A guerra do Iraque praticamente desapareceu do noticiário americano nos últimos meses, sendo substituída por matérias sobre a campanha presidencial e a crise na economia. ‘Não é segredo que todos estão cansados desta guerra’, afirma a correspondente da CNN Arwa Damon. É dela o documentário On Deadly Ground: The Women of Iraq (Em Campo Mortal: As Mulheres do Iraque, tradução livre), exibido este mês nos EUA em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8/3. ‘Os iraquianos sabem que a guerra cansou. Eles acham que é um assunto que as pessoas já não querem mais ouvir. Isto torna o nosso trabalho ainda mais crucial’.
Na semana passada, a ABC News foi na contramão da tendência e exibiu a quinta edição da série Where Things Stand, com entrevistas de iraquianos sobre o que eles pensam do que está acontecendo em seu país. Mas, de maneira geral, a mídia não tem dado mais tanta atenção ao conflito, iniciado em março de 2003. Nas primeiras dez semanas de 2008, o tema representou apenas 3% das matérias de TV, jornal e internet, segundo números do Project for Excellence in Journalism [Projeto de Excelência em Jornalismo]. No mesmo período do ano passado, este índice foi de 23%.
A diferença é ainda mais gritante nas emissoras de TV a cabo. No ano passado, 24% da programação referia-se à guerra; este ano, apenas 1%. ‘O fato do tema ter tido menos espaço na mídia não me surpreende’, diz Tom Rosenstiel, diretor da pesquisa ‘The State of News Media 2008’, realizada pelo projeto. Ele afirma que não esperava, entretanto, que o assunto quase desaparecesse por completo da pauta jornalística.
Queda vertiginosa
Na avaliação do consultor de mídia Andrew Tyndall, é possível determinar quando exatamente houve esta mudança na cobertura. Em 2007, a guerra ocupava 30 minutos por semana nos noticiários noturnos das três grandes emissoras abertas, até que o general David Petraeus, comandante das forças americanas no Iraque, testemunhou no Congresso, em setembro, sobre a invasão americana. Nas últimas 15 semanas daquele ano, as redes gastaram, em conjunto, quatro minutos por semana para falar sobre a guerra.
Uma semana antes do testemunho de Petraeus, a jornalista Katie Couric, da CBS, foi para o Iraque e para a Síria produzir um programa especial. Exibida no CBS Evening News, a reportagem foi a menos assistida desde 1987. ‘É tão difícil trabalhar lá que é complicado dizer algo que ainda não foi dito ou mostrado; além de ser caro e perigoso’, explica Paul Friedman, vice-presidente da CBS News. Ele acredita que, se não houver uma mudança drástica, as redes acabarão por retirar suas equipes do Iraque.
A menor quantidade de informações sobre a guerra influi no conhecimento do cidadão americano sobre o conflito e suas conseqüências. Em agosto do ano passado, uma pesquisa revelou que metade dos americanos sabia estimar corretamente quantos soldados dos EUA haviam morrido no Iraque. Há menos de um mês, uma pesquisa do Pew Research Center for the People & the Press descobriu que apenas 28% dos entrevistados sabiam que quatro mil americanos morreram na guerra.
Desafio
Para o presidente da ABC News, David Westin, é um desafio encontrar maneiras atrativas para informar o público sobre o que está acontecendo no Iraque. Segundo Steve Capus, presidente da NBC News, isto significa às vezes ter de substituir as ‘micro-matérias’ (como, por exemplo, reportagens sobre quantas pessoas morreram na última explosão de um carro-bomba) pelas ‘macro-matérias’ (como reportagens sobre as mudanças provocadas pela guerra na sociedade iraquiana). Informações de David Bauder [AP, 16/3/08].