Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Deputado agride jornalistas

Melancólica, desequilibrada e violenta a saída do deputado distrital Alírio Neto (PPS) da presidência da Câmara Legislativa. Uma noite (de quinta-feira, 18/12) que prometia ser coroada de êxito, principalmente por causa de sua gestão primorosa, acabou mais cedo para um pequeno grupo de servidores da Casa, em especial para dois jornalistas agredidos pelo parlamentar. Um deles, este blogueiro.

O primeiro, ainda na área da festa realizada pela Associação dos Servidores, foi o jornalista Zildenor Dourado, do quadro da CLDF, lotado na Coordenadoria de Comunicação Social. Ao terminar seu pronunciamento, Alírio teria deixado o palanque e corrido em direção ao jornalista, que estava sentado, enfiando-lhe a mão no rosto e derrubando-o ao chão. Antes, quando Alírio, no palanque, relatava conquistas de sua gestão, Zildenor, um contumaz crítico de atitudes polêmicas do deputado, havia feito gestos, em tom de brincadeira e de descontentamento. Nada que justificasse o desequilíbrio do ainda presidente do Poder Legislativo local.

Não assisti ao episódio, relatado em detalhes pelas dezenas de testemunhas, pois no momento da confusão tinha ido ao banheiro. Sequer havia tomado ciência do que ocorrera minutos antes quando cruzei com o parlamentar no corredor. Ao fazer menção de cumprimentá-lo, fui surpreendido com um empurrão de encontro à parede do corredor e a ameaça explícita de dedo em riste: ‘Você vai ser o próximo para parar com palhaçada!’

A ‘maldição da cadeira’

Não entendi o que queria dizer, pois ainda desconhecia a agressão ao Zildenor. Confesso que fiquei meio desconsertado e ainda perguntei do que ele estava falando. Mas percebi que ele estava visivelmente transtornado, incapacitado para qualquer contra-argumentação ou diálogo. Um dos seguranças até ponderou dizendo que era para deixar para outra hora, porque estava de ‘cabeça quente’. Bem, provavelmente a ‘palhaçada’ a que se referia tratava das sutis críticas à estratégia, adotada por ele, na infantil tentativa de reeleição para a presidência do Legislativo. Aliás, mais alertas do que críticas, e nem de perto tão contundentes quanto à de outros profissionais da área. Ou se for ‘outra’, não tive como saber.

Zildenor registrou ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia, que fica ao lado da sede da CLDF. Eu, sinceramente, prefiro não prolongar a questão. Nem preciso comentar os desgastes decorrentes de uma ação que, neste país em que vivemos, são públicos e notórios. Prefiro esquecer o que considero um desabafo pelas frustrações que a vida pública, e a política, geram. Afinal, amigos (ou ex-amigos) e ex-colaboradores são para essas coisas. Ele estava tão transtornado que sequer se importou com a multidão assistindo a tudo.

Conheço Alírio, a quem assessorei por um curto período, há alguns anos, e sei de sua índole, que é boa. Chega a ser ingênuo e, por conseguinte, facilmente influenciável por más assessorias, como no caso da reeleição. Quem sabe tenha sido fatalmente contagiado pela ‘maldição da cadeira’ e não tenha conseguido ainda digerir a derrota, imposta por uma desastrada tentativa de fazer valer seus desejos.

Sun Tzu anda esquecido

Nem, também, será preciso falar do estresse emocional resultante das negociações dos últimos dias. A última, na tarde de terça-feira (16/12), que originou o veto à reposição salarial dos servidores da CLDF. Convenhamos, o deputado deveria estar uma pilha…

Naturalmente, Alírio paga o preço por seus próprios erros. Mas, como sempre, é a imprensa a responsável…

Por hoje, ou melhor, por agora, chega. Depois eu continuo. Vou dormir porque devo levantar às 5h para começar a trabalhar. Afinal, foi assim que aprendi a ganhar a vida, trabalhando, e muito, conforme me ensinaram meus pais.

Sun Tzu anda esquecido na gaveta…

PS: E não é que eu ia escrever sobre outro assunto? Sobre a nova estratégia da polícia brasiliense… Mas esta é outra história.

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Jornalista, Brasília, DF