Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

905 fotos e uma recusa no New York Times

Quando bateu nos mil o número de baixas americanas no Iraque, o New York Times mobilizou o seu 7º de Cavalaria, como diziam os militares, e encheu 2 páginas e 1/4 com os bonecos de 905 mortos (as fotos dos 95 restantes não estavam ‘available’).

A Folha comentou que ‘publicadas em ordem alfabética, sem identificação de patente [as fotos] dão ao leitor a dimensão do problema, no momento em que a campanha presidencial nos EUA entra na reta final’.

O jornal brasileiro lembrou que ‘há cerca de dois meses, a exibição das fotos dos soldados americanos mortos na guerra durante programa da rede de TV ABC causou comoção’.

Podia ter lembrado também que até o editor público do Times, Daniel Okrent, criticou as insuficiências do mea-culpa que o jornal publicou em 26 de maio, em um texto de 1.220 palavras, por sua cobertura ‘chapa-branca’ da principal alegação do governo Bush para invadir o Iraque – os fictícios arsenais de destruição em massa de Saddam Hussein.

Saudosa dignidade

Ao abrir manchetes para as imaginárias ‘provas’ dos arsenais e enterrar no fundo do noticiário – quando não derrubar de vez – as matérias divergentes da versão oficial, o melhor e mais influente jornal do mundo contribuiu para uma guerra sob falso pretexto.

Há quatro meses, praticamente se limitou a dizer que a sua cobertura ‘não foi tão rigorosa quanto deveria ter sido’. Agora se recusa a permitir que o cineasta Michael Moore inclua o artigo de retratação no seu livro, The official ‘Fahrenheit 9/11’ reader, a ser lançado em outubro. É uma coletânea de materiais que dariam respaldo ao controvertido filme.

Entre potências como o Wall Street Journal e o Washington Post e modestos diários como o Post-Gazette, de Pittsburgh, o Times foi a única publicação que se recusou a autorizar Moore a reproduzir artigos, fotos, cartuns e editoriais solicitados.

Disse uma porta-voz do jornal: ‘Valorizamos fortemente a neutralidade do Times na cobertura eleitoral e estamos determinados a não nos associar com qualquer trabalho filmado ou impresso que ataque um ou outro candidato. A nossa nota [o mea-culpa] não foi concebida para ser parte de uma batalha política’.

A velha dama cinzenta já foi mais digna.



Profissão: reportagem

Em nome da clareza e do bom português, já era tempo de parar de chamar o trabalhador da informação pelo nome do produto do seu trabalho.

Cobrindo a abertura do 50º Congresso Brasileiro de Genética, semana passada em Florianópolis, a enviada especial da Folha registrou que uma pessoa na platéia contestou em voz baixa algo dito no palco. Era, lê-se na edição de 9/9, ‘uma espectadora sentada ao lado da reportagem’.

Impossível resistir à imagem de uma cadeira ocupada por um recorte de um jornal que ainda nem saiu.

[Textos fechados às 16h39 de 13/9]