Uma revolucionária pesquisa de monitoramento de leitura na web tomou como base o comportamento dos usuários para sugerir novas fórmulas para edição de notícias online. Os resultados foram divulgados na quarta-feira (8/9), no mais recente informe do projeto Eyetrack. Este projeto é uma experiência inédita de monitoramento detalhado das rotinas de leitura dos usuários de sites de jornalismo online, com o objetivo de dar bases mais sólidas para as técnicas de redação e edição de notícias na web.
O terceiro relatório (http://www.poynterextra.org/eyetrack2004/main.htm), produzido nos 13 anos de existência do projeto, tem como grande novidade a constatação de que, na leitura de uma página de noticiário online, o texto atrai mais a atenção dos leitores do que as imagens.
Esta conclusão foi alcançada depois do acompanhamento intensivo do movimento dos olhos de internautas num site de notícias, usando um equipamento ótico desenvolvido originalmente para a Marinha americana e que permite observar e medir as reações visuais de uma pessoa diretamente no globo ocular.
O método utilizado reduz ao mínimo a influência da subjetividade e forneceu uma avalancha de dados estatísticos aos pesquisadores do Instituto Poynter (http://www.poynter.org), do Estlow Center for Journalism & New Media (http://estlowcenter.du.edu) e da empresa Eyetools (http://www.eyetools.com), todos dos Estados Unidos.
As constatações vão revolucionar algumas das teorias adotadas pela maioria dos sites de jornalismo online – embora o debate seguramente vá continuar, porque nem todas as conclusões são do tipo preto no branco.
Treze pontos
Um dos grandes problemas do jornalismo online sempre foi a falta de comprovação minimamente científica para a grande maioria de teorias sobre como redigir, editar e programar notícias em ambiente virtual.
A explicação está no fato de o jornalismo online ser uma experiência ainda muito recente e na falta de pesquisas, tanto porque as universidades mostram uma lerdeza espantosa em estudar a comunicação virtual como porque as empresas limitaram seus orçamentos à busca de rentabilidade imediata, ignorando o fato de que a leitura na internet não segue as mesmas regras da imprensa escrita.
As principais conclusões do Eyetrack III são as seguintes:
1.
A observação do movimento dos olhos de 46 ‘cobaias’ humanas através de 25 sites de notícias dos Estados Unidos e Europa mostra que a esmagadora maioria vai primeiro para o canto esquerdo no alto da página e depois ziguezaguea pelo texto até a parte inferior direita, conforme mostra o desenho produzido pelos pesquisadores.(Copyright Eyetrack III)
2. A constatação contraria as afirmações de muitos designers de que a maioria dos leitores usa na leitura online a mesma atitude adotada na televisão, ou seja, sua atenção era dirigida para o centro da tela.
3.
Os pesquisadores do Eyetrack também verificaram que as manchetes do lado esquerdo no alto da página são mais lidas que as demais. E que dentro de cada manchete, as três primeiras palavras são as mais importantes para atrair a atenção dos leitores.4.
A constatação de que os leitores prestam mais atenção no texto do que nas imagens num site de jornalismo online contraria dados de relatórios anteriores da própria pesquisa Eyetrack, mostrando que houve uma evolução no comportamento dos leitores.5.
Também foi verificado que os usuários mergulharam mais no texto quando a fonte é menor (por exemplo Verdana 2, no editor de HTML) do que quando os editores usam uma tipologia maior. Neste caso, a atitude predominante foi fazer uma leitura dinâmica do texto.6.
Os dados recolhidos no monitoramento ocular permitiram aos pesquisadores propor um mapa da possível atenção dos leitores online, conforme mostra o desenho a seguir, no qual a zona vermelha é a que atraiu mais a atenção enquanto a verde teve um baixo índice de leitura:7.
No quesito títulos (manchete) e chamada (abertura ou lead), os pesquisadores descobriram que os maiores índices de leitura ocorrem quando o titulo é grafado em negrito (bold) e é seguido, sem separações, pela chamada com o mesmo tipo de fonte. Títulos separados por linhas ou espaços, induziram os leitores a ignorar a chamada.8.
Nas chamadas ou leads, as pessoas tendem a ler apenas a primeira terça parte do texto. Isto mostra a importância das primeiras palavras do texto na atração do interesse do leitor – conforme indica a ilustração abaixo, produzido pelos pesquisadores e publicado no relatório Eyetrack III:9.
Ao contrário do que muitos pensam, os leitores rolam as páginas muito longas. O problema é que na parte baixa, ele prefere fazer leitura dinâmica (scanning) detendo-se apenas naquilo que lhe chamar a atenção ou se destacar do resto da página.10.
Nos testes do Eyetrack, as ferramentas de navegação funcionaram melhor quando colocadas na parte superior da página. Surpreendentemente, a segunda opção ficou para o lado direito da página, contrariando a tendência de um grande número de designers virtuais que colocam os botões utilitários na coluna da esquerda.11.
Os parágrafos curtos (menos de 50 palavras) e de no máximo duas frases atraíram o dobro da atenção dos mais longos.12.
A pesquisa também avaliou a atenção dos usuários em relação à publicidade online e descobriu que ela segue aproximadamente as mesmas regras dos textos noticiosos. Atraem mais olhares quando estão no alto e do lado esquerdo. Mas mesmo assim o leitor dá pouca atenção à publicidade, no máximo 1,5 segundos para anúncios com ilustrações, e 7 segundos para textos publicitários.13.
Finalmente, os pesquisadores descobriram que notícias produzidas no sistema multimídia (integrando texto, áudio, vídeo e interatividade) apresentaram um grau de retenção na memória do usuário três vezes maior do que quando apresentadas numa única mídia.******
Jornalista e pesquisador de mídia eletrônica; e-mail (cacastilho@brturbo.com)