Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Justiça arquiva caso Herzog

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


 


DITADURA
Folha de S. Paulo


Justiça arquiva pedido para investigar morte de Herzog


‘A Justiça Federal de São Paulo decidiu aceitar a solicitação da Procuradoria Criminal do Ministério Público Federal e arquivar o pedido de investigação criminal das mortes do jornalista Vladimir Herzog e do militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) Luiz José da Cunha, o Crioulo, mortos por agentes do DOI-Codi durante a ditadura militar (1964-1985).


O pedido de inquérito foi feito em 2008 pelos procuradores da área civil Eugênia Fávero e Marlon Weichert a colegas da área criminal. A decisão da juíza substituta da 1ª Vara da Justiça Federal, Paula Mantovani Avelino, tomada sexta-feira, segue a da Procuradoria Criminal, que sugeriu o arquivamento. O argumento é o de que os crimes prescreveram.


Fávero e Weichert defendem que crimes contra a humanidade -caso da tortura- não são passíveis de prescrição e, por isso, os militares responsáveis deveriam ser julgados.


A tentativa era de responsabilizar criminalmente os militares reformados Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel, comandantes do DOI-Codi de São Paulo de 1970 a 1976. Na época, 64 pessoas morreram ou desapareceram no local, entre elas Herzog e Cunha. Contra os militares reformados ainda está em andamento pedido feito pela Procuradoria à Justiça para a abertura de ação civil pública.


No caso de Herzog, já existe uma decisão da Justiça de 1978 que responsabiliza o Estado pela morte do jornalista.


Com a decisão de arquivamento, acabam as instâncias no Brasil para que sejam abertas ações criminais nos dois casos. A única forma de conseguir responsabilizar criminalmente os militares pelas duas mortes será por meio de um recurso à Corte Interamericana de Justiça. A família de Luiz José da Cunha já disse que irá recorrer. Os familiares de Herzog ainda não se manifestaram.


Fávero, que defende a responsabilização criminal -além da civil-, tem esperança de que uma condenação internacional obrigue o Brasil a rever o caso. Ela cita um processo ocorrido no Chile, em que, esgotados os recursos internos, os familiares foram à Corte Interamericana de Justiça e conseguiram reverter a decisão.


Outras ações


Representações movidas pelos mesmos procuradores em São Paulo e outros Estados ainda esperam por decisão da Justiça ou encaminhamento da Procuradoria. Entre elas, a que pede investigação criminal da morte do operário Manoel Fiel Filho, também no DOI-Codi em São Paulo e, no Rio, o sequestro do ítalo-argentino Horácio Domingo Campiglia e da argentina Monica Pinus de Binstock. Em Uruguaiana (RS), há pedido de investigação do desaparecimento do ítalo-argentino Lorenzo Ismael Viñas.’


 


 


IMAGEM
Marcos Augusto Gonçalves


Operação simbólica


‘SÃO PAULO – E o que você achou do resultado da cirurgia plástica a que foi submetida a ministra Dilma Rousseff -esse ‘PAC da auto-estima’, como bem definiu o jornal ‘O Globo’? Na sua opinião isso não interessa, é comentário supérfluo e machista?


Ora, por favor. Não tenho dúvida de que o resultado de cirurgias embelezadoras em pessoas célebres é, na verdade, um assunto bem mais feminino do que masculino. Ou será que as nossas deputadas, senadoras, madames e trabalhadoras nem repararam na mudança? Já encontrei, aliás, amigas que gostaram e amigas que não gostaram.


Mas não é esse o ponto. Afinal, como dizia Rosa, cada um o que quer aprova: pão ou pães, é questão de opiniães… Vamos, portanto, ficar com a operação simbólica, deixando de lado a intervenção médica, física: o rejuvenescimento da ministra é a fulgurante contrapartida do encarquilhamento do PT como alternativa para a sucessão.


O partido, como se sabe, jamais viu na companheira a candidata de seus sonhos para concorrer ao Planalto em 2010. Terá, no entanto, que aceitá-la, uma vez que suas lideranças, ou foram dizimadas por mensalões e dossiês aloprados, ou não tiveram competência para se estabelecer. Todos já sabiam, mas ao mostrar sua face renovada, Dilma consagrou-se como a ungida por Lula. Vestiu-se para o desafio.


Ninguém, no início do primeiro mandato, poderia imaginar que algo assim fosse acontecer. Mas aconteceu. O descolamento do presidente em relação ao partido que ele mesmo criou é flagrante. O PT, que nasceu como uma esperança de renovação da cultura política e de combate a práticas antiéticas, tornou-se sinônimo de encrenca, uma feia contrafação de si mesmo. E, sem o carisma e a esperteza de seu líder, não há mais plástica que possa salvá-lo.’


 


 


TELEVISÃO
Ruy Castro


Coincidências


‘RIO DE JANEIRO – Em novembro de 2007, publiquei um romance, ‘Era no Tempo do Rei’, pela Alfaguara. No dia 23 de dezembro último, a TV Globo levou ao ar o especial ‘O Natal do Menino Imperador’, um ‘original’ de Péricles Barros. Amigos me recomendaram não deixar de assistir. Liguei a TV e comecei a ter sensações de ‘déjà vu’.


O protagonista do livro é o futuro D. Pedro 1º, ainda menino. O do especial de TV é o futuro D. Pedro 2º, ainda menino. A história do livro começa num dia festivo, no Carnaval. A da TV também, só que no Natal. No livro, o príncipe D. Pedro se sente entediado e não gosta de estudar. Na TV, D. Pedro, já imperador, se sente entediado com os estudos.


No livro, ao fugir do palácio por causa de uma travessura, Pedro se vê sozinho na cidade. Mete-se numa encrenca e é salvo por um garoto de sua idade, Leonardo, um menino de rua. Na TV, Pedro sai numa cavalgada, rola por uma ribanceira, cai num rio e se vê sozinho. Sem as roupas reais, encontra um garoto de sua idade, Dito, um escravo.


No livro, o menino pobre conta vantagem para Pedro, sem saber quem ele é. E este se apresenta desfiando todos os seus nomes reais. Na TV, a mesma coisa, com o menino imperador também desfiando todos os seus nomes reais. No livro, Pedro inveja a liberdade de Leonardo para viver solto nas ruas. Na TV, Pedro inveja a liberdade de Dito para brincar. No livro, Pedro e Leonardo estão no quarto do jovem príncipe, comendo à farta. Na TV, idem. No livro, Pedro mostra a Leonardo os quadros com os retratos a óleo de seus antepassados, para pasmo do menino pobre. Na TV, idem, ibidem.


Nesse ponto, parei de assistir. Histórias de príncipes e plebeus são comuns na literatura e na TV, mas essa coincidência de minúcias ameaçava me tirar o apetite para o Natal.’


 


 


Daniel Castro


Globo adia série de Fernando Meirelles


‘A Globo decidiu economizar ‘Som & Fúria’, primeira minissérie do cineasta Fernando Meirelles. Para não ‘desperdiçar’ o programa, exibindo-o depois de ‘BBB 9’, a emissora adiou sua apresentação, inicialmente prevista para fevereiro.


‘Som & Fúria’ só deve ir ao ar em julho, após a novela das oito. A medida atende a pedidos de telespectadores, que reclamam do horário das minisséries (depois das 23h), mas é essencialmente estratégica.


Minisséries veiculadas após a novela das 21h, como ocorre com ‘Maysa’, atingem 30 pontos. Quando a minissérie entra depois de ‘BBB’, seu ibope cai pela metade. Além do horário, há troca de público. Nem todo telespectador de novela vê ‘BBB’ e vice-versa. Porém boa parte do público de novela tende a assistir minissérie -cujos capítulos custam até R$ 1,3 milhão, caso de ‘Amazônia’.


No lugar da minissérie, após ‘BBB’, a partir de terça e até 3 de abril, a Globo exibirá filmes, que lhe custam bem menos.


Com Andrea Beltrão, Felipe Camargo, Pedro Paulo Rangel, Dan Stulbach e Rodrigo Santoro, ‘Som & Fúria’ foi gravada em São Paulo, nos estúdios da O2 (produtora de Meirelles), entre julho e outubro. Pode render de 12 a 16 capítulos.


Baseada na série canadense ‘Slings and Arrows’, mostra os bastidores de um grupo de teatro que encena Shakespeare. Meirelles assina como produtor e diretor-geral.


SEM CRISE 1


Depois de um início de ano ‘magro’, o que é normal, os intervalos comerciais do horário nobre da Globo já ‘incharam’ de novo. ‘Este começo de ano está muito bom, o dobro do que esperávamos’, diz Willy Haas, diretor-geral de comercialização. Segundo Haas, a emissora está revendo suas previsões.


SEM CRISE 2


A novela das oito vai muito bem no comercial, mas o grande fenômeno é ‘Big Brother Brasil’. Haas afirma que o reality show já está praticamente todo vendido, até a final, em 31 de março. Segundo ele, restam poucos espaços para merchandings e nos intervalos.


BOA NOTÍCIA


A Globo deve lançar em março DVD com a microssérie ‘Capitu’, exibida em dezembro.


COISA ESTRANHA


A Record deixou nesta semana de exibir ‘Picapau’ nos dias úteis. Informa que, ‘por decisão estratégica’, o desenho animado só entrará no ar aos sábados. Desde segunda, um dos horários do desenho (19h45/ 20h45) está sendo parcialmente ocupado pelo ‘Jornal da Record’, agora às 20h. ‘Picapau’ dava 13 pontos. O ‘JR’ deu 11.


SEGREDO


A Globo ainda não confirma ‘Senhora do Destino’ (2004) no ‘Vale a Pena Ver de Novo’. Mas a novela, recentemente liberada para maiores de dez anos, é favoritíssima.


FÓRMULA


Anteontem, a reprise de ‘Mulheres Apaixonadas’ (19,9 pontos) deu mais audiência do que a inédita ‘Negócio da China’ (19,7), novela das seis.’


 


 


Lira Neto


Minissérie global simplifica e distorce biografia de Maysa


‘Ao assistir aos capítulos de ‘Maysa – Quando Fala o Coração’, logo me veio à lembrança o dia em que um jornalista quis saber a opinião da escritora Rachel de Queiroz a respeito da adaptação de seu romance ‘Memorial de Maria Moura’ para a televisão, à época também levada ao ar na forma de minissérie. Rachel, com irresistível senso de humor, sapecou: ‘Até estou gostando; eles lá na Globo é que não gostaram muito de meu livro, pois trataram de mudar tudo na história’.


Do mesmo modo, no caso da minissérie sobre Maysa assinada por Manoel Carlos e dirigida por Jayme Monjardim, os roteiristas parecem não ter gostado muito da verdadeira história da cantora de olhos felinos e alma atormentada.


É compreensível que na transposição de qualquer história para as telas seja permitido -e necessário- o recurso a algumas licenças poéticas, como o acréscimo de diálogos imaginários e situações fictícias. É preciso, claro, amarrar o roteiro e conferir fluência à narrativa. O problema é quando esse tipo de artifício legítimo, no caso de personagens reais, sobrepõe-se à história verdadeira, oferecendo ao telespectador uma visão distorcida dos acontecimentos, uma contrafação da biografia dos protagonistas.


Baniram Nara Leão


O personagem de Ronaldo Bôscoli, por exemplo, é apresentado na série como um conquistador abobalhado e, por vezes, patético. Bôscoli, cafajeste assumido, devorador de mulheres, jamais teve pudores de levar Maysa para a cama pelo fato de ser comprometido com outra moça, como nos quiseram fazer crer os roteiristas da minissérie. A propósito, não se sabe por qual motivo eles perderam a oportunidade de dizer que, em vez da simples atriz de teatro amador que aparece no roteiro, a então noiva de Bôscoli atendia pelo nome de Nara Leão. Ela mesma, a musa da bossa nova, que foi banida da história.


Em um dos capítulos apresentados na semana passada, Bôscoli tenta convencer Maysa de que gravar um disco bossanovista seria algo importantíssimo para Tom e Vinicius. Como se desde seu segundo disco de dez polegadas, de 1957, ela já não gravasse sistematicamente canções da dupla.


Por vezes, há a tentativa de idealizar certos personagens e amenizar as asperezas da vida real. Como quando se coloca André Matarazzo sentado candidamente na plateia da cerimônia de entrega de um prêmio concedido a ex-mulher. Ele não estava lá.


Nas cenas da histórica temporada de Maysa em Buenos Aires ao lado de Bôscoli, Roberto Menescal e o célebre Tamba Trio, ela surge cantando bolerões rasgados. Uma pena. A minissérie sonegou assim ao telespectador a informação de que, justamente naquela viagem, Maysa se tornou a primeira cantora brasileira a cantar um repertório de bossa nova fora do Brasil.


Angústia virou capricho


Assim, a principal vítima das inconsistências e simplificações da minissérie é mesmo a própria Maysa. Todas as suas perplexidades, seus tormentos e suas angústias foram reduzidos a meros caprichos e desvarios de uma moça mimada. A complexidade de sua personalidade intensa e autodestrutiva, os abismos existenciais de sua alma, tudo isso foi transfigurado em queixumes e rompantes de uma rebelde sem causa, traumatizada pela separação do marido.


O esmero da produção, a exuberância dos cenários, a perfeição dos figurinos, a assombrosa semelhança da atriz Larissa Maciel com a diva estão arrebatando o público e arrancando suspiros até mesmo de parcela da crítica especializada.


Resultado: Maysa está de novo na pauta do dia. Isso é ótimo para sua memória e faz justiça a seu talento. Mas, se os telespectadores estão encantados com a Maysa da televisão, o que diriam se conhecessem a verdadeira Maysa, em carne, osso e amargura. Humana, demasiadamente humana.


LIRA NETO é autor de ‘Maysa: Só numa Multidão de Amores’ (editora Globo, 2007)


MAYSA – QUANDO FALA O CORAÇÃO


Quando: hoje, às 22h55; ter. e qui., às 23h05; sex., às 23h50


Onde: na Rede Globo


Classificação: não indicada a menores de 12 anos’


 


 


Fernanda Ezabella


Série aborda mistérios sobre ovnis


‘Na esteira das notícias publicadas pela Folha no final de semana sobre o governo brasileiro e seus documentos secretos sobre o ET de Varginha, vale a pena dar uma olhada na série que o canal pago The History Channel estreia hoje, ‘Arquivos Extraterrestres’.


Logo no primeiro episódio, que vai ao ar às 23h, estão os registros do governo dos Estados Unidos sobre extraterrestres.


Segundo o canal, o programa traz à tona ‘as decisões tomadas por altos comandantes […] diante das mais perturbadoras aparições de extraterrestres’.


E, ainda, ‘revela os segredos de um dos arquivos mais bem guardados da Casa Branca’.


Apesar da empolgação, programas do gênero costumam trazer mais curiosidades e dúvidas do que esclarecimentos.


Seja como for, são ouvidos especialistas e testemunhas.


No dia 28, o canal exibe um caso brasileiro, ocorrido em 1977, no rio Amazonas. Na época, luzes de diferentes formas ‘flutuavam’ na superfície da água. Segundo o programa, a Força Aérea Brasileira fez fotos dos supostos ovnis, que chegaram a ser reveladas em 2005.


No total, são 23 episódios, com casos na China, Rússia, México, Inglaterra e até no fundo do mar. A radionovela ‘A Guerra dos Mundos’, de H.G.


Wells, também ganha um capítulo à parte.


ARQUIVOS EXTRATERRESTRES


Quando: hoje, às 23h


Onde: The History Channel


Classificação: não informada’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Amigos do Sul’


‘A China queria, também o Canadá, postou o site Marketplace, mas a ‘honra’ do primeiro encontro presidencial com Barack Obama foi para o México.


Hillary Clinton, indicada secretária de Estado, dizia ontem no Senado que a escolha exemplifica o que vai buscar para a América Latina, ‘uma parceria mais profunda’, destaque na BBC Brasil. No destaque da agência Efe, por sites da região, ela prometeu um ‘envolvimento vigoroso’ com os ‘amigos do Sul’.


Na transcrição de seu pronunciamento aos senadores, o ‘Washington Post’ registra também o elogio ao ‘recente encontro do G20’, visto como ‘um primeiro passo’ na ação conjunta para enfrentar a crise, que ‘vai exigir trabalho duro e negociação’. Em suma: ‘Nós sabemos que mercados emergentes como China e Índia, Brasil e África do Sul e Indonésia estão sentindo os efeitos da crise. E nós todos podemos nos beneficiar, se eles forem parte da solução e parceiros na manutenção da estabilidade econômica global’.


SOZINHOS, NÃO MAIS


As declarações de Hillary Clinton foram destaque on-line por toda parte. Nos EUA, o ‘New York Times’ ressaltou que ela prometeu não desistir da paz no Oriente Médio. O ‘Washington Post’ optou pelos questionamentos dos senadores ao conflito de interesses envolvendo as ‘doações’ de governos estrangeiros a Bill Clinton.


O ‘Wall Street Journal’, o britânico ‘Guardian’, o estatal ‘China Daily’ e outros sublinharam que ela delineou ‘uma mistura de diplomacia e defesa’. O francês ‘Le Monde’, que ela admitiu que os EUA não podem mais solucionar ‘sozinhos’ os problemas do mundo.


‘AGENDA’


A instituição nova-iorquina Americas Society, procurando influenciar a política externa de Obama e a Cúpula das Américas, em abril, lançou ontem o relatório ‘Construindo uma Nova Agenda de Crescimento Hemisférico’. Detalha ‘meios específicos para retomar o comércio e a integração com a América Latina’, inclusive ‘maior cooperação com o Brasil’. Sublinhando sua opção conservadora, o lançamento teve como estrela o peruano Alvaro Vargas-Llosa.


‘WHO, ME? BLACK?’


A posse de Obama coincide com a estreia de sites de política externa nos EUA. Dias atrás foi a ‘Foreign Policy’ que relançou o seu.


E agora foi a vez do Global Post, que vinha tendo despachos adiantados pelo Huffington Post. Reúne mais de meia centena de correspondentes e foi saudado pelo site Politico como alternativa à decrescente cobertura externa dos jornais.


Para começar, cada correspondente abordou o efeito em sua área de um presidente negro nos EUA. No Brasil, Seth Kugel postou que a eleição põe em questão se o país não é, na verdade, ‘uma sociedade racialmente dividida’, registrando que os brasileiros ainda se declaram ‘pardos’. Ou, na tradução-piada, ‘Quem, eu? Negro? Eu não’.


ESPECULAÇÃO


Demorou, mas o ‘NYT’ respondeu ontem à ‘Atlantic’, que publicou a previsão de que o jornal fecharia em maio. Na carta postada no blog de mídia de Jim Romenesko, questionou que ‘é hora de análise e pensamento claros’, sobre mídia, ‘e não de especulação desinformada’.


NOVO PRÊMIO


Por outro lado, o vice-presidente de saída, Dick Cheney, deu entrevista ao radialista conservador Bill Bennett e partiu para o ataque contra o ‘NYT’, que revelou seu programa de espionagem interna e levou o prêmio Pulitzer pelo feito. A crítica de Cheney foi saudada na blogosfera.


INEWS


O colunista de mídia do ‘NYT’ David Carr propôs usar o novo iPod de tela maior, em testes, para vender jornais. O colunista da Slate Jack Shaffer apoiou, mas alertando para não ficar na mão da Apple, como fez a indústria musical


PROTESTO


Nas buscas de Brasil por Google News e Yahoo News, com notícias em inglês, o destaque ontem foi para as demissões da General Motors em São José dos Campos e o protesto do sindicato.


E CARRO NOVO


Nas buscas de Brasil pelo Google Noticias, em espanhol, o destaque foi também para a indústria automobilística, mas com a produção de um novo carro pela Nissan em São José dos Pinhais.’


 


 


CUBA
Folha de S. Paulo


Ausência de textos de Fidel alimenta rumor


‘Amanhã completa um mês que o convalescente Fidel Castro, 82, não escreve textos para a imprensa cubana -a exceção foi uma mensagem curta de 16 palavras pelo aniversário de 50 anos da Revolução, na virada do ano.


A ausência, somada a comentários no domingo de seu maior aliado, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, de que Fidel não aparecerá mais em público, alimenta rumores sobre a piora de sua saúde comentados por blogs de jornais de Miami.


Na TV, Chávez falou sobre o amigo, que se afastou do poder em agosto de 2006: ‘Fidel, aquele que percorria as ruas e povoados de madrugada, com seu uniforme e abraçando as pessoas, não voltará’, disse em seu programa de TV semanal ‘Alô Presidente’. ‘Ficará na lembrança. Viverá sempre, para além da vida física.’


Fidel também não encontrou o presidente equatoriano, Rafael Correa, que visitou a ilha na semana passada. Correa alegou o estado ‘delicado’ da saúde do cubano.’


 


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Yahoo! escolhe veterana do setor para comandar empresa


‘O Yahoo! anunciou ontem a escolha de Carol Bartz, 60, uma veterana do setor de softwares, para comandar a empresa, sucedendo o cofundador Jerry Yang.


Ela comandou entre 1992 e 2006 a Autodesk, que faz programas de design para engenheiros e arquitetos, e depois se tornou a presidente do conselho da empresa.


Pela frente, ela terá um enorme desafio. Os últimos resultados financeiros do Yahoo! foram decepcionantes, e ele vem perdendo cada vez mais espaço para o Google. Além disso, a empresa vem sofrendo o assédio da Microsoft, que quer adquirir seu sistema de buscas.’


 


 


ACORDO ORTOGRÁFICO
Luisa Alcantara e Silva e Fábio takahashi


ABL lança dicionário e põe fim a dúvidas do Acordo


‘‘Re-editar’ ou ‘reeditar’? ‘Coabitar’ ou ‘co-habitar’? As principais dúvidas que o texto do Acordo Ortográfico, em vigor desde o dia 1º, havia deixado foram esclarecidas pela publicação da segunda edição do dicionário da ABL (Academia Brasileira de Letras), que começou a ser distribuído ontem nas livrarias.


O ‘Dicionário Escolar da Língua Portuguesa’, editado pela Companhia Editora Nacional, tem 1.311 páginas e cerca de 33 mil verbetes.


‘O que está no dicionário vai ser adotado pelo Volp [‘Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa’], diz Evanildo Bechara, membro da ABL e da comissão de língua portuguesa do Ministério da Educação que trata do Acordo.


Volp é o documento que registra a grafia oficial das palavras. A nova versão, com cerca de 370 mil palavras da língua portuguesa, será publicada até o início de março.


Hífen


As principais dúvidas que o dicionário esclarece são em relação ao uso do hífen. De acordo com Bechara, o Acordo não tratava dos prefixos ‘re’, ‘pre’ e ‘pro’ por ‘esquecimento’.


Palavras com esses prefixos, segundo o novo dicionário, devem ser grafadas sem hífen, como ‘reeditar’ e ‘preencher’ -e não ‘re-editar’ e ‘pre-encher’, como interpretaram alguns estudiosos no Acordo.


Embora o Acordo tenha sido assinado por todos os países lusófonos -menos Timor Leste, que deve assiná-lo brevemente-, a ABL afirma que as palavras que geraram dúvidas não foram discutidas com as outras nações. Mas estão valendo no Brasil assim mesmo.


‘O Acordo diz que duas vogais têm que estar separadas por hífen, mas se esqueceu do [prefixo] ‘re’. Teria que estar separado, mas isso se choca com a tradição lexicográfica, tanto em dicionários brasileiros como em portugueses’, diz Bechara. ‘Se o Acordo quisesse contrariar essa tradição, teria sido explícito, o que não ocorreu. Logo, a conclusão é a de que houve um esquecimento.’


A tradição é um dos princípios do Acordo, segundo a ABL. O quarto e último princípio geral afirma que o Acordo deve: ‘Preservar a tradição ortográfica refletida nos formulários e vocabulários oficiais anteriores, quando das omissões do texto do Acordo’. ‘O texto do Acordo é curto, não ia abranger as mais de 300 mil palavras que há no Volp’, afirma Bechara.


Outra dúvida que o dicionário esclarece é a grafia da palavra ‘abrupto’. O dicionário diz: ‘Ab-rupto’ é preferível a ‘abrupto’ -ou seja, as duas formas são consideradas corretas, mas o ideal é usar a hifenizada. Para Bechara, ‘ab-rupto’ não deve causar estranhamento’. As escolas devem priorizar a forma com hífen, disse.


Outro ponto questionável do Acordo que o dicionário esclarece é o caso da acentuação em palavras como ‘destróier’. ‘O Acordo diz que paroxítonas com ditongos abertos, como ‘ei’ e ‘oi’, perdem o acento. É uma regra específica, mas esqueceu que tem paroxítonas com esses ditongos que terminam em ‘r’, que são obrigatoriamente acentuadas. Como ‘destróier’. Essa regra se choca com a regra específica, mas, entre a regra específica e a geral, ficamos com a geral. Então, o acento continua nessas palavras.’


Mas ainda há um ponto que causa confusão: ‘co-herdeiro’ ficou grafada como ‘coerdeiro’ no dicionário, embora no Acordo a indicação fosse para escrever ‘co-herdeiro’. A Folha tentou falar com a ABL ontem à noite, mas ninguém foi localizado para comentar o caso.


Segunda edição


O interessados em consultar o dicionário devem ficar bastante atentos: os verbetes considerados corretos e esclarecedores aparecem apenas na segunda edição da obra.


A primeira, com 15 mil exemplares -já vendidos-, foi publicada com verbetes errados. O problema é que não há na capa selo ou identificação que diferencie as edições -isso ocorre apenas na primeira página, onde está escrito ‘2ª edição’.


Quem comprou a primeira edição deve encontrar a partir de hoje os verbetes que saíram incorretos corrigidos no site da empresa (www.editoranacional.com.br). Caso não esteja no ar, o consumidor pode entrar em contato pelo telefone 0/xx/11/2799-7799 ou pelo e-mail (atendimento@editoranacional.com.br).’


 


 


Pasquale Cipro Neto


A pressa é inimicíssima da perfeição


‘Acabo de ver e manusear a segunda edição do ‘Dicionário Escolar da Língua Portuguesa’, da Academia Brasileira de Letras (‘Com a nova ortografia da língua portuguesa’). Agora vai!


Se você é um dos que compraram um exemplar da primeira edição, pode começar a pensar no que fará para se livrar dele. Com o devido respeito, o lugar dele é a reciclagem.


Então vale a pena dar a compra da primeira edição como um dos azares da vida e sair correndo para comprar já um exemplar da segunda edição, finalmente acertada, corrigida e, principalmente, fiel ao texto oficial do ‘Acordo’?


Vejamos. Como informei na coluna de 1º de janeiro, nas páginas introdutórias da primeira edição há a seguinte informação sobre o emprego do hífen com os prefixos ‘co-’, ‘pro-’, ‘pre-’ e ‘re-’: ‘Estes se aglutinam, em geral, com o segundo elemento, mesmo quando iniciado por o ou e’. Em seguida, vêm estes exemplos: ‘coautor’, ‘coedição’, ‘procônsul’, ‘preeleito’, ‘reeleição’, ‘coabitar’, ‘coerdeiro’. Quando se procuram esses vocábulos no próprio ‘Dicionário Escolar’, vê-se que…


Bem, vê-se que o ‘Dicionário’ não seguia integralmente o que preconizava em suas páginas introdutórias (‘re-eleição’ e ‘co-herdeiro’ apareciam com hífen -e com ‘h’, no caso da última; também havia hífen em ‘reeducar’, ‘reeditar’ e em casos símiles).


Na segunda edição, foram ‘corrigidas’ as discrepâncias, ou seja, sumiu o ‘h’ de ‘co-herdeiro’ (que passou a ‘coerdeiro’) e sumiu o hífen de ‘reeleição’. Mas uma olhadinha no texto oficial do ‘Acordo’ basta para que a confusão continue. Está na ‘Base XVI’ (‘Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação’): ‘Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante- , anti-, circum-, co- […]) e em formações (…), só se emprega o hífen nos seguintes casos: a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h…’. Para encurtar a conversa, um dos exemplos do texto oficial do ‘Acordo’ é ‘co-herdeiro’ (com hífen e com ‘h’).


Convém lembrar que o ‘Acordo’ teve por princípio a unificação da grafia do português nos sete (depois oito) países que o têm como língua oficial. Lembro isso porque, embora em Portugal o ‘Acordo’ ainda não vigore, já há por lá dicionários com a tarja ‘Conforme o Acordo Ortográfico’. Um deles é o ‘Universal’ (lançado também aqui), em que se vê… Em que se vê que o ‘Acordo’ ainda é um ‘Desacordo’. Quer um conselho: espere mais um pouco para abrir a carteira. É isso.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


 


DITADURA
Fausto Macedo


Juíza arquiva caso Herzog, que julga prescrito


‘A juíza Paula Mantovani Avelino, da 1ª Vara Criminal Federal de São Paulo, homologou pedido de arquivamento da investigação sobre a morte do jornalista Wladimir Herzog nas dependências do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em 25 de outubro de 1975. A decisão atendeu a solicitação da Procuradoria Criminal do Ministério Público Federal em São Paulo. A juíza concordou com o argumento de que o caso prescreveu e afastou a possibilidade de enquadrá-lo como crime contra a humanidade.


A medida se estende a outra investigação, sobre a morte de Luiz José da Cunha, o Comandante Crioulo, da Ação Libertadora Nacional (ALN), ocorrida em julho de 1973 na mesma unidade militar vinculada ao antigo 2º Exército. A juíza rejeitou ainda alegação de outros procuradores federais, que sustentavam a imprescritibilidade de crimes contra a humanidade.


Segundo Paula Mantovani, a única norma em vigor no plano internacional a respeito do tema é aquela contida na convenção sobre a imprescritibilidade dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade, vigente a partir de 11 de novembro de 1970.


‘O relatório da Comissão de Direito Internacional, criada para identificar os princípios de Direito Internacional reconhecidos no estatuto do Tribunal de Nuremberg e definir quais seriam aqueles delitos, nunca chegou a ser posto em votação’, observou a juíza. ‘Referida convenção não foi ratificada pelo Brasil, não obstante tenha sido aberta para adesões já no ano de 1968.’


Ela concluiu que no Brasil não existe norma jurídica em vigor que tipifique delitos contra a humanidade.


ANISTIA


A morte de Herzog chegou a ser investigada pelo Ministério Público Estadual, mas o caso acabou arquivado pelo Tribunal de Justiça com fundamento na Lei da Anistia – decisão confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).


A juíza federal considerou que quanto à prescrição – prazo que a Justiça tem para punir -, em ambos os casos, já se passou tempo superior ao da pena máxima fixada para crime de homicídio. Crioulo morreu há 35 anos e 5 meses. Herzog há 33 anos e dois meses.


‘Não há que se falar, na presente hipótese, na caracterização do genocídio, crime previsto nos artigos 1º e 2º, da Lei 2.889/56, uma vez que ausente o elemento subjetivo consistente na intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso’, assinalou Paula Mantovani, em sua sentença.


Para a juíza, de qualquer forma, ainda que se reconhecesse a existência de homicídio, a pena máxima aplicada seria a do artigo121, parágrafo 2º, do Código Penal, ou seja, de 30 anos de reclusão. ‘Referida sanção, consoante disposição prevista no artigo 109, I, do mesmo diploma legal, prescreve em 20 anos, lapso de tempo já decorrido, mesmo que se iniciasse a contagem em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Carta Magna em vigor.’’


 


 


TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo


Novo episódio dos Simpsons causa polêmica


‘A popular série de desenho animado Os Simpsons causou polêmica na Grã-Bretanha depois de, em um novo episódio, Homer acusar seus vizinhos muçulmanos de serem terroristas. Em um capítulo da nova temporada da série, o pai da família americana está convencido de que seus vizinhos provenientes do Oriente Médio planejam explodir um centro comercial de Springfield. Um porta-voz do Centro Cultural Islâmico e da Mesquita Central de Londres acusou o programa de incentivar o preconceito contra o islã. O criador da série, Os Simpsons, Matt Groening, disse que os desenhos ‘trabalham com estereótipos’.’


 


 


Keila Jimenez


Após CQC, La Liga


‘Criadora do projeto de sucesso CQC, no ar no Brasil pela Band, a produtora argentina Cuatro Cabezas deve emplacar em breve mais um formato polêmico por aqui.


Já com uma filial em São Paulo, a empresa negocia outras atrações com emissoras locais, entre elas, o jornalístico La Liga (A Liga). Sucesso na Espanha, Itália e Chile, o programa, que tem grandes chances de ganhar uma versão na própria Bandeirantes, tenta mostrar, com humor, drama e uma boa dose de acidez, várias maneiras de se contar ao público uma mesma notícia.


No formato original, La Liga (A Liga) é composta por quatro integrantes, entre atores e jornalistas, que saem em busca de reconstituir um fato jornalístico e contar, com enfoques diferentes, a mesma história. Entrevistas e testemunhos dos mais diferentes pontos de vista do caso em questão fazem parte da investigação jornalística do programa.


Por aqui, La Liga segue em negociação, mas já tem as portas abertas por causa do sucesso do CQC. Este, por sinal, volta de férias em março na Band, reformulado e com a promessa de ter descolado uma integrante mulher.’


 


 


LITERATURA
Ed Pilkington, The Guardian


Aberto o arquivo de Hemingway


‘Estudiosos da obra de Ernest Hemingway, o romancista ganhador do prêmio Nobel com um poderoso ímpeto literário e factual, receberam um presente importante na semana passada, com a abertura de um arquivo digital de papéis que ele deixou dos dias em que viveu em Cuba.


Os documentos, fotos e livros ficaram durante décadas no porão úmido da casa de Hemingway, a 11 quilômetros de Havana. Entre as gemas estão um epílogo não publicado de seu romance Por Quem os Sinos Dobram e um roteiro de cinema para O Velho e o Mar.


A coleção toda dos esboços de textos e cartas de Hemingway escritos durante os 21 anos que ele passou em Cuba estava em risco de se desintegrar em meio ao calor, à umidade e às infestações de insetos no porão de sua propriedade, La Finca Vigia.


Durante anos, o trabalho de restauradores foi prejudicado pelo embargo americano à ilha que impedia a troca de expertise e o aporte de recursos. Mas um projeto de restauração foi lançado em 2002, depois que um antropólogo americano ficou horrorizado ao encontrar a casa ameaçada sob um telhado com vazamentos e o mofo se espalhando pelas paredes.


Uma permissão especial do governo norte-americano foi obtida por uma missão conjunta de resgate cubano-americana que resultou na liberação de documentos na semana passada.


Os papéis foram restaurados, preservados e escaneados para o uso digital. Os estudiosos agora podem solicitar acesso a documentos específicos do Museo Ernest Hemingway em Havana, que é responsável pela arca do tesouro; ou da biblioteca John F. Kennedy, em Boston, que abriga o resto do arquivo de Hemingway e recebeu um conjunto de CDs e microfilmes de Finca Vigia.


Não existem planos para permitam o acesso direto do público aos documentos na internet, mas as autoridades cubanas dizem que isso poderá ocorrer no futuro.


A coleção digitalizada já inclui cerca de 2 mil documentos, e outros mil estão a caminho. ‘Muitas pessoas perguntam: ?Como era a vida de Hemingway em Cuba?? Isso responde a algumas dessas perguntas’, disse Ada Rosa Alfonso, diretora do museu de Finca Vigia, à Associated Press.


Hemingway viveu em Cuba de 1939 até voltar aos Estados Unidos em 1960. As paixões e o tormento do escritor ainda são visíveis na casa transformada em museu, incluindo sua propensão para a bebida na forma de garrafas cheias pela metade de bourbon Old Forester e Cinzano espalhadas pela casa; seu amor por touradas e caça com pinturas de touradas e cabeças de antílope nas paredes; e animais de estimação, com seus quatro cachorros enterrados em túmulos marcados no jardim.


Na sala de visitas , a mesa está posta para entreter: Errol Flynn e Cary Grant costumavam visitar Finca Vigia, e Ava Gardner nadava nua na piscina agora vazia.


O barco de pesca de 15 metros de Hemingway, El Pilar, também está preservado numa doca seca. Foi nessa embarcação que ele vasculhou os mares ao norte de Cuba durante a 2ª Guerra Mundial atrás de evidências do que acreditava ser o reabastecimento de combustível por submarinos alemães. Textos sobre essas viagens, escritos em código por Hemingway, estão entre os documentos recentemente digitalizados. Mas aparentemente não há obras literárias não publicadas nesse acervo.


Depois que o escritor se matou, em 1961, um ano após seu retorno aos Estados Unidos, sua viúva, Mary Welsh, contou com a ajuda do presidente americano John Kennedy para romper o embargo a Cuba e fazer uma última visita a Finca Vigia. Nessa ocasião, ela levou a maioria das obras em progresso não publicadas do escritor para os Estados Unidos.


Mas os pesquisadores provavelmente ficarão interessados na correspondência que Hemingway recebia de seus editores americanos e de outros escritores, bem como as cartas associadas a seu relacionamento com a condessa italiana Adriana Ivancich, que tem sido identificada como uma possível modelo para a heroína de seu romance Do Outro Lado do Rio, Entre as Árvores, publicado originalmente em 1950.


Hemingway era um entesourador inveterado. Mary Welsh disse em certo momento que ele ‘nunca jogava nada fora, exceto embalagens de revistas e jornais de três anos’.


Seu apetite literário voraz também está exposto em La Finca Vigia, que abriga 9.000 livros, muitos deles marcados com comentários seus nas margens.


TRADUÇÃO DE CELSO MAURO PACIORNIK’


 


 


LULA
Roberto DaMatta


O presidente não lê


‘Numa terra de cegos, quem tem um olho é rei. Num país de gente sedenta e carente de leitura, é desanimador e melancólico descobrir que o presidente da República, o sujeito mais importante e poderoso do sistema; a figura a quem devemos respeito e lealdade pelo cargo que ocupa; que representa não só um partido ou posição política e econômica, mas – como supremo magistrado da nação – a todos nós; o homem número 1 do País, não lê. Mais: em entrevista ao jornalista Mario Sergio Conti, para a revista Piauí, ele declara que, quando tenta fazê-lo, tem azia. Ademais, descobrimos que ele fez como o pior presidente que os americanos jamais tiveram, George W. Bush, pois dele veio a cópia de uma estrutura palaciana montada para evitar a leitura. Para um sujeito como eu, que vive para os livros e de livros, e que morreria sem livros; para quem a leitura tem sido um meio de dar sentido à vida e de lidar com o amor, com a perda, com o sucesso, com a raiva, o trabalho e com a morte, saber dessa antipatia à leitura é – digo-o sinceramente e com o coração na mão – chocante, inacreditável, triste, devastador.


Para quem tem na leitura não só uma fonte de informação e sabedoria, mas os motivos para viver, como é o caso dos professores, escritores, educadores, ensaístas, legisladores, pensadores e jornalistas; funcionários e intérpretes das normas legais, cujo trabalho consiste em aplicar regulamentos, decidindo a todo instante o que é correto; descobrir que o presidente não lê é uma bofetada na cara!


Vejam bem, há contradições triviais. O padre pecador, o ateu crédulo, o professor ignorante, o médico hipocondríaco, o economista pobre, o pastor malandro, o jornalista venal, o desembargador corrupto, o policial criminoso e o político sem caráter. Mas todos leem! Todos se informam por meio de amigos e auxiliares, mas não abandonam o contato direto com a fonte: esse foco indispensável ao conhecimento do mundo. Esse mundo feito de representações codificadas, de palavras e algarismos articulados numa determinada intenção e estrutura. Estivesse eu dizendo o que digo por meio de rimas, o efeito seria diferente. É por causa disso que eu não posso me conformar com um presidente que não lê.


O que saiu na revista deve ser um engano. Estou seguro que o presidente lê. Lula estava simplesmente brincando com o entrevistador. Ressentido ou ofendido com alguns jornais e revistas, o presidente usou o manto da ironia e resolveu chocar o estabelecimento jornalístico, dizendo que não lê. Não posso acreditar que o servidor público mais importante do meu país, apreenda o mundo apenas por meio do ouvido. Sendo instruído e informado sobre os eventos e idéias deste nosso mundo conturbado somente por meio de conversas permeadas pelo ponto de vista e emoções dos seus interlocutores. Não posso crer que o presidente se contente em apenas ouvir o canto do galo, sem jamais vê-lo em pessoa. Que ele não tenha nenhum momento a sós consigo mesmo, no qual – com um texto na frente dos olhos – coloque para dentro de seu ser, por meio da leitura solitária e individualizadora, aquilo que o autor da narrativa explicita, revela, ensina, critica, pede, descobre, interpreta, anuncia, reitera, louva, interroga, suspeita, ou condena.


Quando o presidente diz que não lê, ele envia uma poderosa mensagem à sociedade que o elegeu. No fundo, ele diz que o discernimento pode ser alcançado por vias externas. Os laços sociais substituem a experiência da leitura que usualmente vai dos jornais e revistas para os livros. O que impressiona não é apenas o fato do homem não ler. É o fato dele estar seguro de que é mesmo possível saber das coisas por tabela e em segunda mão, por meio de olhos alheios. Sem a visão direta, interiorizada, individualizada e subjetiva dos fatos e problemas, porque eles podem ser assimilados por meio dos outros. E que ele não leva a sério a imprensa livre e contraditória que, como ele mesmo admite, foi decisiva na sua eleição.


A leitura vai muito além da informação. Ela mostra que os fatos são sempre inventados, relativos e determinados por perspectivas. Um mesmo ‘fato’ pode produzir pontos de vista diversos, relativos a um mesmo dilema ou questão. Num mundo permeado por contradições, a leitura é um instrumento privilegiado para entendê-las e eventualmente superá-las.


Em estado de choque, penso na lição daquele Machado de Assis que – diga-se logo – não pode deixar de ser lido, quando ensinou que quem conta um conto aumenta (e necessariamente subtrai) um ponto. As versões pessoais, a apreensão marcante, sempre surgem da leitura em primeira mão. Como um sujeito que morreria sem os livros, como uma pessoa cuja profissão é ensinar a ler e que vive de leitores, eu sou obrigado a imaginar que essa entrevista é, no mínimo, um conto; e, no máximo, uma catastrófica notícia.’


 


 


 


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