Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Minha entrevista a Marcel Proust

Tornaram-se famosas as respostas do escritor Marcel Proust, ainda garoto, a um questionário que era moda, na sociedade francesa de então, usar para as pessoas se conhecerem. Tão famosas que a metonímia se fez, as respostas engoliram as perguntas, e o questionário passou a chamar-se Questionnaire de Proust.

E foram algumas dessas perguntas que Marcel Proust, fantasiado de jornalista, fez-me recentemente, num sonho:

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Principal traço de seu caráter?

– Gratidão, sobretudo aos poetas e escritores que me fizeram ver o mundo.

Qualidade que mais admira num homem?

– Saber escrever uma mentira para dizer maior verdade.

Qualidade que deseja encontrar numa mulher?

– Saber escrever um poema sobre almas gêmeas, que gemem.

O que mais aprecia em seus amigos?

– A paixão com que lêem e o carinho com que guardam livros.

Seu principal defeito?

– Trocar uma partida de futebol pela leitura de um livro.

Ocupação preferida?

– Ler, pensar e escrever.

Sonho de felicidade?

– Passar dias inteiros mergulhado em livros e poder conversar sobre livros com outras pessoas.

Qual seria sua maior infelicidade?

– A cegueira.

O que desejaria ser?

– Bibliotecário de uma biblioteca com todos os livros do mundo e completamente desconhecida.

Em que país gostaria de viver?

– No Brasil, se o Brasil fosse um país com mais livrarias do que farmácias, mais bibliotecas do que bingos, mais sebos do que casas lotéricas.

A cor de sua preferência?

A das capas dos livros.

A flor de que mais gosta?

Flor de poemas, uma antologia de Cecília Meireles.

O pássaro de que mais gosta?

O pássaro de cinco asas, de Dalton Trevisan.

Heróis na vida real?

– Todos aqueles que conseguem, não obstante mil e uma dificuldades, dedicarem tempo, dinheiro e inteligência à leitura.

O que detesta?

– O desprezo à leitura.

A reforma que considera necessária?

– Mais do que a reforma tributária, a universitária ou a trabalhista, desejo a reforma cultural, que daria a todos condições para criticarem melhor as propostas das reformas tributária, universitária, trabalhista etc.

O dom da natureza que gostaria de possuir?

– O dom de dormir pouco para ler mais.

Como gostaria de morrer?

– Afogado em letras.

Qual é o seu atual estado de espírito?

– Encantado com leituras sobre a formação ética e estética do professor.

Erros que mais lhe inspiram indulgência?

– Os erros de ortografia que pessoas com pouca leitura cometem.

Seu lema pessoal?

– Quem lê ganha tempo.

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Doutor em Educação pela USP e escritor