Semanalmente, é possível verificar, na tão saturada programação televisiva dos fins de semana, matérias de cunho exclusivamente supérfluo, orientadas nitidamente para suprir lacunas quando inexistem reportagens substanciais destinadas ao telespectador disposto, em muitos casos, a compreender um pouco mais dos fatos importantes que circundam o ambiente doméstico e estrangeiro.
Nesse sentido, a mídia desse ramo (televisão) apresenta freqüentemente a ‘dificuldade’ constatada por adolescentes nesta fase de suas vidas (frise-se que são entrevistados, sempre, apenas os das classes média e alta), consubstanciando-se em um dos temas mais redundantes que são exibidos.
Interessante se faz ressaltar a notoriedade concebida por tais emissoras no intuito de estabelecer a ‘importância’ dos hábitos desses aspirantes a cidadão (pois sequer possuem título de eleitor, ainda), também tidos como ‘aborrecentes’ pelos críticos, pertencentes às acima citadas camadas da sociedade. As regalias são expostas de forma exacerbada – viabilização de crédito em seus telefones celulares outorgado pelos pais, ocupação quase integral do tempo à frente de computadores consultando blogs e sites de relacionamento etc. – reforçando a tese da futilidade moderna, perpetrada por alguns sociólogos, que assola a sociedade contemporânea.
A função social
Entretanto, cumpre fazer a seguinte indagação: qual o fundamento de somente apresentar as características peculiares da vida desses jovens? A resposta afigura-se um tanto óbvia. Assuntos relacionados com o desígnio de granjear desenvolvimento e consumo pessoal não concretizam audiência, sobretudo se focados nas classes mais desfavorecidas da sociedade. Ademais, a própria classe baixa incentiva tal prática com seus televisores conectados nos respectivos canais divulgadores do tema em comento, por mais incrível que pareça. Ou seja, aqueles que deveriam obter conhecimento sobre questões de maior relevância, como, à guisa de exemplo, as concernentes ao governo nas três esferas do Poder republicano (prestação de contas, formas de fiscalização popular etc.), aspectos da economia nacional, dentre outras, são os primeiros a assinar a ‘certidão de alienação’ fornecida pelos veículos comunicativos empreendedores dessa feita.
Ao que parece, há uma inversão de valores difundidos por esta parcela da mídia atuante na área televisiva. E isso, infelizmente, já não é de espantar os amantes da boa informação, aquela que agrega consideravelmente conteúdo nos diversos aspectos da vida do cidadão cônscio da realidade ao seu entorno. Assim sendo, sob o prisma idealizado pelos agentes de comunicação, interpreta-se que adolescentes saudáveis física e financeiramente têm mais a contribuir com o sistema social do que os menos ‘saudáveis’, simbolicamente dizendo.
Por fim, oportuno se faz realizar a seguinte asserção diante de toda a conjuntura analisada: quando a mídia intensificar as dificuldades do cidadão de baixa renda em face das inúmeras adversidades por ele enfrentadas, estará cumprindo efetivamente o papel de sua função social. Ademais, é extremamente difícil se ter notícia de adolescentes das classes média e alta que acordem às quatro e meia da manhã e que durmam às onze horas da noite como forma de garantir seu sustento…
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Administrador de empresas, João Pessoa, PB