Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fotos de abusos de britânicos são questionadas

Na edição passada, o Observatório da Imprensa deu ampla cobertura [veja remissões abaixo] ao caso das imagens de tortura de iraquianos por soldados americanos, exibidas na CBS. A história ainda não se esgotou. O escândalo chegou à Grã-Bretanha, cujos soldados, segundo polêmica e questionada reportagem do Daily Mirror, também torturaram um prisioneiro de guerra.

No dia 3/5/04, a AFP noticiou que o jornal britânico, que publicou fotos mostrando tropas britânicas abusando de um iraquiano detido, negou alegações de que sejam falsas. As dúvidas sobre a autenticidade surgiram após fontes militares citadas pela BBC suspeitarem de detalhes das imagens. Em 5/5, a pressão de concorrentes e parlamentares sobre o editor Piers Morgan se acirrou. Se as imagens forem falsas, ele admite que deixará o cargo. Morgan deverá se apresentar perante um comitê parlamentar para responder a perguntas sobre a procedência das fotografias.

No dia seguinte, 6/5, representantes da empresa dona do Mirror tentaram desviar a atenção da polêmica das imagens e convencer os críticos de que as alegações de tortura das tropas britânicos no Iraque são mais importantes que a autenticidade das fotos publicadas. De acordo com Chris Tryhorn [The Guardian, 6/5], Victor Blank, presidente da Trinity Mirror, recusou-se a responder perguntas diretas sobre a autenticidade das fotos.

Os concorrentes do Mirror apostam que sejam falsas. O Express afirmou que os soldados contaram a história ao Mirror, mas foram informados de que precisariam de mais evidências para corroborar o caso. Assim, os soldados retornaram com as fotos chocantes.

Contrapartida do Exército

O Exército britânico lançou uma investigação das fotografias que saíram no Daily Mirror, jornal de maior circulação do país, no dia 3/5. As imagens estarrecedoras mostram soldados espancando e urinando sobre um prisioneiro iraquiano em um campo próximo a Basra, numa região controlada pelos britânicos. O Mirror, declaradamente antiguerra, disse que o iraquiano tem entre 18 e 20 anos e apanhou muito antes de ser atirado de um caminhão em movimento.

O Exército aponta evidências de sua suspeita quanto à integridade da foto. O rifle mostrado parece ser um SA80 mk 1, que não é usado por soldados no Iraque. As vestimentas dos soldados nas fotos também destoam das que de fato usam na guerra. O caminhão na imagem também parece ser de um tipo nunca usado lá.

Morgan defendeu a reportagem e deu sinais de que publicará mais revelações, após ‘sensacionais entrevistas’ com os soldados. Apesar disso, jornalistas seniores do próprio Mirror têm questionado a veracidade das fotos. Parlamentares trabalhistas e conservadores, segundo reportagem de Owen Gibson [The Guardian, 5/5/04], têm criticado o jornal e também Morgan, por pagar estimadas 20 mil libras (cerca de R$ 100 mil) aos soldados pela história.

Adam Ingram, ministro da Defesa, estimulou o jornal a dar os nomes dos dois soldados que contaram a história, de forma que as afirmações possam ser investigadas. O Mirror deu permissão para que alguns de seus jornalistas sejam entrevistados, mas se recusa a revelar a identidade dos soldados. ‘A proteção das fontes é um princípio fundamental do jornalismo, garantido por lei’, disse o jornal. ‘O Mirror ajudará o inquérito o quanto puder, mas esta é uma linha que não podemos e nem iremos passar’.

No Chipre, onde fica o regimento britânico que está sendo investigado, membros acreditam que as fotos podem não ter sido tiradas no Iraque e estão furiosos com o possível abalo de suas reputações. Um soldado que aparece com o rosto borrado nas fotos do Mirror e identificado como um dos informantes, negou ter falado com o jornal.

No total, estão sendo examinadas 18 fotos por um setor de investigação em Londres. No Iraque, oficiais estão atrás de depoimentos registrados de prisioneiros para verificar se as reclamações são compatíveis com as alegações feitas pelo Mirror. O coronel David Black, ex-comandante do regimento, disse que as fotos podem nem ter sido tiradas no Iraque. Com informações de Sandra Laville, Sarah Hall e Richard Norton Taylor [The Guardian, 4/5].