O ataque de Israel à Faixa de Gaza, iniciado no dia 27 de dezembro, divide opiniões na blogosfera. Brasileiros, israelenses e palestinos utilizam a internet para dar opiniões sobre o confronto, que já matou pelo menos 600 pessoas.
O blog ‘Eletronic Intifada’ publica notícias e análises do conflito sob a perspectiva palestina. Em editorial, Saree Makdisi, professor de Literatura da Universidade da Califórnia, diz que o conflito já matou ou feriu quase 4 mil pessoas, e famílias inteiras foram arruinadas em suas casas. ‘Enquanto eu escrevo, a notícia é que 40 civis morreram em uma escola da ONU que eles pensavam erradamente ser mais segura que suas casas’, afirma. ‘Mesquitas, escolas, casas e edifícios têm sido trazidos para baixo sobre as cabeças das pessoas no interior’, relata.
Segundo ele, diversos médicos foram mortos e o número total de vítimas ainda é desconhecido. ‘Tudo isto supostamente em retaliação por ataques com foguetes que não infligiram em uma única morte em Israel em mais de um ano. O que aconteceu com `um olho por um olho?´’, questiona.
No blog ‘In Gaza’, há relatos de como é o dia-a-dia de palestinos vivendo sob a guerra. O blogueiro anônimo começa perguntando sobre o que fazer em uma situação como esta. ‘Se a sua casa não é segura, a mesquita não é segura, a escola não é segura, a rua não é segura, o acampamento de refugiados da ONU não é seguro, para onde você vai correr e se esconder?’.
De acordo com o palestino, mais de 15 mil pessoas estão refugiadas, sendo que algumas delas estão em escolas da ONU. ‘Hoje, Israel bombardeou uma dessas escolas. Eu irei ao hospital ver os sobreviventes mutilados, talvez ver os corpos que estão chegando. Depois, eu conto e mostro para vocês, se eu não for bombardeado’, afirma.
Mais violência
A jornalista Laila El-Haddad, autora do blog ‘Raising Yousuf and Noor: diary of a Palestinian mother‘, tenta resistir em meio à invasão. ‘A invasão em Gaza foi mentalmente desgastante. Tenho tentado o meu melhor para ultrapassar esse sentimento de impotência e canalizar a energia para a ação, mas nós podemos ser impotentes para alterar abomináveis ações do governo sobre as nossas próprias’, desabafa.
Laila conta também sobre uma suposta tentativa de Israel de recrutar palestinos para ajudá-los na guerra. ‘Além de bombas e mísseis que matam um número cada vez maior de civis palestinos, Israel distribuiu milhões de panfletos sobre a ocupação. Um desses flyers pretende recrutar colaboradores’, afirma. ‘Assinado pelo comando israelense e dirigido aos moradores da Faixa de Gaza, o volante diz: `você detém a responsabilidade por seu próprio destino´, e pede para que informemos sobre a localização de foguetes de terroristas’, inconforma-se.
O blogueiro de Ramallah afirma que todos os palestinos gostariam de ver o fim da violência e critica a estratégia israelense. ‘Israel alega que seus ataques são feitos para o Hamas parar de disparar foguetes contra Israel e para alcançar a paz. No entanto, o assassinato de mais de 400 palestinos em Gaza, em apenas uma semana, não vai auxiliá-los neste caminho. Violência só produz mais violência’, completa.
O outro lado da blogosfera
Por outro lado, israelenses também utilizam blogs para defender o seu país e tentar explicar os motivos dos ataques.
O brasileiro André Hamer, de 26 anos, que mora em Beer Sheva, comenta sobre os bombardeios de terça-feira (6/1) em uma escola da ONU, que deixaram pelo menos 40 mortos. Ele diz que o Hamas utiliza instalações civis para lançar foguetes contra Israel. ‘O ataque foi em uma pobre escola da ONU na Faixa de Gaza e matou dezenas de inocentes (se é que esta informação, dada por fontes palestinas, é verdade e os mortos não são terroristas do Hamas), mas aí eu pergunto: o que os inocentes estavam fazendo lá? Quem neste mundo não sabe que Israel está fazendo uma incursão na Faixa de Gaza procurando terroristas do Hamas?’, pergunta.
‘Aqui em Beer Sheva, no momento em que o primeiro foguete do Hamas caiu, todas as aulas foram canceladas. Caso isso não tivesse acontecido, dezenas de crianças teriam morrido com o foguete que atingiu uma escola no dia seguinte’, afirma.
Hamer ainda coloca um vídeo no blog que, segundo ele, mostra como é a verdadeira situação em Sderot, no sul de Israel, uma das mais cidades mais atingidas por ataques dos Hamas. ‘Lá, ao ouvir o alarme Tzeva Adom (Cor Vermelha), todos possuem apenas 15 segundos para procurar um abrigo para tentar salvar suas vidas antes de cair o foguete’, completa.
Mais mortes
Já Yair Mau, de 26 anos, outro brasileiro morador de Beer Sheva, diz que há uma semana começaram a lançar foguetes também contra a sua cidade e agora ele entende como os moradores de Sderot vivem há 8 anos. ‘A tensão constante de ouvir sirenes, se esconder e ouvir um bum, esperando que nunca seja com você, mas, certamente, sempre é com alguém’, diz.
Para ele, a ‘operação israelense em Gaza é necessária e justa’. ‘Estamos lutando contra terroristas, que não reconhecem o meu direito de viver neste país. Leio muito na mídia internacional sobre a desproporcionalidade da reação israelense. Desproporcional é a pressa que os países do mundo têm em condenar Israel por defender seus cidadãos e a resistência que têm em chamar o Hamas pelo seu verdadeiro nome: um grupo terrorista islâmico fundamentalista’, critica.
No blog Jewlicius, também israelense, há um texto em que diz que ‘o Hamas consolidou seu controle dos corações e mentes de seu povo. Tudo isso à custa de algumas centenas de civis e militares mortos’. ‘Tenho certeza que o Hamas está esperando por mais mortes tanto de civis como de palestinos. Infelizmente, não há muito espaço para a esperança de qualquer tipo aqui’, diz o blog.