Não é de hoje que a opinião pública vem sendo alvo de análise e polêmica,
especialmente no que diz respeito à política.
Depois do ‘estou me lixando para a opinião pública’ do deputado Sérgio Moraes
(PTB-RS), temos agora as declarações do presidente do Conselho de Ética do
Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ).
Paulo Duque diz não estar preocupado com a repercussão de seu trabalho no
comando da comissão que deve julgar três denúncias contra o presidente da Casa,
José Sarney. Também não teme as cobranças da população caso o conselho opte pelo
arquivamento do processo.
Duque afirma:
‘Não estou preocupado com isso. A opinião pública é muito volúvel. Ela
flutua. […] Não temo ser cobrado por nada. Quem faz a opinião pública são os
jornais, tanto que eles estão acabando.’
Ironia? Um pouco. Mas quantas verdades podem ser escondidas em apenas uma
frase irônica? Muitas.
Às vezes, a suposta diplomacia é mais chocante que uma verdade
escrachada.
Com certeza a opinião pública é incrivelmente volúvel. Ela realmente flutua,
seguindo a onda. O próximo acontecimento, o mais novo escândalo, o último crime
bárbaro… para depois serem esquecidos. Sempre o último, o novíssimo, o
factual. Como se fosse a última moda. E, quem faz a última moda?
Merecemos o deboche
Os jornais, os jornalistas. A raça que está em extinção, seja pelo embalo das
novas tecnologias ou pelo fim de uma exigência mínima, como já fizeram questão
de lembrar. Dizemos o que pretensamente deve merecer mais atenção. Divulgamos
tanto alguns acontecimentos, com tanta intensidade, que parecemos
um spammer, bombardeando mensagens de forma quase indiscriminada.
Incomodamos, criamos caso, fazemos pessoas refletirem nem sempre pelo que é
importante. Tentamos mostrar caminhos, desenterramos, contamos e recontamos
histórias, revelamos verdades e versões nem sempre ouvidas. Erramos, acertamos,
influenciamos. Fazemos tudo isso, sem dúvidas.
Tentamos lidar com uma população ávida por comida, diversão, arte e
escândalos. Tentamos oferecer um pouco de consciência e reflexão, mas nem sempre
conseguimos. Ouvimos muitos desaforos, ficamos conhecidos como manipuladores e
agora levamos carteirada de outros profissionais por conta da não
obrigatoriedade do diploma.
Sabe o que é mais estranho? É que com tudo isso eles sempre vencem as
guerras, e trazem um sorriso de deboche. Talvez pela opinião pública falida, ou
pela sociedade ingênua. Talvez debochando de nós todos. O prejuízo é só nosso. E
ninguém se importa, pensando apenas no próximo capítulo da novela, ou
no reality show a que todo mundo assiste.
Talvez não seja apenas um dito popular a frase: cada sociedade tem o governo
que merece. Merecemos o deboche público daqueles que foram eleitos para
trabalhar por nós. E o pior é que nem com escárnio somos capazes de acordar.
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Jornalista, criadora do blog Limão em Limonada, São José do Barreiro, SP