Uma matéria de capa com fotos de montanhas ao norte do Iraque, perto da fronteira com a Turquia, deu aos leitores do Washington Post uma rara oportunidade de obter mais informações sobre as guerrilhas do grupo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), escreve Deborah Howell em sua coluna de domingo [16/3/08]. No entanto, o artigo, publicado no dia 8/3, recebeu críticas da embaixada da Turquia, de turcos e de turco-americanos.
Burak Akcapar, diplomata da embaixada da Turquia nos EUA, alegou que a matéria "apoiava e glorificava uma organização terrorista". "O PKK foi mostrado como um grupo de rebeldes humanizados em uma luta épica, apesar de eles estarem engajados em um terrorismo brutal. Eles não discriminam quem matam, incluindo qualquer um que esteja trabalhando na região – professores, engenheiros, médicos. Eles são criminosos, envolvidos com tráfico de drogas, de armas, extorsão e lavagem de dinheiro", escreveu. Uma foto que mostrava um rebelde alimentando carinhosamente um pequeno urso com uma mamadeira também gerou comentários indignados. "Não entendo por que um terrorista carrega uma mamadeira", disparou Akcapar.
Falta de contexto
Alguns especialistas que estudam a Turquia e os curdos consideraram a matéria útil e interessante; para outros, ela romantizou o PKK. Para Aliza Marcus, autora do livro Blood and Belief (Sangue e Crença, tradução livre), sobre curdos e o PKK, a matéria era "exatamente o tipo de história que qualquer jornalista gostaria de ter escrito". Ela acrescentou, entretanto, que o artigo deveria ter revelado que o PKK tem uma "reputação mista" entre os curdos.
Já Mark Parris, embaixador americano na Turquia de 1997 a 2000, mostrou-se surpreso com a matéria. "Estava totalmente fora de contexto. Parecia algo escrito sobre Fidel Castro nas montanhas de Cuba durante a revolução. O texto romanceou pessoas que agem terrivelmente", afirmou. Para o especialista em turcos Henri Barkey, presidente do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Lehigh, faltou explicar as origens do PKK e o que os curdos pensam dele.
O repórter Joshua Partlow e a fotógrafa Andrea Bruce, que trabalham na sucursal do Post em Bagdá, viajaram às montanhas com intérpretes e ficaram cinco dias em companhia da guerrilha. Deborah lembra que foi dito na matéria que o PKK é uma organização terrorista, que suas táticas são indiscriminadas e que sua luta custou a vida de 35 mil pessoas, em sua maioria curdos. Em relação à fotografia do urso com a mamadeira, nem o repórter nem a fotógrafa perguntaram de onde o objeto surgiu; Andrea apenas tirou a foto quando testemunhou a cena.
Ainda assim, a ombudsman acha que faltou contextualização. "Muitos leitores não sabem quem são os curdos, como o PKK começou e como é visto pelos 25 milhões de curdos que vivem em diversos países", reconhece ela. Não é esta a opinião, entretanto, de Scott Wilson, editor da seção internacional. "Acredito que a matéria teve o nível apropriado de perspectiva histórica para a pauta sugerida. É importante lembrar que este artigo foi apenas um de uma série sobre o PKK, a Turquia e os curdos iraquianos", justificou.