Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Verlaine

‘O comentário ‘Vereador cabotino’, sobre a proposta de mudança dos nomes das avenidas Beira Mar e da Universidade para Dom Lorscheider e Reitor Martins Filho, respectivamente, da coluna de domingo (24/2), mereceu reações diversas. Do apoio à rejeição. O vereador Paulo Mindêllo, criticado na coluna, diz num dos trechos da carta publicada no O Povo (Opinião, página 4, 26/2): ‘Na matéria, o jornalista criticou de forma áspera a minha idealização, me aviltando em decorrência dela, inclusive intitulando o texto com os termos ‘vereador cabotino’. Assim procedendo, ele desvirtuou a função de ombudsman que é a de, basicamente, criticar equívocos e imperfeições publicadas pelo seu próprio jornal’. Acrescenta o vereador: ‘Todavia, não cabe a este julgar os autores de artigos pelos pensamentos nele externados, sobretudo lhes menosprezando por manifestá-los, como ele o fez, no meu caso, se conduzindo de forma contrária à liberdade de expressão, infringindo, assim, preceitos legais pertinentes’.

Segundo o Novo Aurélio Século XXI, cabotino é um ‘indivíduo presumido, de maneiras afetadas, que procura chamar a atenção, ostentando qualidades reais ou fictícias’. Ao tentar mudar o nome Beira Mar, consagrado pela população de Fortaleza e conhecido por turistas de outros estados e do Exterior, para substituí-lo por Dom Lorscheider, Mindêllo quer fazer média com a estima e a veneração que o povo fortalezense devota ao falecido cardeal para obter votos e chamar a atenção para sua própria pessoa em um ano eleitoral. Isto não é cabotinismo, não? Em que eu aviltei o vereador?

Mindêllo ainda tenta restringir a função de ombudsman ao dizer que não me cabe ‘julgar os autores de artigos pelos pensamentos nele externados’. Mas o parágrafo 2º, alínea c, do Regimento do Ombudsman, diz que, entre as atividades do cargo, está a de ‘escrever semanalmente coluna pública para o jornal, analisando os fatos que considerar mais relevantes da semana, do O Povo ou de qualquer outro meio de comunicação, do Ceará ou não’. Portanto, não é o Sr. Paulo Mindêllo que me vai impedir de realizar o meu trabalho.

O vereador ainda acusa na sua carta de me ‘conduzir da forma contrária à liberdade de expressão’. Quem atenta contra a liberdade de expressão é o próprio vereador que anunciou, na quinta-feira última, a disposição de processar-me pelo conteúdo do comentário no qual eu critico a sua iniciativa descabida.

A proposta de mudança de nome das avenidas Beira Mar e da Universidade foi objeto de notícias, artigos da ombudsman emérita do O Povo, Adísia Sá (contra o projeto) e do próprio Paulo Mindêllo. Um leitor, o arquiteto Nelson Serra e Neves, manifestou sua discordância à propositura, considerando-a um ‘despropósito’. Por que eu não poderia criticá-la? Mesmo se O Povo não tivesse dado uma linha sobre o assunto, o ombudsman teria o dever de questionar o jornal e cobrar um posicionamento em torno da questão.

O Povo tem compromisso histórico com a cidade de Fortaleza e a preservação do patrimônio cultural e sentimental desta cidade, no qual estão incluídas as denominações de praças, avenidas e ruas da capital cearense.

O que diriam os cariocas se um vereador apresentasse uma proposta para mudar o nome do bairro Copacabana? Ou da avenida Atlântica? Ou da avenida Vieira Souto, em Ipanema? Que pensariam os paulistanos da troca do nome da avenida Paulista? Também não é uma denominação simples, condição tão estigmatizada pelo Sr. Mindêllo?

Que seja dado o nome de Dom Aloísio a uma nova grande obra a ser inaugurada em Fortaleza, sem que seja preciso sacrificar o nome Beira Mar, consagrado pelo fortalezense e imortalizado na canção de Ednardo. Ou pelo menos a uma avenida cuja nome não esteja não ligado ao imaginário do fortalezense. Foi esta a intenção do ombudsman ao escrever o comentário da semana passada.

Aos desinformados: o nome avenida Beira Mar é oficial. A denominação Presidente Kennedy (que o fortalezense nunca aceitou) foi substituída pela inicial (Beira Mar) há mais de 20 anos.

Manchete infeliz

A manchete ‘Lula faz defesa de Luizianne’ (de sexta-feira última, 29/2) e a foto em seis colunas do presidente com a prefeita deu margem a comentários sobre possível favorecimento do O Povo à candidatura da petista à reeleição. A visita do presidente foi fato político importante, sem sombra de dúvida. Mas O Povo teria agido melhor se não tivesse dado a declaração de Lula em favor da prefeita Luizianne Lins como manchete. A informação poderia ser dada como manchete de uma das páginas de Política, não na capa do jornal.

O jornal estabelece uma série de procedimentos para editores, repórteres e funcionários de uma maneira geral para evitar comprometimentos (ou possíveis interpretações de comprometimentos) públicos com esta ou aquela candidatura e, por isso mesmo, seria salutar que essa preocupação também estivesse refletida na vitrine do jornal: a primeira página.

Bodas de ouro?

Anúncio embaixo da página convidou, durante três dias, para as ‘bodas de ouro’ do padre Fred Solon. Ora, ‘bodas de ouro’ são o 50º aniversário de casamento, o que não é permitido pelo Vaticano a um sacerdote católico. No caso, o padre Fred Solon está a comemorar o jubileu de ouro, isto é, o qüinquagésimo aniversário do exercício de uma função, o sacerdócio.

‘Culpabilizar’

Da matéria ‘Caso Finatec vira disputa política’ (Política, página 17, 26/2): ‘Segundo ele (Carlos Matos, presidente estadual do PSDB), a prefeita quer ‘culpabilizar quem não tem nada a ver com o assunto para confundir a opinião pública´’. ‘Culpabilizar’? Será uma palavra do dialeto ‘tucanês’ para designar o verbo culpar, da língua portuguesa?’