Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sorteio de empregos e miopia da imprensa

A mídia muitas vezes se mostra míope. Preocupa-se com o factual e acaba deixando passar o principal: o que os fatos têm a nos dizer. É como se a notícia nascesse independente do contexto histórico, social, econômico e cultural. Isso ficou muito claro na cobertura da partida do América-MG. O time mineiro, conhecido por ter uma pequena torcida (brinca-se dizendo que ela vai ao estádio numa Kombi), levou mais de 20 mil torcedores ao Mineirão, numa promoção que ofereceu os ingressos a R$ 1, mas que teve como seu maior trunfo o sorteio de 10 empregos ao público.

Uma multidão de desempregados foi ao Mineirão, explicitando um problema social gravíssimo. No entanto, a mídia optou pelo estilo ‘notícia-piada’, mostrando o lado exótico da promoção e a alegria dos premiados. Era uma grande oportunidade para se conhecer e pensar a realidade de uma parcela da população disposta a tudo por um emprego.

O fato foi muito significativo. Como diz o jornal Estado de Minas, ‘nunca, a não ser em clássicos contra Atlético e Cruzeiro, o clube teve um público tão grande: mais de 20 mil pessoas, bem acima da expectativa da diretoria, que previa entre 8 e 10 mil’. A administração do Mineirão abriu os portões só no setor onde tradicionalmente fica a torcida americana. No entanto, não teve como dar fluxo a tanta gente e teve que utilizar mais portões.

Foi uma oportunidade perdida. Nesses momentos é possível entender melhor e sensibilizar as pessoas para os problemas sociais. Mas era necessário evitar o mal-entendido e o uso político da situação. O atual governo não pode ser responsabilizado por esse problema, fruto da política neoliberal implementada há muito tempo no país.

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Jornalista, professor da PUC-Minas Arcos e doutorando em Comunicação Social pela Umesp