TV PÚBLICA
TV Pública, um olhar dos brasileiros?
‘‘Quem é dono da flauta dá o tom.’ A TV Pública começa a nascer sob um tom menor, pois o Poder Executivo, o dono da flauta, dá todas as pistas de que a emissora, planejada para ser a voz plural da brasilidade, terá um forte viés estatal. Não se justifica a adoção de uma medida provisória para implantar a rede TV Brasil. Onde estão os critérios de relevância e urgência inerentes a esse instrumento excepcional? O presidente da República indicará os membros do Conselho Curador da nova cadeia, com suporte na estrutura da Radiobrás, que tem selo chapa-branca e possui o maior complexo de transmissores e antenas de radiodifusão em ondas médias e curtas da América Latina. Os executivos que definirão a melodia também são escolhidos pelo ministro da Comunicação Social. Sob esta concepção de organização e mando, forja-se o aparato para vitaminar a comunicação governamental, mesmo que se perceba o esforço dos gestores do sistema em dizer que o Poder Executivo não influenciará a programação. Um ente gerado com o sangue do doador tende a replicar seu DNA.
Em se tratando do atual governo, há razões para acreditar que a marca do lulismo permeará a condução da TV Pública, indicando pautas, induzindo atitudes, marcando posições. Remanesce a lembrança de sua recente tentativa de impor amarras aos sistemas de comunicação e cultura. Ademais, o presidente, escudado na aura do carisma e na confiança que ainda desperta, principalmente na base da pirâmide social, não parece inclinado a flexibilizar posições e a ponderar sobre escolhas e rumos. Ao dizer que o novo órgão pretende manter os diversos ‘sotaques’ do País e reforçar o debate, Lula olha mais para si do que para outros, porque sabe que, na Babel nacional, o ‘sotaque’ que reverbera é o dele.
Na História da humanidade são raros os casos de governantes que construíram impérios sem amparo na força da comunicação. Da antiguidade ao século 15, os mandatários usavam o gogó e os gestos. Na passagem do Estado-cidade para o Estado-nação, a expressão ganhou mais fôlego, saindo da galáxia de Gutenberg – livro e imprensa – para a de Marconi, a era do rádio. Foi este canal de comunicação, primeira experiência da implosão eletrônica, que garantiu a Hitler estreito contato com as massas. A personalização do poder avançou nas ondas do rádio. Na seqüência, chegou a vez da televisão, que funciona, hoje, como palco central da telepolítica. Aí, os atores se esmeram na maximização da performance. Kennedy costumava dizer que a TV era a sua melhor arma, pois ‘o eleitor reage à imagem, e não ao homem’. Voltemos aos nossos tumultuados trópicos. Lula atira com todas as armas, mas o gogó é a principal. Freqüenta a galáxia de Marconi nas segundas-feiras, ao dar recado às margens sociais, abusando da ‘telecracia’ ao perorar para platéias sob os holofotes da televisão. Aliás, a TV comercial é que promove os maiores comícios eletrônicos do País. São 21 emissoras abertas, convocadas para fazer chegar a 1.561 retransmissores, 2.911 municípios e 40 milhões de lares que contam com aparelhos de TV os gargarejos das nossas autoridades. Este ano, 12 integrantes do primeiro escalão governamental usaram a telinha comercial para a cerimônia de autoglorificação. Vale lembrar que a administração federal já dispõe da Rede Governo, exclusiva para enaltecer seus feitos.
A nova proposta televisiva cairá como uma luva na forma lulista de governar. Sob o conceito de que será o ‘olhar dos brasileiros’, expresso pelo futuro presidente do Conselho Curador, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, defenderá um ideário plural: valores éticos e sociais da família, regionalização da produção cultural, artística e jornalística e estímulo à produção independente. Estará imune às pressões do Executivo? Não. Os gestores nomeados pelo governo terão coragem de criticá-lo? O mais destacado exemplo mundial de TV pública, a BBC não escapa das pressões do governo inglês. Mas resiste com bravura. Lá, quem dá o tom são os contribuintes, que garantem à rede uma receita anual de 2,5 bilhões de libras, equivalentes a R$ 12 bilhões. A fragilidade do modelo brasileiro de TV Pública começa na origem dos recursos. Os ‘donos do poder’ se acham no direito de, ao conceder as verbas, declinar os verbos. A programação focada na promoção da cidadania passará pelos palácios, razão pela qual a independência e a autonomia só serão viáveis sob ordenamento jurídico adequado, participação efetiva da sociedade no processo decisório, definição de custeio e conteúdo.
É utopia imaginar que a TV Pública brasileira estará imune às pressões do governo. Não por acaso, dedica-se intenso esforço para estatizar meios e recursos voltados para a meta de desenvolvimento de um projeto de poder de longa duração. Essa modelagem se assenta em alguns eixos, a saber: consolidação da estabilidade econômica, reforço à política social-distributivista de renda, ampliação do tamanho do Estado, partidarização da administração e fortalecimento dos movimentos sociais. A comunicação pública é o fecho do circuito. Ainda mais quando se tem no comando do País um comunicador por excelência. Lula já se comparou a Getúlio e Juscelino. No quesito comunicação, porém, seu modelo está mais para Napoleão, que adorava ver-se como Narciso. Bonaparte recorria à imprensa para embelezar o perfil. Lula parece sonhar com a mesma idéia.
Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político’
PASSEATA DOS 100 MIL
Fotógrafo redescobre personagens de 1968
‘Todas as vezes em que a foto foi exibida, seja em exposição, seja em livro, aparecia alguém para dizer ‘olha eu ali’. De tanto ouvir a declaração, o fotógrafo Evandro Teixeira,71 anos de vida e 49 de profissão, decidiu localizar pelo menos 68 pessoas no meio da multidão de anônimos que se aglomerou na Cinelândia no dia 26 de junho de 1968 na famosa Passeata dos Cem Mil, marco da luta contra a ditadura militar. A foto foi feita por Evandro do alto da escadaria da Câmara Municipal do Rio. Estava bem ao lado do então líder estudantil Vladimir Palmeira, que discursava empolgado. Na foto, que prodigiosamente mostra um mar de rostos jovens perfeitamente definidos, aparece a faixa ‘Abaixo a ditadura. Povo no poder’.
Em dois anos de pesquisa, Evandro localizou mais de 100 pessoas através de um site (www.evandroteixeira.net/68destinos/home.htm) criado por ele. ‘Cada um que se reconhecia na foto, identificava pelo menos outros quatro’, conta. Todos estão sendo fotografados, em preto-e-branco, por Evandro para o livro 68 Destinos, que será lançado em fevereiro de 2008, ano em que a passeata completa 40 anos. Evandro quer montar o retrato daquela geração e o que aconteceu com estes personagens quatro décadas depois. Nas sessões de foto na Cinelândia, ele tem se surpreendido. ‘As pessoas se emocionam quando começam a lembrar aquele dia. A maioria lembra como uma época marcante da vida.’
A geração 68 se orgulha daquela tarde de quarta-feira. Estava frio, o sol fraco. Graças a um acordo com o governo, não houve repressão policial. ‘Foi a melhor época da minha vida’, diz Sônia Abreu, arquiteta, 58 anos. Sônia era presidente do diretório da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio. Ela e centenas de estudantes saíram da Ilha do Fundão, zona norte do Rio, divididos em grupos de dez, para o centro. ‘Estávamos preparados para correr da polícia, mas a passeata foi tranqüila.’
Quando reviu a foto esta semana, Sônia identificou vários companheiros de manifestação, como Maria Augusta Carneiro Ribeiro, presa em 1969 e libertada quatro meses depois, no seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick. Hoje é ouvidora-geral da Petrobrás. ‘Quase 40 anos depois, sinto um carinho enorme por aquilo tudo’, diz Maria Augusta. Principalmente porque acha que mantém o mesmo espírito. ‘Morreria de vergonha se depois de velha eu tivesse me desvirtuado daquela menina que eu fui aos 21 anos.’
Ao contrário de Maria Augusta e outros amigos, Sônia Abreu não se lançou na luta armada. ‘Não tive coragem, embora eu tivesse convicção de que era o melhor caminho.’ Desde aquela época, Sônia já tinha uma certa resistência à figura de José Dirceu, então líder estudantil. ‘Ele fazia muitos conchavos’, critica. Para Sônia, Dirceu continua o mesmo, mas os estudantes mudaram. ‘Agora os jovens são muito parados. Talvez em 68 a gente tivesse um inimigo claro a combater. Hoje é tudo mais nebuloso.’
Em 1968, o sonho era mudar o mundo e derrubar a ditadura. ‘Saímos daquela passeata com a certeza da vitória, achando que a ditadura iria recuar’, lembra Ernandes Fernandes. ‘Mas estávamos enganados. Meses depois veio o AI-5.’ Ernandes e a mulher, Elayne, não se conheciam em 1968. Na foto, estão a poucos metros um do outro. Eles só se encontraram dois anos depois, namoraram e casaram. Os dois assinam o projeto gráfico do livro de Evandro. Ernandes já se debruçou sobre a foto várias vezes. ‘O mundo naquela época era preto-e-branco. Ou a gente era de esquerda ou de direita. Naquela passeata, os rostos mostram o clima de confiança de todo mundo.’
Quem viveu aquela quarta-feira não esquece. ‘Foi o meu primeiro momento de expressão de cidadania’, acredita Roberto Guimarães, economista que trabalhou por 25 anos na ONU. ‘Parte do que se transformou a minha vida tem a ver com aquele garoto que eu era em 1968.’
A foto de Evandro – que virou tese de mestrado em Comunicação e Semiótica de Armando Favaro, editor-assistente de Fotografia do Estado, na PUC-SP – não flagrou nenhum dos rostos famosos da passeata. Estavam lá Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Odete Lara. Mas no meio da multidão estão anônimos que anos depois ganharam certa notoriedade: o cantor Danilo Caymmi, o antropólogo Gilberto Velho, a editora Heloísa Buarque de Holanda, o ex-deputado Moreira Franco.
Evandro, que estava lá a serviço do Jornal do Brasil, ficou a passeata inteira grudado em Vladimir Palmeira. ‘Só saí de lá quando ele entrou num Fusca azul e foi embora’, lembra. Ao contrário da maioria, Vladimir saiu da passeata com a certeza de que a ditadura iria endurecer. ‘Sabíamos que mais dia menos dia viria outro golpe.’
Em um dos textos de 68 Destinos,o jornalista Marcos Sá Corrêa, colunista do Estado, percebe a falta de trabalhadores na foto. ‘É um retrato incrível do Brasil na época, porque tem uma faixa que atravessa a foto dizendo: ‘Povo no poder’. Você olha e vê uma estudantada branca de óculos, quer dizer, o povo não estava ali naquela praça.’
Evandro ainda sonha em localizar nos próximos meses o único negro que aparece na foto. ‘Dizem que ele mora em São Paulo.’’
SP SEM PRIVACIDADE
Chips nos veículos
‘São Paulo vai começar a identificar os veículos aqui licenciados com chip, a partir de maio. A etiqueta eletrônica será instalada no pára-brisa do carro e reunirá dados como o nome do proprietário, os números do chassi e das placas e o código Renavam. Nas ruas, haverá 2,5 mil antenas receptoras que capturarão os dados dos chips por ondas de radiofreqüência e os transmitirão para uma central pela tecnologia celular. O cruzamento desses dados com aqueles constantes nos bancos de dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e órgãos de segurança pública permitirá, por exemplo, verificar em tempo real se o carro é roubado, se sua documentação está irregular ou se há multas, impostos e taxas em atraso. Com essas informações, policiais localizados nas proximidades do ponto onde o veículo foi identificado poderão interceptá-lo. Cerca de 30% (ou 1,7 milhão de veículos) da frota de São Paulo está em situação irregular.
Na terça-feira, o governador José Serra, o prefeito Gilberto Kassab e o ministro das Cidades, Márcio Fortes, assinaram convênio para a instalação, na capital, do Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos (Siniav). Durante anos, a instalação dos chips de identificação foi tema de debates no País. Em 2002, o ex-ministro das Cidades Olívio Dutra tentou levar a idéia adiante, mas somente em 2006, após a onda de violência promovida pelo PCC na capital, o prefeito Gilberto Kassab conseguiu, junto com o atual ministro, convencer o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) da necessidade da instalação do sistema.
Em novembro, o Contran aprovou resolução criando o Siniav e dando prazo de 18 meses para os Estados iniciarem a implantação do sistema – um processo que deverá ser concluído em 42 meses.
Quando o Siniav estiver funcionando, os veículos que não tiverem as etiquetas eletrônicas de identificação serão identificados pelas antenas – também equipadas com detector automático de placas. Seus proprietários estarão sujeitos às sanções previstas no artigo 237 do Código de Trânsito, que estabelece multa de R$ 127,69, perda de 5 pontos no prontuário do motorista e retenção do veículo para regularização.
Gilberto Kassab prevê para abril a conclusão do processo de licitação que selecionará a empresa responsável pela instalação do sistema, o que será feito por meio de Parceria Público-Privada (PPP). Estima-se um custo de implantação de R$ 400 milhões, importância próxima da receita anual do Município com as multas de trânsito. Segundo o prefeito, os proprietários não terão gasto com a instalação do chip, mas estarão obrigados a levar seus veículos, na data do licenciamento, aos postos autorizados que, sob a supervisão do Detran, instalarão o chip.
O chip tornará mais eficientes as ações de combate a furto e roubo de veículos e cargas e a seqüestros relâmpagos. Quando um carro declarado roubado passa por uma das antenas, imediatamente a central o identifica, assim como sua localização, permitindo ação mais eficaz dos policiais que estiverem na região. O sistema facilitará também a realização das chamadas blitze seletivas, permitindo que os policiais examinem apenas os veículos irregulares que passarem por um determinado conjunto de antenas. Rotas de fugas usadas por assaltantes também poderão ser identificadas a partir do acompanhamento dos veículos suspeitos.
O monitoramento online do fluxo de veículos permitirá à CET reunir informações sobre a necessidade de melhorias no trânsito em São Paulo. O cumprimento de determinadas regras, como horário permitido para carga e descarga na cidade, poderá ser mais facilmente fiscalizado. O tempo gasto pelos veículos para percorrer um trecho, entre uma antena e outra, também poderá ser indicativo em tempo real de problemas naquele trecho e os agentes da CET poderão agir mais rapidamente.
Há, no entanto, quem receie que os bancos de dados constituídos com as informações coletadas pelos chips acabem sendo usados para violar o direito à privacidade dos motoristas. Caberá às autoridades que administrarão o sistema zelar para que isso não aconteça.’
INTERNET
Medo afasta correntista da internet
‘A parcela de correntistas que usa o internet banking para fazer transferências de dinheiro, pagar contas ou consultar o saldo recuou 3 pontos porcentuais em 2006 ante 2005, segundo levantamento feito pelo Instituto Fractal, especialista em pesquisas de mercado. Em 2005, 39,4% dos correntistas usavam a internet para essas operações bancárias; em 2006, a participação, segundo a pesquisa, caiu para 36,3%.
Foram ouvidas pelo instituto, em 12 cidades, pouco mais de 6 mil pessoas com renda acima de R$ 800, nos dois anos. ‘A principal razão apontada pelos desistentes desse canal é o medo, a falta de segurança nessas operações’, diz Celso Grisi, diretor-presidente da Fractal e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Do grupo de pessoas que participou da pesquisa, Grisi separou os correntistas com renda acima de R$ 4 mil para checar sua forma de uso do internet banking. ‘Esses são os usuários mais intensivos de banco pela internet e por isso representam uma amostra significativa’, justifica o pesquisador.
Ele ressalta que, nesse público, a insatisfação com a segurança na internet cresceu mais na faixa etária acima de 31 anos. De acordo com a pesquisa, em 2006 ante 2005, o porcentual de pessoas com idade de 31 a 60 anos que considera as transações bancárias seguras na internet caiu 9,2 pontos porcentuais, de 58,1% para 48,9%. Entre os usuários com mais de 60 anos, a queda foi de 3,9 pontos porcentuais, de 53,9% para 50%.
Já os mais jovens, com idade de 21 a 30 anos, têm opinião diferente: o número dos que consideram a opção segura subiu 21,2 pontos porcentuais, de 36,1% para 57,3%.
Grisi destaca que o medo de usar o internet banking tem crescido, ‘mesmo com os bancos tendo feito grandes investimentos na segurança nesse canal de atendimento e sido eficientes no trato das questões relativas à segurança na rede’.
Em conseqüência, há um retorno desse público para as agências e para as máquinas de auto-atendimento. De acordo com dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o número de transações em terminais de auto-atendimento atingiu 11,901 bilhões em 2006, com crescimento superior a 10% ante 2005.
A Febraban garante que os bancos brasileiros fazem um investimento importante para evitar fraudes. ‘São até R$ 13 bilhões por ano em tecnologia e R$ 1,2 bilhão em combate direto a fraudes eletrônicas’, diz Wilson Salmeron Gutierrez, superintendente das Assessorias Técnicas da Febraban.
‘Mas o usuário também deve ficar atento para evitar ser vítimas de golpes’, diz Gutierrez. ‘É preciso haver uma parceria em que a instituição adote procedimentos técnicos que dêem segurança ao usuário e o usuário faça o uso observando normas que reduzem riscos’, diz Gutierrez. Grisi concorda que, muitas vezes, problemas com fraude no acesso via internet são provocados pelo próprio cliente, que não toma as precauções necessárias.
De acordo com a Febraban, existem 27,3 milhões de clientes cadastrados em internet banking no Brasil e pessoas físicas fazem 3,278 bilhões de transações por ano. ‘Um cuidado básico é checar se a página acessada tem um cadeado no rodapé inferior ‘, orienta Gutierrez.
DIFICULDADES
O aumento da segurança trouxe complexidade ao acesso ao internet banking. De acordo com a pesquisa, para correntistas com renda superior a R$ 4 mil, as telas dos sites dos bancos e a forma de operação estão complicadas, opinião compartilhada até mesmo pelos jovens.
Grisi explica que os usuários têm dificuldades de acessar a sua conta por causa de pedido de várias senhas, número de chave, uso de token (dispositivo eletrônico de segurança que gera um código a cada acesso), frases e outros elementos que exigem vários cliques e passos até chegar à operação desejada.
A parcela de clientes bancários que considera as telas simples e as operações fáceis caiu mais na faixa acima de 60 anos – queda de 9,7 pontos porcentuais, de 81,4% para 71,7%. A queda foi de 8,9 pontos porcentuais, de 80,7% para 71,8%, na faixa etária de 31 a 60 anos, e de 5,3 pontos, de 76,7% para 71,4%, entre jovens de 21 a 30 anos.’
Ethevaldo Siqueira
O Brasil entra na era das redes da banda larga
‘As redes de banda larga chegaram para ficar, como provou o Futurecom-2007, maior evento de telecomunicações do País, realizado na semana passada em Florianópolis. Nenhum tema despertou tanto interesse quanto esse, entre mais de uma centena de palestras e painéis. Infra-estrutura essencial para a inclusão digital e para a viabilização da internet móvel, as soluções de banda larga empolgam os defensores de diferentes soluções, como as redes Wi-Fi, Wi-Max, terceira geração (3G) do celular e de fibras ópticas. Segundo a opinião dominante dos especialistas, o grande obstáculo ao desenvolvimento dessas redes ainda é regulatório.
Entre os diversos projetos e iniciativas dessa área anunciados e debatidos nos painéis do Futurecom, estão os novos serviços de acesso de alta velocidade à internet e as redes experimentais de Televisão sobre Protocolo IP (IPTV) operadas pelas maiores concessionárias de telefonia, em espaços não bloqueados pela legislação.
Antonio Carlos Valente, presidente do Grupo Telefônica, anunciou investimentos de R$ 500 milhões nessas redes e em IPTV, em curto prazo. ‘Dentro de um ano, 90% dos assinantes da Telefônica no Estado de São Paulo poderão dispor de acesso a 1 megabit/segundo (Mbps). Acreditamos também no potencial e no futuro da IPTV. A Telefônica tem na Espanha 450 mil assinantes que recebem televisão via fibra óptica. No Brasil, ainda estamos em testes. Só não prestamos serviços em maior escala porque existem interpretações divergentes sobre a possibilidade de as concessionárias de telecomunicações entrarem no mercado de TV por assinatura.’
Para transmitir imagens de boa qualidade de IPTV, a rede precisa ter uma velocidade mínima de 2 Mbps. Hoje, apenas 13% da rede de banda larga da Telefônica tem velocidade superior a 1 Mbps. A evolução tecnológica da IPTV tem sido tão rápida que, em breve, as redes de maior velocidade poderão transmitir até imagens de TV de alta definição.
A Brasil Telecom lançou na semana passada o serviço de IPTV em Brasília. Inicialmente, a empresa oferece somente vídeos sob demanda, que o usuário escolhe e assiste quando quiser, mas tem todas as condições tecnológicas para oferecer uma grade de programação completa, desde que tenha sinal verde da Anatel.
Ricardo Knoepfelmacher, presidente da operadora, diz que, diferentemente de outros países, o Brasil não permite que as concessionárias de telecomunicações entrem no segmento de TV por assinatura.
Para ele, quem perde é o consumidor, privado de ter mais opções de acesso e um conteúdo diferenciado: ‘Temos a infra-estrutura pronta para oferecer o serviço de TV por assinatura, por meio da banda larga, onde as empresas de TV por assinatura tradicionais não conseguem chegar’.
A Oi (ex-Telemar) também anunciou seu projeto de IPTV, que está começando no Rio, segundo o presidente da empresa, Luiz Eduardo Falco.
3G POPULAR
A terceira geração do celular (3G) não é serviço para poucos usuários, de alto poder aquisitivo. Pelo contrário, a experiência mundial prova que a oferta de serviços de alta velocidade via celular 3G tende a tornar-se popular em pouco tempo – afirma Marco Aurélio Rodrigues, presidente da Qualcomm do Brasil. Para ele, os custos previstos e a diversidade de recursos oferecidos pela 3G serão atrativos inteiramente acessíveis às camadas de baixa renda, que poderão utilizar a nova geração não apenas como telefone móvel, mas também como computador pessoal, console de jogos, câmera e filmadora digital. A 3G começará a operar no Brasil já com uma velocidade de 3,6 Mbps, evoluindo gradualmente para 42 Mbps, com investimentos relativamente baixos.
Pedro Ripper, presidente da Cisco do Brasil, confirma a chegada até o fim do ano da nova tecnologia denominada Telepresence, uma forma de comunicação multimídia muito mais avançada que a videoconferência tradicional, que incorpora os recursos da TV de alta definição, maior largura de banda. Os interlocutores são postos em duas salas idênticas, com imagens de escala um para um, com uma mesa que os funde e aproxima visualmente, como numa reunião presencial. A Cisco já tem clientes interessados no produto.
Em seu discurso na abertura do Futurecom 2007, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, fez longo relato de projetos que o governo pretende realizar até 2010 e criticou ‘os elevados preços do celular pré-pago’. Mas não disse que 40% desses preços são constituídos de impostos. Questionado por jornalistas, admitiu que o governo pode reduzir as alíquotas de ICMS, que hoje beneficiam apenas os governos estaduais.
Para Ércio Alberto Zilli, presidente da Associação Nacional das Operadoras Celulares (Acel), o ministro está mal informado sobre a situação das operadoras celulares, principalmente em relação ao pré-pago. ‘Somente no Brasil há o CSP (Código de Seleção de Prestadora) e são permitidas ligações a cobrar, e a receita média por usuário (Arpu, na sigla em inglês) é uma das menores do mundo’, rebate o executivo.’
REVISTA CULT
O pensamento de esquerda não morreu
‘No século passado, o fim das ideologias e da História foi proclamado com pompa aos quatro ventos. Conflitos de ordem ideológica sumiriam do mapa. Na contramão dessa promessa, o dossiê de outubro da revista Cult (R$ 9,90, 66 págs.) discute a renovação do pensamento esquerdista e reforça a afirmação do italiano Norberto Bobbio de que a tradicional divisão entre direita e esquerda não caducou.
Duas correntes condenaram o esquerdismo à extinção. A primeira acusa a esquerda de ser autoritária e ingênua. Ela se fortaleceu depois do colapso dos partidos comunistas no Ocidente. A segunda é chamada de ‘viúvas da esquerda’, que desde a queda do muro de Berlim dizem ser impossível a realização do Estado de bem-estar social, substituído por ações do terceiro setor, financiadas por bancos e corporações. Ela concorda cinicamente que a existência do sistema capitalista e da globalização é inevitável.
Nos últimos anos, porém, o pensamento de esquerda criou outra agenda de temas, animada por novas problemáticas sobre o capitalismo contemporâneo. O dossiê privilegiou os pensadores Judith Butler, Chantal Mouffe, Antonio Negri, Slavoj Zizek, Giorgio Agamben, Ernesto Laclau e Alain Badiou. Embora cada qual utilize diferentes conceitos teóricos, que por vezes estabelecem relações de conflito entre si, a aposta é que as discussões sobre política de esquerda promovidas hoje por esses autores sejam retomadas no futuro.
No texto sobre Zizek, o psicanalista Christian Dunker resgata a produção teórica engajada do pensador esloveno nascida da urgência de renovação do marxismo clássico, incapaz de uma boa teoria sobre a subjetividade e reducionista do ponto de vista econômico. Zizek interpreta o marxismo a partir da fusão entre Hegel e os conceitos do psicanalista Jacques Lacan. Um pensador heterodoxo, o esloveno exerceu, em linguagem clara e provocativa, a capacidade de reunir erudito e popular nas análises sobre cultura.
Professor da UFRJ, Giuseppe Cocco escreve o ensaio Uma Filosofia Prática sobre a produção teórica do italiano Antoni Negri, com quem escreveu o livro Global: Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada. Segundo Cocco, o trabalho de Negri se funda numa vivência militante, teoria e prática se misturam – e para apreendê-la é preciso focar os diferentes momentos dessa militância. O período na prisão e o exílio na França são fundamentais para entender o autor, junto com Michael Hardt, dos livros Império, Multidão e Comum.
Em Império, ele aponta a crise do conceito de Estado-nação, substituído pela formação de uma soberania supranacional, uma rede de poder descentralizada e desterritorializada.
Multidão trata do rearranjo das forças produtivas. Se na era industrial havia a exploração a partir da separação entre tempo de trabalho e tempo livre, mais à frente a vida como um todo se submete integralmente ao capital: a exclusão, a precariedade, a informalidade, a fragmentação social se tornam a regra do trabalho. Trata-se do biopoder.
Ainda no mundo do trabalho, Comum ventila a idéia de que a sociedade é uma multidão de singularidades que cooperam entre si, e essa multidão precisa lutar contra o poder de controle exercido sobre essas mesmas singularidades, ‘reduzindo-as a fragmentos que competem entre si’. Para Antonio Negri, a cooperação pode levar à liberação entre produção de riqueza e reprodução de ricos.
Uma utopia? Mas não uma utopia do possível, que muitas vezes não passa da repetição em outras palavras da sentença de Tomasi di Lampedusa: as coisas mudam para permanecer iguais. Sobre a teoria visionária de Negri, Giuseppe Cocco cita o crítico literário francês Pierre Macherey, que escreveu o seguinte: ‘é o da utopia, no sentido de um pensamento que não se satisfaz com o que existe e se projeta, em alta velocidade, em direção à representação de um mundo diferente, de um mundo outro do qual ele prefigura e antecipa a realização.’’
MÍDIA & GLOBALIZAÇÃO
Sérgio Augusto
‘Criticaram o presidente Bush por chamar Myanmar de Burma, a nossa velha conhecida Birmânia, onde há semanas o pau voltou a comer grosso. Em seu blog na revista The Atlantic Monthly, o jornalista James Fallows saiu em defesa do presidente, que, a seu ver, teria demonstrado respeito ao oprimido povo birmanês ao desprezar o nome imposto àquele país por uma junta militar, já lá se vão 18 anos.
Para Fallows, aceitar Mianmar significa curvar-se aos caprichos dos generais que se recusaram a dar posse e mantêm sob vigília a primeira-ministra (e Nobel da Paz de 1991) Aung San Suu Kyi. As corporações que lá mantêm negócios, como a General Motors, a Caterpillar e a UnoCal, continuam se lixando para as atrocidades dos milicos birmaneses e, mais ainda, para a controvérsia semântica em curso desde a semana passada.
Antes de erguer um brinde à sensibilidade e à coragem política de Bush, considere duas coisas: 1) a desimportância econômica de Mianmar (muito arroz, muito ópio, muitíssimo menos petróleo que o Iraque); 2) a dificuldade de Bush para pronunciar corretamente Myanmar (Burma é fácil).
Embora saiba pronunciar o novo nome da Birmânia, e até uma de suas variações: Mranma, também prefiro Burma. Mais por razões afetivas do que políticas. Cresci ouvindo falar em Burma e Birmânia, locação e referência em filmes como Objective Burma (Um Punhado de Bravos, 1945), A Harpa Birmanesa (1956) e A Ponte do Rio Kwai (1957). A ponte sobre o rio Kwai uniria a Birmânia ao Sião. Quando o filme foi rodado, Sião já era Tailândia havia oito anos, mas o país onde foram feitas as filmagens só deixaria de ser Ceilão (para virar Sri Lanka) 15 depois.
No globo terrestre, é grande e permanente a confusão nomenclatória. Só quem tem mais de 77 anos, por exemplo, pegou Constantinopla como a capital da Turquia. Só descobri, garoto ainda, que Istambul outrora se chamara Constantinopla num disco de Caterina Valente, em que também aprendi que Nova York fora, um dia, Nova Amsterdã. Com o surto de independência das colônias africanas e asiáticas, na virada dos anos 50 para os 60, e mesmo antes disso, nossos conhecimentos geográficos tornaram-se ainda mais precários. E os atlas passaram a sair da gráfica já ultrapassados.
Saiu Pérsia, entrou Irã. Onde antes ficava a Abissínia surgiu a Etiópia. Mali era o Sudão Francês. Em 1945, a capital da Indonésia dormiu Batavia e acordou Jacarta. A Indochina virou Vietnã. Ao Congo sucedeu o Zaire, embora Congo seja o nome ‘autêntico’. São Petersburgo voltou a ser São Petersburgo após ter sido Petrogrado e Leningrado. Rodésia e Basutolândia agora são, respectivamente, Zimbábue e Lesoto. Benin foi Daomé até 1975. Quando em suas savanas filmaram Hatari!, Tanzânia (ou Tanzanía, na pronúncia local) chamava-se Tanganica. Fui e voltei de um safári africano, em 1984, sem me dar conta de que, enquanto fotografava a bicharada no Quênia e Tanzânia, o presidente Thomas Sankara rebatizara o Alto Volta de Burkina Fasso.
O jornalista escocês Alex Massie entrou na discussão provocada por James Fallows e sugeriu que nos recusássemos a dizer Mumbai, em vez de Bombay (Bombaim), e Chennai, em vez de Madras. Crente que estava robustecendo seu argumento, perguntou se os povos de língua inglesa, por acaso, dizem Venezia, München e Köln, em vez de Venice, Munich e Cologne. Mais do que uma discussão bizantina, um festival de equívocos.
Primeiro equívoco: Mianmar não foi uma invenção do general Saw Maung e seus golpistas amestrados. Marco Polo já teria usado essa palavra, oito séculos atrás. Como a primeira tribo com que os indianos lá toparam não se chamava Mianmar, e sim Brahma, Brahma vingou e virou Burma (pronuncia-se Bã-ma), com o império britânico lá dando as cartas a partir de 1885. Burma, portanto, não é um nome ‘puro’, mas batismo colonialista – como Bombaim e Madras. Não bastasse, Mianmar é um termo mais inclusivo, pois os birmaneses constituem apenas uma parcela da população, dividida em diversas etnias.
O que fazer? Consultar a população sobre sua preferência, sondagem que a junta militar birmanesa na certa impediria. Ou adotar o que a ONU sancionou.
Dizem que Aung Suu Kyi prefere Burma. O jornal tailandês Bangkok Post continua chamando Mianmar de Burma e Yangon de Rangoon (Rangum). Pois é, até o nome da capital a junta mudou, assim como os de outras localidades: Arakan, Karemi, que há tempos se chamam Rahkine e Khayahn. Ainda bem que mantiveram Mandalay. Num e-mail ao New York Times, o birmanês Maung Lwin defendeu Burma, afirmando que seus conterrâneos ainda dizem ‘Bã-ma’ e receiam ser identificados pelo gentílico ‘myanmese’ – e apelidados de maionese. A ONU aceitou Mianmar.
Segundo equívoco: Mumbai e Chennai não foram impostos por um governo ilegítimo ou uma ditadura sanguinária. São opções nacionalistas, livremente implementadas e com base em identidades milenares e fidelidades lingüísticas, o oposto de Bombaim (corruptela do português ‘Boa Bahia’), Madras, Calcutá (agora Kolkatta) e Bangalore (oficialmente Bengaluru), denominações tão forasteiras quanto Flórida (era assim que os conquistadores espanhóis se referiam à América do Norte no século 16) e Virgínia (a versão britânica da Flórida espanhola). A propósito, Mumbai é uma homenagem a Mambadevi, uma deusa de pedra do século 3º.
Terceiro equívoco: por que não rejeitar todos os nomes de países e cidades estabelecidos por governantes que chegaram ao poder de forma ilegal e violenta? Sim, daria a maior confusão. E se ameaçasse os interesses das grandes corporações globalizadas, babau. Isso não significa que devamos nos bater para que a ONU, a Casa Branca e as nações livres do Ocidente se recusem a chamar Pequim de Beijing, Cantão de Guangzhou, Nanquim de Nanjing, e, em represália ao repressivo governo da China (Zhongguo para os nativos), adotem o nome pelo qual os tibetanos se referem ao monte Everest: Qomolangma (Mãe do Universo). Falando nisso, os nepaleses o chamam de Sagarmatha (Rosto do céu). Também serviria, caso a represália tivesse algum sentido prático.
Quarto equívoco: estão confundindo o que se supõe politicamente correto com meros casos de heteronomias e transliteração. Pequim (ou, à inglesa, Peking) não virou Beijing, nem Mao Tsé-Tung agora é Mao Zedong, por teimosia ou rompante autoritário dos chineses. Beijing, como Zedong, Guangzhou (ex-Cantão) e tantos outros vocábulos com os quais convivemos há mais de um século, não é um rebatismo, mas uma reanglicização mais próxima do foneticismo (ou da pronúncia) mandarim. Como não usa o alfabeto romano, a língua chinesa tornou-se escrava da transliteração. Há mais de um século, o sistema de romanização Wade-Giles dicionarizou Peking, Canton, Nanking, etc. Beijing é fruto do sistema mais moderno de Hanyu Pinyin.
Que ninguém perca o sono por causa dessas bagatelas semânticas. Até porque, no Brasil, a gente não pede ‘Peking duck’, mas pato laqueado.’
MEMÓRIA / CHE GUEVARA
Che, o imaginário do sacrifício
‘Os meses e anos seguintes àquele meio de tarde de 9 de outubro de 1967, quando Ernesto Che Guevara foi executado sumariamente por um tenente do exército boliviano, revelariam alguns dos vários mistérios que estavam contidos muito mais naquela morte do que naquela vida.
Naquele momento, ali na mata, na encosta dos Andes, no emblemático limite que separa a planície da montanha, a América branca da América indígena, e que separa também a América guarani da América quéchua, começaram várias agonias. A começar por seus algozes diretos, a maioria dos quais morreria de forma estranha e inesperada nos anos seguintes, como que executados pela espada de fogo de um vingador invisível.
A rajada de fuzil no corpo do Che rasgou o véu do templo de nossas certezas, do alto até embaixo, libertando os medos e as contradições do nosso imaginário político místico. Um novo testamento se abriu na memória e na história dos povos latino-americanos, no marco de um realismo mágico difuso e persistente. Era o incompreendido novíssimo testamento de uma nova práxis política, de uma comunhão de sangue entre a fé e a política, o misticismo de uma reprimida esperança, messiânica e milenarista.
A morte de Che desdisse muita coisa que ele não queria pessoal e conscientemente desdizer e disse muita coisa que ele não sabia estar dizendo. Che disse aos seus captores que valia mais vivo do que morto. Para o misticismo político latino-americano ele valia mais morto do que vivo. Porque só os mortos do sacrifício humano podem ressuscitar e entrar na eternidade das esperanças milenaristas tão próprias desta América sem rumo. ‘Saio da vida para entrar na história’, escreveu Getúlio Vargas, quando se encontrava no pórtico da morte. São poucos os que tem a coragem moral e cívica de abandonar as conveniências mesquinhas do agora e enfrentar essa passagem tenebrosa, quando ela se impõe, para servir ao povo na imortalidade generosa do sempre: Getúlio, Che, Allende. Eles sabiam que iam morrer porque o que personificavam neste mundo estava morrendo. Pouco importa se deles discordamos ou com eles concordamos. No reino do sempre e da esperança não há fraturas, não é ele um mundo racional e lógico.
O milenarismo latino-americano se expressa no rústico de libertações assim, que abrem a partir do mundo dos mortos a porta imaginária das inversões e as conversões, da busca da esperança nos contrários do que a morte rompeu.
Quando o cadáver de Che Guevara chegou a La Higuera, para a autópsia e a injeção de formol que o preservaria, da pequena multidão fazia parte uma freira, de hábito branco, que aparece nas fotos, que ria o tempo todo, misturada com militares, jornalistas e agentes da CIA, testemunhou o jornalista inglês Richard Gott, enviado pelo Guardian. O riso da freira expressava a satisfação anti-comunista de quem fora educada na religiosidade anacrônica de um mundo dividido entre o bem do capitalismo e o mal do comunismo. Mas aproximou-se do grupo, também, uma camponesa que gritava ‘Assassino!’, eco da propaganda militar na área. Ao ver o rosto do Che, silenciou e disse: ‘Meu Deus! Como ele era bonito!’ Uma das fotos do corpo de Che, feitas na ocasião, foi difundida e interpretada como o retrato de um Jesus Cristo latino-americano. Os católicos progressistas se tornariam os principais apóstolos dessa ressurreição simbólica.
A morte de Che também consumou a ruptura interior da esquerda, isolou simbolicamente os partidos comunistas, esvaziou o seu apelo proletário para dotar o inconformismo social dos pobres de uma mística sacrificial que tem em Che o cordeiro da história. Inverteu o nosso imaginário de esquerda, fazendo da tradição popular e conservadora, comunitária, religiosa e anti-capitalista, o cerne de um novo socialismo, crioulo e popular, tendente ao étnico invertido. Nele, mestiços, índios e negros invertem imaginariamente a pirâmide social iníqua e branca, num projeto social e político de meios tons políticos, meios tons sociais, meios tons religiosos, meios tons econômicos, meios tons raciais.
Na captura e morte de Che começou a sucumbir o marxismo mecanicista de Louis Althusser, viabilizado pela aventura intelectual de classe média de Régis Debray, um dos primeiros prisioneiros dos militares bolivianos. Místicos ambos, criaram e viabilizaram um marxismo tomista e departamentalizado, anti-marxiano, ideologicamente útil às aventuras de classe média que se quer libertadora. A teoria do foco, de Debray, da guerrilha dos desgarrados da elite, que desencadeia a revolução dos pobres, também morreu na quebrada do Yuro.
A guerrilha de Che Guevara não se propunha a realização de uma revolução camponesa, a revolução dos pobres na Bolívia, como se supõe ainda hoje. Era apenas uma extensão geopolítica da Revolução Cubana, na perspectiva por ele proclamada de criar vários Vietnãs e por em xeque o poderio americano. No fim, Che lamentava não ter se aproximado dos camponeses da área da luta. Era tarde. Eles temiam os guerrilheiros. Por medo ou prudência, os delatavam ao exército. Ou fugiam, abandonando as plantações e as casas. Mas a guerrilha não tinha neles a menor confiança, não os via como sujeitos da suposta revolução latino-americana.
Na tarde da véspera de sua prisão e antevéspera de sua morte, uma das últimas linhas do diário de Che é relativa a uma velha camponesa, que tinha uma filha prostrada e outra meio anã, a quem os guerrilheiros deram 50 pesos para que não os denunciasse ao exército, que já os cercara. Escreveu o Che que eram ‘poucas as esperanças de que cumpra (a palavra) apesar de suas promessas’. Na edição eletrônica do diário, o Centro de Estudos Che Guevara, de Cuba, esclarece que ‘a velha das cabras nunca foi delatora, nunca falou com os militares, não denunciou o Che. Chamava-se Epifania Cabrera e já faleceu. Foi-se para a montanha com as filhas, com medo das represálias do exército.’ A revolução sem povo sucumbiu ao silêncio da quebrada do Yuro. Epifania partira.
*José de Souza Martins é professor titular de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP’
TELEVISÃO
Um pedido de socorro ao mar
‘Quem vê o Brasil da cadeira da praia não tem idéia de quanto do nosso litoral foi destruído nos últimos 50 anos. É muito, conclui o jornalista e fotógrafo João Lara Mesquita, que viu a costa brasileira, milha a milha, do Oiapoque ao Chuí, a bordo do seu veleiro Mar Sem Fim. Foi uma viagem em 33 etapas, de abril de 2005 a abril deste ano, feita para se transformar numa série de 90 documentários, exibidos pela TV Cultura.
Longe de esgotar o assunto e com o objetivo de continuar chamando a atenção para a saúde frágil do oceano, o jornalista resolveu publicar seus diários de viagem em O Brasil Visto do Mar Sem Fim, dois volumes ricamente ilustrados com fotos dele mesmo, que serão lançados na terça-feira.
Mesquita conta que montar a tripulação não foi difícil. O ‘fiel escudeiro’ e imediato de bordo, Alonso Góes, estava escalado desde o início. Juntaram-se a ele o cinegrafista Paulo Cezar Cardozo e a jornalista chilena Paulina Chamorro. O grupo também recebeu convidados, que acompanharam partes da viagem, como o biólogo e velejador Fernando Cerdeira, o cinegrafista Rodrigo Cortegiano e a repórter Agis Variani. Também subiram à bordo a pintora Patrícia Magano e a pesquisadora Maria Lúcia Abaurre, além dos filhos do jornalista, durante as férias.
Escalada a tripulação, Mesquita precisava resolver o roteiro da expedição. Escolheu navegar do Norte para o Sul e, pensando nos lugares ermos pelos quais passaria – em especial no início da viagem – pediu apoio à Marinha. Foi prontamente atendido.
A seguir, leia trechos da entrevista que João Lara concedeu ao Estado, em que ele fala sobre preservação ambiental e a necessidade de olharmos com mais atenção para o mar.
O quanto tinha de experiência de navegação antes dessa viagem?
Navego desde o fim dos anos 60, primeiro de barco, depois passei para veleiro. Tenho bastante experiênci a cinco milhas da costa. Por quê?
A idéia era ir o mais próximo da costa, para poder observar a ocupação. Se a costa for bem ocupada, a saúde dos oceanos está bem preservada. Não houve um navegador dos séculos 18 e 19 que não tenha pirado quando chegou aqui. E essa beleza está sendo dilacerada, de maneira acintosamente grosseira. As pessoas não se ligam nisso porque em geral vão para a praia a pé. Mas quando você está no mar e vê aquelas mansões e prédios construídos na areia, se dá conta de quanto foi destruído. A impressão é de que 30 ou 40% da nossa costa já foi destruída.
O que dizer sobre os nossos portos?
O que vimos está todos os dias nos jornais. Mas talvez não esteja o impacto que sofremos. Não fui eu que descobri que temos apenas 45 portos no Brasil, e que eles não têm infra-estrutura para receber navios de grande porte e muito menos para lidar com acidentes. Os portos brasileiros estão numa situação de miséria, como quase toda a infra-estrutura do País, apesar de 95% do comércio exterior depender deles. Como as pessoas não sabem da importância do mar, não há pressão da opinião pública sobre a questão. O governo foi pressionado e até que conseguiu diminuir o desmatamento na Amazônia. No caso do mar, não acontece isso. Cerca de 30% de todos os continentes do mundo são protegidos por reservas, e menos de 0,01% dos oceanos é protegido.
Você foi assaltado, pegou tempestade, encalhou. Qual foi o pior momento da viagem?
Todos esses momentos que você citou tiveram final feliz. Medo sempre tem, mas não acho que houve um pior momento. Tive medo em vários lugares, em cada entrada de rio que a gente ia fazer, por exemplo. Mas não teve nenhum momento mais dramático do que uma viagem desse tipo impõe. É normal que aconteçam coisas assim numa viagem dessas, você só tem de estar pronto para reagir.
(SERVIÇO)O Brasil Visto do Mar sem Fim. De João Lara Mesquita. Editoras Albatroz e Terceiro Nome. 2 volumes de 312 págs. (cada um). R$ 198. Restaurante Dom Pedro. Rua Augusta, 2.805. Lançamento na 3.ª, às 19 horas’
Keila Jimenez
Ringue de notícias
‘O público está assistindo a um embate daqueles. De um lado, o bispo e empresário – é assim que ele agora gosta de ser chamado – Edir Macedo e sua mais nova provocação à Globo: a Record News. Do outro, a líder, que tenta manter o cinturão de seu canal pago de notícias, a Globo News. Por fora, a desafiante Band News, canal também pago que não quer se meter na briga, mas não pretende abrir brecha para a concorrência.
1º ROUND
O primeiro soco quem deu foi Macedo, no discurso de estréia da Record News. Disse que ‘chegara a hora de colocar fim no monopólio que cometeu tantas injustiças’, argumentando a criação do ‘primeiro canal de notícias da TV aberta’ e atacando o grupo dos Marinho. O trunfo: além de estar na TVA e Net (ao menos por enquanto), a Record News também vai ao ar em sinal aberto, via UHF.
A Globo reagiu com um cruzado. Consultou o Ministério das Comunicações se, ao levar ao ar o seu canal de notícias em sinal aberto, a Record não passaria a operar dois canais de TV na mesma praça, o que é proibido por lei. A líder, que não descarta a possibilidade de levar a Globo News ao canal 19 UHF, colocou em suspeita a legalidade do novo canal.
2º ROUND
Ao tomar conhecimento da provocação da Globo em Brasília, a Record News reagiu com editorial no Jornal da Record, agora com acusações nominais às Organizações Globo, a quem também chamou de ‘câncer’. A Globo distribuiu nota. Disse que ‘é de se esperar que um grupo que lucra com a manipulação da fé também tente manipular a opinião pública.’
Tudo isso sem que a Record News tenha conseguido seu Green Card para o line up da Net, a maior operadora de TV paga do País, na qual a Globo ainda é sócia majoritária.
CNN
‘Record News e Globo News estão mais pra TV aberta, com grade de programação e jornalísticos em que se apura, apura, apura, edita a notícia e só depois põe no ar’, alfineta o diretor-geral da Band News, Humberto Candil. Ele assegura que, apesar das comparações, a Band News tem um formato totalmente diferente. ‘Acho que há espaço para mais um canal, mas nosso o concorrente mesmo é a CNN. Nosso formato é como o deles’, acredita Candil.
Vale lembrar que a CNN ameaçou lançar um canal de notícias em português, projeto que não saiu do papel.
‘Temos dois grandes diferenciais em relação à concorrência: somos um canal gratuito e temos noticiários regionais’, defende o diretor de Jornalismo da Record, Douglas Tavolaro, rebatendo pesquisas que mostram que o público dos canais de notícias tem a cara da TV paga: predominantemente classe AB. ‘Que preconceito achar que só gente rica se informa.’ diz.
Apesar das diferenças bradadas, as semelhanças entre as News são muitas. As três reaproveitam reportagens produzidas pela matriz aberta, abusam de reprises e são alimentadas por material de afiliadas descartado pelos noticiários abertos em rede nacional. A audiência só se mostra expressiva diante de tragédias e escândalos como o 11 de Setembro, mensalão e queda de avião. Mas não faltam anunciantes grandes interessados nessa platéia ávida por notícia, como bancos e montadoras.
Globo e Record também reaproveitam o elenco de jornalistas nos dois canais e brigam, ao lado da Band News, pelo título de ‘o canal com notícias 24 horas no ar.’
‘Paramos tudo para dar a notícia. Às vezes exibimos a imagem, mesmo que sem muita informação, e vamos apurando no ar. Não temos a grade engessada como as outras’, fala Candil, da Band. ‘Um jornalismo que ficou 15 horas cobrindo a tragédia no buraco do metrô não pode ter fama de engessado’, rebate Douglas Tavolaro, da Record.’
***
Na poltrona
‘Nascida há poucos dias, a Record News ainda não tem do Ibope um retrato feito sobre o perfil do público que vem sintonizando a nova emissora.
Mas nos números aferidos para Globo News e Band News, não é que se desenham algumas diferenças de perfil de público?
Apesar de ambas terem seu público predominantes das classes A e B – reflexo elementar de um nicho que paga para ver TV – a audiência na Globo News é predominantemente feminina. Já na Band News, os homens são maioria, sem faixa etária fixa.
Drops
O investimento na construção da Record News, segundo a própria, foi de US$ 7 milhões.
A emissora anunciou que pretende faturar cerca de R$ 100 milhões com anunciantes só em seu primeiro ano no ar.
É otimimismo demais. Senão vejamos: em 2001, quando entrou no ar, a BandNews calculava alcançar um faturamento publicitário da ordem de US$ 5 milhões. Chegou lá.
Uma provocação extra da Record sobre a Globo são os profissionais que trocaram um canal por outro, como Brito Jr., Silvestre Serrano, Heloísa Vilela, Celso Freitas e Rodrigo Vianna, que tornou pública sua frustração com a Globo após as últimas eleições.
No ar desde 1996, a GloboNews teve um dos plantões mais longos de sua história durante a cobertura dos ataques terroristas de 11 de setembro.
Bem-sucedida, a experiência da GloboNews também rende revelações para o canal aberto. Renata Vasconcellos, Christiane Pelajo e Luís Ernesto Lacombe, hoje na TV Globo, são apostas nascidas no canal pago.
Espelho, espelho meu…
A GloboNews tem o seu Espaço Aberto, programa de entrevistas comandado por grifes da TV aberta como Edney Silvestre, que fala sobre literatura, Chico Pinheiro, música (o programa agora foi rebatizado como Sarau) e Miriam Leitão, economia.
Na Record News o nome é Record Entrevista. Também traz o primeiro time da aberta entrevistando convidados no horário nobre: Lorena Calábria aborda personalidades da música e Paulo Henrique Amorim enfoca entretenimento.
Por falar em primeiro time, essa é outra, digamos, coincidência entre os dois canais. Na Globo News, jornalistas como Alexandre Garcia, Pedro Bial e Leilane Neubarth comandam atrações sobre assuntos de que gostam e que não têm espaço na Globo.
No canal de notícias da Record, Britto Jr. ganhou um talk show, Celso Freitas fala sobre os bastidores da notícia e Adriana Araújo discute as principais notícias sobre o País. Tudo por apenas mais um ‘adicional’ no salário já pago pela TV aberta.
A Globo News tem o Arquivo N, programa semanal que se vale do grande acervo da emissora e de outras fontes para resgatar fatos, personalidades e imagens marcantes do passado na história do Brasil e do mundo.
O Arquivo Record também promete recontar a história (na foto, a Família Trapo) utilizando o arquivo da casa. Mas esse acervo enfrentou maiores problemas de conservação, devido a incêndios e à crise financeira no fim dos anos 80.’
Keila Jimenez e Renata Gallo
Quem vê tanta notícia?
‘A reportagem do Estado procurou os três canais de notícia nacionais para conhecer os pontos em que um se considera diferente do outro, qual a estrutura de cada um e os critérios de uma programação que se dispõe a informar por 24 horas diárias. A Globo News não respondeu ao pedido de entrevista: limitou-se a responder sobre seu perfil por meio da assessoria de imprensa, via e-mail.
Uma das receitas de sucesso desses canais está no bom aproveitamento que cada um faz da estrutura já disponível nas respectivas redes abertas. Alguns dos números apresentados parecem supergenerosos, mas incluem profissionais e material que se dividem entre o jornalismo do canal aberto e o trabalho na TV segmentada. A seguir, cada um fala por si:
Quantos telejornais o canal exibe?
Record News: São 9 telejornais diários, mais 5 ou 6 compilados diários de notícias, o Hora News.
Globo News: São 22 edições do Em Cima da Hora, 2 do Conta Corrente e um Jornal das Dez.
Band News: O canal exibe 4 noticiários por hora, são 48 minutos de notícia a cada hora.
Quantos programas – excluindo telejornais – há no canal?
Record News: Cerca de 15 rogramas por dia.
Globo News: São 22 programas inéditos por semana.
Band News: Há apenas programetes nos intervalos como o Doc Band, que utiliza os arquivos da Band e colunas eletrônicas opinativas como a de Carlos Heitor Cony e Joelmir Beting. O resto é hard news.
Quais programas são reaproveitados da TV aberta?
Record News: Jornal da Record, Domingo Espetacular, 50 por 1 , Tudo a Ver, Repórter Record, Hoje em Dia, Debate Bola e Selvagem ao Extremo.
Globo News: Bom Dia Brasil, Jornal da Globo, Globo Repórter, Globo Rural, Fantástico, Pequenas Empresas Grandes Negócios e Globo Ecologia.
Band News: Nenhum.
Quais agências internacionais fornecem material para o canal?
Record News: Reuters, CNN, BBC e CBS.
Globo News: CNN, Reuters, APTN, Indicadores Reuters, Texto Reuters, France Press, Agência Globo e Agência Estado.
Band News: CNN, Reuters, News Service, NHK, Al Jazeera.
Quantos funcionários são exclusivos do canal de notícias?
Record News: São 350 funcionários, desses, metade são jornalistas. Se contarmos todo o jornalismo da Record somamos mais 1.200. A Record News recebe ainda material do Brasil inteiro, via afiliadas.
Globo News: São 263 funcionários e 162 jornalistas. Se contarmos os jornalistas da Central Globo de Jornalismo de RJ, SP e Brasília, temos 1.052. A GloboNews recebe material do Brasil inteiro, das emissoras e afiliadas.
Band News: São 80 jornalistas. Contando com os da Band somam-se mais 500. A Band News também conta com o material das afiliadas.
Quantas horas da programação são dedicadas a reprises?
Record News: São aproximadamente 5 horas de reprise diárias, nas madrugadas.
Globo News: Reprisa programas. Não há reprise de noticiário e os telejornais são todos ao vivo, com as notícias atualizadas a cada edição.
Band News: Não informou.’
Roberto Godoy
Clientes insatisfeitos
‘Durante o mês de setembro, as queixas dos leitores deste TV&Lazer, também assinantes dos canais bem pagos enviadas por e-mail, estiveram concentradas na escassa oferta de novidades entre os filmes de longa-metragem, a confusão na exibição desorganizada dos episódios das séries e a falta de maior oferta de documentários, uma tendência de crescente sucesso nos Estados Unidos e na Europa.
Algumas mensagens foram bem específicas, como a de Luisa Beltrame, fã das aventuras da médica legista Crossing Jordan, da Universal. Luisa diz que as chamadas da série insinuam que a produção vai acabar. Estaria no ar a última temporada? Curiosa, ela não consegue nenhuma informação a respeito. Consultou a revista Monet, o site da Net, tentou mensagens eletrônicas e mesmo uma consulta à mesa branca dos mortos-vivos do atendimento – naturalmente foi mal-sucedida.
Outras revelaram certa indignação com as manobras do tipo engana-trouxa aplicadas para disfarçar os irritantes repetecos. É o caso da anunciada apresentação de Hellboy, na HBO, como rara atração abrindo um pacote de produções em outubro. Ora, ora, o filme – bom para quem gosta do genêro – está sendo mantido na programação sob diversas bandeiras, faz muito tempo. A questão dos documentários preocupa mais: a mais nova mania nos EUA, os sete episódios sob o título geral War, que tratam da Segunda Guerra Mundial, não viraram sequer notícia. O gosto das pessoas por esse tipo de trabalho está produzindo o resgate de antigas produções, exibidas na telinha a cabo em dois ou três horários alternativos. Por aqui, vamos de Hellboy.
Viver na Amazônia tem seus encantos. O médico José Carlos Mota registra: ‘a antena da minha casa-barco em Montenegro capta sinais com espetacular qualidade do mundo inteiro – até do Brasil’.’
Etienne Jacintho
Sangue, suor e lágrimas na tela
‘A Corrida Milionária brasileira que estréia sábado, às 19 horas, na Rede TV!, não é tão milionária assim, pelo menos para os participantes. O prêmio oferecido no reality show é de R$ 500 mil. A produção da atração, porém, foi milionária. O valor do prêmio foi gasto apenas em passagens aéreas para os 22 competidores e para os cerca de 170 envolvidos no backstage das filmagens.
Para quem não conhece, A Corrida Milionária é a versão nacional da americana The Amazing Racing, o reality de competição que mais ganhou Emmys até hoje, inclusive este ano. Quem está por trás da produção é a Hispaniola, empresa que tem sua base brasileira em Pernambuco. A Hispaniola comprou horário na RedeTV! para a exibição da atração.
O vice-presidente da Hispaniola, Rony Curvelo, que também será o apresentador da corrida, disse que a equipe já estava preparada para ter prejuízo este ano e que aposta na segunda edição do reality para ter a compensação de seu investimento.
A competição terá 11 duplas participantes, que foram selecionadas entre as 6 mil inscritas no site do programa. ‘Há namorados, casais gays, irmãs’, conta Curvelo. E, claro, muito drama, muito choro. Afinal, esses são os elementos básicos para um reality dar certo. E, na corrida, a superação de dificuldades é o que mais impressiona o público.
SIGILO
As gravações da competição foram realizadas em nove estados brasileiros e a equipe passou ainda por um outro país da América Latina – Curvelo pediu sigilo. Aliás, sigilo é a palavra de ordem para o produtor/apresentador.
Como as gravações do programa começaram no dia 15 de agosto e terminaram em 17 de setembro, o vencedor já está definido. Só que o suspense precisa ser mantido até o 13º e último episódio do reality para segurar o público.
Curvelo conta que todos os participantes e os membros da equipe de produção tiveram de assinar um contrato de sigilo que estipula uma multa de R$ 100 mil para os fofoqueiros.
A gravação dos capítulos finais contou com somente 35 membros da produção, além das três duplas finalistas. Para eles foi proposto um novo termo de sigilo. E, caso o resultado vaze para a imprensa pela boca de algum dos vencedores, o prêmio de R$ 500 mil não será entregue ao final do programa.
‘É importante manter o silêncio porque os dois últimos episódios são bombásticos’, anuncia Curvelo. ‘Há uma surpresa no fim.’ Segundo ele, a produção da segunda temporada começa já neste sábado.’
Keila Jimenez
Eles adoram as comparações
‘Plágio de Heroes, cópia de Smalville, inspiração em X-Men? Sim, e com muito orgulho. Em termos de efeitos especiais, a Record adora ver tais comparações com sua nova novela, Caminhos do Coração. Com uma trama sobre crianças e jovens mutantes, não são poucas as levitações, visões de raio X e corridas na velocidade da luz. Mágica sentida na tela – a audiência sobe quando os heróis entram em ação – e na produção. Computação gráfica de ponta, treinamento com equipes hollywoodianas e quase R$ 200 mil gastos por capítulo.
‘De 3, passou para 25 a turma que cuida dos efeitos especiais na trama’, fala o diretor de Caminhos do Coração, Alexandre Avancini, que conta abaixo alguns dos segredos dos superpoderes da novela.
Cássio Ramos (Vavá, o menino -lobo)
Uma cena com saltos do menino-lobo leva em média dois dias para ser gravada. Içado por cabos de aço presos ao corpo, o ator faz o movimento. A cada salto, o cabeamento é mudado de posição no cenário.
Sincronia
A equipe técnica ajuda as crianças nos saltos. As câmeras entram em ação usando a tecnologia Motion Control , capaz de captar os movimentos e reproduzi-los no computador em diferentes velocidades .
Julia Maggessi (Angela, a menina alada)
‘As cenas de levitação são as mais complicadas, levam dois dias para ficarem prontas’, conta Avancini. O esquema é parecido com o do menino-lobo. Julia é erguida por cabos de aço. As crianças receberam treinamento especial para esse tipo de cena.
Sérgio Malheiros (Áquiles, o superveloz)
A câmera grava o ator correndo em uma esteira, com fundo em croma-key verde. Depois a câmera capta a imagem de uma moto em movimento.
Fundo neutro
As cenas de Angela voando são gravadas em fundo neutro, para depois serem adicionadas às imagens de céu. Assim como no menino-lobo, o Motion Control capta a levitação da menina. Aí é vez de a computação gráfica unir as imagens.
Sem cabos
‘Depois de gravar o ator em movimento, a câmera capta só o cenário de fundo, sem personagens. O computador une as imagens, apagando os cabos e inserindo as asas’, conta Avancini. ‘A sincronia das imagens tem de ser perfeita.’
Acelerador
Aí é vez de a computação gráfica acelerar os movimentos de corrida do ator e unir a imagem dele à da moto, colocando também o fundo.’
******************
Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.