Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Terra Magazine

TROPA DE ELITE
Ricardo Kauffman

Tropa de Elite grudou no noticiário, 19/10

‘‘Não serão ações leves que vão resolver um problema crônico, como o tráfico no Rio. A polícia não entra na favela para matar, mas também não entra para morrer’.

Estas declarações estão nos jornais de ontem (18/10) e são do secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Elas se referem à operação da Polícia Civil na favela da Coréia, zona oeste da capital fluminense, deflagrada na última quarta-feira.

Mais de 350 policiais subiram o morro para cumprir mandados judiciais. Um levou um tiro no pescoço e outros quatro se feriram – um deles perdeu um dedo.

A polícia apreendeu cinco fuzis, seis pistolas, quatro granadas, munições e drogas. Doze pessoas morreram, incluindo um menino de 4 anos. O governador elogiou a operação e o secretário informou que outras ações do tipo estão programadas para breve.

No Jornal Nacional de quarta-feira imagens incríveis mostravam um helicóptero da polícia abatendo a tiros dois supostos traficantes que corriam desesperados por um descampado. Ambos morreram durante a operação, informava a voz do repórter em off.

Para quem assistiu a Tropa de Elite, como não se lembrar do filme? Um dia antes, em Recife, um agente penitenciário entrou num cinema de shopping para conferir o Capitão Nascimento em ação.

Estava morto, com um tiro no peito, antes do final da sessão. Ao que tudo indica se matou. O tiro saiu de sua arma e pela posição do projétil é difícil considerar outra hipótese, informou o departamento de criminalística aos jornais.

Nos últimos meses, como se sabe, o filme ocupa espaço vasto na mídia. Tanto pelo seu teor polêmico, que dividiu a crítica, pensadores e cineastas. Quanto pelo inusitado de sua história interna. A produção foi assaltada na favela, perdendo armas de festim e outros equipamentos. Depois foi alvo de um crime imaterial: trata-se do maior caso de pirataria do Brasil.

O filme parece destinado a permanecer no noticiário. Apesar de a ação se passar em 1997 é difícil distingui-la do noticiário de ontem, literalmente. O filme é um ‘jogo de espelhos’, em vários significados.

Tropa de Elite parte de uma premissa bem clara: as circunstâncias – e não o caráter – são determinantes para o padrão de comportamento dos indivíduos. Esta idéia está contida na citação do psicólogo social norte-americano Stanley Milgram, que é destacada em letras brancas sobre a tela escura, na abertura do filme (não na cópia pirata).

É o único momento em que a obra se apropria de um discurso. É a única afirmação que o filme abraça deliberadamente, como se estivesse no seu ‘editorial’. Tudo o que se segue a partir de então é narrado pelo personagem protagonista, Capitão Nascimento. É o ângulo do policial do Bope que vemos.

Como se tomássemos emprestados os óculos destes policiais. E passássemos a olhar a guerra civil no Rio de Janeiro, a população favelada, o tráfico, a classe média, tudo, a partir desta perspectiva.

Em entrevista, o diretor do filme afirma: ‘a regra do jogo de um policial convencional é receber pouco treinamento, ganhar mal e dar de cara com traficantes altamente armados. De um estudante que quer consumir drogas com os amigos é alimentar o tráfico. De um policial honesto que faz parte de um batalhão honesto e violento é entrar na favela e não fazer acordo com traficante – é guerra. As pessoas fazem escolhas dentro de um contexto. O filme mostra isso’.

Diante deste raciocínio, desta abordagem presente na obra, é difícil manter-se na linha de conforto perante o filme sem julga-lo de maneira emocional. Parte do público e dos críticos diz que o longa é fascista e faz apologia à tortura.

Outros incorporam o discurso do Bope como solução: ‘Chamem a Tropa de Elite’, dizia chamada de capa da Folha de S. Paulo para o explosivo artigo em que Luciano Huck desabafa depois de ter seu Rolex assaltado, o que o levou às páginas amarelas de Veja e à capa de Época.

No entanto, há outra maneira de ver o filme, também contemplada por muitos observadores. Tropa de Elite aponta para a ferida localizada nas circunstâncias em que se encontram policiais, população carente, traficantes e classe média.

Diante de tal contexto, não há princípios que resistam. Esta guerra contrapõe dignidade a tolerância; autopreservação a escrúpulos; liberdade a responsabilidade. É preciso escolher um lado. Todos estão certos e errados, mas separados de maneira inconciliável. A cerne da questão, o que precisa ser mudado, são as circunstâncias.

Em meio a tamanha disparidade social fica um tanto sem efeito falar dos valores da sociedade moderna, como os direitos básicos e universais . A barbárie nos amputa este direito. Ela, sim, é fascista.

Reconhecermo-nos parte de uma sociedade cruel e desumana é difícil. Sentir raiva ou admiração canina pelo Capitão Nascimento é mais fácil, e até humano.

Tropa de Elite não sairá tão cedo da agenda nacional.’

 

TELEVISÃO
Márcio Alemão

Difícil entender certas coisas, 15/10

‘Foram várias as vezes que pensei em escrever sobre Girls of the Playboy Mansion. Um reality que mostrar a vida de três bonitas moças que vivem com Hugh Hefner: Kendra, Holly e Bridget, 20, 25 e 31 anos. Hef, como elas gostam de chamá-lo, está com 81.

Já assisti algumas vezes ao programa e sempre desisto de falar a respeito porque – não sei, mas sinto que alguma armação se esconde por trás de tão assombrosa tolice. As meninas dizem e fazem o tempo todo coisas absolutamente idiotas. Existe um clima estranho na casa; bem estranho, na verdade. Difícil dizer se elas são submissas, subservientes, se são ótimas atrizes ao desempenhar com perfeição o papel da loira burra ou se de fato são apenas três moças dedicadas e francamente apaixonadas pelo bom velhinho que lhes proporcionou tudo na vida.

Existe sempre alguma história tola que acontece durante o show. Uma festa vai acontecer na casa, um cachorro vai tomar banho, os pais de uma delas foram passar um final de semana na casa. Lembrei-me dessa por uma passagem pitoresca. Não lembro qual delas precisava treinar para uma apresentação que faria para Hef. Um strip-tease. Chamou o pai e mãe, fez o espetáculo e perguntou o que tinham achado. O pais se mostraram bem orgulhosos da filha.

Continuo acreditando que nada desse show chega a fazer muito sentido. E quem espera algum apelo muito erótico, frustra-se. As novelas estão mais picantes.

Brothers & Sisters começou a passar no Universal. Foi por essa série que Sally Fields ganhou o Emmy esse ano.

Nem sempre o que é sério e dramático é bom. A série parece ser muito chata. Pelo menos por enquanto. Os olhos de Sally Field, em apenas um episódio, ficaram perto de saltar das órbitas duas vezes. Tudo é exagerado. Exatamente o oposto da delicadeza que encontro em Grey¹s Anatomy. Além do exagero, incômodas obviedades: mulher executiva, casada, é cortejada por outro executivo e de repente se lembra que deveria comprar uma fantasia para a filha, que se apresentará na escola. Corre, mas a loja está fechando. Ela insiste, o vendedor abre a loja. Mas a fantasia acabou e ela grita com o vendedor e depois chora e pede desculpas. Chega em casa, arrasada, e descobre que o marido comprou a fantasia, ensaiou a coreografia com a filha e ela, culpada, chora copiosamente.

Também não entendo por que Agnaldo Silva tem aparecido tanto na midia. Tem aparecido e falado muito. Não me lembro de outro autor de novela fazendo isso.

E agora vai um comentário absolutamente pessoal. O cabelo dele não está legal.’

 

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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