Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jornalismo ambiental não envelheceu

Respeito a opinião de todos, mas não concordo com a tese de que o jornalismo ambiental envelheceu. Muito pelo contrário. O espaço se ampliou para a cobertura ambiental, as pautas são mais diversas, as autênticas mídias ambientais continuam por aí, apesar das dificuldades (as agências de publicidade e os anunciantes é que continuam com a mesma cabeça de jerico!), e há um número enorme de blogs e sites, em especial capitaneados por gente jovem, talentosa e de fibra.

Certamente, com a oxigenação provocada por gente nova e mídias novas, o panorama tradicional se modificou e temos hoje um número diverso de posturas, o que é bom, saudável e democrático. Não vamos negar aqui (se a idéia é essa, não contem comigo) os que sustentaram no lombo esta briga (e falo com tranqüilidade porque não me incluo neste grupo valoroso) porque seria negar também a luta e o trabalho de pessoas como Chico Mendes, por exemplo, que deram a vida por suas crenças e utopias, e muitas ONGs legítimas que não têm medo de enfrentar os donos do poder, da propaganda etc.

Grandes interesses em jogo

Vejo nas entrelinhas desta conversa (sou radical, lembrem-se!) uma tentativa de demonização do jornalismo ambiental de denúncia e isso é algo que me incomoda. Acho que, pelo contrário, temos denunciado pouco, temos investigado pouco e temos poupado empresas predadoras, governos incompetentes e autoridades midiáticas que jogam dos dois lados. No fundo, acho que sou menos radical do que muita gente que, na prática, prefere um jornalismo ambiental light, sem colocar a mão na ferida, exatamente como preferem determinadas empresas e governos. Tem gente que prefere circular na zona de conforto.

O jornalismo ambiental não envelheceu coisa alguma. O jornalismo do Washington Novaes envelheceu? Continua excelente, sem concessões a governos e empresas e nada tem de denuncista (acho que entendo o caráter pejorativo que alguns têm imprimido ao termo). O André Trigueiro faz um trabalho excelente na Globo News, na CBN etc. e temos inclusive contado com a colaboração de colegas que atuam prioritariamente em outras editorias ou áreas, como a Miriam Leitão ou o Marcelo Leite, para só citar dois casos.

Acho que a avaliação é apressada, mal feita e, em certa medida, preconceituosa contra os que continuam acreditando que há grandes interesses em jogo e que não é razoável baixar a guarda.

O maldito marketing verde

Cito o exemplo da jornalista Marie-Monique Robin, com o livro e o filme O mundo segundo a Monsanto (assisti à entrevista dela e à exibição do filme na USP e já estou acabando de ler o livro lançado no Brasil pela Radical Livros, uma beleza!), um dos melhores trabalhos de jornalismo investigativo sobre uma empresa predadora e que tem muito a ver com a degradação ambiental, a afronta à biodiversidade, a poluição, a insegurança alimentar, o monopólio de sementes e perseguições ferozes contra pesquisadores e jornalistas.O livro, lançado em março, já está em 12 países, traduzido em várias línguas. Este jornalismo está mais novo do que nunca.

É preciso tudo: preservar os animais, dicas práticas para economizar os recursos naturais (água, energia etc.), parcerias entre empresas públicas e privadas, parlamentares comprometidos efetivamente com a questão ambiental, neutralização de carbono e também denúncia brava contra quem anda solapando a causa, sacaneando o planeta, os indígenas, o combustível limpo etc.

Precisamos enxergar o meio ambiente com esta perspectiva ampla que reúne as vertentes social, econômica, cultural, da saúde e assim por diante. Não vale fechar o foco como muita gente faz, sobretudo empresas e agências de propaganda/assessorias de imprensa e comunicação que praticam o maldito marketing verde.

De olhos bem abertos

Temos que fazer jornalismo ambiental de verdade, nada de geléia geral, de reportagens cosméticas e colunas demagógicas porque essas, sim, estão velhas, não contribuem para nada e têm a ver com os cadernos pagos da Petrobrás, da Aracruz Celulose, dos embaixadores ambientais da Bayer, da sustentabilidade da Syngenta e da Bunge e dos prêmios agro-ambientais da Monsanto.

O jornalismo ambiental está mais vivo do que nunca e continuo lutando para que a sua origem não se perca porque ela é fundamental. Vale mais um Chico Mendes (com o maravilhoso diploma da vida e a sustentabilidade no sangue) do que muitos que desfilam por aí, com títulos acadêmicos, pintados de verde fazendo o jogo de empresas e governos.

O jornalismo ambiental precisa melhorar, e muito, mas isso não significa que precisa adotar o discurso empresarial, governamental. O jornalismo ambiental não envelheceu, mas temo que caminhe para o outro lado. Calma com o andor que o santo é de barro. Saudemos as boas iniciativas, mas fiquemos com os olhos bem abertos. Quem poupa o lobo, condena a ovelha. Eu, hein?

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Jornalista e professor, mestre e doutor em Comunicação