Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A tal da ética em nosso meio

‘O rádio é pra ser feito com raça.’ (radialista Marcus Aurélio)

Depois de 12 anos de atuação nos meios de comunicação de massa na região sisaleira, sempre me pergunto: O que é ética? Onde ela está? Com quem ela está? Para que serve? Também vêm outros questionamentos e ao mesmo tempo algumas ideias. No artigo ‘Sociedade, Ética e Cultura’, o escritor Danilo Santos de Miranda diz:

‘Entre os valores que todas as culturas criam, necessariamente – sejam eles bons ou ruins – existem aqueles que dizem respeito mais de perto às ações dos homens entre si, aos seus comportamentos individuais e coletivos. De maneira sumária, portanto, a ética é uma investigação ou ciência dessas condutas – tanto dos motivos, das formas, quanto das finalidades das ações’ (MIRANDA).

Neste sentido, também tenho estudado a atuação e conduta dos profissionais da minha região. Começando por mim. Onde estou e o que estou fazendo? O que fiz para chegar até aqui? Volta e meia me pego pensando ou mesmo passando por situações como essas.

Características do mercado

Outro dia, um dono de rádio escreveu a seguinte orientação para a coordenação de jornalismo da emissora:

‘Decidir que todas as matérias de cunho político seriam enviadas para meu conhecimento na véspera (…) peço-lhe, então, que não veicule mais matérias de natureza política sem que eu tenha ciência anteriormente e que tenha, sempre, meus comentários (…) quanto ao conteúdo dos programas de notícias, devemos ter uma postura jornalística, sem qualquer conotação de rádio chapa branca.

A rádio não é não deve parecer chapa branca do governo ou de qualquer prefeitura, e isso será evidenciado nos meus comentários’ (Diretor da emissora).

O comunicado termina com uma utopia. São palavras muito bonitas, fabulosas e que enchem os olhos de qualquer cidadão coerente de seus princípios. E o início? O que significa? Censura, controle de qualidade ou falta de um sistema organizacional que permita o debate, a participação, a independência do profissional e, é claro, o exercício do trabalho?

Neste semestre, 2009.1, na faculdade de Rádio e TV na Uneb, aprendi que um dos papéis do profissional de comunicação institucional e de relações públicas é ajudar na implantação do código de ética. Mas esse, creio que é um papel de cada pessoa e não apenas do profissional de RP.

TORQUANTO (2002) dedica o terceiro capítulo do seu livro à exposição da função de assessoria e consultoria de imprensa nas organizações, ressaltando os novos cenários e as características sócio-culturais do mercado da comunicação e de seus públicos.

Punições e critérios

É importante dizer que o autor se baseia em Brecht para enunciar a verdade por ‘cinco lados’: de quem diz, quem ouve, o momento, o lugar e as circunstâncias. O escritor destaca a importância do profissional de assessoria e consultoria por ele possuir uma ampla visão sistêmica e política da comunicação numa organização.

No entanto, penso que não terás sucesso os profissionais e empresas que não seguirem algumas orientações para atingir esta conduta. Neste caso, citado como exemplo, só nos resta recorrer a um código de ética interno.

Os passos para implantar este código são descritos nos diversos estudos e mostram a necessidade de construirmos o documento e o entendimento por etapas. É fundamental identificar os valores reais que são praticados por essa empresa. É preciso fazer acordos, criar consensos geral sobre os pontos e que não haja dúvidas.

De fato, é importante criar os mecanismos de acompanhamento e monitoramento das ações na empresa, mas não uma censura prévia como na ditadura. Para isso acontecer é imprescindível que haja a ampliação dos níveis de confiabilidade entre patrão e empregados, diretores e colaboradores, dentre outros. Para finalizar a empresa deve definir as ações punitivas com critérios claros.

Construir sempre

HUMBERG (2002) define que ética organizacional significa auto-regulação:

‘A organização estabelece seus padrões de comportamento, confiáveis e satisfatórios, de modo que não é necessária a intervenção do Estado ou de fiscais. E, sempre que preciso, ou obrigada, ela explica aos diversos segmentos da sociedade por que, sendo confiável, o diálogo é possível e produtivo. O código deve ser o resumo desse procedimento, ou seja, ter base na realidade’ (HUMBERG 2002).

Um depoimento do radialista Edivânio Nascimento também me convenceu que existem práticas consolidadas ou a caminho de consolidação. Ele atua na Rádio Comunitária Santaluz FM desde o final dos anos 90.

‘Queremos, sim, ser homens de bem, primando pela ética pessoal e profissional e tentando realizar sonhos. Digo sonhos porque ainda são sonhos, que é de vermos um dia um país, uma Bahia, um território do Sisal mais justo e que, sobretudo, possamos ter uma comunicação democrática e sem sofrer aborrecimentos e retaliações por parte dessa gente’ (Edivânio Nascimento).

Agora, vamos ao serviço. Nesta semana acontece, em Coité, a Semana de Comunicação da Uneb. Um importante espaço para debates sobre a atuação de cada profissional de comunicação desse Sertão dos Coronéis Eletrônicos e no final do ano a Conferência Nacional de Comunicação também será um marco histórico do movimento. É preciso ação. É preciso construir sempre.

Bibliografia

TORQUATO, Gaudêncio. Comunicação Organizacional e Política. São Paulo: Pioneira Thomson. Learning, 2002. Pag. 81-96.

MIRANDA, Danilo Santos. Sociedade, Ética e Cultura. www.sescsp.org.br/sesc/images/upload/conferencias/11.rtf – Acesso em 18 de julho de 2009.

HUMBERG, Mário Ernesto. A Ética e os Profissionais de Comunicação. Publicado originalmente nos Anais Intercom (setembro/1993) e reproduzido no livro Ética na política e na empresa: 12 anos de reflexões (São Paulo, Editora CLA, 2002. Disponível em http://www.sinprorp.org.br/Clipping/2002/057.htm. Acesso em 18 de julho de 2009

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Estudante de Rádio e TV da Universidade do Estado da Bahia (Uneb)