Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

CASO MADDIE
O Estado de S. Paulo

Pais de Madeleine são suspeitos por suposta morte acidental da filha

‘Reuters e Guardian – A polícia portuguesa declarou ontem os médicos britânicos Kate e Gerry McCann, ambos de 39 anos, suspeitos pelo desaparecimento de sua filha Madeleine, de 4 anos. A informação foi divulgada ontem por amigos, parentes e o advogado do casal. Segundo eles, a polícia disse ter encontrado amostras de sangue supostamente da menina em um carro alugado pelo casal 25 dias depois de ela ter desaparecido num resort em Portugal, onde passava férias com a família.

A mãe foi declarada suspeita ontem pela manhã, após ter sido interrogada pelo segundo dia consecutivo. A suspeita sob Gerry foi confirmada após um interrogatório de sete horas realizado em seguida ao da mulher, informou o advogado Carlos Pinto de Abreu. ‘Eles não foram acusados formalmente, e a investigação continua’, disse.

Segundo Philomena McCann, tia de Madeleine, a polícia ofereceu a Kate um acordo pelo qual ela teria de cumprir só dois anos de prisão se confessasse a morte acidental da filha. ‘Eles sugeriram que Kate matou Madeleine acidentalmente, escondendo o corpo para depois livrar-se dele’, contou. ‘Nunca ouvi nada mais ridículo em minha vida’. A porta-voz da família, Justice McGuinness, afirmou que Kate ficou chocada com a decisão da polícia.

Madeleine desapareceu em 3 de maio quando dormia com seus irmãos mais novos, gêmeos de 2 anos, em um quarto do resort Ocean Club da Praia da Luz, no Algarve, enquanto os pais jantavam com amigos. A família, de origem irlandesa, vive em Leicestershire, na Inglaterra.

Kate foi questionada pela polícia durante 11 horas na quinta-feira. Ontem, quando chegou à delegacia de Portimão, no Algarve, para mais quatro horas de interrogatório, foi vaiada por cerca de 400 pessoas que se aglomeravam no local. As cenas contrastaram com os aplausos que o casal recebeu há três meses, quando rezaram na igreja do resort em que Madeleine desapareceu.

Kate deixou a delegacia antes da chegada do marido – que foi interrogado separadamente. Antes de se apresentar ao delegado que investiga o caso, Gerry escreveu em seu blog que era um ‘ultraje’ sugerir que sua mulher estivesse envolvida no desaparecimento da filha. ‘Qualquer pessoa informada do que ocorreu em 3 de maio sabe de sua inocência’, disse ele, referindo-se ao dia em que Madeleine sumiu.

A decisão de interrogar mais uma vez os pais ocorreu após a polícia portuguesa receber, na quarta-feira, resultados de testes feitos no Serviço de Ciência Forense de Birmingham, na Grã-Bretanha, de amostras de sangue do carro e outras evidências coletadas no quarto do resort. As provas foram encontradas depois que autoridades britânicas ajudaram a polícia portuguesa a revisar o caso.

Sob as leis portuguesas, Kate e Gerry terão mais proteção legal como suspeitos do que como testemunhas, incluindo o direito a um advogado e a permanecer em silêncio nos interrogatórios, que ocorrerão a cada cinco dias. A advogada portuguesa Lita Gale, porém, disse que será difícil acusá-los formalmente sem o corpo ter sido encontrado.

Após os McCanns lançarem uma campanha maciça para encontrar a filha, centenas de pessoas em toda a Europa contataram as autoridades oferecendo ajuda. Fotos dela foram expostas em escolas, aeroportos e restaurantes, e Kate e Gerry chegaram a ser recebidos no Vaticano pelo papa Bento 16, que abençoou uma foto da menina.

Antes do casal, o britânico Robert Murat, que vive próximo ao local do desaparecimento, foi considerado suspeito e interrogado. Sua casa na Praia da Luz chegou a ser vasculhada duas vezes.’

***

Kate, a figura mais trágica e triste na saga da filha

‘Guardian – Kate McCann tem um semblante triste e um caráter reservado. Seu jeito de se agarrar desesperadamente ao gatinho de pelúcia tornou-se símbolo de seu drama.

Kate sempre pareceu a figura mais trágica nessa saga, que começou quando Madeleine desapareceu sem deixar vestígios. Nos primeiros dias Gerry, seu marido, falava com autoridade aos jornalistas. Kate mantinha-se ao lado, usando toda sua energia para não sucumbir e chorar. Quando falava era sem a evidente autoconfiança de Gerry.

Magra, e cada vez mais franzina, essa médica clínica geral parecia angustiada, esgotada, perdida. Em seu rosto quase nunca se viu sinal de esperança. Somente na suas idas diárias à creche com os gêmeos de 2 anos de idade, Amelie e Sean, ela demonstrava alguma disposição. A impressão era de que os gêmeos é que a mantinham de pé, juntamente com o forte apoio da sua família e as caminhadas que costumava fazer ao lado do marido.’

PIRATARIA LEGAL
Marcelo Rubens Paiva

Domingo ilegal

‘Como muitos, tirei o domingo para pagar contas. No meu Dimension E520 novinho, com processador novo e Windows Vista Home Basic. Não consegui. O certificado digital não estava válido. Erro no PTA da Verisign, informou o site do banco. Liguei para ele. Surpresa. Este sistema operacional não fora ‘homologado’ ainda. ‘Ainda? O programa já foi lançado há tempos.’ Silêncio. ‘Então, como faço para pagar as contas do mês?’ Utilizar o seu sistema operacional antigo, instalado no computador antigo, sugeriu. ‘Mas o antigo a essa hora serve a desejos secretos de algum adolescente na periferia da cidade.’ Silêncio. O senhor terá de se encaminhar à sua agência, respondeu. ‘Ela existe ainda? Pensei que bancos estivessem extintos pela revolução digital. É no mesmo endereço? Tem estacionamento? Tem pessoas lá dentro, ou bonequinhos, pontos de exclamação que falam, hologramas, computadores-robôs?’

Liguei para o fabricante do computador novo, o maior do mundo. Realmente, o Windows Vista tem dado muitos problemas. Perguntei então por que ‘têm vendido’ computadores com um sistema operacional que ‘tem dado’ muitos problemas? Me foi dito que todo sistema operacional lançado dá problemas nos primeiros meses.

Liguei para a Microsoft. A essa altura, descobri que quase todos os meus periféricos, do Bluetooth ao leitor de barras de código digital, passando pelo celular, não eram reconhecidos pelo novo Windows. Nem os drivers de outros periféricos. Sem contar que não há corretor ortográfico em português no Windows Mail, que não dialoga com versões anteriores do Office. Perguntei como a Microsoft lança um programa que não reconhece o passado. Fiquei sem resposta. Então, perguntei se a empresa lançou um sistema operacional já com Alzheimer. Continuei sem resposta. Sugeri que a Microsoft renomeasse o sistema operacional para Windows Vista Embaçada, Windows Tô Nem Aí, Windows Não Me Lembro de Nada. Sintomático. Para esses nerds que comandam as nossas vidas, só existe o futuro.

Voltei a falar com o suporte do fabricante. Senhor, interrompeu o operador, intimidado pelo meu surto de cidadão trabalhador que paga os impostos e que acaba de descobrir que levou um toco de um dos homens mais ricos do mundo. Senhor, desinstale o Windows Vista e instale um XP. ‘Mas passei para frente o meu XP, capisce?!’ Então, um silêncio abismal nos uniu. ‘A não ser que eu compre um programa… pi… tenho medo de falar a palavra… A ligação está sendo gravada?’ O operador continuou mudo.

Então, combinei, diria a palavra com seis letras, e ele desligaria a seguir, se concordasse. ‘Você sugere que eu arrume um programa pê de pato, i de ignorante, erre de rato, a de ator, tê de tesoura, a de ator?’ Caiu a ligação.

Sem conseguir pagar as contas, parti para a jornada de muitos brasileiros num domingo de sol: fui ao estádio, assistir ao clássico Corinthians (sem técnico, sem o craque William, rondando a zona de rebaixamento) e Santos (embalado, com o melhor técnico do País). Como bom corintiano, atendi aos apelos da Fiel, para ajudar o timão a sair do atoleiro. Eu sabia que o estádio estaria vazio.

Surpresa. Não havia ingressos. Pararam de vendê-lo ao meio-dia, por questões de segurança (o jogo era às 16 h). Público anunciado: 10 mil pagantes. E milhares de torcedores do lado de fora se perguntando o que estava acontecendo. Sim. Um jogo vazio, com torcedores dispostos a pagar para entrar, mas nada de bilheterias abertas. Perguntei ao policial em comando qual era a solução. É comprar de cambistas, não é? Ele sorriu envergonhado.

Percebendo o contra-senso, os cambistas passaram a vender os poucos ingressos a R$ 70. O clima pesou. Grupos de torcedores se acumularam nos portões. ‘Ih, ih, ih, nós vamos invadir.’ Policiais sacaram as armas. ‘El, el, el, ingressos pra Fiel.’ Uma bomba de gás foi jogada. Correria. Me retirei quando vi policiais com rifles apontados (balas de borracha?) A pancadaria comeu solta na Dr. Arnaldo. A violência que pretendiam evitar foi alimentada pelo procedimento adotado.

Tenho uma sugestão ao comando da Polícia Militar, aos organizadores do Campeonato Brasileiro, ao Ministério Público e aos times envolvidos. Por questões de segurança, eliminem de vez a figura do torcedor e descartem o público. Acabarão com os problemas de cambistas, ingressos falsos, invasões de gramado e bicões.

Bem, não vi o jogo. Fui ao Jockey Club. Parei o carro dentro das instalações. Assisti às corridas sentado em uma mesa no gramado, tomando sorvete com caldas. Fui tão bem atendido, que me senti dono de um haras. Ah, sim, é de graça. Se é verdade que o turfe no Brasil já foi mais popular do que o futebol, tem chances de voltar a ser.

Terminei o domingo assistindo a um dos documentários mais controversos e perturbadores, A Ponte, sobre os suicídios ocorridos na paisagem mais fotografada do planeta, a ponte Golden Gate, de São Francisco, de cujo batente se joga uma pessoas a cada duas semanas, em média.

Tudo no filme é surreal. Câmeras passaram o ano de 2004 registrando o movimento de pedestres (3 milhões de turistas por ano). Quando encontravam um personagem suspeito (geralmente um solitário chorando no batente, pensativo, com o olhar para o vazio), fixavam as lentes nele. Assim, registraram 23 quedas para a morte. Algumas surpreendentes, como a de um homem rindo no celular que, logo depois, se joga. Outras espetaculares, como a do roqueiro Gerry, que pontua o documentário, pois fica muito tempo refletindo, até subir, abrir os braços e fazer uma pirueta no ar para a morte.

Seu diretor, Eric Steel, é acusado de oportunista. Mórbido, deixava câmeras em locais estratégicos e mudava de fita a cada hora. Funde imagens lindas do famoso ‘fog’ com pelicanos voando. Eventualmente, alguém desaba. Evitou seis suicídios, já que a regra da equipe era ligar para a polícia, assim que visse algum suspeito.

A ponte e o seu vão de 69 metros é o destino preferido de muitos suicidas. Desde de 1937, foram registrados mais de 1.200 mortes. Depressão, solidão, doenças mentais e vícios com drogas são lembrados como possíveis motivos. E por que alguém escolhe justamente uma das paisagens mais fascinantes, para entregar os pontos? Quer se despedir com um pouco de beleza e muitas testemunhas?’

TELEVISÃO
Renata Gallo

Fantástico conta história

‘Vai ter aluno discutindo com a professora a partir de amanhã. Tudo culpa do É Muita História!, nova série do Fantástico. Nela, Pedro Bial e o escritor Eduardo Bueno vão apresentar novas versões de nove fatos históricos brasileiros. E aí aparecerá Tiradentes sem barba e careca, os bandeirantes descalços, sem botas, e dom Pedro I às margens do Ipiranga com indigestão. ‘Toda história é fabricada, queremos expor como é que ela foi fabricada. Mostrar como ela realmente foi seria pretensão. Vamos mostrar como os mitos foram criados, não desconstruí-los’, diz Bueno.

E exemplifica. ‘Todo mundo pensa em Independência do Brasil e lembra do quadro do Pedro Américo. Mas Pedro Américo pintou o quadro em 1888, 66 anos depois de ter sido proclamada a Independência. Toda história se faz através de cenas cristalizadas’, diz.

Além da Independência, a série vai abordar outros temas, como Brasil Holandês, Navio Negreiro, Pré-História, Chegada da Família Imperial, Tiradentes, República, França-Antártica e Bandeirantes. Em cada um deles, Bueno personificará um personagem importante. ‘Virei dom Pedro, marechal Deodoro, dom João VI, Nassau… E estive no exato lugar onde aconteceram os fatos históricos. Foi uma bênção’, diz. Caracterizado, Bueno tentará convencer Bial sobre a nova versão. ‘Eu e Bial somos amigos há 25 anos. Ele é o cético, o racional. Eu sou o crédulo, o emocional. E na série também será assim’, diz Bueno que também irá discutir história com o povo na rua. ‘Sou um apaixonado por história e, na série, meu único objetivo é compartilhar, espalhar essa paixão’, diz. E a discórdia também.

É Muita História! tem direção de Bial e João Carrascosa, figurino de Mara Santos e trilha sonora de Jorge Mautner e Nélson Jacobina.

Jornalismo em pauta

Caco Barcelos é um dos convidados de Serginho Groisman no Altas Horas de hoje. O jornalista fala sobre a dificuldade de apuração para um de seus livros, o Rota 66, e sobre o seu mais novo projeto, o Profissão Repórter.

Entre-linhas

Britto Jr. e Ana Hickmann serão os apresentadores do game O Jogador, da Record. As gravações da nova atração devem começar ainda neste mês.

A nova série da Globo, O Sistema, terá a estréia de Lúcia Bronstein. A atriz entrou para o cast da emissora depois que Fernanda Young, uma das criadoras da série, viu sua peça de formatura e a convidou para fazer um teste.

Além de Fernanda Young e seu marido Alexandre Machado, José Lavigne, diretor do Casseta & Planeta, e o ator Selton Mello assinam O Sistema.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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