Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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GOVERNO
Milton Coelho da Graça

Governo acordou para a agiotagem?, 19/10

‘A suspensão dos empréstimos consignados para servidores é uma medida – pequena e temporária – de contenção da agiotagem desenfreada que está corroendo a renda das famílias brasileiras, em troca de uma injeção de estímulo temporário ao PIB.

Os números são assustadores: já existiam até o meio deste ano 1304 empresas dedicadas a oferecer empréstimos a servidores públicos federais, civis e militares. Mesmo sem qualquer risco, porque o Governo dá a garantia plena de fazer descontos mensais em folha, os juros cobrados – sem exceção – superam taxas que até anos atrás eram consideradas, segundo a própria Constituição de 88, extorsivas e punidas como crime de agiotagem.

Desses 1304 ‘agiotas legais’ (que incluem até o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e até centrais sindicais), 181 foram considerados irregulares por uma primeira investigação do Tribunal de Contas da União, que resultou na suspensão decidida pelo Ministério do Planejamento.

Os servidores federais ganham 52 bilhões de reais por ano, mas já tomaram por conta de vencimentos futuros 5 bilhões, o que também significa uns 0,5% do PIB – e que deixarão de aparecer na renda das famílias e sim nos lucros das financeiras. E seguramente o volume total de empréstimos consignados chega ao dobro disso, se incluirmos na conta os empréstimos a aposentados do INSS e também com as empresas privadas que começam a fazer convênios com os ‘agiotas legais’.

Trata-se de um saque contra o futuro, concebido para criar uma demanda artificial e dar essa injeção estimulante na indústria, no comércio e no PIB.

Na semana passada, Roy Young deixou a presidência da General Motors do Brasil e foi ocupar um posto ainda mais importante na matriz da empresa. Mas alertou, antes de embarcar, que as facilidades de crédito para a compra de automóveis podem causar um efeito semelhante aos empréstimos imobiliários subprime nos Estados Unidos. Young deu um belo exemplo: com um carro que valha 30 mil pratas, qualquer um pode entrar numa concessionária, comprar um carro novo por 50 mil, ficar devendo 30 mil e ainda levar 10 mil em grana viva como troco. Young perguntou: até onde esse esquema poderá se agüentar?

Toda essa arquitetura foi inventada porque as montadoras enfrentam dificuldades para exportar carros brasileiros, por conta da valorização artificial do real. Estamos importando e viajando para o exterior o máximo possível, ao mesmo tempo que recebemos menos turistas e exportamos menos calçados, têxteis etc.

Será que alguém no Palácio do Planalto está atento às conseqüências de uma crise de crédito que atinja simultaneamente vários setores da sociedade? Já se considerou que essa crise será necessariamente política e não apenas financeira (como a imobiliária nos Estados Unidos)?

Só haverá uma saída para o chefe de família cujo cheque de pagamento não der para pagar as despesas mínimas de casa: ir para a frente do Planalto e gritar ‘Moratória Já’.

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Ainda está ruim mas vai ficando mais justo

Podemos ser contra ou a favor do governo, contra ou a favor da política externa executada pelo chanceler Celso Amorim. Mas a foto dos presidentes do Brasil, Índia e África do Sul, cumprimentando-se após concordarem com uma posição comum nas discussões com Estados Unidos e Comunidade Européia sobre o futuro da Organização Mundial do Comércio, é um símbolo da revolução global em andamento. Seres humanos de todas as cores, de todos os continentes, declaram-se unidos e se dispõem a exigir relações internacionais mais justas Não sei se todo o resto que o presidente Lula fez e fizer merecerá lembrança. Mas, com toda a certeza, esta foto será recordada durante muito tempo em todo o hemisfério sul.

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Financial Times de graça, aproveite

O Financial Times está oferecendo durante 30 dias, em caráter experimental, todo o seu conteúdo de graça. Rupert Murdoch está pensando em fazer o mesmo, mas em caráter definitivo, com o Wall Street Journal, que ele adicionou a seu império. Tudo por conta do aumento vertiginoso da publicidade on-line, capitaneado pelo Google. A pergunta que muita gente faz é: se esses jornais on-line forem inteiramente sustentados por publicidade, conseguirão manter sua independência editorial? Com Murdoch, é difícil acreditar nisso mas, mesmo em relação ao FT, a dúvida se justifica, não?’

FUTEBOL
Marcelo Russio

Tudo em tempo real, 16/10

‘Olá, amigos. Hoje em dia, absolutamente TUDO no jornalismo esportivo online vem sendo coberto em tempo real. Desde jogos de futebol e outros esportes a julgamentos nos tribunais, os veículos de Internet cada vez mais atendem aos anseios dos seus leitores, que buscam as informações de forma rápida e precisa, no exato instante em que elas acontecem. Como o brasileiro passa cada vez mais tempo no trabalho, e em frente a um computador, os eventos e as notícias que acontecem durante o horário de trabalho da grande maioria da população são acessados, basicamente, pela Rede.

Uma olhada rápida nos sites especializados em esportes mostra que o torcedor brasileiro gosta, e muito, de acompanhar o que acontece diariamente, minuto a minuto, nos seus clubes, ou com a Seleção Brasileira. As coberturas ao vivo dos eventos esportivos, envolvendo o futebol, ou mesmo os outros esportes, têm uma aceitação absoluta por parte dos internautas brasileiros. Até mesmo julgamentos de atletas e técnicos de futebol no STJD, que vêm sendo cobertos em tempo real pelo Globoesporte.com, são acessados maciçamente, o que prova que, mesmo um evento com, teoricamente, poucos atrativos para o torcedor, pode trazer frutos, caso seja bem explorado pela Internet.

O grande problema é: para onde evoluir? Hoje temos blogs de atletas, vídeos em tempo real, placares online, gols já disponíveis na web minutos após serem feitos… o que falta?

Na minha opinião, falta a ‘câmera exclusiva’. Quem tem mais de 30 anos provavelmente se lembra da Copa de 1982, na Espanha, quando a TV Globo tinha uma câmera exclusiva, que mostrava gols e lances sob outro ângulo, o que lhe dava um diferencial imenso em relação às demais emissoras de TV.

Por que os sites especializados não podem ter uma câmera exclusiva em eventos de vulto, como o Campeonato Brasileiro, a Copa do Mundo ou as Olimpíadas? Certamente seria um grande avanço, e também daria uma imensa motivação para que os internautas acompanhassem os lances pelo site que disponibilizasse as imagens sob uma outra perspectiva.

Claro que isso passa por direitos dos eventos, que não são baratos. Mas é uma idéia, que se for bem explorada e viabilizada comercialmente, pode render frutos muito interessantes a quem se dispuser a executá-la.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

A participação do morto, 18/10

‘O mar é sempre maior

e o luar lhe faz a corte

Não há medida do homem

entre a praia e o horizonte

(Nei Duclós in No Mar, Veremos.)

A participação do morto

O considerado Ederson Soares dos Santos, talentoso estudante de jornalismo, aluno do não menos considerado Antonio Brasil na UERJ, perdeu uma hora do recreio para enviar notícia do jornal carioca O Dia e escrever ao colunista:

Está escrito na página 10, edição de 4/10/07, o título Morto participou de atentado. Pelo que tentei entender, a matéria gostaria de informar que o homem morto na operação da Polícia Civil que apreendeu armas de guerra e 1 tonelada de maconha, do dia 03/10, no Morro Dona Marta, foi responsável por um ataque a uma cabine da PM em outubro do ano passado, em Botafogo.

Mas a construção da chamada também pode levar a crer que alguém que já faleceu praticou um atentado. Ou não?! O que você acha? Posso estar enganado, mas quando li pela 1ª vez lembrei-me de sua coluna e gostaria de explanar isso. Não como forma de zombar nem cuspir para o alto – sei que vou sofrer futuramente – e sim para esclarecer mesmo. Não é essa a nossa profissão?

PS: Às vezes também tenho dificuldade para escrever textos jornalísticos. Você teria alguns livros ou recomendações que ajudassem a tirar minhas dúvidas?

Janistraquis e eu temos quase certeza de que você não irá sofrer futuramente, Ederson; afinal, o amigo não ‘engole’ qualquer coisa e raciocina quando lê jornal, algo não muito comum. Quanto aos livros, comece pela obra completa de Machado e Eça; e não perca de vista os grandes poetas, porque está na poesia a musicalidade do idioma.

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Nota dez

Com a sobrenatural memória a lhe trazer cenas de Mônica e o Desejo, de Ingmar Bergman, o considerado Sérgio Augusto, melhor jornalista cultural do Brasil, escreveu no caderno Aliás, do Estadão:

(…) Suplicy assegurou o seu exemplar antes de embarcar para Brasília, na banca do Aeroporto de Congonhas. Confessadamente encabulado diante da jornaleira, o senador petista balbuciou: ‘Posso fazer uma pergunta indiscreta? Já saiu a revista da Mônica?’ Não seria de espantar se a jornaleira, conhecendo bem o senador, lhe desse um gibi da Mônica e sua turma.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo deste que é o Mestre de todos nós.

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Sina botafoguense

Sucede que o Mestre Sérgio Augusto também é botafoguense histórico, como sabem os freqüentadores deste espaço; tem até livro sobre seu clube do coração (Botafogo: entre o céu e o inferno). Leiam o que escreveu, em mensagem ao colunista:

O Botafogo é realmente inacreditável. Merece ir pro Guinness pelo que lhe aconteceu este ano: currículo inédito na história do futebol — sobretudo se cair pra segunda divisão. Há coisas que só acontecem com ele ou seus jogadores. Veja o caso do Jairzinho, que na semana passada filiou-se ao PCdoB para concorrer na próxima eleição de vereador.

Pombas! Jairzinho jogava na extrema-direita, depois que o Garrincha saiu de Gal. Severiano, e o máximo a que chegou foi derivar para o centro, voltando à ponta na Seleção de 70. Não é estranho? Irônico, ao menos, é.

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Camisa e blusa

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a porra-louquice avista-se a bunda suja da falsa democracia, pois Roldão despachou a seguinte mensagem à direção do Correio Braziliense:

Na reportagem do jornal (…) o texto menciona o traje de Mônica: calça preta, camisa vermelha e sapato prateado de salto agulha. No vestuário feminino o termo usado é blusa em vez de camisa, este usado para a roupa masculina.

Janistraquis diz que você está coberto de conhecença, ó Roldão; tanto que, quando se veste de mulher pra sair no bloco carnavalesco Toletes da República, aqui do município de Cunha, meu sassaricante secretário prefere um conjuntinho de saia-e-blusa amarelo-tresandante.

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Honestos adversários

Algumas mensagens recebidas nas últimas semanas perguntam ‘qual foi o milagre’ que aproximou Fábio José de Mello e o colunista, ‘dois inimigos até bem pouco tempo’. Respondi que jamais fomos inimigos, mas apenas adversários, assim como vascaínos e flamenguistas, para usarmos metáfora ao gosto oficial. Cidadãos civilizados e democratas, discutimos e nos entendemos.

Fábio sempre se declarou ‘petista de carteirinha’; o colunista não tem partido, mas aqui neste espaço costuma-se alfinetar o presidente da República e seus acólitos, de modo que a discussão prossegue, porém com indispensável e recíproco respeito, como deve ser. O colunista repete mais uma vez que, nesses certâmens, como dizia Coelho Neto, jamais agrediu ninguém e tampouco promoveu desaguisados.

O mal-entendido é tão filho de Deus quanto a intolerância.

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Nei Duclós

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo excerto é a epígrafe desta coluna. O poeta apresenta as armas/versos e com estes percorre seus caminhos.

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Chocando…

O considerado Mateus Munin, pauteiro do Jornal da Band, envia release que recebeu de uma assessoria de imprensa, cujo primeiro parágrafo dizia:

Há duas semanas o caso do assalto do apresentador Luciano Huck em rua da cidade de São Paulo chocou a população…

Mateus, que por força do ofício já enfrentou os mais horripilantes assuntos, garante que a assessoria exagerou um pouco:

Chocou a população?? Quem ficou chocado?? Será que houve algum tipo de manifestação e ninguém ficou sabendo?? Depois dessa, quem ficou chocado fui eu…..

Janistraquis não se recorda quando alguma coisa o chocou verdadeiramente, pois esse negócio de chocar é próprio de galinhas…

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Até fazer bico!

O considerado José Truda Júnior, que tanto enxerga que parece ter três olhos, informa depois de um tour pelo supermercado vizinho ao seu minarete de Santa Tereza:

(…) Mas demais mesmo é o tal de Ultra Protection! É o top de linha, o tal do Rolls Royce dos papéis higiênicos. Além de conter óleo de amêndoas…

Leia no Blogstraquis a íntegra da cenagosa porém indispensável pesquisa.

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Renan feliz

Renan Calheiros disse a Claudio Humberto: ‘Eu agora sou feliz’, como aquele samba de Jamelão e Mestre Gato pro Carnaval de 1963; declarou que foram ‘muito difíceis e sofridos’ os últimos 140 dias, ‘mas nem de longe parecidos aos dois anos de jogo bruto, de chantagens e ameaças.’

Janistraquis garante que Renan só diz isso porque, nos últimos 140 dias, não torceu pelo Vasco.

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O Diabo tá de olho

Deu no excelente Ex-blog do César Maia:

APRAZÍVEL EXCURSÃO!

Numa operação inédita, explicável talvez apenas por se tratar de uma excursão a aprazível cidade-estado de Mônaco, lá enviamos o Ministro Tarso Genro para apressar a extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola. A operação era até diplomaticamente desastrada, pois o assunto é tratado entre Estados, por Cartas Rogatórias, e não por gestões pessoais, capazes de serem interpretadas como intromissão indevida em assuntos internos monaguescos.

Agora, se verifica que a documentação transmitida estava incompleta. Faltava a peça essencial: o mandato de prisão, devidamente traduzido para o francês. A Procuradora de Mônaco já ameaça soltar o ex-banqueiro… Mas gastamos o nosso dinheiro com passagem aérea (Primeira Classe) e polpudas diárias, provável passagem por Paris, etc.

Janistraquis leu, deu boas gargalhadas com a alopração do nosso ministro, mas fez inevitável observação ao texto:

‘Considerado, não é possível que o redator do ex-blog de um político com anos e anos de janela escreva mandato em vez de mandado. É ignorância ou falha de digitação?’

Só o Capiroto é capaz de responder, porém faltou, no mínimo, uma boa revisão ou um simples clique no corretor ortográfico. E crase antes de ‘aprazível’…

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Demissão

O considerado Mário Lúcio Marinho, jornalista mineiro-paulistano, envia de seu QG no Parque Continental, em Osasco:

‘Inspirado no governador do DF, José Roberto Arruda, que ‘demitiu’ o gerúndio, o presidente Lula decidiu em causa própria: vai demitir o plural.’

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Errei, sim!

‘TROPEÇO NA VERDADE – O Jornal da Cidade, de Jundiaí (SP), saiu-se com esta: Casal foi fuzilado no viaduto Sperandio. Abaixo, o leitor tropeçava na verdade: ‘O casal foi atacado pelos ocupantes da Belina que passaram a disparar em sua direção. Benedito, que é preso albergado, foi atingido com um tiro no braço. Para evitar o fuzilamento ele pulou do viaduto, caindo no interior de uma concessionária de veículos existente nas proximidades’.

Em seguida, o texto esclarecia: ‘A vítima foi encaminhada ao Hospital Paulo Sacramento’. Aborreci-me, posto que o título era enganoso, porém Janistraquis condescendeu: ‘Considerado, talvez o título não seja de todo falacioso; é possível que Benedito e sua amásia tenham morrido provisoriamente!’. É, pode ser.’ (outubro de 1991)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

JORNALISMO ESPORTIVO
Eduardo Ribeiro

Os novos lances do Lance, 17/10

‘No próximo dia 30 de outubro o diário esportivo Lance completará dez anos de vida e vai comemorar com uma edição pra lá de especial com a rara tiragem de 1 milhão de exemplares, número que há muitos anos nenhum jornal brasileiro atinge.

Este fenômeno editorial, que entrou no mercado num momento em que as publicações esportivas vinham despencando, casos de A Gazeta Esportiva, Jornal dos Sports e revista Placar, transformando-se num projeto vitorioso, desde então tem buscado caminhos diversos de crescimento e consolidação da marca.

O melhor exemplo disso é que agora, às vésperas de completar sua primeira década de vida, anuncia importantes mudanças editoriais, contrariando de forma cabal o ditado que recomenda não se mexer em time que está ganhando.

Sob a inspiração e a batuta do empresário e presidente Walter de Mattos Jr e tendo no comando o editor-chefe Luiz Fernando Gomes, profissional com passagens também por O Dia e Jornal da Tarde, em ambos realizando um elogiado trabalho, não só o diário, mas todos os produtos que levam a marca Lance estão sendo ajustados, de olho na manutenção da liderança e na ampliação de participação no mercado.

As mais recentes mudanças foram anunciadas neste início de semana em e-mail que Gomes encaminhou a toda a equipe. Nele, depois de historiar ajustes feitos ao longo dos últimos 12 meses, informou que a hora é de inverter a pirâmide do fechamento: ‘Vamos começar a trabalhar mais cedo pensando um diário cada vez mais original, diferenciado, irreverente, criativo e ao gosto do leitor. Vamos mesclar informação em profundidade, grandes reportagens, com as pequenas notas que só interessam ao torcedor deste ou daquele clube’. Ele ressaltou o fato de isso estar acontecendo às vésperas da edição que celebrará os 10 anos do diário; e com tempo para que os novos processos sejam vivenciados pela equipe no dia-a-dia, aperfeiçoados no que for preciso e para que toda a máquina de operação esteja azeitada até lá.

Nesta nova etapa, a cabeça da pirâmide, os editores-executivos do Rio de Janeiro, Eduardo Tironi, e de São Paulo, Fernando Santos, começam a trabalhar mais cedo. Será de responsabilidade dos dois o planejamento de toda a edição do dia, a interface com as demais mídias (tevê, rádio e Lancenet) e seus editores. Terão ao lado, nessa missão, os editores de núcleos Flávio Garcia e Plínio Rocha, dos clubes do Rio, Mateus Benato e Claudinei Queiróz, dos clubes de São Paulo, além dos editores de Fut-Inter, Fut-Br e poliesportivo e motor. Haverá uma reunião diária, às 10h, com a participação de todos eles, mais editores da fotografia e da arte (diagramação e infografia). É aí que a edição do dia vai ganhar forma, com a definição do assunto de capa, as apostas na diferenciação e na profundidade da informação. Na parte da tarde, uma outra equipe, formada por Carlos Alberto Vieira e Erich Onida, que acaba de voltar à casa (ele era chefe de Reportagem do jornal e saiu três anos atrás para o GloboEsporte.com), no Rio, e por Luiz Fernando Mendroni e Alessandro Abate, em São Paulo, dará acabamento à edição, com a ajuda dos líderes dos núcleos. Evidentemente que, em dias de jogos, este mecanismo sofrerá alterações de acordo com a importância e a abrangência da rodada.

Segundo Gomes, as diretrizes deste novo formato de trabalho estão expressas em manuais produzidos pelos editores do Lance, sob o seu comando: ‘São o MOE (Manual de Orientação Editorial), que mostra exatamente o que se espera de cada profissional da casa, em todas as editorias; o MAG (Manual de Atividades de Gestão), que orienta o trabalho dos editores nos processos da abertura do diário ao fechamento, passando pelas reuniões de pauta, espelho e consolidação; o MDQ (Manual de Qualidade), que estabelece os critérios de pontuação e avaliação da equipe, considerando erros cometidos e a exclusividade e originalidade do material publicado ao longo de cada mês; e o MDR (Manual de Redação), com regras de gramática, ortografia e estilo de textos adotado no jornal, estes dois últimos em fase de conclusão’.

Outro veículo do grupo que acaba de passar por uma ‘plástica’ é a A+, agora transformada numa revista de comportamento, de modo de vida esportiva. A reforma teve por objetivo explorar um nicho por nenhum outro veículo ainda ocupado e de grande potencial. E ao mesmo tempo satisfazer um outro lado do leitor do diário esportivo. Ela foi feita partindo do princípio de que todo mundo que gosta de futebol leva um estilo de vida que inclui o gosto por esportes radicais, corridas e caminhadas de fim de semana: um público que pratica esporte como hobby, mas que procura se aprimorar. Entre os novos temas, há espaço reservado para motor e games, testados por profissionais; matérias de aventuras com o que existe no mundo; e serviço, com as provas no Brasil e o custo da prática do esporte.

O editor é o mesmo Ferdinando Casagrande, que cuidava da revista anterior. Ele foi editor da Nova Escola, na Abril, onde trabalhou também em Veja e Veja SP; foi repórter e editor do primeiro caderno do JT. A equipe é formada por Danielle Chevrand e Marcel Merguizo, editores-assistentes; Paulo Roberto Conde como repórter, e três estagiários. São colunistas Rogério dos Santos, personal trainer, Laura Sampaio, nutricionista, e Paulo Barone, médico do esporte. Para o projeto gráfico, o jornal chamou de volta o designer Auriel de Almeida Martins, que trabalha com Diogo Rohloff, sob supervisão da espanhola Cases i Associats. Junto com a revista foi lançado um novo site, no conceito web 2.0, com atualização diária. Além de aprofundar os temas tratados, oferece matérias diferenciadas, muito serviço, três blogs – sobre tecnologia e gadgets, aventura, e o depoimento do ultramaratonista Rodrigo Cerqueira.

Há cerca de um ano, uma pesquisa entre leitores e não leitores do Rio e de São Paulo identificou interesses – como a busca de qualidade de vida – que não eram atendidos pela revista. Seguiu-se nova pesquisa, e daí resultou o projeto editorial e gráfico, que vem sendo desenvolvido desde então. O lançamento se deu no último dia 6/10, circulando junto com o jornal, e a revista parte agora para as bancas, em venda avulsa. Em vez de semanal, como a anterior, terá periodicidade mensal. Sairá sempre no primeiro sábado do mês, junto com o diário, chegando às bancas na 4ª feira seguinte para venda avulsa. O retorno publicitário aparece em contratos já assinados para todo o ano de 2008.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Novos conteúdos, velha ralidade…, 19/10

‘Está claro que a Secretaria de Comunicação do Planalto desenvolve um esforço bem articulado para colocar em circulação, pela mídia, e para a discussão, conteúdos novos do governo. Com isso, o próprio governo ganha uma face discursiva que jamais teve. O que é bom, também para a Nação, que passa a ter critérios para olhar e avaliar a coerência e/ou as contradições entre o dito e o feito. Por enquanto, porém, o dito e o feito não combinam.

1. Janelas de diálogo

Há sinais claramente perceptíveis de que, para melhorar as relações com a imprensa, o governo começou a mudar a filosofia e as práticas de comunicação social. O pretexto espalhado por aí, até por Franklin Martins, é o de que estava na hora de abrir janelas para conversar mais e melhor com os jornalistas. Mas, na verdade, a mudança estratégica e tática na comunicação do governo tem ambições bem maiores: visa estabelecer um diálogo de idéias com os núcleos pensantes das elites e da classe média, a partir dos quais se espalham e se organizam socialmente os argumentos a favor ou contra o governo.

É bem provável que o presidente Lula pouco esteja ligando para isso. Montado no poder que as urnas lhe deram, ainda prefere a comunicação das metáforas ditas com vigor de verdades, que o povão do bolsa-família tão bem entende. Com a vantagem de que as metáforas divertem também os ricos, com os quais o diálogo se tem revelado fácil, por serem eles quem mais proveito tiram dos bons ventos da economia – ventos acelerados pelos programas do crédito fácil que dinamizaram o mercado interno, endividaram os aposentados, aumentaram a lucratividade dos bancos e alegraram a alma dos pobres remediados a quem os empréstimos vinculados possibilitaram acesso a bens antes inacessíveis.

Lula não precisa de políticas de comunicação para falar aos pobres. Nem delas necessita para se entender com os ricos. Aos pobres, sabe o que dizer e como dizer para acalentar esperanças, pelos muitos meios à sua disposição. Quanto aos ricos, dá-lhes o que eles mais gostam: possibilidades ampliadas de ganhar dinheiro – fazendo questão de lhes lembrar isso com freqüência.

2. TV Pública, sucesso de comunicação

Mas não se conservam apoios antigos nem se conquistam votos novos com noticiários alimentados mais por promessas meramente retóricas do que por fatos materialmente palpáveis. Ainda por cima, tendo que disputar espaços jornalísticos com escândalos do porte do mensalão.

Além da falta de ‘coisas feitas’ para noticiar, as equipes de comunicação do ex-ministro Gushiken jamais enxergaram que o jornalismo também se alimenta de discussões em torno de idéias. Na falta fatos, que haja idéias para apresentar e debater, embora o ideal seja que as duas coisas existam em relações lógicas e em doses bem caldeadas. Mas, nos primeiros quatro anos do governo Lula, nem uma coisa nem outra.

Com Franklin Martins, o conceito e as práticas de comunicação começaram a mudar. Ele próprio, com a prioridade dada ao projeto da TV pública, pôde tornar-se exemplo de como ser fonte de fatos contextualizados em idéias. Com o projeto da TV pública, Franklin Martins passou a ser a melhor fonte geradora de conteúdos jornalísticos do governo. Sem precisar gastar um tostão em publicidade.

O sucesso da divulgação e da discussão da TV pública, como conteúdo de fatos e idéias, serviu de laboratório para a mudança de rumos, na estratégia e nas táticas de comunicação do governo. Mesmo que não tenha sido essa a intenção, esse foi um dos efeitos. E os rumos novos se manifestaram claramente nas últimas semanas, com a sucessão de entrevistas sugeridas à imprensa e por ela pautadas, com ministros que têm o que dizer e, se quiserem, sabem dizer.

De memória, lembro que, num intervalo que pouco ultrapassou duas semanas, a ministra chefe da Casa Civil foi a uma sabatina na Folha de S. Paulo e deixou claro não só o discurso político do governo, mas o seu próprio papel de liderança na formulação teórica desse discurso; o ministro Miguel Jorge, em entrevista de grande destaque na Isto É Dinheiro, anunciou as linhas gerais de uma nova política industrial, a ser apresentada brevemente; o ministro Guido Mantega colocou no espaço da discussão pública o seu conceito de sócio-desenvolvimentismo, gerando polêmica imediata entre especialistas; e o ministro da Educação, Fernando Haddad, ocupou as páginas amarelas de Veja para dar moldura filosófica às políticas e programas do seu ministério.

O próprio presidente Lula se preparou bem para a extensa entrevista concedida à Folha de S. Paulo, e tem aproveitado, com cuidados novos e sem beligerâncias, o progressivo encurtamento de distâncias com a imprensa – por exemplo, na viagem que faz a países africanos. E na capa da mesma edição da Isto é Dinheiro em que o ministro Miguel Jorge propagandeava a futura política industrial, lá estava ele de novo, sorrindo, olhos fixados no futuro, chamando a atenção para a entrevista em que convocava empresários para ‘um novo ciclo de crescimento’.

3. Contradições perversas

Nesse esforço combinado de colocar em circulação, pela mídia, e para a discussão, conteúdos novos do governo, o próprio governo ganha uma face discursiva que jamais teve. O que é bom, também para a Nação, que passa a ter critérios para olhar e avaliar a coerência e/ou as contradições entre o dito e o feito.

Por enquanto, o dito e o feito não combinam. É duro ouvir falar em sócio-desenvolvimentismo e, nos mesmos jornais, lermos a noticia de que o Exército se viu forçado a interromper o abastecimento de água às famílias vítimas da seca que atinge 387 municípios nordestinos, e isso por falta de repasses do Ministério da Integração Nacional, responsável pelas verbas. Causa perplexidade ler ou ouvir formulações sobre políticas de integração e promoção social nas mesmas edições em que se noticia a morte de pessoas por falta de atendimento médico adequado em postos do SUS e se torna público o fechamento de hospitais à míngua de recursos. É espantoso que nos jornais em que se promete um futuro feliz às pessoas, numa Nação democrática e justa, se revelem escândalos de aproveitamento do dinheiro público por parte de políticos afagados pelo mesmo governo cujo comandante da Aeronáutica vai ao Congresso revelar, em sessão secreta, que a FAB só pode voar com 37% dos seus aviões, por falta de dinheiro para a manutenção das aeronaves.

Ou seja: no plano das idéias, o governo começou a brilhar; mas, nas ações essenciais da governação do dia-a-dia, a máquina continua um desastre.

Diante desse quadro, uma pergunta se insinua, solicitando espaço: será que a ocupação política dos tais 35 mil cargos, utilizados para as compensações partidárias, tem alguma coisa a ver com o emperramento da máquina administrativa?

Ninguém nos responderá. Mas a ausência de respostas ajuda a expor a perversidade que marca a atitude de acalentar sonhos em futuros radiosos, cuidando mal das agruras e dores sociais do presente.

E esse não é um problema de comunicação.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

TV Brasil e Record: aumenta cerco contra Globo, 16/10

‘Os responsáveis pela Globo devem estar muito preocupados. Além da vertiginosa queda de audiência da sua programação e das investidas milionárias da Rede Record nas novelas e no jornalismo, agora é a vez de o governo atacar o império dos Marinhos. Esta semana foi promulgada através de Medida Provisória, ou seja, em caráter de urgência urgentíssima, a Empresa Brasil de Comunicação, o EBC. Ou seja, a Globo do governo.

Não se enganem. Essa conversa de TV pública, modelo BBC, proposta de democratização da TV e tantos outros sonhos ou delírios não escondem velhos objetivos de outros governos.

Rede Collor

No passado, o ex-presidente Collor selou seu destino, sua derrocada final, ao tentar montar uma rede alternativa de comunicação. Por motivos óbvios, a idéia não foi bem recebida no Jardim Botânico. Afinal, como faziam questão de divulgar na época: ‘nós o colocamos e nós o tiramos’.

O ex-presidente Collor conhecia de perto o poder da Globo. Tentou reverter ou pelo menos restringir esse poder e não conseguiu.

Sua ‘imagem’ começou a perder o brilho global ao se aproximar do governador Brizola (inimigo número 1 dos Marinhos) no projeto dos CIACs (a versão federal dos CIEPS, escolas de tempo integral idealizadas pelo Darcy Ribeiro) e ao tentar montar a sua própria rede de TV. As propinas com os empresários, o mensalão da época, financiariam o novo império. Com essas medidas e nem tanto pela corrupção que sempre existiu e pelo jeito sempre existirá, Collor abriu contra si as comportas do poder do quase monopólio da comunicação.

Globo do governo

Lembram-se? Foi um festival de minisséries sobre movimentos estudantis, passeatas com inocentes caras-pintadas, jornalismo investigativo diário, armas poderosas voltadas para reverter um infeliz ‘erro’ de avaliação. Collor resolveu afrontar o poder do império. Deixou de ser considerado bem visto ou ‘confiável’ no Jardim Botânico e o resto… é história.

Os demais presidentes, inclusive o atual, aprenderam bem a lição. Não se deve afrontar o poder do império. Os tempos, no entanto, certamente mudaram. Mas, apesar de enfraquecido, o poder da Globo para fazer política persiste. Por enquanto, está meio adormecido. Mas ainda é uma ameaça considerável.

E Lula não é bobo. Aqui mesmo no Comunique-se, foi divulgada a ‘insatisfação’ – eufemismo educado para um sentimento muito mais profundo’ do presidente contra a cobertura da Globo do escândalo do dossiê secreto, a divulgação no JN da foto com o monte de dinheiro dos ‘aloprados’. Lula foi para um humilhante segundo turno e certamente ainda culpa a Globo pela quase tragédia. A resposta adequada era mera questão de tempo.

A hora chegou. Em breve no ar, a TV Brasil, a Globo do governo.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

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Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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