Cresceu nos últimos meses o número de jovens cubanos que desafiam o governo ao divulgar informações que a mídia oficial não mostra, através de conexões clandestinas à internet, trocas de pen drives e uso de câmeras digitais, noticia James C. McKinley Jr. em artigo no New York Times [6/3/08].
Em fevereiro, estudantes da Universidade de Ciências da Informação filmaram uma briga que tiveram com Ricardo Alarcón, presidente da Assembléia Nacional. Alarcón parecia desnorteado quando os estudantes lhe perguntaram por que não podiam viajar ao exterior, ficar em hotéis, ganhar salários melhores ou usar ferramentas de busca como o Google. De pen drive em pen drive, o vídeo espalhou-se rapidamente em Havana e vazou para a BBC e a CNN, prejudicando seriamente a reputação de Alarcón. No começo de janeiro, algo parecido ocorreu: o governo tentou impor uma nova taxa para empregados de empresas estrangeiras no país. A reação destes funcionários ao tomar conhecimento da imposição foi registrada por uma câmera de celular e repassada por pen drives.
Em Cuba, o acesso público à internet é limitado; antenas de satélite não autorizadas costumam são apreendidas pela polícia e é pequeno o número de cibercafés abertos aos cidadãos cubanos. Em Havana Velha, há apenas um cibercafé disponível, que cobra 1/3 do salário médio mensal de um cubano (o equivalente a US$ 5) por uma hora. Os outros dois cibercafés que existiam no centro da capital transformaram-se em serviços de correio, que permitem que cubanos enviem e-mails através de uma rede restrita à ilha – sem ligação com a internet. ‘É como se fosse um serviço de telégrafo’, explica um jovem que costuma enviar mensagens pelo sistema.
Contra o regime
Ainda com todo o controle, as tentativas de censura são cada vez mais ineficientes. Jovens têm conseguido conectar-se à rede através de antenas de satélite vendidas no mercado negro ou através de ‘gatos’ em conexões de internet de empresas estrangeiras e de hotéis. Alguns funcionários vendem sua senha e login para que cubanos possam acessar a rede à noite ou de madrugada, quando não estão no trabalho.
Os cubanos também têm criado blogs que são hospedados em servidores no exterior para driblar o controle da ilha. É o caso de Yoani Sánchez e seu marido, Reinaldo Escobar, que mantêm o sítio Consenso desde Cuba com sede na Alemanha. Yoani também tem um outro blog, o Generación Y, em que descreve seu cotidiano e que virou grande sucesso de público. Ela conta que usa a rede para poder expressar opiniões e divulgar informações que nunca seriam publicadas na mídia local. Assim que determinou-se que Raúl Castro substituiria seu irmão Fidel na presidência, por exemplo, Yoani escreveu artigos que descreviam o perfil do presidente que os cubanos queriam e criticavam as promessas de Raúl – algo impensável no meio impresso. ‘A internet virou o único lugar não regulado no país’, resume.