Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mídia evita confronto com Sociedade Islâmica de Boston

A saída de Walid Fitaihi do conselho de administração da Sociedade Islâmica de Boston (ISB, sigla em inglês) deveria ter sido amplamente divulgada na mídia local, pois ele esteve envolvido na polêmica abertura de uma mesquita, opina Adam Reilly [The Phoenix, 19/9/07]. A polêmica surgiu logo depois da preparação do terreno em 2002 para a construção do centro islâmico da ISB no valor de US$ 22 milhões. Na época, a mídia começou a questionar por que a ISB pagou à cidade de Boston menos da metade do valor avaliado do terreno adquirido, por que um funcionário de Boston que também é membro conselho da ISB levantou fundos com dinheiro do contribuinte para o centro enquanto viajava ao Oriente Médio, e quais eram as relações da ISB com o extremismo islâmico.

Em 2003, o Boston Herald publicou uma série de matérias que acusavam a ISB de ter ligações com islâmicos extremistas, incluindo a reprodução de um artigo que Fitaihi havia escrito para o jornal al-Hayat, logo após o 11/9. De acordo com a tradução do Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio, instituição pró-Israel, Fitaihi atacava o ‘lobby sionista’ nos EUA. A ISB rebateu, alegando que a tradução foi imprecisa. Então, o Herald optou por pagar uma tradução para o texto, que veio a corroborar à do instituto. O caso ficou então na geladeira.

Um ano depois, em outubro de 2004, o Globe divulgou que a maior sinagoga de Boston e a organização judaica Liga Antidifamação, grupo de combate ao antisemitismo, estavam pressionando a ISB a explicar o artigo de Fitaihi por mais de um ano e que estavam desapontados com as respostas recebidas. No mesmo dia da publicação da matéria no Globe, a ISB emitiu uma declaração defendendo a posição de Fitaihi e acusando a mídia de Boston de difamar a ISB.

Mídia na justiça

A partir daí, a ISB abriu uma série de processos na justiça. Em fevereiro de 2005, Yousef Abou-Allaban, presidente do conselho de diretores da ISB, processou a emissora WFXT por difamação. Três meses depois, Osama Kandil, presidente do conselho de administração da ISB, abriu um novo processo contra a WFXT – incluindo o Herald. Em outubro de 2005, uma nova ação judicial foi aberta, incluindo então dois grupos locais críticos do ISB, alegando que a organização era vítima de um tipo de conspiração anti-islâmica. Em maio deste ano, a terceira ação foi retirada, dois meses depois de Fitaihi ter deixado o conselho.

O fato da saída de Fitaihi não ter sido divulgado pela grande mídia pode representar uma autocensura. ‘A imprensa de Boston chegou à conclusão de que cobrir a ISB é muito arriscado?’, questiona Reilly. Para o editor do Herald, Kevin Convey, não que seja arriscado, mas, como eles estão envolvidos em um processo judicial, eles tendem a ser ainda mais cautelosos.