A aprovação da proposta do MEC de reforma do currículo do ensino médio pelo Conselho Nacional de Educação, no dia 30 de junho, foi o destaque da cobertura dos jornais impressos e revistas no período de 1º a 15 de julho. O programa foi batizado de Ensino Médio Inovador pelo Ministério (saiba mais detalhes da proposta aqui).
Tratado por alguns como ‘revolucionário’, o projeto foi questionado por outros pelo seu alcance limitado, já que se trata de uma iniciativa experimental com, inicialmente, apenas cem das 24.200 escolas do país.
A inserção precária dos jovens no ensino médio e a necessidade de tornar a última etapa do ensino básico atraente, especialmente para os mais pobres, foram abordagens consensuais.
O Globo (RJ), O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Povo (CE), Diário de Pernambuco e A Gazeta (ES) foram alguns dos jornais que trataram do tema nos dias seguintes à aprovação.
Gênero e raça
O Globo (1/7) destaca acertadamente dados do IBGE que mostram que, na faixa dos 15 aos 17 anos, apenas 82,1% estudavam em 2007. ‘O pior é que somente 48% deles frequentavam o ensino médio’, completa o diário.
Mas o jornal poderia ter ido além dessa constatação e feito ainda outro recorte: de acordo com o PNAD 2006, considerada essa mesma faixa etária, entre os 20% mais pobres apenas 24,9% estavam matriculados, enquanto entre os 20% mais ricos 76,3% frequentavam o ensino médio. São ainda mais gritantes recortes étnico-raciais ou por região (veja mais na publicação Em Questão 6 sobre o tema, disponível abaixo).
É da Folha de S.Paulo, no entanto, o tom mais crítico ao programa. Mais do que ‘experimentalismos curriculares’, afirma em um editorial publicado na edição de 2 de julho, é necessário enfrentar um dos ‘problemas mais graves da educação de jovens no Brasil: a desorientação de professores e diretores para ministrar o conteúdo mais básico aos alunos’. O jornal é o único a lembrar que, sem a formação dos professores e a valorização de sua carreira, tais medidas serão inócuas.
Mas é preciso tomar cuidado com o discurso de responsabilização dos professores pela precariedade do ensino. Um artigo publicado no jornal Brasil de Fato (14/7) aprofunda a discussão e analisa a categoria pela dimensão do gênero e raça. Constata-se que, não por acaso, ela é constituída majoritariamente por mulheres e, crescentemente, negra.
O debate nos estados
O Diário de Pernambuco (2/7) ouviu um representante do Conselho Estadual de Educação para repercutir a notícia. Também foram procurados alunos e um professor da rede pública que se mostrou cauteloso quanto à proposta de aumento de 25% na carga horária: ‘Tenho receio de ser explorado’, disse o docente à reportagem do Diário. Seria mais interessante, aqui, instigar o professor a falar sobre os impactos da proposta e dar mais espaço para a opinião dos docentes sobre as mudanças – tal como foi feito com os alunos na mesma reportagem.
O debate deve voltar à pauta no início de agosto, quando o MEC apresentará um plano mais detalhado aos estados. Depois, será dado um prazo de 60 dias para adesão das escolas, que devem receber verbas para o convênio.
Agora, cabe aos jornalistas acompanharem a implementação do programa em seus estados. Como as secretarias receberam a proposta? Já que os projetos devem partir das escolas, como professores e diretores vão se organizar para apresentá-los? As escolas receberam as informações do edital do Ministério?
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Da equipe do Observatório da Educação