Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Verlaine

‘A ocupação ilegal de parte do Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) e a greve dos trabalhadores da construção civil são temas principais da coluna Política, de Fábio Campos, na última semana. Na quarta-feira (página 34, Política, 30/4), o colunista bate forte: ‘O Governo do Estado do Ceará não cumpre com sua obrigação e permite que os grevistas da construção civil destruam o patrimônio das empresas. Pior, não garante o direito individual dos operários que querem trabalhar’.

Depois de acusar o Palácio Iracema de fechar os olhos para ‘outro imenso absurdo’ – a ocupação ilegal de quatro áreas do Campus do Pici -, o jornalista revela: ‘A Coluna apurou que emana do Palácio Iracema uma ordem informal: nada de Polícia Militar nas ditas ‘lutas sociais’. Esse é o comportamento ilegal e irresponsável que inflama o vandalismo na construção civil. (…) É a omissão do poder público que insufla a absurda invasão da UFC, nosso imensurável patrimônio público’, conclui Campos.

O colunista recebe, através de telefonemas, inúmeras manifestações de apoio: do reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Josualdo Farias (este considera contribuição ‘decisiva’ a posição de Fábio Campos), da ouvidora da UFC, jornalista Ivonete Maia e da professora e ombudsman emérita deste jornal, jornalista Adísia Sá. O POVO, no editorial ‘Agressão no 1º de Maio’ (1º/5), afirma: ‘Fazer valer a lei é uma obrigação dos que têm a responsabilidade de defender o patrimônio público do povo cearense’.

São ainda enviados a Fábio Campos diversos e-mails, entre os quais o do engenheiro eletricista Diego Pinheiro de Almeida (que diz: ‘o coitadismo vigora’), do professor Armênio Aguiar dos Santos (do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC, que pede a inclusão da Coluna Política no boletim eletrônico da SBPC), dos arquitetos Romeu Duarte (condenando os que fazem da luta social ‘meio de vida’) e José Sales (este lamenta o que considera omissão dos egressos da UFC, ou oriundi, segundo suas palavras, entre eles o vice-governador, secretários, prefeita, ex-alunos como o governador, dirigentes de instituições públicas e outros). E também dos leitores Paulo Porto Lima, Wanderley Filho, Marcos Oliveira, Elizabeth Lima e Agnor Gurgel, todos favoráveis às posições do colunista. Na versão digital da Coluna Política são postadas mensagens de internautas com idêntico teor.

CONTRAPONTO

Quatro leitores – três por telefone e um via e-mail – se dirigem a mim para protestar contra os comentários de Fábio Campos sobre a greve dos trabalhadores da construção civil e a ocupação de parte do Campus do Pici.

Katiene Silva lamenta o que considera ‘estilo autoritário’ do colunista na formulação de soluções para os problemas. Ela não está a favor da ocupação ilegal do Campus do Pici, mas acha que, nesse caso, devem ser obedecidos os trâmites judiciais antes da intervenção policial. Acredita que o governador Cid Gomes faz bem em manter a Polícia Militar afastada das lutas sociais. ‘O certo é enviar assistentes sociais, cadastrar esse pessoal (os ocupantes), para ver se eles são realmente necessitados e tentar alojá-los em outro terreno, e não expulsar as famílias – algumas delas com crianças – à força’. Os outros dois leitores, não se identificam, usam palavras grosseiras com o colunista. Por isso, não as reproduzo.

Pedro Albuquerque, do Canadá, envia e-mail na sexta-feira (2/5) no qual diz: ‘Eu me posiciono contrário a invasões sem lastro social e constitucional que as sustentem. Mas, no caso da UFC, independentemente do juízo que se possa fazer, era um conflito em que as partes poderiam entrar em negociação. Além do mais, a UFC já havia entrado com acão de reintegração de posse na Justiça, portanto, não caberia ação policial’.

RISCO DE CONFLITO

No comentário interno de quarta-feira última (30/5), chamo a atenção para o risco de um conflito grave, porque conheço (e creio que o jornalista Fábio Campos conhece, também, a ‘habilidade’, para não dizer truculência, da Polícia Militar nesses casos). Pelo menos de setores ainda predominantes na PM. Temo que alguém (algum provocador em meio a grevistas ou ocupadores) esteja à procura de cadáver ou cadáveres, o que seria desastroso. Creio ter sido este também a preocupação (louvável) do governador Cid Gomes.

Preocupa-me ainda o fato de que, doravante, questões sociais venham a ser considerados ‘casos de policia’, como eram na República Velha e nos tempos da Comuna de Paris. E em tempos mais recentes: os da ditadura militar brasileira. Creio que não estou ultrapassando minhas atribuições de ombudsman ao manifestar-me a respeito do problema. Foram fatos divulgados e comentados no jornal. Estou a analisá-los. Dêem-me licença.

Fábio Campos tem visão oposta e responde-me: ‘O que você considera louvável eu considero omissão. O patrimônio público foi invadido e depredado e nada foi feito para impedir que isso acontecesse’. E acrescenta: ‘Greve não é caso de polícia, mas invasão de depredação do patrimônio público e privado é. Está na lei. Está na Constituição. Não sei se é ou não atribuição sua, mas o que você está fazendo é o comentário do comentário que eu não fiz. Jamais disse que greve era caso de polícia. Releia as colunas e verá’.

Todos os ângulos da questão estão expostos: as opiniões de Fábio Campos, as dos leitores que o apoiaram, as dos que o criticaram e as modestas ponderações deste ombudsman. Que tirem os leitores as suas conclusões.

Até domingo.’