCann conta que, no dia, jantou em um restaurante da cidade portuguesa em que passava férias, no Algarve, e, quando retornou ao hotel onde Madeleine e seus irmãos gêmeos de dois anos dormiam, a menina sumira.
Desde então os McCann viajaram por países da Europa e até pelo Marrocos, fazendo campanha por Madeleine, tendo se encontrado até com o papa. Celebridades como J. K. Rowling e David Beckham fizeram apelos públicos pela menina.
Até ontem, o único suspeito formal era um britânico que vive próximo ao hotel de onde Madeleine sumiu, na Praia da Luz. Mas novos testes feitos com material colhido meses após o desaparecimento revelaram vestígios de sangue no carro do casal, disse Justine McGuinness, porta-voz da família. McGuinness afirmou que as alegações não acrescentavam nada, já que o carro foi alugado 25 dias após o sumiço.
O caso provocou uma ‘guerra’ na mídia dos dois países, evidenciada ontem. Enquanto jornais portugueses focavam a suspeita da polícia, diários britânicos mostravam dúvida. A rede BBC, por exemplo, fez uma reportagem com moradores da cidade dos McCann que dizem crer em sua inocência.
Antes, os McCann já haviam criticado a imprensa portuguesa e prometido processar o jornal ‘Tal e Qual’ por afirmar que eles eram suspeitos da morte da filha.’
MERCADO EDITORIAL
Cosac festeja 10 anos com lançamentos
‘Em dezembro de 1997, surgiu no rarefeito mercado brasileiro de livros de artes visuais uma editora com um nome longínquo e propostas sofisticadas, mas que soavam um pouco fora da realidade.
Um dos primeiros títulos da Cosac Naify foi ‘Barroco de Lírios’, monografia de Tunga. Dez anos depois, uma caixa com seis livros do artista plástico, que sai em novembro com tiragem limitada de 500 cópias, marca os dez anos da editora, que já imprimiu sua marca de qualidade gráfica e editorial no mercado brasileiro. O livro de Tunga é a cereja de um bolo de cerca de 20 lançamentos.
Associada ao que parecia ser uma espécie de mecenato, a Cosac Naify não existiria sem o impulso -pessoal e financeiro- de uma figura pouco convencional, o editor Charles Cosac, 41, que em 1996 voltou ao Brasil depois de morar 15 anos na Inglaterra. A iniciativa de abrir a editora tinha como objetivo primordial descolar o livro de arte da imagem de mero brinde de empresa.
‘Existia dentro de mim, ainda com coração de estudante, muita vontade de acertar algumas coisas. Trazer a palavra de alguns professores que eu tive na Europa para o Brasil. E facilitar o estudo da arte brasileira na Europa. Lá, a gente trabalhava muito com fotocópia, os amigos tinham de mandar slides. Não havia livros e eu achava muito triste a falta de registro’, diz Cosac.
Ele ainda morava na Rússia quando teve a primeira experiência editando um livro, do artista plástico Siron Franco, de quem é amigo. ‘Era uma coisa muito inocente, com muito entusiasmo. Não havia meta. Eu não abri uma editora e sim uma fazedora de livros. A editora era a mesa que encomendei de marceneiro e o departamento de finanças era um bloquinho em que eu ia anotando.’
Déficits
Os artistas Amilcar de Castro, Leonilson e Arthur Omar estavam na primeira leva de livros, que despertou entusiasmo no meio da arte -e, ao mesmo tempo, vaticínios sobre uma curta carreira para a editora, para a qual muitos não deram mais do que um ano de vida. De fato, o ‘mecenato’ quase teve fim em 2002 -nesse ano, até se organizou um jantar de encerramento. Em 2003, os déficits mensais ultrapassavam R$ 400 mil.
Charles Cosac atribui a virada da editora à decisão de convidar o editor Augusto Massi, 48, em 2001. Professor de literatura da USP e jornalista, Massi reformulou a equipe e saneou as contas com a contratação de um novo diretor financeiro. É Massi quem garante que hoje em dia a editora já trabalha ‘no azul’, depois de ver o seu faturamento dobrar entre 2004 e 2006. Ele relativiza a importância de sua entrada na editora, dividindo parte dos louros com os editores que o antecederam, como Rodrigo Lacerda e Alberto Martins.
Para ele, a sobrevivência da Cosac Naify tem como lastro o conhecimento de Charles sobre artes plásticas, que transcendeu para a moda, arquitetura e design.
‘Quando eu cheguei já havia livros de Miguel Rio Branco, Paulo Mendes da Rocha e uma coleção de moda. O professor Ismail Xavier e o crítico Rodrigo Naves já colaboravam, portanto já se tinha noção de equipe em que um intelectual podia participar da editora. Já era muito charmosa, um marco, um acontecimento. A grande sacada que comemoramos foi fazer livros em áreas que o Brasil tem reconhecimento não só no país como internacional.’
Continuidade
Prova do recém-adquirido vigor da editora é o aumento das tiragens iniciais médias, que em 2003 eram de 2.000 a 3.000 exemplares, número que desde 2005 chega a 5.000. O aumento da tiragem também ajudou a desatar um nó entre os departamentos financeiro e editorial da Cosac Naify: o preço médio, hoje em R$ 42.
‘Sem abrir mão da capa dura, prefácios e posfácios, índice onomástico, foto ou desenhos, pesquisa de papel. E isso é percebido lá fora’, diz Massi, lembrando que um dos best-sellers da editora, o argentino Alan Pauls, recebeu no Brasil propostas que pagavam mais pelos direitos de ‘O Passado’, mas acabou optando pela Cosac Naify por sugestão do amigo e escritor espanhol Enrique Vila-Matas, que elogiou a edição de seu ‘Bartleby e Companhia’ feita pela casa.
Outro fator que teria ajudado a continuidade da editora foi a fixação do número de títulos publicados por ano em no máximo 70 -ao todo, a Cosac Naify tem hoje 600 títulos em catálogo.
O limite ajudou a regularizar a programação de lançamentos, outro de seus problemas ‘históricos’, mas não significa que a editora não tenha ambições. A principal delas é a internacionalização da marca, ‘a reboque do artista brasileiro’, segundo Massi.
Uma recente prova de fôlego foi o lançamento do catálogo em inglês da mostra ‘Tropicália’, que passou por Chicago, Londres, Berlim e Nova York, e está agora em cartaz no MAM do Rio. Massi cita ainda o ‘Catalogue Raisonné’ de Iberê Camargo (1914-94), os livros de Glauber Rocha (1938-81) e do crítico Paulo Emílio Sales Gomes (1916-77) -sobretudo sua monografia sobre o cineasta francês Jean Vigo -como obras que têm forte apelo no mercado internacional.’
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Editor ajudou a criar coleção de arte na Europa
‘Nascido no Rio, filho de imigrantes que se dedicavam ao ramo da mineração no Brasil, Charles Cosac, 41, viveu na cidade serrana de Petrópolis (RJ) até os 16 anos. Com essa idade, foi para a Inglaterra, onde se formou em matemática e administração para ‘agradar aos pais’.
‘Não tinha ainda vocação para nada, era muito jovem’, diz o editor, que depois viveu nos EUA e na Rússia.
Mestre em história e teoria da arte pela Universidade de Essex, ele ajudou a criar, em 1993, a primeira coleção de arte latino-americana na Europa, a University of Essex Collection of Latin American Art, para a qual doou quatro obras, de Siron Franco, Tunga, Lygia Pape (1929-2004) e Farnese de Andrade (1926-96). Prestes a virar museu, a coleção conta, segundo ele, com cerca de mil peças.
De volta ao Brasil em 1996, Charles fundou a editora em parceria com o cunhado, o empresário Michael Naify. Ele sonha agora em editar livros sobre Andy Warhol (1928-87) e a brasileira Maria Martins (1900-73).’
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EDITORA COLABORA COM A USP
‘Charles Cosac diz que achava inviável criar uma editora que não fosse ligada à universidade. Ele diz que seus contatos com a Unicamp foram infrutíferos. E nem foi recebido pela USP, que, afirma, não usa o próprio poder de fogo. ‘Mas a deficiência da USP para mim foi boa, porque o Augusto [Massi], sendo professor de lá, tem o mesmo objetivo que eu.’ Massi, que antes viu um conflito entre o cargo de editor e as exigências da vida universitária, depois viu uma oportunidade de espelhar na editora a experiência intelectual de Cosac e a sua própria. De olho no estudante, a Cosac faz doações para instituições como a Pinacoteca e o MAM, dá livros a professores universitários ou lhes oferece descontos de 40%, e promove feiras de livros a metade do preço.’
LITERATURA NA WEB
Mostra avalia literatura produzida na internet
‘A idade (68) é respeitável e o título, pomposo: professora de teoria crítica da cultura da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Mas Heloisa Buarque de Hollanda continua querendo saber o que e como a juventude está escrevendo. Curadora da exposição ‘Blooks -Tribos & Letras na Rede’, que abre hoje no Oi Futuro, no Rio, ela é uma entusiasta da literatura produzida na internet.
‘É o padrão da literatura de papel. Não é a linguagem do e-mail, não é light. A poesia marginal dos anos 70 era muito mais casual e coloquial do que essa. A formação desses poetas é Baudelaire, Drummond, Bandeira. O referencial é culto’, afirma ela.
Heloisa já acompanha há algum tempo a tal ‘literatura sem papel’, mas mantendo certa distância. ‘Não tenho mais hormônio para ficar 40 horas na internet atrás de um poema. Cecilia [Giannetti, colunista da Folha] me disse que, com menos de seis janelas abertas, entra em ansiedade. Eu, para abrir uma, fecho outra’, conta.
Para se aproximar do mundo novo, pediu a ajuda de dois poetas surgidos na rede: Bruna Beber e Omar Salomão, filho de Waly Salomão. Eles levantaram cerca de cem poemas e cem textos em prosa para Heloisa ler e fechar o repertório de ‘Blooks’ -a palavra, corrente na internet, une blogs e ‘books’ (livros). Ela constatou que há muito mais do que Bruna Surfistinha nos sites.
‘O que me chamou a atenção foi a alta qualidade. Tem muita coisa boa na internet, e eu pensava que fosse só entulho. Essa geração tem uma visão ácida, um olhar de gilete. E não é muito auto-referente, como nos anos 70. Ana Cristina Cesar era o segredo, a referência era ela mesma. Agora, está todo mundo olhando em volta’, exalta Heloisa, grande amiga de Ana Cristina e espécie de madrinha dos poetas marginais dos 70.
Embora fale em geração, ela não acredita numa ‘webliteratura’. Em primeiro lugar, condena a idéia de que exista uma ‘literatura de blog’. ‘Blog é blog, literatura é literatura. O blog pode ser estudado como diário, correspondência. Já a literatura usa o formato blog como canal para formação de público e para trocas. Mas é mais afeita ao papel’, diz ela, não descartando que ainda haja muito de fetiche nesse desejo de ser publicado em livro.
Em segundo lugar, pensa que existam hoje ‘práticas literárias’, exercidas em verso, prosa, mas também em quadrinhos, grafismos, raps e na interação de várias mídias. A multiplicidade está em ‘Blooks’, no qual o visitante, sem o uso de terminais, vê e ouve várias coisas ao mesmo tempo.
A professora ainda espera que esteja encerrado um ‘debate rançoso’: a internet vai acabar com a literatura? ‘Há bibliotecas movimentadas no metrô, na Central do Brasil. A leitura está se tornando uma cultura. E o mercado editorial aumentou. Você entra numa livraria e não sabe que capa comprar, de tão lindas que são. É como quando se inventou a fotografia: a pintura liberou geral, não precisou mais retratar. Acho que o livro ganhou uma autonomia de vôo’, opina.
BLOOKS – TRIBOS & LETRAS NA REDE
Quando: até 30/9; ter. a dom., das 11h às 20h
Onde: Oi Futuro (r. Dois de Dezembro, 65, tel. 0/xx/ 21/3131-6060)
Quanto: grátis’
TELEVISÃO
Quadro do ‘Fantástico’ desfaz mitos da história
‘O quadro às margens do Ipiranga que representa a Independência do Brasil, comemorada ontem, é uma visão heróica, porém falsa -a pintura de Pedro Américo surgiu 66 anos após o fato. A ‘denúncia’ é a tônica de uma nova série de nove episódios que estréia amanhã no ‘Fantástico’, da Globo, baseada num livro do jornalista Eduardo Bueno, conhecido por desfazer mitos da chamada história oficial.
‘A gente não quer denunciar que é tudo fabricado, mas, no caso da Independência, tudo que está escrito é a partir de um quadro’, diz Bueno, que assina o roteiro ao lado de Pedro Bial e de João Carrascosa.
No programa, Bueno usará figurinos para representar suas pesquisas, que já resultaram em uma série de livros sobre o tema. ‘Ficou superengraçado, acho que nem deveria ser tão engraçado assim’, diz o autor sobre o primeiro episódio, ‘Um Dia de Fúria’, que terminará com um desarranjo intestinal de d. Pedro 1º no então 7 de Setembro. ‘É assim que começa meu livro [‘Brasil, Uma História’, ed. Ática], mas na TV, decidimos colocar no final.’
Historiador por trajetória, Bueno diz que pretende mostrar ‘como os mitos foram construídos’ para o grande público na TV. ‘Nosso propósito é divertir informando. O que tem mais pop que a TV? Nada, né?!’
Alerta mundial
O ‘Fantástico’ também lança uma segunda temporada de ‘Central da Periferia’, comandado por Regina Casé. Agora, as mazelas e soluções criadas pela população excluída no mundo chegam em 16 episódios.
As periferias eleitas estão em Angola, México e Paris, onde a apresentadora e atriz gravou, sempre remetendo à idéia de que, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), um terço da população mundial será favelada até 2030.
Estevão Ciavatta, que é marido de Regina e diretor do programa, aposta na comparação das periferias do mundo com as brasileiras, apresentadas na programação do ano passado, como principal foco do quadro.
Além dos dois quadros, o programa dominical apresenta amanhã também um novo cenário. Nas últimas semanas, o ‘Fantástico’ tem sofrido queda na audiência, com médias abaixo dos 30 pontos no Ibope.’
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