A despeito das quatro representações interpostas contra José Sarney no Conselho de Ética do Senado, ainda não se pode apostar que ele venha a ser punido.
Na verdade, toda a máquina controlada por Sarney se movimenta para não sair do lugar: o presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque, está de férias no Rio e já avisou que não vai fazer uma convocação extraordinária para examinar as acusações.
Além de não ser propriamente um entusiasta da ética, Paulo Duque é amigo e aliado de Sarney.
No pacote que mistura denúncias pesadas com declarações e meras especulações, vai ficando por baixo do tapete um aspecto do atual escândalo no Senado que, aliás, compõe o pano de fundo de todas as controvérsias sobre a falta de moralidade nos negócios públicos.
Esse detalhe está presente em todas as controversas recomendações do presidente da República sobre o efeito das sucessivas denúncias que se amontoam sobre José Sarney: é preciso cuidado para manter as ações efetivas dentro do arcabouço legal.
Com todos os mal entendidos que as manifestações do presidente Lula podem produzir, esse é um tema que deve estar presente nas escolhas de edição.
A se considerar o noticiário dos últimos dois meses, os indícios que se acumulam sobre Sarney são mais do que suficientes para mobilizar o Senado, ou o que resta de decência no Senado, para afastá-lo da presidência da Casa e amputar seu mandato.
Mas a política não anda necessariamente sobre o trilho daquilo que parece certo ou errado.
A imprensa age como se as relações de poder fossem apoiadas em um código moral. E esse código muda conforme os personagens acusados.
Na verdade, as instituições políticas são fundamentadas na lei, que não tem necessariamente a ver com moral.
Observe-se também que a maioria dos articulistas e comentadores da imprensa que supostamente se dedicam ao tema da ética, ou que se fazem apresentar como especialistas em ética, são apenas a versão contemporânea dos antigos professores de educação moral e cívica.
A questão é polêmica, mas precisa estar presente na imprensa, para que o leitor saiba fazer seu próprio julgamento.