Quem esteve atento aos noticiários nos últimos dias, tomou conhecimento do caso da jovem universitária Geisy Arruda que foi hostilizada por quase toda a sua instituição de ensino ao ter comparecido à aula com um sensual vestido vermelho. Diante de uma reação digna do mais inominável Estado teológico, a jovem foi obrigada a sair escoltada pela polícia.
Muitas foram as especulações sobre o acontecimento. Psicólogos, sociólogos, entre outros, tentaram explicar o sentido da ação desmedida pela multidão de estudantes. Alguns, em programas de auditório, chegaram à conclusão horripilante de que a culpa do fato foi da universitária. Celerados autores de crimes sexuais já podem buscar na universidade sua linha de defesa: ‘Meritíssimo, que culpa tenho eu por violentar a moça? Avisei-a várias vezes que não me provocasse com seu andar insinuante e suas roupas provocantes. Ela procurou, tal como a dama de vermelho da Uniban’.
Mórbida coincidência
Talvez estimuladas por raciocínio semelhante, as autoridades responsáveis pela instituição resolveram expulsar a aluna. Ela, e tão somente ela, fora o epicentro da manifestação fascista oculta naqueles que deveriam servir de exemplo para a sociedade e representá-la como integrantes de uma elite capaz de conduzi-la em meio às trevas do pensamento obtuso.
A expulsão de Geisy, para os próceres da Uniban, foi necessária por seu comportamento ter ferido os princípios éticos, morais e dignos da academia. Ademais, ela já teria sido advertida por comportar-se inadequadamente outras vezes. Contra tão vil procedimento, a ‘democrática’ massa daquela universidade, em seu apego pelo mais sadio dos ambientes, somente reagiu para defendê-la. Esta é a ‘lógica’ dos responsáveis pelo equilíbrio do espaço da Uniban.
A defesa da ética, da moral e da dignidade da instituição foi feita aos gritos de ‘puta’, demonstrando o mais alto grau de civilidade dos que deveriam mostrar o quanto é válido estar num ambiente de tolerância e debate acerca da sociedade. E com aval das autoridades acadêmicas da Uniban. Talvez estas ainda ofereçam alguma honraria aos autores do ato de defesa do ambiente universitário conspurcado pela dama de vermelho.
Numa mórbida coincidência, quase concomitantemente ao ocorrido naquela chamada universidade, tomamos conhecimento de que o Brasil despenca no ranking responsável por medir a desigualdade entre homens e mulheres no mundo. Esse é o país que pensa na possibilidade de eleger uma mulher para o cargo de presidente da República.
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Servidor público, graduando em Ciências Sociais, Vila Velha, ES