Um dos prazeres dos amantes da leitura é percorrer edições revistas e ampliadas de livros já adquiridos. Este, de Marcos de Castro, lançado em 1998, recebe, dez anos depois, incrementos e enxugamentos.
O essencial se mantém: denunciar o caos ortográfico, que parece ter aumentado. O autor, em tom moralista, não se conforma. E não é só da ortografia bagunçada que ele se queixa. O caos está na prosódia, na semântica, na sintaxe, na falta de bom-gosto.
Já na primeira edição, irritava-se com a mania do ‘ão’: sambão, povão, goleirão, timão, zagueirão, climão, sabadão, listão, provão, feriadão e ‘o horrendo termo apagão‘. Agora inclui mensalão, mas se esquece de maridão, sacolão e piscinão (ficam estas sugestões para a próxima revisão…).
Na primeira edição, defendia o uso de parenta, dizendo não conhecer bons autores que desprezem esse legítimo substantivo feminino. Agora faz o trabalho completo, e cita Machado de Assis (para alguns, Machadão): ‘… a intimidade de Capitu fê-la mais aborrecível à minha parenta’.
Nova impressão
Entre outras inclusões oportunas, o autor critica as redações que passaram a chamar de ‘capa’ a primeira página dos jornais. De fato, capa é capa e primeira página é primeira página. Nesta, como em outras passagens, percebemos a intransigência de Marcos de Castro. Que se estende à idéia de jornais oferecerem brindes ao leitor. Mas, o que podemos fazer? Se jornal que não é livro passa a ter capa, mesmo sem ser supermercado se sente no direito de oferecer brindes…
Havia, na primeira edição, uma seleção de artigos sobre assuntos outros, agora totalmente eliminada. Era, realmente, acessório dispensável. Ganha o livro em objetividade.
Com relação ao novo acordo ortográfico, que entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2009, Marcos de Castro limita-se a lamentar que os portugueses deixem de grafar ‘actor’, ou ‘director’. Ora, também os brasileiros abriremos mão de hábitos que nos são caros, como o trema. A indiferença do autor pela questão é um pouco chocante.
Mas por ser obra de interesse, seu livro acabará recebendo em breve nova impressão. E o autor não poderá fugir à atualização ortográfica do seu próprio texto e a uma reflexão mais cuidadosa sobre o tema.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br