Friday, 20 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Venda de jornal de SC para a RBS é alvo de ação

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 13 de janeiro de 2009


 


COMUNICAÇÃO
Marcos Nobre


Novas formalidades


‘É COMUM ouvir que celulares são instrumentos da nova barbárie. Que expõem a vida privada das pessoas em público, que incomodam quem está em volta, que ninguém mais respeita ninguém e por aí vai.


Com internet e e-mail, a mesma coisa. Pessoas escrevem o que lhes passa pela cabeça, querem resposta para ontem, ou, ao contrário, demoram demais para responder.


No fundo, o que está em causa são as novas regras do contato social. A impressão que dá é que muita gente gostaria de voltar a velhas formas de sociabilidade. Como a da falecida formalidade da carta postal, que permitia um distanciamento, uma proteção tanto para remetente como para destinatário.


Esse saudosismo supõe que o contato humano padrão ainda seja o do encontro face a face, quando ele se tornou apenas um entre vários tipos de contato possíveis. Já não tem primazia. E, sobretudo, deixou de ter a importância substancial que já teve, como o lugar em que duas almas e dois corpos verdadeiramente se mostram e se encontram. Interromper uma conversa para atender ao celular mostra isso muito claramente.


Isso é rude e sem educação? Do ponto de vista das velhas formalidades, sim. Mas há também muitas novas formalidades sendo pouco a pouco estabelecidas. E que também servem de proteção e refúgio para o indivíduo, que passa a ter muito mais liberdade para escolher que tipo de contato quer estabelecer e em que momento.


Claro que há problemas graves por resolver. Colocar no YouTube montagens de vídeos enganosas e difamatórias, fazer perfis falsos no Facebook ou criar comunidades caluniosas no Orkut não são certamente problemas menores. Mas há outros que são mesmo estruturais.


A cultura virtual acirrou um elemento que já vem de longe, pelo menos desde a década de 1960: o da necessidade de expressar um ‘eu’ verdadeiro e autêntico. Ainda bem que muitas pessoas no fundo não se convencem de que suas expressões individuais sejam assim tão sensacionais como nos filmes e na propaganda. Só que é difícil lidar com a frustração que isso traz. Porque o padrão de sucesso colocado é inatingível para a maioria. E também porque essas novas formalidades exigem uma reciprocidade militante.


Basta ver a solidão que esses contatos imediatos de segundo grau prometem espantar. Dão a ilusão de uma conexão permanente a uma imensa rede de pessoas e de possibilidades de contato. E essa ilusão muitas vezes vicia. Exige uma dedicação constante, quase profissional. Algo como trabalhar o tempo todo. E aí a nova formalidade já não protege mais ninguém.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Capítulo novo


‘Na manchete on-line do espanhol ‘El País’, ‘Obama promete um novo capítulo com a América Latina’. Foi em encontro ontem com o mexicano Felipe Calderón e, pelo relato, o presidente eleito nada especificou, não passando de ‘uma nova página nas relações’, sem as ‘tensões dos últimos anos’ etc. De saída do cargo, o atual secretário-adjunto de Estado para a América Latina, Thomas Shannon, deu entrevista ao mesmo ‘El País’ e defendeu cooperação com Cuba, por exemplo, no combate ao tráfico.


Pelo que relatou o ministro Roberto Mangabeira Unger ao ‘Estado’, foi também o que assessores de Obama pediram do Brasil, apoio militar contra o narcotráfico, e ele rejeitou. Por sites sul-americanos e agências, chegando ao site americano de ‘estratégia’ Stratfor, o que importou da conversa de Mangabeira com a equipe de transição de Obama foi a sugestão do ministro para recorrer ao Brasil como ‘mediador’ nas conversas com Cuba, Venezuela, Bolívia.


SUL EMERGENTE


O site americano World Politics Review preparou, para as vésperas da posse de Obama, um especial sobre a América do Sul, apresentada como ‘O Continente Emergente’, com artigos, por exemplo, sobre ‘as origens e o potencial da esquerda populista’. A avaliação é que ‘muito mudou na região, nesta década em que a atenção da América estava em outras partes’.


A INTEGRAÇÃO


O ensaio central do WPR é de Shannon O’Neill, da instituição Council on Foreign Relations, sobre ‘a promessa e os perigos da integração sul-americana’. Avalia que a integração é um dos fatos ‘mais notáveis’ da região no século 21 e resulta em parte da atenção americana voltada a ‘outras áreas do mundo’.


Mas ‘ainda assim, apesar de sua exclusão do processo, os Estados Unidos se beneficiariam da integração’, que traria ‘segurança e estabilidade’ à América do Sul.


O INTERLOCUTOR


No texto sobre o Brasil do especial, Peter Kingstone discute se ‘o gigante adormecido está acordando’, afinal. Observa que ‘o país tem gerado um grau de interesse e excitação internacional que era inteiramente inesperado até dez anos atrás’.


Diz que ‘o Brasil se tornou o interlocutor mais importante dos EUA’ na região, em parte ‘por se contrapor a Hugo Chávez’, e que a política externa ‘ambiciosa’ de Lula não deve ser afetada quando ele deixar o poder.


BRICS, DE NOVO


Como a ‘Economist’ da semana, também o ‘New York Times’ voltou seus olhos para os mercados emergentes, que estão ‘em baixa agora’, mas ofereceriam boas oportunidades de investimento e retorno. E tratou de diferenciar os Brics, com China e Brasil em melhor situação econômica, a Índia logo atrás e a Rússia em apuros. O jornal relacionou analistas diversos, propondo investir no país e, em especial, na Petrobras do pré-sal.


Em reportagem sobre os investimentos da gigante do petróleo Exxon Mobil, o ‘Wall Street Journal’ foi além e relatou que, ‘em especial, analistas veem uma parceria com o Brasil’ no horizonte da companhia para este ano, ela que estaria hoje com recursos de sobra.


INVESTIR, INVESTIR


Do ‘Jornal Nacional’ à manchete do UOL, Lula voltou das férias ao lado de José Serra e Dilma Rousseff e prometendo ‘intensificar as ações anticrise’. Mais precisamente no dia 22, aniversário do PAC e dois dias depois da posse de Obama.


AJUDA ESTATAL


A promessa de Lula de ampliar a ‘ajuda estatal’, feita no ‘Café com o Presidente’, foi também o que mais ecoou do Brasil no exterior, em despacho da Associated Press no site do ‘NYT’ e de outros e no topo das buscas por Google News e Yahoo News.


BOOM LATINO


O Google encomendou uma pesquisa sobre a internet na América Latina e o ‘Miami Herald’ informou ontem que ela vive ‘boom’ por aqui, em ‘expansão dramática’ pelos computadores mais baratos e o crescimento da banda larga. Chega hoje a 100 milhões, nos dez países levantados, e bateria nos 160 milhões em cinco anos.


AMORIM LÁ


O chanceler Celso Amorim se encontrou com a colega israelense no ‘JN’ e, no relato da BBC Brasil, avaliou que os EUA ‘já estão sentindo a pressão’ da comunidade internacional no conflito em Gaza. A viagem ecoa por agências como a France Presse e a ação brasileira na ONU estava na manchete do site da Al Jazeera, ontem.


Já por aqui o site da ‘Veja’ destacou que o ex-chanceler de FHC, Luiz Felipe Lampreia, diz que o ‘afã de protagonismo’ do sucessor Amorim ‘beira o ridículo’.’


 


 


MÍDIA
Pablo Solano


Venda de jornal de SC para a RBS é alvo de ação


‘O Ministério Público Federal em Santa Catarina ingressou com ação civil pública para anular a venda do jornal ‘A Notícia’, de Joinville, para o grupo RBS. Segundo a Procuradoria, a RBS se tornou dona de quatro diários catarinenses. A ação quer ainda obrigar a RBS a vender 4 de suas 6 emissoras de TV em SC.


O Cade (Conselho de Defesa Econômica), que autorizou a venda, também vai responder ao processo, assim como o ex-controlador do jornal, Moacir Thomazi.


A RBS é acusada de obrigar distribuidores e vendedores de jornais a não comercializarem publicações de outras empresas.


A RBS diz que ‘todas as operações e veículos do grupo em Santa Catarina atendem minuciosamente às especificações legais’. Thomazi afirma que todas as questões jurídicas do negócio são de responsabilidade do comprador.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


‘Big Brother Brasil’ terá ‘quarto da suruba’


‘A nona edição de ‘Big Brother Brasil’, que estreia hoje na Globo, terá um quarto com uma cama para quatro pessoas. O móvel mede cinco metros por cinco metros e é a principal atração do quarto surpresa.


Os participantes só conhecerão o quarto surpresa na semana que vem. Quatro deles, independentemente de sexo e de formarem casais, serão obrigados a compartilhar a cama gigante. O ambiente foi apelidado pela produção de ‘quarto dos sonhos’ e de ‘surubão’.


O ‘BBB 9’ terá um segundo quarto surpresa. O dormitório ficará fora da casa e será usado para ‘uma coisa especial na terceira semana’, segundo J.B. de Oliveira, o Boninho, diretor de núcleo do programa.


Além dos dois quartos surpresa, o reality show terá os já tradicionais quarto do líder e dois dormitórios coletivos (um deles decorado com espelhos).


Apesar de o quarto ‘surubão’ sugerir sexo entre os participantes, a orientação da direção-geral da Globo é para que ‘BBB 9’ tenha uma edição mais ‘careta’ do que as anteriores.


A emissora quer evitar problemas com o Ministério Público Federal. Tanto que autoclassificou o programa como impróprio para menores de 14 anos, inadequado para veiculação antes das 21h. As edições anteriores eram impróprias para menores de 16 anos (22h). Nos Estados em que não há horário de verão, ‘BBB’ irá ao ar pouco depois das 21h.


IMUNIDADE


Diretor de ‘Big Brother Brasil’, Boninho diz que só definirá hoje os quatro dos 18 selecionados que serão barrados na porta da confinamento do reality show. Mas adianta que os sexagenários Naiá da Graça Barros Giannocaro e Norberto Carias dos Santos estão garantidos no programa. Os quatro barrados ficarão uma semana em uma casa de vidro, em um shopping. O público escolherá um para entrar no programa.


PILHA


Segundo Boninho, a informação de que quatro participantes serão barrados deixou os 18 selecionados tensos na semana em que ficaram confinados em um hotel, no Rio. Isso, acredita o diretor, deverá refletir nos primeiros dias do reality show. O ‘clima’ na casa será diferente dos anos anteriores.


NAMORO


A Record sondou Ana Paula Padrão. Quer a jornalista, cujo contrato com o SBT vence em março, dividindo o ‘Jornal da Record’ com Celso Freitas.


TROVÃO 1


Vera Fischer teve uma participação-relâmpago na festa de ‘Caminho das Índias’, próxima novela das oito, sábado, no Rio. Foi embora antes da apresentação de cenas da trama.


TROVÃO 2


‘A festa está chata’, disse Vera a amigos. ‘Já fiz o que tinha de fazer. Posei para fotos, dei entrevistas. Não vou ficar posando para celulares [de fãs]’, completou, antes de partir. Profissionais ligados à organização da festa não lamentaram. Pelo contrário. Temiam que a atriz bebesse ou dançasse escandalosamente.’


 


 


Marco Aurélio Canônico


TV pirata


‘O Curioso Caso de Benjamin Button’-estrelando Brad Pitt- estreia na próxima sexta nos cinemas brasileiros, mas, curiosamente, estava passando na TV na semana passada, assim como ‘Foi Apenas um Sonho’ (este, com legendas em português), com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, igualmente inédito no país.


Você talvez não conheça os canais que os exibiam -o Drew Movies e o Brasil Filmes, respectivamente-, mas isso é porque eles não fazem parte da grade de TV normal: são transmitidos apenas pela internet, e de modo ilegal, já que desrespeitam os direitos autorais.


Ambos fazem parte do crescente fenômeno das TVs on-line, uma evolução natural da ideia de sites como o YouTube: agora, em vez de simplesmente postar clipes e trechos editados de vídeos, os internautas criam seus próprios canais de TV, com programação integral ao vivo transmitida 24 horas por dia pela web.


Estes canais pessoais criados pelos internautas ficam agregados em sites como o popular Justin.tv e também são acessíveis por meio de softwares que podem ser baixados gratuitamente, como o Megacubo.


A programação é variada (só o Justin.tv tem mais de 100 mil canais), mas a maior parte dos ‘broadcasters’ se divide em dois tipos: canais que retransmitem (ilegalmente) o sinal de redes de TVs comuns, incluindo os canais por assinatura e pay-per-view, e canais que exibem filmes e seriados.


Todas as maiores redes da TV brasileira, por exemplo, estão disponíveis on-line com transmissão simultânea: os piratas só precisam de um computador razoavelmente equipado para pegar o sinal dos aparelhos de televisão e colocá-lo na rede, tornando-o acessível a qualquer um com conexão.


No Brasil, são particularmente populares os canais on-line que retransmitem ao vivo jogos de futebol só acessíveis pelo sistema pay-per-view. As empresas de radiodifusão, donas dos sinais, já reconhecem o fenômemo e começam a se preparar para combatê-lo.


‘A Globosat vem acompanhando com preocupação esta prática. A atividade constitui crime de violação de direitos autorais ou, em outras palavras, pirataria’, disse a empresa de TV por assinatura, por meio de sua assessoria de imprensa.


Apesar de frisar que a disseminação de seu sinal on-line pelos canais piratas não causou ‘abalo nas nossas vendas’, a Globosat diz estar ‘discutindo com as autoridades competentes as medidas cabíveis’.


Dupla violação


Segundo Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV-RJ, as ‘medidas cabíveis’ são pesadas. ‘Do ponto de vista da lei, a questão é claríssima: quem reproduz sinal de empresa de TV está cometendo infração de direitos autorais. Quem fizer isso com intuito de lucro direto ou indireto pode ser penalizado pelo artigo 184 do Código Penal, que prevê de dois a quatro anos de reclusão.’


Lemos afirma que, na maioria dos casos, ocorre uma dupla violação de direitos. ‘Além de violar o direito da empresa de radiodifusão, são violados também os direitos do titular dos conteúdos transmitidos.’


O advogado pondera, no entanto, que a questão ainda está em uma ‘zona cinzenta’.


‘É preciso considerar se essas TVs on-line não estão aumentando a audiência das redes, já que, no modelo de negócio da TV, quanto mais gente assistindo, melhor para quem está transmitindo. Isso pode ser um indício de uma mídia nova que pode ser ocupada pelo sinal de TV.’’


 


 


Fernanda Ezabella


Cultura aborda mudanças ortográficas


‘Que regras da língua portuguesa você gostaria de abolir? No embalo da nova reforma ortográfica, o ‘Almanaque Educação’, da TV Cultura, faz um programa especial sobre o assunto e lança a pergunta a pessoas comuns.


As mudanças que a língua portuguesa passou este mês e também em anos anteriores são tema para alguns quadros do programa. Num deles, o bibliófilo José Mindlin, 94, mostra a evolução do português por meio de livros.


Em outra passagem, o programa traz informações curiosas sobre as novas regras, que fizeram desaparecer o trema, mudar o hífen e os acentos de algumas palavras.


Já a linguagem rápida usada por jovens na internet é abordada por uma professora de português. Ela visita uma LAN house e comenta como esse tipo de escrita afeta, ou não, o rendimento dos alunos na sala de aula.


Um feira livre também serve de cenário para um dos blocos.


Uma professora exemplifica o falar certo e o falar errado, usando até mesmo um poema de Oswald de Andrade, ‘Vício na Fala’, como referência. Além de Mindlin, outro convidado é o poeta Glauco Mattoso, 57, no quadro ‘Pequena História Particular’, sobre as influências que marcaram sua carreira profissional.


ALMANAQUE EDUCAÇÃO


Quando: hoje, às 19h30


Onde: na Cultura


Classificação: livre’


 


 


CINEMA
Folha de S. Paulo


Globo de Ouro consagra ‘Slumdog’ e Kate Winslet


‘A 66ª edição do Globo de Ouro, evento organizado pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, consagrou o filme ‘Slumdog Millionaire’ e a atriz Kate Winslet, além de dar um prêmio póstumo a Heath Ledger por sua atuação em ‘Batman -O Cavaleiro das Trevas’ (veja destaques nesta página).


A cerimônia de premiação aconteceu anteontem no hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, e recuperou um pouco da badalação ausente da edição passada, quando a greve dos roteiristas nos EUA fez com que o anúncio dos premiados acontecesse sem festa. Já neste ano, estrelas como o casal Brad Pitt e Angelina Jolie e o ator Tom Cruise, além de diretores de peso como Steven Spielberg e Martin Scorsese, entre outros, prestigiaram o Globo.


‘Slumdog Millionaire’ (milionário vira-lata), dirigido pelo britânico Danny Boyle (‘Trainspotting’), foi o filme que mais estatuetas arrebatou: quatro, por filme, direção, roteiro e trilha sonora. ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, de David Fincher, e ‘Frost/Nixon’, de Ron Howard, prováveis nomes do Oscar -cujas indicações serão divulgadas no próximo dia 22-, saíram sem ganhar nenhuma estatueta.


O público aplaudiu de pé quando Demi Moore anunciou o prêmio de melhor ator coadjuvante para Heath Ledger, que morreu em janeiro do ano passado, por sua atuação em ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas’. O diretor do longa, Christopher Nolan, foi quem recebeu a estatueta no palco.


A britânica Kate Winslet foi outro dos destaques do Globo, ganhando dois prêmios -o de atriz principal por ‘Foi Apenas um Sonho’ e o de atriz coadjuvante por ‘The Reader’. ‘Sinto muito Meryl [Streep], Anne [Hathaway], Kristin [Scott Thomas], a outra… Angelina [Jolie]. Muito, muito obrigada’, disse a atriz, emocionada, quando subiu ao palco para ganhar o prêmio de melhor atriz.


O prêmio de melhor ator para Mickey Rourke, por ‘O Lutador’, foi outro dos momentos em que o público mais ficou agitado no auditório. Saudado com gritos de Evan Rachel Wood e Marisa Tomei, suas parceiras de elenco, Rourke disse que o diretor do filme, Darren Aronofsky, foi ‘durão’ com ele. De sua mesa, Aronofsky respondeu com um gesto mal-educado.


O prêmio Cecil B. DeMille, dado ao cineasta Steven Spielberg (‘Munique’), também foi bastante saudado pelo público.


Televisão


A minissérie ‘John Adams’, da HBO, foi a maior vencedora nos prêmios de TV, conquistando quatro troféus, incluindo o de minissérie ou filme. Tina Fey foi outro destaque, por seu prêmio como melhor atriz por ‘30 Rock’. A série também foi ganhadora em sua categoria (musical ou comédia).’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 13 de janeiro de 2009


 


CENSURA
Cláudia Trevisan


China proíbe website de discussão política


‘O governo chinês fechou no fim de semana um dos mais populares sites de discussão que reunia intelectuais do país – o bullog.cn. A decisão foi tomada em reação ao documento ‘Carta 08’, que pede reformas democráticas na China, além de respeito aos direitos humanos e o fim do regime de partido único, em um frontal ataque ao Partido Comunista.


Divulgada em 10 de dezembro, a ‘Carta’ havia recebido até ontem 7.200 adesões, de acordo com um de seus 300 signatários originais, o advogado Teng Biao. Vários dos intelectuais que apoiaram o documento tinham blogs no site que foi banido.


Segundo seu criador, Luo Yonghao, o portal alcançou 1 milhão de acessos diários em abril de 2008. O governo chinês retirou o bullog.cn do ar juntamente com 91 sites pornográficos, alvos de uma campanha moralizadora amplamente divulgada pela imprensa oficial, que não fez menção específica ao site político.


A ‘Carta 08’ causou reações das autoridades em toda a China, que ordenaram o interrogatório de signatários em diferentes províncias. Na véspera de sua divulgação, muitos foram pressionados a retirar seu apoio ao documento.


OFENSIVA ESTATAL


Em 8 de dezembro, a polícia de Pequim prendeu Liu Xiaobo, um dos mais célebres dissidentes chineses.


De acordo com o advogado Teng Biao, Liu continuava detido ontem, provavelmente em um hotel na periferia de Pequim, a capital chinesa. ‘O governo está furioso e preocupado com o fato de tantos intelectuais terem assinado o documento’, disse Teng ao Estado.


O momento é especialmente sensível por causa da proximidade do 20º aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial. No dia 4 de junho de 1989, tanques do Exército de Libertação Popular colocaram fim a dois meses de protestos de estudantes que pediam reformas democráticas, iniciados após a morte de Hu Yaobang, um dos reformistas do Partido Comunista na época.


As manifestações consistiam em marchas pacíficas nas ruas de Pequim. No entanto, segundo estimativa da Anistia Internacional, a ofensiva militar na praça ordenada pelo governo deixou um saldo de mil mortos.


INSPIRAÇÃO


A ‘Carta 08’ é inspirada na ‘Carta 77’, divulgada em 1977 na antiga Checoslováquia, onde o comunismo acabou apenas no fim dos anos 80.


O texto propõe 19 mudanças fundamentais na política chinesa que, se adotadas, poderiam representar o fim do regime comunista no país.


Entre as reformas propostas, estão eleições diretas, pluripartidarismo, divisão de poderes e liberdade religiosa, de manifestação, de associação e de expressão.’


 


 


PREMIAÇÃO
Ubiratan Brasil


Surpresas no Globo de Ouro


‘A dupla vitória de uma ofegante Kate Winslet, o tropeção de um esquisito Mickey Rourke, a premiação póstuma de Heath Ledger e a consagração do encontro entre Hollywood e Bollywood foram alguns momentos marcantes da cerimônia de entrega do 66º Globo de Ouro, ocorrida na noite de domingo, em Los Angeles. Organizado pela Associação de Imprensa Estrangeira sediada nos Estados Unidos, o prêmio aos melhores do cinema e da televisão necessitava de uma noite retumbante, depois da gélida premiação do ano passado – por conta da greve dos roteiristas, não houve o tradicional jantar, substituído pelo encontro de alguns dos membros da associação que, sem nenhum charme, leram o nome dos vencedores.


A cerimônia começou com Kate Winslet anunciada como melhor atriz coadjuvante, por The Reader. Normalmente, seria um recado de que sua chance na disputa pelo prêmio de melhor atriz estava reduzida a quase zero, mas minutos depois, ela foi novamente convocada ao palco, para receber a estatueta por sua performance em Apenas Um Sonho. Sem conter as lágrimas e com dificuldade para encontrar as palavras, Kate, que já vinha se habituando a ser preterida na maioria das premiações (foram cinco indicações para o Globo de Ouro e outras cinco para o Oscar), ironizou com a própria situação: ‘Não estou acostumada a ganhar algo’, disse.


Também verdadeiramente surpreso estava Mickey Rourke, que derrubou um exército de primeira linha (Leonardo DiCaprio, Frank Langella, Brad Pitt e Sean Penn) para faturar o prêmio de melhor ator de drama, por O Lutador. Vestido de forma incomum para a cerimônia e com o cabelo cuidadosamente desalinhado, ele sofreu um leve tropeção ao subir as escadas para o palco – curiosamente, a bebida, este ano, estava liberada em comemoração contra a secura do ano passado.


‘Foi um longo caminho de volta’, disse ele, que interpreta um ex-campeão de luta livre disposto a tentar um combate derradeiro – qualquer semelhança com sua própria trajetória não é coincidência. ‘Eu já estava habituado a ficar fora do cinema quando o diretor Darren Aronofsky me telefonou e me trouxe de volta.’ Rourke agradeceu ainda ao músico Axl Rose, do Guns?N Rose, por ter investido dinheiro na produção.


Sem surpresa, porém, foi a escolha de Heath Ledger como melhor ator coadjuvante de filmes dramáticos, por sua hipnotizante atuação como Curinga em Batman – O Cavaleiro das Trevas. Anunciado por Demi Moore, o troféu foi recebido pelo diretor Christopher Nolan. Encontrado morto aos 28 anos em seu apartamento em Nova York no dia 22 de janeiro do ano passado, vítima de uma overdose acidental de remédios, Ledger foi o único homenageado da noite com um clipe, além de ser lembrado com um emocionado discurso de Nolan: ‘Com sua ausência, ficou um vazio no futuro do cinema. Sobrou o espaço construído por ele em sua curta carreira.’


A emoção dos aplausos só foi maior quando Martin Scorsese convocou Steven Spielberg para receber o prêmio especial Cecil B. de Mille. ‘Trata-se de uma honra, pois foi De Mille quem me inspirou a ser cineasta’, disse Spielberg, lembrando que o primeiro filme que assistiu na vida foi O Maior Espetáculo da Terra. ‘Nesta noite, eu me sinto como parte da história do cinema.’


Concorrente a quatro estatuetas, Slumdog Millionaire foi o grande vencedor do Globo de Ouro, vitorioso em todas as categorias: filme dramático, diretor (Danny Boyle), roteiro (Simon Beaufoy) e música original (A.R. Rahman). O filme marca uma forte aproximação entre a produção de Hollywood com sua colega indiana, Bollywood. ‘Estas quatro estatuetas comprovam a aceitação dessa parceria’, comemorou Boyle.


COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Reality dá emprego


‘O festival de reprises do Programa da Tarde, da Record, está perto do fim. Alvo de reclamações frequentes de artistas da casa, os repetecos da atrações darão lugar a pequenos reality shows, que preencherão boa parte da atração.


O formato que inaugura a mudança no programa de Maria Cândida é O Contratado. Nele, cinco pessoas – pré-selecionadas por empresas de RH – disputam por semana uma vaga de trabalho em uma empresa. Comprado da Sony, o reality começa a ser adaptado esta semana e deve estrear em fevereiro.


A ideia da emissora é emendar uma sequência de novos formatos no recheio do Programa da Tarde. Entre eles está o game show Compra ou Não Compra.


O quiz é uma adaptação de Tentation, da Fremantle. Nele, donas de casa participam dizendo se topam ou não comprar por determinado preço o produto oferecido.


Além das reclamações do casting da casa – que não gostava de ver seus programas e quadros reprisados no Programa da Tarde – a reformulação na atração vem na tentativa de recuperar a audiência do horário, estagnada na média de 4 pontos de ibope.’


 


 


CINEMA
Flávia Guerra


As idades de Cate


‘Na antessala do Covent Garden Hotel, entre canapés, conversas sobre o tempo e a política internacional, o assunto que realmente importava aos jornalistas que esperavam para falar com uma das maiores estrelas de Hollywood era mesmo ‘Como é que ela faz para ter aquela pele incrível?’ Ela era Cate Blanchett, 39 anos, três filhos, várias indicações (e premiações) para o Oscar, Globo de Ouro, Bafta. Duplamente indicada para o Oscar no ano passado, por Elizabeth – The Golden Age e Eu Não Estou lá, e vencedora do Oscar de coadjuvante em 2005 por O Aviador.


O que ainda falta na carreira dessa australiana que, após viver em Londres por anos, onde conheceu o marido, o dramaturgo Andrew Upton, decidiu voltar à sua terra natal? ‘Tanta coisa. Dirigir um filme, fazer um bom trabalho na Sydney Theatre Company (da qual ela e Upton são diretores artísticos), criar meus filhos’, cita a atriz quando, após horas de entrevistas, jantava uma salada (para manter a forma depois do nascimento do terceiro filho, Ignatius Martin, em abril de 2008) enquanto conversava com o Estado sobre seu mais novo filme, O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher (Clube da Luta e Seven – Os Sete Pecados Capitais), que estreia nesta sexta-feira.


Dia exaustivo, mas não o suficiente para tirar a polidez da atriz. No filme, adaptação de um conto de F. Scott Fitzgerald, ela é uma bailarina que se apaixona pelo curioso Benjamin. O longa, que tinha cinco indicações para o Globo de Ouro (filme/drama, direção, ator dramático, roteiro, música original), mas não levou nenhum, já é apontado como um dos figurões do Oscar deste ano. A trama conta a história de Benjamim (Pitt), um bebê que nasce velho e rejuvenesce com o passar do tempo. Em determinado momento, a trajetória e as idades, de Daisy (Cate Blanchett) e Benjamim se encaixam e eles parecem ser o casal perfeito.


O problema é que ele vai se tornando cada vez mais o filho. E Cate cada vez mais a mãe do homem que ama. ‘Muitas vezes acontece na própria vida. Perdi meu pai muito jovem e, de certa forma, meu marido é também uma figura paterna para mim.’ Ela conta que perdeu o pai aos 10 anos e até entrega a marca do creme que usa contra rugas. A tal da pele de pêssego parece ser mesmo imune às horas de perguntas repetida.


Você deve estar cansada de ouvir pela enésima vez no mesmo dia que sua forma está incrível no filme, que forma um belo casal com Pitt, pergunta o Estado. ‘Estou. Mas faz parte do meu trabalho. E estou bem crescidinha para entender que não só a pele, mas a mente também tem de se manter fresca para enfrentar essas maratonas’, responde ela, enquanto monitora o jantar dos três filhos (além de Ignatius, Dashiell, de 6 anos, e Roman, de 4) que estão no andar de cima do hotel.


Você não acha que a frase (atribuída a Chaplin) de que deveríamos nascer velhos e rejuvenescer até morrermos bebês se aplica bem a Benjamin Button?


Acho essa frase linda, mas tão triste de se dizer. Porque é tão carregada de arrependimento e este é um filme sobre a alegria e a tristeza de se nascer não com a sabedoria, mas com o corpo de um velho homem e a mentalidade de um jovem.


Vocês não brincam com a ironia de que muitas vezes se tem juventude, mas não sabedoria. No caso de Benjamin, ele tem os dois. Você envelhece. Ele não. Foi essa dualidade que mais a seduziu nesse papel?


Na verdade, ele também envelhece. Meu primeiro impulso ao aceitar o papel foi bem mais prosaico: queria voltar a trabalhar com David (Fincher) e com Brad (com quem dividiu a cena em ?Babel?). E aí essa história apareceu e parecia tão dolorosa e, ao mesmo tempo, romântica e fantástica. E pensei o quão desafiador seria interpretar um personagem que vai dos 6 aos 86 anos.


Como é trabalhar com Fincher?


Uma doce agonia. Ele é extremamente meticuloso, nos adora e odeia ao mesmo tempo e é incrivelmente engraçado.


Vocês continuam brincando com a ideia de não só envelhecer, mas com a diferença de idade (e tempo) entre vocês?


E brincamos também com o fato de como o amor se trata também de duas pessoas estarem no mesmo momento da vida, em sintonia física, mental e emocional.


Foi também desafiador trabalhar a velhice na tela? Mulheres estão comentando sobre quanto você parece ser mais jovem do que é. Até o creme anti-idade que você usa as interessa. Você sente pressão para ser sempre jovem?


De forma alguma. Óbvio que me cuido, mas também é óbvio que estou mais velha. No fundo, ainda morremos de medo da morte. Mas é inevitável e temos de nos preparar. Somos obcecados com o que parecemos ser e não com o que pensamos. Ou na evolução de nossas crenças.


Mas você pôde ?envelhecer? no filme. E para a ?fase jovem?, também precisou de efeitos especiais?


Fosse outra época, poderia ficar ofendida com essa pergunta. Hoje não. A idade é algo essencial nesse filme. Por isso, houve um pouco de ?maquiagem digital? para me fazer parecer mais jovem e mais velha. E pode-se fazer só com iluminação. Posso parecer que acabei de fazer um lifting só pela forma com que meu rosto é iluminado. E muito disso também é a energia que eu, como atriz, empreguei em cena. Então, me desculpe, mas não se trata só de maquiagem.


O que há de tão especial em Daisy?


Pensei em como achamos que tudo é possível quando somos jovens, como lutamos contra o mundo sem medo e com vontade. Mas não é fácil lidar com a própria mortalidade quando se é jovem. E Daisy tem de aprender a lidar com isso muito cedo. Ela pode ser cruel, mas está vivendo uma situação muito especial também. Tem de aprender a lidar com a perda de forma muito particular.


Você perdeu o seu pai muito jovem. E hoje você é mãe de três garotos. Isso com certeza mudou sua forma de lidar com a morte.


É verdade. Isso faz com que você dê valor às coisas desde cedo. Isso passou a ser mais forte depois que me tornei mãe. Hoje valorizo mais meu tempo.


Tornar-se diretora da Sydney Theatre Company é uma forma de valorizar mais seu tempo e estar mais próxima de seus filhos?


É. Estou mudando meu foco também. Eu e meu marido decidimos voltar para Sydney porque lá é nosso lugar. Além de poder usar nosso prestígio e nossas conexões para promover ações, podemos trabalhar em planos que são desenvolvidos mais a longo prazo.


O que é mais desafiante: estrelar em Hollywood ou administrar o teatro de sua cidade?


Difícil dizer. São coisas diversas. Ter vivido no exterior dá outra perspectiva, muito mais crítica em relação à própria cultura.


Mesmo com papeis inesquecíveis no cinema, o teatro ainda é muito importante para você, não?


Claro. É até um chavão, mas o palco é muito mais orgânico e o cinema tão mais distante. Este ano vou viver um personagem que sempre quis fazer: Blanche du Bois, em Um Bonde Chamado Desejo, dirigida pela Liv Ullman.


O que ainda falta você fazer, seja na Austrália ou no mundo?


Quero criar bem meus filhos. No teatro e cinema, o que procuro é uma boa história.’


 


 


 


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