Com a internet como arma, o blogueiro Ahmed al-Omran tenta ser ouvido na Arábia Saudita. Ele é exceção. Na conservadora monarquia do Golfo Árabe, onde não há Parlamento eleito, clérigos têm uma forte influência na opinião pública, jornais reproduzem o discurso oficial e manifestações públicas são proibidas, os blogs constituem uma rara plataforma de expressão política. ‘Quero fazer isto porque quero ser parte da mudança que está acontecendo no país’, diz al-Omran, autor do blog Saudi Jeans.
Desde que assumiu o poder, em 2005, o rei Abdullah já ensaiou algumas reformas tímidas. Recentemente, a Arábia Saudita permitiu que a mídia internacional amplie sua presença no reino. O novo ministro da Informação já tem até página na rede social Facebook. Analistas e diplomatas, no entanto, dizem que os conservadores continuam ariscos a mudanças. ‘Pela primeira vez, nós, como indivíduos em nossa sociedade, temos poder nas nossas mãos para pedir por reformas’, diz o blogueiro Fuad al-Farhan, em um raro encontro de blogueiros em Jeddah, cidade mais liberal do reino.
Al-Farhan não atualiza seu blog desde que foi preso, por cinco meses, em 2007, após protestar contra a detenção de outros blogueiros. Segundo pesquisadores sauditas, ainda que haja mais de 10 mil blogs no país, muitos estão inativos ou evitam falar de política desde a prisão de al-Farhan. Uma grande quantidade de blogs também não cita o Islã, tema delicado, focando mais na vida diária. ‘O incidente de al-Farhan mostrou que há linhas que não podem ser cruzadas’, afirma o blogueiro Khaled al-Nasser.
Censura
Abdulrahman al-Hazza, porta-voz do Ministério da Informação, alega que os blogs não são, em geral, monitorados. Ainda assim, blogueiros temem uma lei aprovada no começo do ano sob a qual qualquer pessoa que ‘perturbe a ordem ou os valores religiosos’ pode ser processada. ‘Qualquer um pode me acusar disto. Meu único medo é que o governo use esta lei contra as pessoas que querem se expressar livremente online. Ela pode ser usada como uma tática para intimidar os blogueiros’, diz Omran.
A organização Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede nos EUA, listou a Arábia Saudita, em abril, como um dos piores países para os blogueiros, citando detenções, monitoramento e bloqueio de 400 mil sítios. O blogueiro Abdullah Al-Alami acredita que tudo vai melhorar ao longo do tempo. ‘Quando o rei Abdullah instituiu a reforma, em fevereiro, começou uma revolução social contra o pensamento da idade antiga’, resume. Informações de Asma Alsharif [Reuters, 9/7/09].