A crise que atinge a indústria jornalística, com demissões e fechamento de sucursais, serviu de estímulo para que o veterano jornalista Charles Sennott deixasse o jornal Boston Globe para abrir sua própria organização de mídia. O GlobalPost é um sítio gratuito, financiado por anúncios, que tem como plano fornecer ao público americano cobertura complementar à produzida pela Associated Press, Reuters e outras organizações de mídia que possuem estrutura para cobrir eventos em todo o mundo.
Lançada esta semana (12/1), a agência de Sennott conta com 65 jornalistas, incluindo veteranos de grandes organizações dos EUA, como CNN, Washington Post, Time e AP. O sítio também irá vender matérias a jornais – para serem publicadas no papel ou divulgadas online. ‘Nós não podemos cobrir cada acidente de avião ou estar em todas as coletivas de imprensa’, explica o jornalista. ‘O que podemos fazer é ter uma rede de jornalistas talentosos que vivem no lugar de onde escrevem e que entregam trabalhos comparáveis a um colunista de um caderno de cidades de um jornal – histórias que ligam os pontos, que fornecem a compreensão de um lugar em um espaço relativamente curto’.
Economia
No lançamento, o GlobalPost se estende por quase 50 países, entre eles o Brasil e a Indonésia. Também haverá representantes em mercados-chave como Índia e China. Os jornalistas deverão receber, em geral, US$ 1 mil por mês como freelancers em meio período, o que significa que eles poderão continuar a trabalhar para outros lugares – Sennott os encoraja a fazê-lo. Estes profissionais receberão câmeras de vídeo digitais e terão algumas despesas com viagens cobertas pelo sítio, mas, na maioria das vezes, trabalharão de casa, eliminando os custos com a manutenção de uma sucursal. Eles ganharão ainda uma participação no capital da Global News Enterprises, que tem capital fechado. Esta participação pode atingir metade das ações que não pertencem aos 14 fundadores da empresa, que investiram US$ 8,2 milhões.
Os jornalistas devem produzir matérias semanais sobre temas políticos, econômicos, sociais e culturais e contribuir com notas. Eles também fornecerão fotos e vídeos quando for o caso. Em grandes eventos – como os ataques em Mumbai ou o conflito em Gaza, por exemplo –, os repórteres serão incentivados a buscar pontos de vista únicos.
Novos modelos
Como a receita do GlobalPost depende, em sua grande maioria, de publicidade – e receita publicitária não é algo fácil hoje em dia –, Philip Balboni, co-fundador do sítio, diz que a companhia espera operar sem lucros por três anos enquanto desenvolve outras duas fontes de renda: a venda de matérias para jornais e as assinaturas anuais por conteúdo premium.
John Daniszewski, editor da AP para notícias internacionais, ressalta que o GlobalPost não terá o dinheiro ou a equipe que sua agência tem para ‘cobrir qualquer evento do planeta em um curto período de tempo’, mas, ainda assim, dá as boas vindas ao projeto. ‘É bom ter mais vozes cobrindo e interpretando as notícias internacionais’.
O GlobalPost segue uma onda de transformações em empresas jornalísticas nos últimos anos, como o sítio Politico, que oferece cobertura de Washington a outras organizações e o projeto de serviço de notícias da CNN. Jornais também passaram, em 2008, a anunciar parcerias informais. O Christian Science Monitor e a McClatchy, que publica o Miami Herald, entre outros títulos, estão em um período de três meses de experiência de compartilhamento de conteúdo. Para John Walcott, que supervisiona as sucursais internacionais da McClatchy, esforços como o GlobalPost são interessantes, mas vêm com riscos, pois é difícil avaliar a credibilidade de todos os colaboradores espalhados por diversos países. Informações da AP [9/1/09].